É dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso senti-lo. Jean-Jacques Rousseau
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 89 · Dezembro-Fevereiro 2024/2025
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Podcast(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(6) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(15) Entrevistas(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(3) Educação(1) Você sabia que...(4) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(11) Ações e projetos inspiradores(28) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) Notícias(41) Dúvidas(4)   |  Números  
Artigos
04/06/2011 (Nº 36) O papel da educação ambiental na era do desenvolvimento (in)sustentável
Link permanente: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=1018 
  
Revista Educação Ambiental em Ação 36

O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ERA DO

DESENVOLVIMENTO (IN)SUSTENTÁVEL

 

 

 

Márcio Balbino Cavalcante

Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia/UFRN

Bolsista da CAPES

cavalcantegeo@bol.com.br

 

 

 

RESUMO

A Educação Ambiental é vista hoje como uma perspectiva de mudança ativa da realidade e das condições de vida, por intermédio da conscientização incidida do processo social reflexivo em diversos espaços educativos formais e não-formais. Sob essa visão o principal objetivo desse artigo é refletir sobre a importância da Educação Ambiental para o desenvolvimento sustentável e discutir acerca da sociedade atual assegurando a importância da complexidade planetária e das questões que evolvem a sua aplicabilidade prática como meio de garantir a sustentabilidade buscando um estilo de vida sustentável e a construção de um paradigma holístico que pauta o homem a natureza e o mundo, como parte indispensável na tentativa de uma Educação para o desenvolvimento sustentável.

 

Palavras-chave: Educação Ambiental, Desenvolvimento Sustentável, Sociedade e Meio Ambiente.

 

 



INTRODUÇÃO


 

Os seres humanos habitam hoje num ambiente criado, em que a indústria contemporânea, juntamente com a ciência e com a tecnologia, modificou e ainda modifica a natureza com atitudes insonháveis em espaço de risco que, no limite extremo, depositam em risco a sobrevivência da espécie humana. De acordo com Morin (2002), os riscos ecológicos são o resultado da expansão da ciência e da tecnologia.

 Diante da necessidade de mudança de comportamento social para a efetividade do conceito de desenvolvimento sustentável, é preciso “educar para a compreensão humana” (MORIN, 2002, p.93).

Com o melhoria da civilização foi imprescindível o aumento de novas formas de se aperfeiçoar e de atuar coletivamente em busca de saídas para as dificuldades da sociedade, sendo a educação ambiental uma das formas de conscientizar os indivíduos da importância de conservar o meio em que vivem, demonstrando que se não tiver transformação de conduta, o estrago pode ser irreversível para o meio ambiente e ter efeitos inteiramente atreladas à humanidade.

Diante do cenário atual o desenvolvimento sustentável é o caminho para a sobrevivência e permanência de vida na terra, para tanto é necessário articular novos rumos da educação Ambiental para que de fato, haja um padrão de desenvolvimento sustentável através de critérios que promove responsabilidade ética e definições da relação sociedade natureza.

Sendo assim, a educação é indispensável para o desenvolvimento do sujeito e o procedimento educativo há de se pautar, também, na educação ambiental, uma vez que a formação da consciência ecológica é de fundamental importância para a garantia de vida futura.

Este estudo propõe reflexão sobre as práticas sociais no contexto caracterizado pela destruição do meio ambiente partindo do diagnóstico que a sociedade capitalista industrial baseia-se no lucro e no consumo e vem sendo durante muito tempo consumista e progressista.

 A finalidade do trabalho com esse tema é fornecer subsídios necessários para criar novas atitudes e comportamentos face ao consumo na nossa sociedade e de instigar mudanças necessárias para a conscientização rumo à produção baseada no desenvolvimento sustentável.



A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL




 

A Educação Ambiental aponta a constituição de valores sociais, informações, capacidades, costumes e confiabilidades regressadas para a conservação ambiental, e sua sustentabilidade. A Educação Ambiental é vista hoje como uma possibilidade de transformação ativa da realidade e das condições da qualidade de vida, por meio da conscientização advinda da prática social reflexiva embasada pela teoria (LOUREIRO, 2006).

Segundo Loureiro (2006), essa conscientização é obtida com a capacidade crítica permanente de reflexão, diálogo e assimilação de múltiplos conhecimentos. Esse procedimento torna-se essencial para se desenvolver sociedades sustentáveis, ou seja, orientadas para enfrentar os desafios da contemporaneidade, garantindo qualidade de vida para esta e futuras gerações.

