É dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso senti-lo. Jean-Jacques Rousseau
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 89 · Dezembro-Fevereiro 2024/2025
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O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ERA DO DESENVOLVIMENTO (IN)SUSTENTÁVEL
Márcio Balbino Cavalcante Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia/UFRN Bolsista da CAPES cavalcantegeo@bol.com.br
RESUMO
Palavras-chave: Educação Ambiental, Desenvolvimento Sustentável, Sociedade e Meio Ambiente.
Os seres humanos habitam hoje num ambiente criado, em que a indústria contemporânea, juntamente com a ciência e com a tecnologia, modificou e ainda modifica a natureza com atitudes insonháveis em espaço de risco que, no limite extremo, depositam em risco a sobrevivência da espécie humana. De acordo com Morin (2002), os riscos ecológicos são o resultado da expansão da ciência e da tecnologia. Diante da necessidade de mudança de comportamento social para a efetividade do conceito de desenvolvimento sustentável, é preciso “educar para a compreensão humana” (MORIN, 2002, p.93). Com o melhoria da civilização foi imprescindível o aumento de novas formas de se aperfeiçoar e de atuar coletivamente em busca de saídas para as dificuldades da sociedade, sendo a educação ambiental uma das formas de conscientizar os indivíduos da importância de conservar o meio em que vivem, demonstrando que se não tiver transformação de conduta, o estrago pode ser irreversível para o meio ambiente e ter efeitos inteiramente atreladas à humanidade. Diante do cenário atual o desenvolvimento sustentável é o caminho para a sobrevivência e permanência de vida na terra, para tanto é necessário articular novos rumos da educação Ambiental para que de fato, haja um padrão de desenvolvimento sustentável através de critérios que promove responsabilidade ética e definições da relação sociedade natureza. Sendo assim, a educação é indispensável para o desenvolvimento do sujeito e o procedimento educativo há de se pautar, também, na educação ambiental, uma vez que a formação da consciência ecológica é de fundamental importância para a garantia de vida futura. Este estudo propõe reflexão sobre as práticas sociais no contexto caracterizado pela destruição do meio ambiente partindo do diagnóstico que a sociedade capitalista industrial baseia-se no lucro e no consumo e vem sendo durante muito tempo consumista e progressista. A finalidade do trabalho com esse tema é fornecer subsídios necessários para criar novas atitudes e comportamentos face ao consumo na nossa sociedade e de instigar mudanças necessárias para a conscientização rumo à produção baseada no desenvolvimento sustentável.
A Educação Ambiental aponta a constituição de valores sociais, informações, capacidades, costumes e confiabilidades regressadas para a conservação ambiental, e sua sustentabilidade. A Educação Ambiental é vista hoje como uma possibilidade de transformação ativa da realidade e das condições da qualidade de vida, por meio da conscientização advinda da prática social reflexiva embasada pela teoria (LOUREIRO, 2006).
Segundo Loureiro (2006), essa conscientização é obtida com a capacidade crítica
permanente de reflexão, diálogo e assimilação de múltiplos conhecimentos. Esse
procedimento torna-se essencial para se desenvolver sociedades sustentáveis, ou
seja, orientadas para enfrentar os desafios da contemporaneidade, garantindo
qualidade de vida para esta e futuras gerações.
A educação ambiental para uma sustentabilidade equitativa é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservem entre si a relação de interdependência e diversidade. Isto requer responsabilidades individual e coletiva no nível local, nacional e planetário. (Fórum Internacional das ONGs, 1992, p. 193-4)
O ser humano agride a natureza com o intuito de obter determinado padrão de desenvolvimento econômico, decorrente dessa ação do homem, os riscos ambientais têm aumentado nos últimos anos, sendo assim para o enfrentamento desse colapso ecológico mundial, nasce o marco de desenvolvimento sustentável voltado para a harmonia entre desenvolvimento econômico e ecológico, no qual implica uma inter-relação entre direito social, meio ambiente estável, desenvolvimento econômico e qualidade de vida. Para Beck (1996) riscos são formas sistêmicas de lidar com as ameaças e as inseguranças induzidas e introduzidas pelo próprio processo de modernização. Segundo Loureiro (1998), a causa da degradação ambiental e da crise na relação sociedade-natureza não emerge apenas de fatores conjunturais ou do instinto perverso da humanidade, e as implicações de tal degradação não são decorrentes apenas do uso impróprio dos recursos naturais; mas sim de um conjunto de variáveis interconexas, derivadas das categorias: capitalismo/modernidade industrialismo/urbanização/tecnocracia. Logo, a almejada sociedade sustentável supõe a crítica às relações sociais e de produção, tanto quanto ao valor atribuído à extensão da natureza. O desenvolvimento é necessário, porém o ser humano precisa usar tais recursos da natureza de forma inteligente sem agredi o meio ambiente buscando conciliar o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental para garantir o equilíbrio ecológico.
