Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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05/06/2008 (Nº 24) EDUCAÇÃO AMBIENTAL E AS EMPRESAS: UM CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE
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Revista eletrônica EA em Ação 24

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E AS EMPRESAS: UM CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE

 

 

Ana Carolina Santana

Graduada e Mestre em Administração na área de Gestão social ambiente em desenvolvimento –Universidade Federal de Lavras- UFLA. Professora do curso Técnico em Meio Ambiente – Unidade Integrada e Técnica de Ensino – UNITEN.

Endereço: Rua Doutor Paulo de Oliveira Lima, 95 – Lavras, MG – CEP: 37200-000

carolcontato@yahoo.com.br

 

Resumo: A evolução da humanidade e o processo de “desenvolvimento” culminaram problemas de cunho socioambiental provocando impactos negativos que incidiram diretamente sobre os recursos naturais. Diante dessa problemática, a educação ambiental, que se constitui numa forma abrangente de educação, se desponta como uma ferramenta fundamental para conscientizar a população como um todo da necessidade de explorar os recursos naturais de forma a não comprometer a existência desses recursos para as gerações futuras. O objetivo deste ensaio é, no entanto, abordar a prática da educação ambiental nas empresas, tendo um papel muito importante neste âmbito pois, desperta cada funcionário para a busca de soluções concretas para problemas ambientais que ocorrem principalmente no seu cotidiano, no seu local de trabalho, na execução de suas tarefas, conferindo ao colaborador poder de atuação para a melhoria da qualidade ambiental sua e de seus colegas, utilizando conscientemente os recursos naturais. Portanto, um programa de educação ambiental para ser efetivo deve promover, simultaneamente, o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental, seja no ambiente das empresas, escolas, nos espaços urbanos e rurais.

Palavras – chave: Educação ambiental; Empresas; Sustentabilidade.

1. Introdução

O relacionamento do homem com a natureza surgiu por meio de uma intervenção mínima nos ecossistemas. No entanto, com a evolução da humanidade e o processo de “desenvolvimento” culminaram problemas de cunho socioambiental provocando impactos negativos que incidiram diretamente sobre os recursos naturais.

Atualmente, são comuns a contaminação dos cursos de água, a poluição atmosférica, a devastação das florestas, a caça indiscriminada e a redução ou mesmo destruição dos habitats relacionados à fauna, além de muitas outras formas de agressão ao meio ambiente. Diante dessa problemática, a educação ambiental, que se constitui numa forma abrangente de educação, se desponta como uma ferramenta fundamental para conscientizar a população como um todo da necessidade de explorar os recursos naturais de forma a não comprometer a existência desses recursos para as gerações futuras.

As empresas, por exemplo, têm procurado encontrar ferramentas, processos ou métodos, que possam diminuir os impactos de suas atividades, e assim preservar o meio ambiente. Logo, o meio empresarial vem trabalhando no sentido de reduzir os efeitos negativos advindos da forma como exercem as atividades, por meio de inúmeras abordagens, como a redução dos custos, selos verdes, certificações, etc., e uma abordagem que merece destaque, pois vem ganhando legitimidade nos últimos anos é a educação ambiental.

Portanto, este ensaio tem o propósito de abordar a prática da educação ambiental nas empresas, sendo esta fundamental para que seja possível planejar as atividades que serão desenvolvidas visando à mudança das atitudes e o desenvolvimento da consciência a cerca do desenvolvimento sustentável dentro e fora do ambiente de trabalho.

 

2. Meio ambiente e o Desenvolvimento Sustentável

            No final do século XX, o termo sustentabilidade assumiu um papel central na reflexão em torno das dimensões do desenvolvimento e das opções que se configuram. O quadro socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas revela que o impacto das ações dos seres humanos sobre o meio ambiente torna-se cada vez mais complicado, tanto do ponto de vista quantitativos quanto qualitativos. O conceito de desenvolvimento sustentável surge para enfrentar a crise ecológica, sendo que, pelo menos, duas correntes alimentaram esse processo (JACOBI, 1999).

