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ATIVIDADES LÚDICAS COMO MEIO SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA
Mariana Nardy Mestre em Ensino de Ciências e Educação Matemática Universidade Estadual de Londrina - UEL marinardy@yahoo.com.br
Elisa Barbosa Leite da Freiria Mestre em Ensino de Ciências e Educação Matemática Universidade Estadual de Londrina - UEL elisa_estevao@hotmail.com
Resumo: Em vista da proposta de transversalidade da temática ambiental, o presente artigo relata a experiência do uso de atividades lúdicas no ambiente escolar como forma de sensibilização. A estratégia metodológica utilizada foi baseada nos princípios da pesquisa-ação. O desenvolvimento de práticas inovadoras de pesquisa em Educação Ambiental contribui para a consolidação de um campo teórico-metodológico que é necessário para a produção e aquisição de conhecimentos e para a construção de uma sociedade sustentável. Neste contexto, a elaboração de atividades lúdicas de modo participativo permitiu o envolvimento dos alunos, professores e toda a comunidade do colégio e, possivelmente, o “divertimento” tornou-se uma ferramenta promotora da sensibilização. Palavras chave: Atividades Lúdicas, Educação Ambiental, Pesquisa-Ação.
Introdução A Educação Ambiental (EA) é um importante instrumento de combate ao antropocentrismo que desenvolve as ambições científico-tecnológicas e acabam por degradar o ambiente natural. Segundo SATO (2002) pode-se destacar cinco objetivos específicos da EA: sensibilização; compreensão; responsabilidade; competência e cidadania ambiental. Ainda, para essa mesma autora, a sensibilização salienta-se como objetivo principal, visto que os outros são consequências da primeira. Assim, ao instruir, transmitir conhecimentos ambientais e sociais de forma global e integradora e, sobretudo, ao trabalhar com a construção de valores que sustentem novas formas de relação entre sociedade e natureza, a EA pode provocar a sensibilização e uma consequente tomada de ações ambientalmente desejáveis por parte dos indivíduos. No Brasil, a proposta do Ministério da Educação (MEC) para os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) apresenta-se de forma interdisciplinar e ressalta a necessidade da formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade local e global (DEPRESBITERIS, 1998). Portanto, é necessário que a escola considere esta perspectiva e se proponha a trabalhar com atitudes, formação de valores, ensino e aprendizagem de habilidades e procedimentos, o que se torna um grande desafio para a educação (SORRENTINO, 1995). Em vista da transversalidade da temática ambiental, discute-se o uso de atividades lúdicas que auxiliem na sensibilização dos indivíduos. Essas estratégias possuem um potencial intrínseco de estimular a imaginação, de forma a tornar prazeroso o processo de ensino-aprendizagem as quais, neste caso, desencadeiam pensamentos e formam ideias concretas sobre a relação do indivíduo com o ambiente. Apesar da literatura acadêmica apontar que a aproximação entre a teoria e a prática é essencial para se fazer EA, observa-se constantemente o uso de métodos tradicionais no ensino, nos quais os conteúdos tendem a enfatizar dados factuais e desvinculados da realidade dos indivíduos. Em vista da proposta de transversalidade da temática ambiental, o presente trabalho pretende relatar a experiência do uso de atividades lúdicas no ambiente escolar como forma pontual de sensibilização dos indivíduos para com o meio ambiente.
