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Incentivo à educação ambiental em unidades de conservação Débora Cristina
Nasorry1 [1]Bióloga, Pós- Graduanda em Biotecnologia,
Universidade Estadual de Maringá –Apoio Técnico ao Programa de Melhoramento de
Soja –
Universidade Federal de Uberlândia. debora_crsn@hotmail.com Endereço: Rua Alex
Fernandes França, 60. Bairro Industrial. Araguari – Minas Gerais. CEP: 38442-020. Resumo A Educação Ambiental em Unidades de Conservação permite uma maior
aproximação com os elementos da natureza e a realização de atividades de
educação ambiental dinâmica. Através dela, indivíduos, grupos escolares ou
outros grupos de afinidade podem desvendar o ambiente, conhecê-lo melhor e
atuar com maior consistência na sua preservação. A crescente expansão urbana e
a deterioração da qualidade de vida das grandes cidades vêm despertando uma
demanda por espaços naturais. A proposta de implantação de incentivos à
Educação Ambiental na Nascente das Araras, localizada no Município de Araguari
– Minas Gerais surge com a constatação do uso desta Unidade, pelas comunidades
circunvizinhas, carentes de áreas verdes para lazer. Palavras – chave: Trilhas. Educação Ambiental. Preservação. Introdução
O cerrado é um dos biomas mais ricos
e ameaçados do planeta, representando uma das áreas prioritárias para a
conservação da biodiversidade (LARA & FERNANDES, 1996). A vereda se constitui de um
importante subsistema do Bioma Cerrado, possuindo, além do significado
ecológico, um papel sócio – econômico e estético- paisagístico que lhe confere
importância regional, principalmente quanto ao aspecto de constituírem refúgios
fauno – florísticos, onde várias espécies da fauna e da flora são encontradas e
dependem desse ambiente para sobrevivência (FERREIRA, 2008). As Veredas representam um tipo fito
fisionômico exclusivo desse bioma, sendo de extrema importância para a manutenção
do seu ciclo hidrológico. Além disso, durante várias décadas sofreram intensa
degradação com a drenagem ou o soterramento desses ambientes em áreas urbanas,
ou do desmatamento e da utilização desenfreada nas áreas rurais.
Localiza-se em áreas de nascentes, com elevado nível de umidade no solo e
representam uma fito fisionomia de grande relevância na região do Cerrado. Segundo
a Lei n. ° 9.985, de 18 de julho de 2000 que institui o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC), unidades de conservação (UC) são espaços
territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com
características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público,
com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de
administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (MEDAUAR,
2007). Na concepção atual, a paisagem
deixou de ser apenas uma fonte de inspiração artística ou meramente um cenário,
adquirindo uma dimensão ambiental. Considerada como um recurso vem ganhando
importância e preocupação por parte da sociedade. O surgimento das áreas de
proteção ambiental se deu a partir de atos e práticas das primeiras sociedades
humanas que, reconhecendo valores especiais de determinados espaços de
cobertura vegetal tinham grande importância, dispuseram-se a protegê-los. As
referências mais antigas remontam da Índia, da Indonésia e do Japão, que
protegiam áreas associadas à presença de animais sagrados, fontes de água pura,
existência de plantas medicinais, mitos e fatos históricos (BRITO, 2000). Surgiu-se a necessidade de
contemplação da natureza, e a consciência ecológica impulsionou algumas
discussões de como conservar as áreas representativas da vida natural no
planeta, iniciando pela necessidade de um consumo sustentável. Entende-se por consumo sustentável o
consumo de bens e serviços promovido com respeito aos recursos ambientais, que
se dá de forma que garanta o atendimento das necessidades das presentes
gerações, sem comprometer o atendimento das necessidades das futuras gerações.