Segundo o mesmo autor, a primeira corrente está relacionada com aquelas ideologias que desde a economia influenciaram mudanças nas abordagens do desenvolvimento econômico, especialmente a partir da década de 70. Um exemplo dessa linha de pensamento é o trabalho do Clube de Roma, publicado sob o título de Limites do crescimento, em 1972, que propõe, de forma calamitosa, para se alcançar o equilíbrio econômico e ecológico, o congelamento do crescimento da população global e do capital industrial, mostrando a realidade dos recursos limitados e indicando um forte viés para o controle demográfico. A segunda corrente se relaciona com a crítica ambientalista ao modo de vida atual, que se difundiu a partir da Conferência de Estocolmo em 1972, quando a questão ambiental é presenciada pela população. Assim, percebe-se que a idéia ou enfoque do desenvolvimento sustentável ganha importância num curto período de tempo, adquirindo um caráter diretivo nos debates sobre os rumos do desenvolvimento.

Ou seja, enquanto se agravavam os problemas sociais e se aprofundava a distância entre os países pobres e os industrializados, surgiram com mais impacto diversas manifestações da crise ambiental, que se relacionam diretamente com os padrões produtivos e de consumo predominantes.

O desenvolvimento e meio ambiente então passam a se incorporar ao conceito de ecodesenvolvimento, que no início dos anos 80 foi superado pelo conceito de desenvolvimento sustentável, passando a ser adotado como expressão oficial nos documentos da ONU, UICN e WWF (GONÇALVES, 2005). Contudo, é interessante ressaltar que a estrutura do movimento ambiental brasileiro assume uma configuração “multissetorial” e mais complexa no final da década de 80, demandando atores com práticas focadas na busca de uma alternativa viável de conservação e/ou restauração do meio ambiente degradado (JACOBI, 1999).

Para Sachs (1993), existem cinco dimensões do ecodesenvolvimento, a saber: sustentabilidade social, sustentabilidade econômica, sustentabilidade ecológica, sustentabilidade espacial e sustentabilidade cultural, introduzindo um importante dimensionamento da sua complexidade. Diante dessas dimensões, o autor aponta o ecodesenvolvimento como uma nova proposta onde as ações mostram a necessidade de tornar compatíveis a melhoria nos níveis de qualidade de vida e a preservação ambiental.

A dimensão de sustentabilidade social, por exemplo, não diz respeito apenas ao estabelecimento de limites ou obstáculos à persistência do desenvolvimento, mas implica na transposição do econômico, não pela rejeição da eficiência econômica e nem pelo abandono do crescimento econômico, mas pela colocação dos mesmos a serviço de um novo projeto societário, onde a intenção social esteja “justificada pelo postulado ético de solidariedade intrageracional e de equidade, materializada em um contrato social” (SACHS, 1995).

Fischer (2002) afirma que, devido a amplitude de seus sentidos, o desenvolvimento é um conceito que se adapta a interesses diversos e a todas as intenções, como é demonstrado historicamente. Nessa linha de pensamento, Esteva (2000, p.61) enfatiza que:

 

O desenvolvimento ocupa o centro de uma constelação semântica incrivelmente poderosa.Não há nenhum outro conceito no pensamento moderno que tenha influência comparável sobre a maneira de pensar e o comportamento humano.Ao mesmo tempo,poucas palavras são tão ineficazes, tão frágeis e tão incapazes de dar significado e substância ao pensamento e ao comportamento.

 

O desenvolvimento para Boisier (2003) pode ser entendido no contexto atual como a criação de um contexto que promova o potencial do ser humano, não apenas como homo economicus ,mas em sua dupla dimensão biológica e espiritual. Isso expressa a ampliação do conceito de desenvolvimento para uma esfera endógena e subjetiva, diretamente dependente da autoconfiança coletiva na capacidade de inventar recursos, mobilizar os já existentes e atuar de forma cooperativa e solidário desde seu próprio território.

Já o termo sustentabilidade, é compreendido por Cavalcanti (2003), como a possibilidade de se obterem continuamente condições iguais ou superiores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em dado ecossistema. Tal conceito equivale à idéia de manutenção de nosso sistema de apoio da vida. Trata-se do reconhecimento do que é biofisicamente possível em uma perspectiva de longo prazo.