Fundamentação Teórica A EA possui dois grandes desafios: a questão da perturbação dos equilíbrios ecológicos, dos desgastes da natureza, e a questão educacional. Segundo Tristão (2005), os desequilíbrios e a educação são heranças de um modelo de desenvolvimento socioeconômico que se caracteriza pela redução da realidade ao seu nível material econômico, pela divisão do conhecimento em disciplinas que fragmentam a realidade, pela redução do ser humano a um sujeito racional e pela divisão das culturas. Desse modo, visando uma melhora da qualidade de vida da sociedade, é necessário que haja uma geral conscientização de que a conservação do meio é responsabilidade de todos. Leff (2001) ainda afirma que a EA assume, progressivamente, uma função crítica e transformadora, cujos objetivos dizem respeito à corresponsabilização dos indivíduos na promoção de um novo tipo de desenvolvimento, um novo modelo civilizatório com perspectiva sustentável. Para Tozoni-Reis (2008, p. 49) a EA “é compreendida a partir de pressupostos teóricos e práticos diferentes entre aqueles que a praticam”. Para a autora, as diferentes vertentes geradas a partir dessas conjecturas podem ser sintetizadas em três grupos. O primeiro revela uma EA que visa à mudança de comportamentos ambientais e é considerado acrítico. O segundo, também acrítico, baseia-se na transmissão de conhecimentos técnicos e científicos acerca dos processos naturais. O terceiro, por sua vez, caracteriza-se como um processo político de apropriação crítica de conhecimentos, atitudes, valores e comportamentos com a finalidade de construção, coletiva e participativa de uma sociedade sustentável (TOZONI-REIS, 2008). As discussões que se processam no cenário mundial não concebem uma EA conceitual, reducionista, de memorização e desconexa com a realidade local. É preciso romper com esse paradigma e conduzir o sujeito a refletir e problematizar sobre o meio onde está inserido, no seu sentido mais amplo. Neste sentido Medina (2000) afirma que a educação deve se libertar da fragmentação conteudista, se atualizar em relação ao conhecimento produzido pela ciência e, sobretudo, unir forças que visem à construção de um mundo mais humano e sustentável. Essa libertação depende do questionamento do modelo social da modernidade, da desconstrução e da reconstrução de valores ambientais que passam por princípios ecológicos gerais, uma nova ética política, novos direitos culturais e coletivos. Esses valores se adentram, mesmo que timidamente, nos diferentes grupos sociais, na educação formal e não formal, na qual de alguma forma está ocorrendo a politização desses valores. Sato (2002) ainda destaca cinco objetivos específicos da EA: a sensibilização; a compreensão; a responsabilidade; a competência e a cidadania ambiental. Para a autora, a sensibilização salienta-se como objetivo principal, visto que os outros quatro são consequências dela. Da mesma maneira, para Tristão (2005), a compreensão dos múltiplos e diferentes fios que conduzem a uma narrativa da EA pode facilitar o entendimento da sua manifestação como desenvolvimento individual/subjetivo/coletivo e, ao mesmo tempo, o poder que exerce sobre esse desenvolvimento em termos de emancipação.
A Educação Ambiental no contexto escolar No Brasil, a EA foi respaldada pelo Governo a partir da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, em 1988, que ressalta no Artigo 255, parágrafo 1º: “cabe ao Poder Público promover a EA em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. Entretanto, foi após a Conferência Rio-92 que a política de Educação Ambiental tomou força e destacou-se como necessária para o desenvolvimento sustentável. Dentre as orientações governamentais específicas que dão embasamento para suas discussões, destacam-se os PCN (BRASIL, 1998), a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999), o Programa Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 2005) e o Programa Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola do MEC (BRASIL, 2001). Tristão (2005) aponta que a transversalidade do tema Meio Ambiente nos PCN partiu de um incentivo da UNESCO que, após a divulgação de um documento emitido pelo Clube de Roma, Aprender sem limites (1979), apoiou reformas educacionais em vários países. Esse documento exerce importância na prática da EA no sentido de conceber o meio ambiente e sua transversalidade no ensino de Ciências e, principalmente, no contexto escolar. A proposta do MEC para os PCN, segundo Depresbiteris (1998), apresenta-se de forma interdisciplinar e ressalta a necessidade da formação de cidadãos conscientes e capazes de atuarem na sociedade. Nesse contexto, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1996 define que a transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real (aprender na realidade e da realidade). No entanto, apesar da proposta de transversalidade do tema Meio Ambiente estar relacionada à realidade, os PCN revelam dificuldades na integração entre o aprender conceitual e atitudinal por parte dos alunos. Embora os PCN sejam considerados peças chave no desenvolvimento da EA no Brasil, eles também são alvos de severas críticas. Para Amaral (2001) esses documentos depositam “excessivas esperanças e responsabilidade na EA, mitificando-a”. Aquino (2010) complementa essa análise revelando que apesar de os PCN visarem à capacidade reflexiva, na prática, os investimentos das políticas públicas são insatisfatórios para se alcançar tal objetivo. Fica claro, portanto, que a inserção da EA no meio escolar não se limita a uma disciplina. Por meio da interdisciplinaridade, a inclusão da temática ambiental – que inclui os aspectos sociais e naturais – deve driblar a rígida e inflexível organização curricular, a fim de se atingir os princípios de uma educação crítica, transformadora e emancipatória. (TOZONI-REIS, 2008).