 

 

A educação ambiental para uma sustentabilidade equitativa é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservem entre si a relação de interdependência e diversidade. Isto requer responsabilidades individual e coletiva no nível local, nacional e planetário. (Fórum Internacional das ONGs, 1992, p. 193-4)

 

 

 

O ser humano agride a natureza com o intuito de obter determinado padrão de desenvolvimento econômico, decorrente dessa ação do homem, os riscos ambientais têm aumentado nos últimos anos, sendo assim para o enfrentamento desse colapso ecológico mundial, nasce o marco de desenvolvimento sustentável voltado para a harmonia entre desenvolvimento econômico e ecológico, no qual implica uma inter-relação entre direito social, meio ambiente estável, desenvolvimento econômico e qualidade de vida.   Para Beck (1996) riscos são formas sistêmicas de lidar com as ameaças e as inseguranças induzidas e introduzidas pelo próprio processo de modernização.

Segundo Loureiro (1998), a causa da degradação ambiental e da crise na relação sociedade-natureza não emerge apenas de fatores conjunturais ou do instinto perverso da humanidade, e as implicações de tal degradação não são decorrentes apenas do uso impróprio dos recursos naturais; mas sim de um conjunto de variáveis interconexas, derivadas das categorias: capitalismo/modernidade industrialismo/urbanização/tecnocracia. Logo, a almejada sociedade sustentável supõe a crítica às relações sociais e de produção, tanto quanto ao valor atribuído à extensão da natureza.

O desenvolvimento é necessário, porém o ser humano precisa usar tais recursos da natureza de forma inteligente sem agredi o meio ambiente buscando conciliar o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental para garantir o equilíbrio ecológico.

É grande o desafio da educação ambiental para lidar com a atual sociedade, visto que deve relacionar a destruição ambiental, o atual padrão de produção capitalista e os problemas sociais, bem como trabalhar a diversidade cultural, o sistema de idéias e os diferentes interesses da sociedade no campo da proteção ambiental. Para tanto é necessário que esteja fundamentada no desenvolvimento de valores igualitários e aptidões voltadas para a precaução ambiental, com a intenção de garantir uma condição de vida saudável para as gerações atuais e futuras, compreendendo, deste modo, uma dimensão humanitária, holística, interdisciplinar e democrática da proteção ambiental.
A educação ambiental na escola ou fora dela continuará a ser uma concepção radical de educação, não porque prefere ser a tendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança histórica e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas. (REIGOTA, 1998, p. 43)

 A educação ambiental estimula uma racionalidade moral e ecológica e promovendo atitudes e valores subjetivos de aprendizados sociais compatíveis com a sustentabilidade da vida na Terra. Na experiência de chegar ao DS, a Educação Ambiental é parte fundamental e necessária, pois é a maneira mais direta e funcional de se alcançar pelo menos uma de suas metas: a participação da população.

Dessa forma torna-se evidente uma ação reflexiva e consciente nas mudanças éticas para a transformação da mentalidade humana, pois essa transformação influi diretamente na percepção e no comportamento, para que os seres humanos aprendam a pensar ambientalmente, isso deverá reajustar o comportamento humano na construção de uma verdadeira harmonia entre os seres humanos, a sociedade e a natureza. (MORAN, 1994). E essa transformação por meio da educação deverá contribuir na mudança do caráter humano, social e ecológica na qual estimule a formação de sociedades justas e ecologicamente equilibradas.



O SURGIMENTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL




 

Com a revolução dos transportes e mais tarde das comunicações, a vinculação entre sociedade x sociedade e sociedade x natureza passou por mudanças bruscas em um pequeno espaço de tempo. Essas modificações no espaço, à priori, não foram alvo de preocupação da população, haja vista que se imaginava que os recursos naturais eram quase totalmente infindáveis.
A conseqüência da exploração irracional só entrou na ordem do dia das instituições internacionais, sobretudo, a partir da realização do Clube de Roma ocorrida em 1972, ocasião que fora apresentado o estudo intitulado “Limites do crescimento”, que entre outras premissas alertava:



Se as atuais tendências de crescimento da população mundial industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade industrial. (CAVALCANTI, 1994, p. 23 apud MEADOWS, 1972, p.20)


 

Diante do quadro ambiental exposto pelo estudo supracitado, constituíram os seguintes cenários: os que previam a abundância e os catastrofistas (SACHS, 2000). Os primeiros estavam interessados em aumentar o PIB dos países menos desenvolvidos para a promoção da igualdade, e não considerava a questão ambiental como prioridade. Já os opostos defendiam a idéia de crescimento zero, pautados dentre outras teorias, no malthusianismo.

Nesta perspectiva, foi elaborado um paradigma que tentasse contemplar as concepções dos desenvolvimentistas e dos apocalípticos: nasce o desenvolvimento sustentável ou o ecodesenvolvimento que, na ótica de Sachs (2000, p.54) é definido como uma “abordagem fundamentada na harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos”, e que em outras palavras, visa o uso racional dos recursos para a garantia destes às futuras gerações.

