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O Código que ninguém
entende
Não há nada mais o que falar sobre o Código Florestal. A ciência
já se pronunciou sobre o problema da limitação de terras para produção agrícola.
Não usamos nem a terra disponível. O cidadão saudável pode constatar com seus
olhos em qualquer voltinha pela zona rural e os mais detalhistas podem ver os
trabalhos científicos com sensoriamento remoto em meu blog
http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/.
O mundo quer produtos mais saudáveis (assim como queria o fim do
escravagismo no século 19), mas alguns produtores rurais –não todos, felizmente,
ainda querem colher e vender hoje os recursos naturais de ontem e amanhã. A
produção rural em oposição ao ambiente é uma jaboticaba criada pelos bisnetos
dos senhores de escravos.
Demos um importante passo aprovando as alterações do Código
Florestal na Comissão de Meio Ambiente do Senado. Importante passo atrás,
liberando quase geral para quem fez errado entre 1965 e 2008 e ainda criando a
dificuldade de termos que demonstrar os desmatamentos anteriores a 2008. A
Comissão de Meio Ambiente dividiu as APP ao meio, além de mudar a referência do
ponto máximo das cheias para o nível médio. O "novo” Código só tem nova mesmo a
idade. Em sua concepção, ele é cheio de reentrâncias e saliências para abrir
rotas jurídicas de fuga para desmatadores, bem ao gosto da leis mais antigas.
E falando em Comissão de Meio Ambiente do Senado, não será fácil
descobrir sua composição. Precisei ligar para conseguir o nome dos 16 Senadores
que aprovaram isto. Houve um único voto contra, do Senador Randolfe Rodrigues.
Entre os que votaram a favor, grandes proprietários de terras como Assis Gurgacz
e Blairo Maggi (este como suplente e proponente de emendas).
Perceberam, aliás, como os ruralistas têm estado quietos
recentemente ? Faz algum tempo que não recebo mensagens furiosas. Talvez um
pouco de história recente explique o silêncio. Há exatos seis meses a Folha de
São Paulo publicou
"Dilma irrita-se com Código Florestal e promete veto”. Enquanto a Comissão
de Ambiente aprovava o trem ruralista da alegria, a presidente discursava no
Seminário de Comemoração de 60 anos da entidade e entoava os mantras ruralistas.
O Brasil depende da agricultura, etc. Algo mudou nos bastidores (se é que não
esteve já sempre assim).
Precisamos passar a tratar nossos produtores rurais como
empresários de verdade. Precisamos levar a sério taxações, empréstimos,
regulações ambientais e trabalhistas, como seus colegas industriais e
comerciários já fazem há décadas. A agricultura é muito importante para ser
mantida na forma de sesmarias. Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br)
é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais
da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU,
autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre
trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP,
Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo
orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB
- Paulo Afonso e Duke - EUA |