A potencialidade do lúdico na Educação Ambiental Como explicitado anteriormente, a Constituição Brasileira de 1988 incorporou a EA em seu texto. Além disso, os PCN apresentam a questão ambiental como um dos temas transversais do currículo do Ensino Fundamental. Contudo, apesar da existência de propostas teóricas, da aprovação de leis e da introdução de diretrizes curriculares que respaldam a EA, a singularidade da formação inicial dos professores somada à complexidade da temática, tornam a efetivação da interdisciplinaridade muito distante do cotidiano escolar. Em muitos casos, as tentativas de realização se limitado a ações isoladas e/ou a entendimentos parcializados sobre a questão ambiental, orientados por uma visão excessivamente “biologizada”, dentro de uma vertente ecológico-preservacionista, algumas vezes fica restrita a eventos comemorativos, ou ainda, limitada à realização de algumas atividades práticas, denominadas extracurriculares, eventuais (campanha do lixo, coleta para reciclagem, caminhadas ecológicas, visitas, plantio de hortas, etc.). Nesses exemplos, acima citados, não ocorre a contextualização necessária nem a internalização sobre o real entendimento da problemática ambiental no cotidiano das comunidades escolares (SOARES et al., 2004). As atividades lúdicas são entendidas, neste trabalho, como toda e qualquer prática cuja execução é realizada com prazer, ou seja, com sentido paralelo aos jogos e brincadeiras. Neste contexto Huizinga (2007) ressalta que:
"O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão, de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida quotidiana".
Nesse sentido, a atividade lúdica é uma janela para a investigação e construção de conhecimentos no âmbito micro e macro de forma prazerosa e produtiva, pois exercita a capacidade de criar e imaginar. A imaginação, por sua vez, ao ser estimulada, exerce papel de extrema importância por relacionar o cotidiano com a necessidade e interesses intrínsecos ao próprio indivíduo. Segundo Duarte Júnior (1995) “[...] a imaginação, já o notamos, é o traço distintivo do homem; através dela este transcende a imediatidade das coisas e projeta o que ainda não existe [...]”. O caminho cognitivo para a construção das ideias é particular para cada indivíduo. Assim, faz-se necessário pensar em estratégias que despertem o interesse e aproximem-se, ao máximo, da realidade de cada um, de modo a transformar os conteúdos em vivência (FIALHO, 2007). Logo, destaca-se a capacidade das atividades lúdicas em tornar qualquer situação prazerosa, de modo que este sentimento faz com que o indivíduo não apenas tenha um bom desempenho pontual, mas também vislumbre novas atitudes no futuro. Em muitas situações, a atividade lúdica é vista como sinônimo de desorganização e ausência de seriedade, principalmente no meio escolar. Entretanto, Huizinga (2007) afirma que “a seriedade procura excluir o jogo, ao passo que o jogo pode muito bem incluir a seriedade”. Assim, ao ter o professor como mediador da atividade na escola, é plausível a utilização de atividades lúdicas como uma ferramenta no mecanismo de ensino-aprendizagem. Cabe a ele propiciar uma melhor articulação das questões sociais, emocionais, afetivas e cognitivas entre os envolvidos, e ampliar a situações de aprendizagem. Brougère (1998) afirma que o jogo se relaciona mais com aspectos do comportamento social do que com o comportamento natural do indivíduo. Desse modo, pode-se inferir que o jogo, ou, a atividade lúdica, está intrínseco à capacidade do indivíduo se relacionar com a sociedade e com o meio e que, portanto, concede um sentido maior ao seu papel socioambiental. Em vista dessa problemática, será apresentado a seguir um relato de experiência de uma professora do ensino fundamental II que utilizou-se de atividades lúdicas como meio de sensibilização dos alunos em um evento escolar. O lúdico e a Educação Ambiental no cotidiano escolar: um relato de experiência Sobre os aspectos metodológicos Sabendo-se que as estratégias adotadas nos trabalhos de EA devem levar a atitudes críticas, transformadoras e emancipatórias do indivíduo e que a pesquisa-ação-participativa tem por objetivo “produzir conhecimentos sobre a realidade a ser estudada e, ao mesmo tempo, realizar um processo educativo, participativo, para o enfrentamento dessa mesma realidade (TOZONI-REIS, 2006), o presente trabalho baseou-se nesta categoria de estudos para o incremento do delineamento metodológico. A pesquisa-ação tem sido relatada por autores, como De Fiori (2002), Maroti (2002) e Araújo (2006), em trabalhos de EA que utilizam o entorno de unidades de conservação como meio de sensibilizar a comunidade sobre a importância de manutenção dessas áreas. De acordo com Tozoni-Reis (2005), a metodologia de pesquisa-ação em EA está centrada em três práticas que se articulam: a produção de conhecimento, a ação educativa e a participação dos envolvidos, em que o ponto de partida trata de um problema existente e detectado pelas equipes. De acordo com Tripp (2005), a pesquisa-ação é um método que, por meio da oscilação sistemática entre agir no campo da prática e investigar a respeito dela, acaba por aprimorá-la. Assim, age-se por meio da facilitação do grupo e a investigam a fim de assegurar que todos os propósitos sejam cumpridos. Vale ressaltar que:
a pesquisa-ação é sempre deliberativa porque, quando se intervém na prática rotineira, está se aventurando no desconhecido, de modo que é preciso fazer julgamentos competentes a respeito como, por exemplo, daquilo que mais provavelmente aperfeiçoará a situação de maneira mais eficaz (TRIPP, 2005).
