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Percepção dos cronistas coloniais sobre o manguezal brasileiro durante os séculos xvi E xvii Arthur Vinícius de Oliveira Marrocos de Melo ¹ Betânia Maria da Silva 2. ¹Professor de Educação Ambiental da Escola Técnica Regional ETR. Rua Gervásio Pires, 653, Boa Vista – Recife – PE CEP 50070-050. Email arthur_marrocos@yahoo.com.br 2 Professora de Ciências da Prefeitura de Piranhas – Al. Email betaniamaria@gmail.com
RESUMO Os primeiros registros existentes da descrição dos manguezais no Brasil datam de 1500, ano do descobrimento e quem realizou esses registros descritivos são chamados de Cronistas Coloniais, que eram pessoas que viveram ou passaram pelo país e descreveram os ambientes vistos, muitos não tinham formação específica, mas descreveram as riquezas do país com uma riqueza de detalhes que nos servem até hoje como base de estudos para várias áreas. Por esse motivo, resolvemos estudar a percepção que os cronistas coloniais dos séculos XVI e XVII tinham do ecossistema manguezal existente no Brasil nessa época. PALAVRAS CHAVES - Cronista colonial, percepção ambiental e ecossistema manguezal INTRODUÇÃO Schaeffer-Novelli (1999) define o manguezal como um ecossistema costeiro, de transição entre os ambientes terrestre e marinho, característico de regiões tropicais e subtropicais, sujeito ao regime das marés. É constituído de espécies vegetais lenhosas típicas (angiospermas), além de micro e macroalgas (criptógamas), adaptadas à flutuação de salinidade e caracterizadas por colonizarem sedimentos predominantemente lodosos, com baixos teores de oxigênio. Segundo esta autora, ele ocorre em regiões costeiras abrigadas e apresenta condições propícias para alimentação, proteção e reprodução de muitas espécies animais, sendo considerado importante transformador de nutrientes em matéria orgânica e gerador de bens e serviços. Para Schaeffer-Novelli (1999) os manguezais destacam-se como fonte de matéria orgânica particulada e dissolvida para as águas costeiras adjacentes constituindo a base da cadeia trófica com espécies de importância econômica e/ou ecológica; área de abrigo, reprodução, desenvolvimento e alimentação de espécies marinhas, estuarinas, límnicas e terrestres, além de pouso de aves migratórias; proteção da linha de costa contra erosão, assoreamento dos corpos d’água adjacentes, prevenção de inundação e proteção contra tempestade; manutenção da biodiversidade da região costeira; absorção e imobilização de produtos químicos, filtro de poluentes e sedimentos, além de tratamento de efluentes em seus diferentes níveis; fonte de recreação e lazer associada a seu apelo paisagístico e alto valor cênico e fonte de proteína e produtos diversos, associados à subsistência de comunidades tradicionais que vivem em áreas vizinhas aos manguezais. Já Soares (1993) define o manguezal, substantivo coletivo derivado de mangue e com etimologia controvertida, nos seguintes termos: Biótopo limítrofe entre o epinociclo, o limnociclo e o talassociclo, ou seja, área de terra costeira, sujeita a marés, inundada perenemente por uma mistura de água doce e água salgada (água salobra), onde proliferam plantas características dos habitats palustres, como as avicênias, rizóforos e lagunculárias. Os caules dessas plantas emitem numerosas raízes adventícias e as suas raízes naturais invertem o seu geotropismo, ficando com as pontas emersas (raízes respiratórias ou pneumatóforos). Os animais mais comuns neste tipo de ecossistema são os caranguejos, os anelídeos e as larvas de insetos. O manguezal tem características muito peculiares em relação aos outros biomas vegetais nativos são ecossistemas que se caracterizam por altas taxas de produtividade primária, que é originária dos fortes fluxos externos de materiais e energia a que estão sujeitos, utilizando a energia e matérias de um ambiente para convertê-lo em diversidade de produtos e serviços, muitos dos quais têm valor econômico imediato (CINTRÓN, 1987). A riqueza biológica dos ecossistemas costeiros faz com que essas áreas sejam os grandes “berçários” naturais, tanto para as espécies características desses ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo da sua vida (CPRH, 2006). Os primeiros registros da existência de manguezais na costa brasileira datam da época do descobrimento do Brasil, em 1500, quando Pero Vaz de Caminha escreveu ao rei de Portugal, D. Manuel, sobre a exuberante beleza geográfica e a abundante riqueza natural da nova terra conquistada, da gente que nela habitava, da fartura de alimentos que nela havia e da fauna e da flora que nela existiam. No decorrer de toda a história do Brasil, os cronistas coloniais e historiadores, como: Marcgrave e Piso (naturalistas), José de Anchieta, Frei Vicente do Salvador, Gabriel Soares, Auguste de Saint-Hilaire e outros, registraram em seus diários de viagens, a presença de uma densa vegetação lenhosa que formava imensos bosques às margens dos oceanos, sob a influência das marés (FUNDAJ, 2006). Os cronistas coloniais, em maior ou menor grau de envolvimento, cumpriram o papel de informantes coloniais: em uma visão predominantemente utilitarista, trataram de descrever as riquezas minerais e produtos naturais do Novo Mundo a ser colonizado pelas respectivas metrópoles. Os cronistas coloniais, do