Embora o conceito de desenvolvimento sustentável esteja atualmente em voga na mídia de massa principalmente através da publicidade de empresas que se intitulam “verdes”, percebe-se que na prática este não é contemplado em sua totalidade. O mesmo ocorre com a sociedade que, apesar de possuírem informação acerca das grandes catástrofes ambientais atuais como o aquecimento global, chuvas ácidas, enchentes, etc., ainda não agiram para reverterem essa situação, pois:



 

Aqueles que vivem em situação de miséria e de exploração “selvagem” do trabalho, a depredação ambiental é vista como secundária [...]. Tal atitude é explicável, considerando-se que sua preocupação primordial está dirigida para a sobrevivência imediata. O problema ambiental só aparece como bandeira de luta quando é articulado com problemas que representam a defesa de interesses imediatos. (LOUREIRO et al 2002, p. 48).



 

 

Nesta perspectiva, emerge-se a necessidade de encontrarmos uma forma de mudança comportamental, baseada na compreensão de um mundo no qual “afirma a inseparatividade de todas as coisas e procura eliminar o discurso e a prática dualistas” (CAVALCANTI, 1994, p.39).

Morin (2002, p.37) aprofunda declarando que:

 

O planeta Terra é mais do que um contexto: é o todo ao mesmo tempo organizador e desorganizador de que fazemos parte. O todo tem qualidades ou propriedades que não são encontradas nas partes, se estas estiverem isoladas umas das outras, e certas qualidades ou propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo.



 

 

Para este autor se faz mister entender o mundo numa ótica multidimensional, haja vista que “não se poderia isolar uma parte do todo, mas as partes umas das outras; a dimensão econômica, por exemplo, está em inter-retroação permanente com todas as outras dimensões humanas” (MORIN, 2002, p.38).



CONCLUSÃO



 

A chave certa para a transformação socioambiental é a sensibilização e reflexão promovidas pela Educação Ambiental e a ação da população através do exercício da cidadania, isto é, da ecocidadania, que dá de fato e de direito a possibilidade do cidadão se mobilizar, reivindicar e transformar equilibradamente o seu meio ambiente de maneira crítica.

 Sendo assim, a Educação Ambiental assume um caráter mais realista, buscando um equilíbrio entre o homem e o meio ambiente, tendo em vista à construção de um futuro pensado e vivido, numa lógica de progresso e desenvolvimento, por isso é preciso uma mudança no comportamento do ser humano em relação ao meio ambiente.

Um novo modo de vida precisa ser seguido e o consumismo abrandado, água, energia, combustível, dentre outros, necessitam de ser economizados. O lixo deverá ser diminuído, uma vez que a reciclagem somente remedia os agravos de muitos desperdícios. Indústrias, empresas e comércio precisam integrar desenvolvimento e lucro às técnicas ambientais, pois o emprego de tecnologias limpas abate os gastos, acrescentando a ganho e conservando o meio ambiente.

Para tanto, é imprescindível uma participação global entre países, estados e municípios, com incentivos fiscais e aplicação severa da legislação ambiental. Pois a busca de sustentabilidade sintetiza-se à questão de se atingir harmonia entre seres humanos e a natureza.



REFERÊNCIAS

 


BECK, U. Teoria de la sociedad del riesgo. In: BERIAN, I. Las consecuencias perversas de la modernidad. Barcelona: Anthropos, 1996.

 
BENKO, G. Globalização e crise ambiental. In: SANTOS, Milton. Cidadania e Globalização. Editora Saraiva: São Paulo, 2000.


CARVALHO, I.C.M. Educação ambiental crítica: nomes e endereçamento da educação. In: Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente – MMA, 2004.

 
CAVALCANTI, C. (org.). Desenvolvimento e natureza: estudo para uma sociedade sustentável. São Paulo: Cortez, 1998.


FÓRUM Internacional de Organizações Não-Governamentais e Movimentos Sociais. Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global. In: TRATADO das ONGs; aprovado no Fórum Internacional de Organizações Não-Governamentais e Movimentos Sociais, no Âmbito do Fórum Global – ECO-92. Rio de Janeiro: Eco, 1992, p. 193-196.

GONÇALVES, C. W. P. O Desafio Ambiental. Rio de Janeiro: Record, 2004.

 
LOUREIRO, C. F. B.. (org). A Sociedade e Meio Ambiente: a educação ambiental em debate. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2002.


_________. Reflexões sobre os conceitos de ecocidadania e de consciência ecológica. In: MATA, S.F.da, et al.; (orgs). Educação ambiental, desafio do século: um apelo ético. Rio de Janeiro: Terceiro milênio, 1998.

 
MORIN, E. Os sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2002.


REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: CASCINO, F.; JACOBI, P.; OLIVEIRA, J. F. (orgs.) Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA/CEAM, 1998.

 
SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2000.



 

 

Ilustrações: Silvana Santos