Considera-se que um dos componentes essenciais da pesquisa-ação é também sua flexibilidade metodológica (FRANCO, 2005). Assim, os métodos utilizados pelos facilitadores para com o grupo de trabalho surgem ao longo do processo, gerados pela própria metodologia de pesquisa-ação. Sobre o processo As atividades relatadas no presente trabalho foram realizadas entre os meses de novembro e dezembro do ano de 2010 em um colégio da rede particular de ensino na região norte do Estado do Paraná, Brasil. Elas contaram com a participação dos alunos do ensino fundamental II, professores e funcionários da escola. A escola em questão foi fundada no ano de 1996, com o objetivo de atender crianças e adolescentes da educação infantil, ensino fundamental I e II. Ela prioriza salas com poucos alunos e ensino baseado em uma proposta pedagógica fundamentada na reflexão coletiva dos professores e coordenadores. A partir da discussão sobre a criação de um tema a ser trabalhado na “Mostra de Qualidade de Vida”, estabeleceu-se a proposta de elaboração de temas interdisciplinares, porém, que não escapassem dos conteúdos cabíveis a cada turma. A elaboração dos temas, metodologias e ferramentas contou com a participação dos professores e a coordenadora da instituição. A partir de uma série de discussões, foram propostos os trabalhos. A descrição de cada tema e respectivos objetivos, assim como a proposta de colaboração das atividades que envolveram todas as disciplinas, estão descritos a seguir:
· 6º ano: “Construção de um produto ecológico” Objetivo: Incentivar os alunos na criação de alternativas aos problemas ambientais relativos ao uso da água, ar e solo observados no cotidiano. Disciplinas envolvidas: Ciências, Matemática, Português, Geografia, História e Educação Artística.
· 7º ano: “O papel dos organismos autótrofos no sequestro de carbono atmosférico” Objetivo: Sensibilizar os alunos sobre a importância da preservação dos recursos florestais para a melhora da qualidade de vida. Disciplinas envolvidas: Ciências, Matemática, Português, História, Educação Física e Artística.
· 8º ano: “Doenças do sistema imune e endócrino” Objetivo: Investigar doenças de interesse dos alunos a fim de sensibilizar os mesmos em relação aos cuidados relativos à saúde humana. Disciplinas envolvidas: Ciências, Matemática, Português, História e Educação Artística.
· 9º ano: “O papel da Legislação Ambiental Brasileira” Objetivo: Sensibilizar os alunos sobre a importância da preservação dos recursos naturais, assim como esclarecer a legislação que regulariza o uso dos mesmos no Brasil. Disciplinas envolvidas: Ciências, Português, Geografia, História e Educação Artística.
Sobre os Resultados Como um primeiro passo, os professores foram reunidos para que, dessa forma, houvesse a decisão sobre a atuação deles como facilitadores. Para tal, após o estabelecimento dos temas cada um, de acordo com as aptidões relacionadas aos conhecimentos específicos, propôs atividades a serem desenvolvidas durante o projeto. Construiu-se, então, uma proposta para que fossem cumpridas as atividades, e também para que utilizado como “documento básico” para a auto avaliação e construção de novas metodologias e técnicas durante o processo. Os quadros abaixo apresentam a proposta de trabalho para cada disciplina dentro do projeto maior (QUADROS 1, 2, 3 e 4):
· 6ª ano: “Construção de um produto ecológico”
QUADRO 1. Proposta de atividades em cada disciplina envolvendo o tema relativo ao 6º ano.
· 7ª ano: “O papel dos organismos autótrofos no sequestro de carbono atmosférico”
QUADRO 2. Proposta de atividades em cada disciplina envolvendo o tema relativo ao 7º ano.
8ª ano: “Doenças do dia-a-dia”
QUADRO 3. Proposta de atividades em cada disciplina envolvendo o tema relativo ao 8º ano.