É
grande o desafio da educação ambiental para lidar com a atual sociedade, visto
que deve relacionar a destruição ambiental, o atual padrão de produção
capitalista e os problemas sociais, bem como trabalhar a diversidade cultural, o
sistema de idéias e os diferentes interesses da sociedade no campo da proteção
ambiental. Para tanto é necessário que esteja fundamentada no desenvolvimento de
valores igualitários e aptidões voltadas para a precaução ambiental, com a
intenção de garantir uma condição de vida saudável para as gerações atuais e
futuras, compreendendo, deste modo, uma dimensão humanitária, holística,
interdisciplinar e democrática da proteção ambiental. A educação ambiental estimula uma racionalidade moral e ecológica e promovendo atitudes e valores subjetivos de aprendizados sociais compatíveis com a sustentabilidade da vida na Terra. Na experiência de chegar ao DS, a Educação Ambiental é parte fundamental e necessária, pois é a maneira mais direta e funcional de se alcançar pelo menos uma de suas metas: a participação da população. Dessa forma torna-se evidente uma ação reflexiva e consciente nas mudanças éticas para a transformação da mentalidade humana, pois essa transformação influi diretamente na percepção e no comportamento, para que os seres humanos aprendam a pensar ambientalmente, isso deverá reajustar o comportamento humano na construção de uma verdadeira harmonia entre os seres humanos, a sociedade e a natureza. (MORAN, 1994). E essa transformação por meio da educação deverá contribuir na mudança do caráter humano, social e ecológica na qual estimule a formação de sociedades justas e ecologicamente equilibradas.
Com a revolução dos transportes e mais tarde das comunicações, a vinculação
entre sociedade x sociedade e sociedade x natureza passou por mudanças bruscas
em um pequeno espaço de tempo. Essas modificações no espaço, à priori, não foram
alvo de preocupação da população, haja vista que se imaginava que os recursos
naturais eram quase totalmente infindáveis.
Diante do quadro ambiental exposto pelo estudo supracitado, constituíram os seguintes cenários: os que previam a abundância e os catastrofistas (SACHS, 2000). Os primeiros estavam interessados em aumentar o PIB dos países menos desenvolvidos para a promoção da igualdade, e não considerava a questão ambiental como prioridade. Já os opostos defendiam a idéia de crescimento zero, pautados dentre outras teorias, no malthusianismo. Nesta perspectiva, foi elaborado um paradigma que tentasse contemplar as concepções dos desenvolvimentistas e dos apocalípticos: nasce o desenvolvimento sustentável ou o ecodesenvolvimento que, na ótica de Sachs (2000, p.54) é definido como uma “abordagem fundamentada na harmonização de objetivos sociais, ambientais e econômicos”, e que em outras palavras, visa o uso racional dos recursos para a garantia destes às futuras gerações. Embora o conceito de desenvolvimento sustentável esteja atualmente em voga na mídia de massa principalmente através da publicidade de empresas que se intitulam “verdes”, percebe-se que na prática este não é contemplado em sua totalidade. O mesmo ocorre com a sociedade que, apesar de possuírem informação acerca das grandes catástrofes ambientais atuais como o aquecimento global, chuvas ácidas, enchentes, etc., ainda não agiram para reverterem essa situação, pois:
Aqueles que vivem em situação de miséria e de exploração “selvagem” do trabalho, a depredação ambiental é vista como secundária [...]. Tal atitude é explicável, considerando-se que sua preocupação primordial está dirigida para a sobrevivência imediata. O problema ambiental só aparece como bandeira de luta quando é articulado com problemas que representam a defesa de interesses imediatos. (LOUREIRO et al 2002, p. 48).
Nesta perspectiva, emerge-se a necessidade de encontrarmos uma forma de mudança comportamental, baseada na compreensão de um mundo no qual “afirma a inseparatividade de todas as coisas e procura eliminar o discurso e a prática dualistas” (CAVALCANTI, 1994, p.39). Morin (2002, p.37) aprofunda declarando que:
Para este autor se faz mister entender o mundo numa ótica multidimensional, haja vista que “não se poderia isolar uma parte do todo, mas as partes umas das outras; a dimensão econômica, por exemplo, está em inter-retroação permanente com todas as outras dimensões humanas” (MORIN, 2002, p.38).
A chave certa para a transformação socioambiental é a sensibilização e reflexão promovidas pela Educação Ambiental e a ação da população através do exercício da cidadania, isto é, da ecocidadania, que dá de fato e de direito a possibilidade do cidadão se mobilizar, reivindicar e transformar equilibradamente o seu meio ambiente de maneira crítica. Sendo assim, a Educação Ambiental assume um caráter mais realista, buscando um equilíbrio entre o homem e o meio ambiente, tendo em vista à construção de um futuro pensado e vivido, numa lógica de progresso e desenvolvimento, por isso é preciso uma mudança no comportamento do ser humano em relação ao meio ambiente. Um novo modo de vida precisa ser seguido e o consumismo abrandado, água, energia, combustível, dentre outros, necessitam de ser economizados. O lixo deverá ser diminuído, uma vez que a reciclagem somente remedia os agravos de muitos desperdícios. Indústrias, empresas e comércio precisam integrar desenvolvimento e lucro às técnicas ambientais, pois o emprego de tecnologias limpas abate os gastos, acrescentando a ganho e conservando o meio ambiente. Para tanto, é imprescindível uma participação global entre países, estados e municípios, com incentivos fiscais e aplicação severa da legislação ambiental. Pois a busca de sustentabilidade sintetiza-se à questão de se atingir harmonia entre seres humanos e a natureza.
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