ponto de vista da história natural, antecederam no Brasil a fase dos naturalistas profissionais com formação científica, tais como Marcgrave e Piso. Não tendo formação nem conhecimentos especializados sobre a natureza, grande parte deles era formada por missionários religiosos, colonos ou aventureiros, com maior ou menor pretensão historiadores, mas cronistas na acepção da palavra. Muitos, vistos com os olhos atuais, eram ignorantes e preconceituosos; alguns poucos surpreendem-nos, não sendo naturalistas, pela aguda capacidade de observação da natureza. Dentre os cronistas coloniais do século XVI destacam-se: Caminha, Thevet, Staden, Gândavo, Anchieta, Lery, Cardim e Souza e do inicio do século XVII destacam-se Abbeville, Brandão, Salvador, Kinivet e Antonil. Cada cronista tinha uma percepção particular desse ambiente, seja ela positiva ou negativa. A Percepção ambiental foi definida como sendo "uma tomada de consciência do ambiente pelo homem", ou seja, como se auto-define, perceber o ambiente que se está localizado, aprendendo a protegê-lo e cuidá-lo da melhor forma. (faggionato, 2006). Outra definição para a percepção ambiental é que ela é uma experiência sensorial direta do ambiente em um dado instante que se dá de mecanismos perceptivos propriamente ditos e principalmente cognitivos, não sendo considerada como um processo passivo de recepção informativa, já que implica em certa estrutura e interpretação da estimulação ambiental antrópica para compreender melhor as inter-relações entre homem e o meio ambiente, suas expectativas, julgamento e condutas (DEL RIO, 1996). Mesmo sendo única, a percepção pode ser emoldurada pela inteligência, adquirindo novas cores e nuanças de acordo com as diferentes maneiras pelas quais as pessoas conhecem e constroem a realidade (SILVA et al., 2003). Objetivamos registra a percepção ambiental que os cronistas coloniais do século XVI e XVII tinham a respeito do manguezal para que se possa compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e até mesmo condutas, embora essas percepções foram feitas com pureza, retratando um ambiente desconhecido para a época. Achamos que os relatos são negativistas, já que se tratava de um ambiente muitas vezes desconhecidos pelos cronistas. MATERIAIS E MÉTODOS Foi realizada uma revisão bibliográfica do tema em internet, livros e artigos científicos, sobre os cronistas coloniais dos séculos XVI e XVII e sobre o ecossistema manguezal brasileiro, bem como eram as percepções dos mesmos em relação a esse ecossistema e os trabalhos relacionados a essa área. Para tanto, foram realizadas visitas as bibliotecas da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP, Biblioteca da Fundação Joaquim Nabuco – FUNDAJ e a Biblioteca do Estado de Pernambuco. Os dados foram sistematizados sob a forma de relatos históricos, em ordem cronológica e, posteriormente, foi elaborado um quadro resumo sobre as citações dos cronistas coloniais com enfoque especial à importância que era dada ao manguezal. RESULTADOS Segundo SCHAEFFER – NOVELLI (1995), referências sobre plantas de mangue são conhecidas desde o ano 320 A.C., através do relatório do General Nearco quando acompanha Alexandre Magno em suas campanhas no Delta do Indo ao Golfo Pérsico, onde registrou a ocorrência de árvores de 14 metros de altura com flores brancas que cresciam no mar e tronco suportados por raízes com aspecto de candelabro. Esse aspecto é característico das raízes do mangue vermelho (Rhyzophora mangle) está, inclusive vinculado à designação de Kandelia para um dos grupos desses vegetais, cuja referência aparecendo no trabalho de Abou’l Abbas el Nabaty, um botânico mouro que em 1230 viajou pela Arábia, Síria e Iraque, quando chamou essas plantas de Kendela. Como primeiro relato sobre o ecossistema manguezal ou qualquer coisa que nos lembre esse ambiente temos a Carta de Pero Vaz de Caminha que foi o primeiro cronista colonial do Brasil, essa Carta, relata o primeiro encontro dos portugueses com os nativos brasileiros e o meio ambiente encontrado (UFCG, 2006). cronistas do século xvi Tabela I – Percepção dos Cronistas Coloniais do século XVI sobre o Ecossistema Manguezal.
(*) Correspondente ao ano ou período em que publicaram a obra. (**) Corresponde ao período que os autores estiveram e ou residiram no Brasil.
CRONISTAS DO SÉCULO XVII:
Tabela II – Percepção dos Cronistas Coloniais do Século XVII sobre o Ecossistema Manguezal.
(*) Correspondente ao ano ou período em que publicaram a obra. (**) Corresponde ao período que os autores estiveram e ou residiram no Brasil.
Conseguimos constatar que a percepção dos cronistas coloniais dos séculos XVI e XVII é basicamente neutra (descritiva) e ou positiva (utilitarista), os cronistas enfocaram a utilização da matéria-prima que pode ser retirada desse ecossistema, seja ele para a alimentação, construção de moradia, etc. Diante do exposto, constatamos que nossa hipótese foi negada, porque a percepção dos cronistas coloniais dos séculos XVI e XVII sobre o ecossistema manguezal brasileiro é basicamente neutra (descritiva) e/ou positiva (utilitarista).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Carta
a El Rei D. Manuel, Dominus: São Paulo, 1963. Texto
proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
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