Nesse sentido, Bezerra e Bursztyn (2000), destacam que a sustentabilidade emerge da crise de esgotamento das percepções de desenvolvimento, pertencentes às lógicas da racionalidade econômica liberal. Uma racionalidade eufórica associada ao movimento incessante para frente da razão, da ciência, da técnica, da indústria e do consumo, na qual o desenvolvimento – uma aspiração constante da humanidade – tirou de si tudo o que o contraria, eliminando de si a existência das regressões que negam as conseqüências positivas do desenvolvimento.

Em 1992, 172 governos reuniram-se na cidade brasileira do Rio de Janeiro, para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), que ficou conhecida como Conferência da Terra, um evento singular que se tornou um marco histórico para a humanidade. Os objetivos fundamentais da Conferência eram obter um equilíbrio justo entre as necessidades econômicas, sociais e ambientais das gerações presentes e futuras e firmar as bases para uma associação mundial entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, assim como entre os governos e os setores da sociedade civil, focalizadas na compreensão das necessidades e os interesses comuns (GONÇALVES, 2005). 

O economista brasileiro Celso Furtado já havia observado desde 1982 que o verdadeiro desenvolvimento é principalmente um processo de ativação e canalização de formas sociais, de avanço da capacidade associativa, de exercício da iniciativa e da criatividade. Portanto, trata-se de um processo social e cultural, apenas secundariamente econômico (SCHOMMER, 2008).

A idéia de um novo modelo de desenvolvimento para o século XXI, conciliando as dimensões econômica, social e ambiental, mencionado por Camargo et al (2004), surgiu para tentar solucionar, como ponto de partida no plano conceitual, o velho dilema entre crescimento econômico e redução da miséria, de um lado, e preservação ambiental de outro. O conflito vinha, de fato, arrastando-se por mais de vinte anos, em agressão aberta contra o movimento ambientalista, enquanto este, por sua vez, encarava o desenvolvimento econômico como naturalmente prejudicial e os empresários como seus agentes mais representativos.

De acordo com Furtado (1992), o desafio que se coloca no início do século XXI é nada menos do que mudar o caminho da civilização, deslocar o seu eixo da lógica dos meios a serviço da acumulação, num curto período de tempo, para uma lógica dos fins em função do bem-estar social, do exercício da liberdade e da cooperação entre os povos. Nesse sentido, a população deve-se comprometer para que essa seja a tarefa maior dentre as preocupações dos homens no decorrer do próximo século, estabelecer novas prioridades para a ação política em função de uma nova concepção do desenvolvimento, colocado ao alcance de todos os povos e capaz de preservar o equilíbrio ecológico.

Portanto, pode-se considerar que a problemática da insustentabilidade não está apenas no desenvolvimento, é necessário a conscientização de que o nosso modo de vida se tornou insustentável, e este é muito mais complicado de mudar, pois implica, discussões, aprimoramento individual e coletivo, respectivamente. Segundo Ramos (2003), parece não haver saída, ou acredita-se que o ser humano, tal como é, pode construir um mundo melhor para si, para seus semelhantes, no presente e no futuro, ou cabe reconhecer o fracasso de nossa existência, e admitir que a busca de um desenvolvimento sustentável seja uma ilusão, apenas uma forma de adiar o inevitável fim. Torna-se necessário iniciar um aprendizado individual e coletivo, por meio de parcerias entre o governo, as empresas, as ONGs, e a comunidade, que nos leve a outras formas de manifestação concreta de nossa natureza e que permita uma perspectiva de mudança em nosso modo de viver.

 

3. Os desafios da educação ambiental

A questão ecológica encontra-se cada vez mais presente no cotidiano da sociedade em geral, seja por meio da divulgação pela mídia, seja devido a nítidas alterações da paisagem e no clima nos diversos ambientes do planeta.  A educação não é o único, mas certamente é um dos meios de atuação pelos quais os seres humanos realizam-se em sociedade - ao propiciar vivências de percepção sensível e ter consciência das condições materiais de existência; ao exercitar a capacidade de decidir de modo organizado os melhores caminhos para a sustentabilidade da vida; e ao favorecer a produção de novos conhecimentos que permitam refletir criticamente sobre o que a população faz no cotidiano. Então, se assim é entendida, essa educação tende a ocorrer quando se estabelece maneiras de superação da dominação e exclusão, tanto em relação aos grupos sociais quanto em relação aos demais seres vivos e à natureza enquanto totalidade (DUARTE, 2002).

