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É dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso senti-lo. Jean-Jacques Rousseau
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 89 · Dezembro-Fevereiro 2024/2025
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Da Ego à
Ecossustentabilidade – O caminho da percepção
Por Giuliano Moretti
Publicado originalmente na
Revista Geração Sustentável – Ano 6 – Edição 29 – Jul/Ago 2012 – pg. 38 –
www.geracaosustentavel.com.br
Os movimentos rumo à
sustentabilidade ambiental estão a todo vapor. Fala-se em Gestão Ambiental,
Consumo Sustentável e Conservação do Meio Ambiente com uma naturalidade nunca
antes vista, elencando-se uma miríade de práticas, métodos e indicadores que
prometem resultados formidáveis em termos de inovação preservacionista. Planos,
objetivos e metas parecem fazer parte do jargão estratégico das empresas e
consultores, como uma panaceia para a crise dos ativos socioambientais que
proveem a base da existência. Leis, normas, novas formas de se produzir com a
mitigação sistemática dos impactos, maior eficiência e melhores alternativas
energéticas, logística reversa e a contínua redução de rejeitos. Tudo isso em
nome da emergência socioambiental que ameaça o ecossistema global. Muito bem, parece um caminho
necessário e sem volta que já vem trazendo importantes resultados. Entretanto,
persiste a dúvida: até onde é possível “sustentabilizar” considerando o modelo
econômico que vende uma felicidade estruturada no consumo egotista per se? Em primeiro lugar, qualquer
pessoa com uma percepção minimamente aguçada intui que o crescimento do consumo,
chamado sustentável ou não, tem limites. Questão de balanço energético e
material. Se não renovável e em altíssima escala, a energia, base fundamental de
tudo, faltará. Até aí, tudo bem: tecnologias estão sendo pesquisadas e
paulatinamente implementadas para resolver isso. Se as soluções serão realizadas
a tempo, é outra história. Mas então, onde está o maior
problema? Nos fluxos materiais. Com ou sem logística reversa, maior ou menor
eficiência produtiva, o crescimento e a complexidade dos fluxos materiais
advindos da produção e da aceleração do consumo continuarão sendo os vilões
dessa odisseia. Fluxos que vão de encontro à sustentabilidade por uma única
razão: existem leis fundamentais da física, da química e da biologia, que
estabelecem holisticamente as condições da vida como a conhecemos. E essas leis
não se ajustam aos sabores da produção e do consumo super-velozes e em alta
escala. A matemática já é velha conhecida: como a matéria não vêm do espaço, ao
contrário da energia renovável, só se dispõe dos recursos que o Planeta oferece.
Se a taxa de consumo material for maior que as taxas naturais de reinserção e de
redistribuição dos recursos (considerando uma base in natura), a
sustentabilidade se torna um sofisma. Pessoas continuam sendo
condicionadas para o consumo como requisito determinante para a satisfação
última, para a realização plena que, obviamente, nunca chega. Do contrário,
perversos mecanismos as aterrorizam com a possível marginalização social. Este é
o pão estragado que alimenta todos. E o vazio continua, dia após dia. Há solução? Seria pretensão
demais afirmar categoricamente que há. O que se pode fazer é refletir acerca do
comportamento individual, superficial e resultante da falácia de que a
felicidade depende, sobretudo, do consumo. Urgente é superar este estreito
entendimento que nutre temporariamente o ego, mas esvazia a alma e as relações
coletivas. “É necessário tanto? Eu
realmente preciso disso? Quanto é suficiente? Alguma coisa, afora a sabedoria e
a paz que vem do silêncio mais profundo de mim, já proporcionou felicidade plena
e perene a mim e aos outros?” Imprescindível é tentar responder a essas e outras
perguntas, como um exercício diário de meditação. Provavelmente, poucas “coisas”
contribuíram para a Felicidade Definitiva. A percepção de que o acúmulo
demasiado é um veneno para si e para a organicidade do Todo, isto é, para a
sustentabilidade tão sonhada, pode ser um primeiro passo para a simplificação
dos fluxos materiais. Transformar profissionais e consumidores para que
transcendam o caos frenético da produtividade, do consumismo e do crescimento
que regem a ilusão coletiva, talvez estimule o despertar dos valores intangíveis
que nascem da essência de cada ser humano. Fonte: http://necs.preservaambiental.com/da-ego-a-ecossustentabilidade-o-caminho-da-percepcao/ |