A promoção do consumo sustentável depende da conscientização dos indivíduos da
importância de tornarem-se consumidores responsáveis. Depende ainda de um
trabalho voltado para a formação de um “consumidor-cidadão”. (FURRIELA, 2001). O tema
da sustentabilidade confronta-se com o paradigma da “sociedade de risco”. Isso
implica a necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas no
fortalecimento do direito ao acesso à informação e à educação ambiental em uma
perspectiva integradora (JACOBI, 2003.) A noção
de sustentabilidade implica, portanto, uma inter-relação necessária de justiça
social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão
de desenvolvimento (JACOBI, 1998). A Educação Ambiental entra no contexto
para desenvolver cidadãos capazes de identificar as necessidades do planeta e
incentivar à conservação do mesmo. Segundo Layrargues (2003), “Atualmente não é mais possível entender a
educação ambiental no singular, como um único modelo alternativo de educação
que simplesmente se opõe à educação convencional, que não é ambiental”. Pode-se
identificá-la como alfabetização ecológica, educação para o desenvolvimento
sustentável, educação para a sustentabilidade, ecopedagogia e educação no
processo de educação ambiental. Tomando-se
como referência o fato de a maior parte da população brasileira viver em
cidades, observa-se uma crescente degradação das condições de vida, refletindo
uma crise ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os desafios
para mudar as formas de pensar e agir em torno da questão ambiental numa
perspectiva contemporânea. (JACOBI, 2003.) A conscientização ambiental deverá se dar de forma
gradativa, enfocando cada círculo que envolve cada cidadao, enfatizando com que
ele reflita sobre si, desenvolva o seu senso crítico, sobre o que está certo e
errado, e procure ver de que forma ele poderá contribuir com a melhoria ou com
a eliminação de situações danosas ao homem ou à natureza (DOHME, et.al. 2002). A
educação ambiental como formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova
forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética,
que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os
homens. A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente
aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos
com consciência local e planetária. (JACOBI, 2003.) Um dos
meios divulgados na interpretação ambiental é o dos percursos interpretativos.
Estes podem ser temáticos, com a predefinição de um tema antes da caminhada, ou
de descoberta, ou turísticos e de lazer. As trilhas ecológicas interpretativas
se enquadram dentro dos percursos interpretativos orientados metodologicamente
e, não devem ser confundidas como meras picadas abertas na mata (VILARIGUES,
1998). Andar, caminhar, passear, escalar,
excursionar; longe do atropelo, da aglomeração, do ruído e do tráfego de
veículos é, hoje em dia, um dos passatempos favoritos da maior parte das
pessoas. É a forma de recreação mais econômica, mais sadia e que maiores
oportunidades oferecem de observação, pesquisa, tranqüilidade e lazer. O uso de
trilhas interpretativas em unidades de conservação permite uma maior
aproximação com os elementos da natureza e a realização de uma educação
ambiental dinâmica. Através destas, indivíduos, grupos escolares ou outros
grupos de afinidade podem desvendar um ambiente, conhecê-lo melhor e atuar com
maior consistência em sua preservação (BELART, 1978). As
trilhas, enquanto instrumentos pedagógicos para a Educação ambiental e
biológica devem “explorar o raciocínio lógico, incentivar a capacidade de
observação e reflexão, além de apresentar conceitos ecológicos e estimular a
prática investigatória” (LEMES et. al. 2004) Este trabalho implica na
tomada de consciência do consumidor na transformação do modelo econômico em
vigor em uma maior presença do ser humano na Terra, exigindo um padrão de
desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente equilibrado. Com o objetivo de conscientizar
nossas crianças e adolescentes quanto à importância da conservação e
recuperação dos recursos naturais, investimos em um projeto ecológico, composto
por uma trilha ecológica. Materiais e métodos
A nascente do Ribeirão das Araras
situa-se no município de Araguari, Minas Gerais. Está localizada a 1013 m
de altitude, coordenadas 18°
38′ 56″ S e 48° 11′ 13″ W, possui clima subtropical de
altitude. Possui temperatura média de 21°C. De acordo com a classificação
de Köppen (1970), o clima do local é do tipo Cwa, caracterizado por
duas estações distintas: uma seca, de abril a setembro, e outra chuvosa, de
outubro a março. Abrange áreas localizadas no
perímetro urbano e rural. Por ser do tipo difusa, caracteriza-se como Vereda e
forma, na verdade, vários afluentes do ribeirão, o que conjuga um maciço de
nascentes (FIGURA 1). FIGURA 1 - Ribeirão das Araras Após o reconhecimento da área feito
por visitas ao local e consulta bibliográfica, escolheu-se o caminho a ser
utilizado para a trilha interpretativa. Foram formados grupos de estudantes
de Escolas Estaduais da região, com capacidade de até 25 crianças e/ou jovens,
seguindo a faixa etária de 07 a 16 anos, com uma duração de 05 dias, sendo
realizadas durante as férias escolares. As atividades desenvolvidas foram
trilhas interpretativas e visita à nascente, com o intuito de salientar a
necessidade de preservação do ecossistema (Tabela 1). Tabela 1 - Grupos formados durante a
pesquisa.