Devido às influências do atual modelo de civilização, o homem tornou-se desvinculado do seu ambiente natural, sendo que ignorou até os seus mais simples processos. Este desconhecimento e distanciamento impedem o indivíduo de perceber que cada atitude ou ação humana corresponde a um impacto negativo ou positivo sobre o ambiente, seja este natural ou construído. Não se sentindo como parte integrante do ambiente, o homem tende a não perceber os efeitos de suas atitudes, ou se percebe, não os avalia (VASCONCELLOS, 1997).

É nesse contexto que se insere a Educação Ambiental, importante ferramenta para ajudar no debate ecológico e aumentar o número de pessoas envolvidas na prática da conservação e da conscientização ambiental, indispensável para a formação de cidadãos completos.

Dessa forma, a educação ambiental pode ser considerada um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experiências, valores e a determinação que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na busca de soluções para os problemas ambientais, presentes e futuros. (UNESCO, 1987).

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a educação ambiental pode ser definida como:

 

um processo permanente, no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir individual e coletivamente e resolver problemas ambientais presentes e futuros  (MMA, 2008).

 

Deste modo, a educação ambiental é apontada como um processo no qual deve ocorrer o desenvolvimento progressivo de um senso de preocupação com o meio ambiente, baseado num completo e sensível entendimento das relações do homem com o ambiente a sua volta levando-se em consideração a evolução histórica dessa relação.

Para Gould (2004), a educação ambiental reúne o ponto de vista dos sujeitos sociais permitindo o estabelecimento de uma prática pedagógica contextualizada e crítica, apontando os problemas estruturais da sociedade, as causas do baixo padrão qualitativo da vida que levamos e da utilização do patrimônio natural como uma mercadoria e uma externalidade em relação aos seres humanos. É através da atuação coletiva e individual, interferindo no funcionamento excludente e desigual das economias capitalistas, que os grupos sociais hoje marginalizados podem ampliar a democracia e a cidadania. Dessa forma, invertem o processo de exclusão social e de degradação das bases vitais do planeta, com novos padrões culturais cujos valores faça a população repensar na natureza.

No contexto brasileiro a Educação Ambiental tem adotado atualmente, um panorama mais abrangente, não limitando seu objetivo apenas à proteção e uso sustentável de recursos naturais, mas incorporando profundamente a proposta de construção de sociedades sustentáveis. Por conseguinte, tenta despertar de maneira geral entre os indivíduos a consciência de que o ser humano é parte do meio ambiente, superando a “visão antropocêntrica”, que fez com que o homem agisse como sendo o centro de tudo não se preocupando com a natureza, da qual faz parte (FREITAS e RIBEIRO, 2007).

Para os autores é necessário então pensar em alternativas a seguir que beneficiem, por exemplo, os funcionários de empresas a conhecerem os problemas do ambiente onde desenvolvem suas atividades, incentivando-os a perceber, compreender e refletir sobre o meio em que vivem, visualizando os prováveis espaços de atuação e, conscientizando do seu papel para a conservação.

O ProNEA - Programa Nacional de Educação Ambiental (2004), que originou do processo democrático de discussão e interlocução entre Ministério da Educação e Ministério do Meio Ambiente, e destes com universidades e organizações da sociedade civil, vem destacar a presença de um novo patamar de compreensão do processo educativo. Ou seja, menciona o reconhecimento de que a finalidade básica da “educação não está apenas em gerar novos comportamentos ou trabalhar no campo das idéias e valores, como se estes se objetivassem automaticamente”. Este programa ainda sugere essencialmente a compreensão das características peculiares dos grupos sociais, o modo como produzem seus modos de vida, como criam comportamentos e se situam na sociedade, para que se constituam processos coletivos, baseados no diálogo, na problematização do mundo e na ação (MMA, 2008).

A percepção ambiental então pode ser trabalhada por meio da educação e se apresenta aos segmentos populares da sociedade pela vivência imediata e intensa dessa população sobre os diversos problemas ambientais que se vinculam intimamente com a produção da miséria por esse modelo de sociedade. (GUIMARÃES, 2000).