A trilha foi planejada
utilizando-se um dos caminhos existentes, levando-se em conta a representação
ecológica e atratividade da mesma, além da declividade do terreno para
facilitar a passagem de pessoas portadoras de necessidades especiais. Durante todo programa, foi observado
o interesse dos participantes em relação aos temas abordados assim como o
desempenho de cada. FIGURA 2 - Trilha Ecológica com
Alunos no Ribeirão das Araras. A cada término, uma avaliação pelos
monitores e participantes do grupo foi realizada visando o senso crítico e a
autonomia de cada indivíduo, tornando os participantes mais integrados e
harmoniosos com o local. E o mais interessante, é que a cada grupo participante
do programa “Educação para viver”, notou-se uma integração mútua entre o local
e a pessoa (FIGURA 2). A visita do grupo à trilha teve de
ser precedida de uma explicação sobre as estruturas vegetais, exemplificando
onde encontrá-las. Foi necessário que a equipe estimulasse as crianças a
procurar estruturas vegetais, frutos e até mesmo fungos nunca antes notados e
questionar sobre sua respectiva importância para o meio que o rodeia. O
trabalho foi, ao mesmo tempo, uma fonte de informações e um bom atrativo na
trilha. O estímulo para uma observação mais atenta às estruturas vegetais,
assim como todo o ambiente passa a ser o próprio conteúdo do painel.
Conseguimos construir junto ao grupo algumas noções de ecologia de conservação.
Resultados
Através do trabalho desenvolvido pode-se notar que é necessário além de
planejamento, desenvolvimento de projetos e a implementação, também se
necessita da participação de cada cidadão e da sociedade como um todo. A
participação é a promoção da cidadania, a realização do sujeito histórico, o
instrumento por excelência para a construção do sentido de responsabilidade e
de pertencimento a um grupo, classe, comunidade e local (BAUMAN, 2000). Torna-se
claro a importância da participação da sociedade em programas de educação
ambiental, visto que sem isso, nada poderá ser desenvolvido e não haverão
melhorias para o nosso meio em que vivemos. Discussão A falta
de conhecimento, inicialmente, poderia ser um fator que contribui para a
ocorrência dos problemas ambientais. Porém, os países que mais poluem são,
justamente, aqueles nos quais a ciência, a tecnologia e também o sistema
educativo estão mais desenvolvidos (MAYER, 1998). Considerando-se
Mayer (1998), torna-se imprescindível que sejam realizadas melhorias em relação
às informações e divulgação de conhecimento a respeito da necessidade de
implantação de educação ambiental em locais onde existam grandes problemas
sócio-ambientais. Através disto, procuramos conscientizar às pessoas e através
de planejamentos, desenvolver uma estratégia didática de conservação ambiental. De acordo com (LOUREIRO, 2005):
“Considerando que a conservação das áreas protegidas igualmente depende de
estratégias adotadas nos programas de educação ambiental, torna-se então, de
grande importância que elas sejam planejadas e implementadas adequadamente”. Sendo assim, a necessidade de um
planejamento prévio das ações realizadas em áreas protegidas torna-se
fundamental para um bom desempenho dos programas de educação ambiental nos
locais a serem realizados, assim como a devida implementação do mesmo, fazendo com
que além de enriquecimento cultural, também estejamos preservando e valorizando
o tão inestimável meio ambiente que vivemos. Conclusões A implementação do trabalho
apresentado foi satisfatório para relacionar a necessidade de planejamento de
atividades educativas na área, assim como sua conservação e preservação.
Torna-se fundamental uma adequação entre monitores e alunos, para que o
trabalho seja conduzido de forma contínua, ou seja, fazendo com que não se
interrompa a educação ambiental no local, preservando, e divulgando o meio
ambiente que possuímos. As trilhas foram desenvolvidas com o
intuito de harmonizar estudantes e professores com a natureza ao seu redor,
fazendo com que aprendam a conviver e respeitar o meio ambiente da melhor forma
possível, e trazendo melhorias para a sociedade. Desta forma, o ato de educar
torna-se fator crucial para que desenvolvamos posturas críticas e
conscientizadas nas crianças e adolescentes a quem procuramos atingir. O meio
ambiente necessita de uma preocupação especial, já que é crucial para a
sobrevivência e agradável convivência entre seres humanos. Agradecimentos À Universidade Federal de Uberlândia
e à Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Referências
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