Os programas de educação ambiental são considerados estratégias que visam envolver a população em torno da questão socioambiental. Segundo Vasconcellos, (1997), esses programas devem possibilitar uma compreensão e apreciação mais profunda dos recursos naturais e culturais das áreas a serem visitadas pela população, devendo servir também, como condução para mudanças de condutas, com efeitos expressivos na reorientação de hábitos, atitudes e valores.

Portanto, um trabalho voltado para as áreas protegidas se caracteriza como ideais para implantação de programas de Educação Ambiental, uma vez que representam “verdadeiros laboratórios vivos propiciando o aumento de conhecimento e uma experimentação direta com o meio, motivando o interesse e a integração das populações onde essas áreas estão localizadas”. O estímulo da experiência, juntamente com a difusão de conceitos ecológicos e o estímulo a um processo de inclusão de todos os segmentos das comunidades locais, pode trazer novos valores que colaboram para um “envolvimento à conservação e ao exercício pleno da cidadania” (PÁDUA & TABANEZ, 1997).

 

4. A educação ambiental nas empresas: algumas iniciativas e experiências concretas

As iniciativas educacionais relacionadas à temática ambiental estão aumentando a cada dia em todo País. Tanto os Fóruns de Educação Ambiental, como as pesquisas na área revelam que as ações e projetos promovidos pelos municípios, por exemplo, através de suas secretarias, conselhos e de parcerias com escolas, associações de cidadania, empresas e outros órgãos públicos, ganham destaque neste quadro. A maioria dessas ações são precisas e se voltam para o envolvimento das pessoas na solução de problemas, como o do lixo e da arborização urbana, ou ações de capacitação de professores ou de outros setores da população (JACOBI, 1999).

Todavia, o processo de sensibilização e conscientização para as questões ambientais voltado para o público interno das empresas, comunidade de seu entorno e clientes, especialmente, requer persistência e continuidade de ações com este fim, como palestras, gincanas, sessões de filmes ambientais etc., além da participação em fóruns, conselhos, redes, comissões, coletivo educador, nos quais temas como agricultura, educação, desenvolvimento, tecnologia e meio ambiente norteiam as discussões (SILVA, 2006).

O autora exemplifica o caso da Embrapa Acre, que assim como as outras Unidades da Empresa, tem investido em educação ambiental, assim como na responsabilidade sócio-ambiental. É uma Empresa que gera novas tecnologias, promove mudanças no modo de lidar com a terra e os recursos naturais. O grande desafio é conciliar a melhoria da qualidade de vida da população e fazer valer o conceito de desenvolvimento sustentável. Informar a respeito dos danos ambientais que nos afetam é um passo importante para sensibilizar e fazer com que cada pessoa se sinta responsável por estes problemas e motivada a cooperar para a redução dos danos, uma vez que mesmo atividades rotineiras como tomar banho, comer e locomover-se deixam marcas no meio ambiente.

Entre estratégias adotadas pelas empresas em geral, pode-se destacar os programas de educação ambiental na âmbito do setor produtivo, visando dessa forma, auxiliar o desafio empresarial da sustentabilidade. Neste contexto, existem alguns elementos indispensáveis para o planejamento desses programas (LAYRARGUES,2008).

 

a) O papel estratégico da educação ambiental adquire nítida visibilidade. A ação educativa ganha um foco privilegiado, que gira em torno da disseminação do critério da ecoeficiência, no sentido de mover o metabolismo industrial na direção à sustentabilidade, tanto no que diz respeito ao próprio funcionamento atual e ideal do metabolismo industrial, como no que diz respeito à eliminação ou minimização do desperdício e na consolidação da reciclabilidade. Basicamente, sua missão reduz-se em acelerar a velocidade de conversão do metabolismo industrial.

b) A característica definidora desse modelo de educação ambiental evidentemente é a instrumental e pragmática. No atual contexto neoliberal, há uma diminuta margem de manobra para a realização de uma educação ambiental fundamentalista no âmbito empresarial, onde se preconizaria a substituição de valores antropocêntricos e seus respectivos paradigmas, por valores ecocêntricos. Isso não inviabiliza, contudo, que se possa abrir e desenvolver novas sensibilidades para a questão ambiental nos educandos, para além dessa lógica pragmática.

c) Além da identificação do foco de atenção da atividade educativa, outro elemento deve ser considerado no planejamento dos programas de educação ambiental na empresa: as sutis diferenças entre os vários ‘públicos-alvo’ da educação ambiental, a fim de se permitir explorar em maior detalhe suas respectivas particularidades. A estrutura organizacional da empresa, que contempla vários segmentos diferenciados (diretoria executiva, gerências, fornecedores, setor de pesquisa e desenvolvimento (P&D), departamento de marketing, trabalhadores, entre outros), permite que cada um apresente uma contribuição específica a oferecer na busca da ecoeficiência.

d) Outro elemento que merece atenção da ação educativa no âmbito da atividade produtiva, embora periférico em relação ao conceito do metabolismo industrial, é a questão dos riscos tecnológicos que freqüentemente acarretam em acidentes ambientais, que muitas vezes provocam vítimas humanas dentro e fora da empresa.

É importante registrar ainda, segundo Layrargues (2008) que, ao contrário do que afirma o senso comum, não são os trabalhadores que representam o “estopim” das mudanças preconizadas pela educação ambiental no sentido da consolidação do critério da ecoeficiência na atividade produtiva; mas sim o setor de P&D, por estar envolvido com o desenho da planta industrial, dos insumos e matrizes energéticas.

Portanto, pode-se salientar com relação às iniciativas aqui apresentadas, assim como outras que fazem parte hoje das empresas, que a política das empresas deve se voltar para a promoção de um modelo de desenvolvimento sustentável, onde a educação ambiental deve contagiar a todos em defesa do bem-estar planetário, ser permanente e construir uma consciência crítica sobre o meio ambiente, fazendo com que toda a sociedade seja capaz de entender o princípio e a evolução dos problemas ambientais atuais que tendem ao agravamento se nada for feito (SILVA, 2006).

 

5. Considerações finais

De acordo com a discussão presente neste trabalho, percebe-se que a educação ambiental para uma sustentabilidade eqüitativa é um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as formas de vida. Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica.

A educação ambiental nas empresas tem um papel muito importante porque desperta cada funcionário para a busca de soluções concretas para problemas ambientais que ocorrem principalmente no seu cotidiano, no seu local de trabalho, na execução de suas tarefas, conferindo ao colaborador poder de atuação para a melhoria da qualidade ambiental sua e de seus colegas, utilizando conscientemente os recursos naturais. Mudar as atitudes ou a cultura de uma organização não é uma tarefa fácil, mas é possível conseguir a colaboração dos cidadãos conscientes para construir uma sociedade que vise a sustentabilidade.

Dentro deste contexto, é clara a necessidade de mudar o comportamento do homem em relação à natureza, no sentido de promover sob um modelo de desenvolvimento sustentável (processo que assegura uma gestão responsável dos recursos do planeta de forma a preservar os interesses das gerações futuras e, ao mesmo tempo atender as necessidades das gerações atuais), a compatibilização de práticas econômicas e conservacionistas, com reflexos positivos evidentes junto à qualidade de vida de todos.

Consideramos que são inerentes a crise, a erosão dos valores básicos e a alienação e a não participação da quase totalidade dos indivíduos na construção de seu futuro. É fundamental que as comunidades planejem e implementem suas próprias alternativas às políticas vigentes. Dentre essas alternativas está a necessidade de abolição dos programas de desenvolvimento, ajustes e reformas econômicas que mantêm o atual modelo de crescimento, com seus terríveis efeitos sobre o ambiente e a diversidade de espécies, incluindo a humana.

Um programa de educação ambiental para ser efetivo deve promover, simultaneamente, o desenvolvimento de conhecimento, de atitudes e de habilidades necessárias à preservação e melhoria da qualidade ambiental, seja no ambiente das empresas, escolas, nos espaços urbanos e rurais. A educação ambiental é ponto relevante para mudança de valores e atitudes, por tratar da educação do ser humano versus sua relação com o meio ambiente. Percebe-se que o desenvolvimento sustentável se tornará efetiva realidade quando cada parcela da sociedade contribuir seja na informação, na sensibilização, na competência e/ou consciência ambiental.

 

 

6. Referências bibliográficas

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Ilustrações: Silvana Santos