9ª ano: “O papel da Legislação Ambiental Brasileira”
QUADRO 4. Proposta de atividades em cada disciplina envolvendo o tema relativo à 9º ano.
As atividades foram iniciadas aproximadamente um mês antes do objetivo final do projeto, a “Mostra de Qualidade de Vida”, com a colaboração de todos os professores e alunos. O trabalho realizado no 6º ano, com o tema “Construção de um produto ecológico” começou com a apresentação do documentário “Uma Verdade Inconveniente” e com a consequente discussão sobre os problemas ambientais atuais com os discentes na aula de ciências. Tais problemas foram levantados pelos próprios alunos e o professor, agora como facilitador, auxiliou na articulação dos dados e também na organização ética e social durante as divergências. A discussão foi prolongada durante as aulas de geografia e passou pelo contexto histórico do desenvolvimento de Londrina, do Brasil e do mundo. Após as discussões, os alunos foram instigados para que construíssem um “produto ecológico”. Cabe salientar a importância da atividade lúdica no processo de aprendizagem, mas também de sensibilização dos indivíduos, pois ela faz um elo com o divertimento. Os projetos do “produto ecológico” foram inicialmente colocados no papel e apesar de muitos não terem viabilidade, todos transcenderam a imaginação dos alunos, sobrepondo os problemas levantados por eles com as soluções para “um mundo melhor”. A construção, propriamente dita, do “produto” contou com o envolvimento dos professores de educação artística, ciências e, também, da escola e familiares. O entusiasmo ultrapassou os portões escolares e ganhou os estudantes e familiares. Além disso, os alunos desenvolveram, nas disciplinas de português e matemática, as “propagandas” de seus produtos a serem utilizados no dia da exposição, enfatizando por que os “produtos ecológicos” eram melhores que os convencionais. O 7º ano, por sua vez, trabalhou o tema “O papel dos organismos autótrofos no sequestro de carbono atmosférico”. O exercício começou com a sensibilização, por meio da mostra do mesmo documentário visto pelo ano anterior e que trata dos problemas ambientais relacionados ao excesso de gás carbônico lançado na atmosfera nos últimos anos. Somado a essa atividade, trabalhou-se o documentário “Microcosmos”, a fim de despertar o interesse pelas relações intrínsecas entre os seres vivos e o sentimento sobre a necessidade destas relações para a sobrevivência e o bem estar de todos. Além disso, foram realizadas discussões a respeito dos processos de fotossíntese e sequestro de carbono atmosférico durante as aulas de ciências. Ao encontro dessas informações, nas aulas de história, discutiram-se as implicações do processo de forte industrialização após a década de 70. Elas foram úteis para a elaboração de gráficos durante as aulas de matemática. Vale ressaltar a participação efetiva das aulas de educação física, que destacaram a importância e os benefícios das atividades físicas no tratamento de problemas respiratórios relacionados à poluição do ar. A finalização trabalho contou com a elaboração de painéis durante as aulas de educação artística e português. Os trabalhos do 8º ano não foram relacionados às questões do ambiente natural como nas outras turmas, visto que não cabiam aos conteúdos programáticos. Entretanto, a turma abordou uma temática relacionada à saúde e, portanto, de Educação Ambiental. Em princípio, a proposta de trabalho limitava-se à construção de projetos relacionados às doenças do sistema imunológico. Contudo, após conversas com os alunos e outros professores, decidiu-se trabalhar com doenças comuns à comunidade, de forma a esclarecer dúvidas e expor conhecimento. Após discussões durante as aulas de ciências, os próprios alunos decidiram os temas a serem trabalhados no projeto. Dentre eles, destacaram-se a intolerância à lactose e a leucemia. Assim como a escolha dos temas, as formas de apresentação também foram abertas. Esta autonomia foi concedida, visto a maturidade organizacional inerente a esta turma. Assim, os professores de ciências, matemática, história, português e educação artística foram úteis apenas como ferramentas mediadoras entre os alunos e a escola. Ao final, durante a “Mostra de Qualidade de Vida”, toda a comunidade escolar foi surpreendida por apresentações originais com o uso de vídeos, slides e o de materiais práticos para demonstração. Inicialmente, o trabalho a ser realizado pelo 9º ano tratava do “Papel da Legislação Ambiental Brasileira”, no qual os alunos aproximariam a comunidade das leis e obrigações como cidadão em relação ao meio ambiente. Entretanto, o projeto não foi viabilizado devido à falta de interesse dos alunos e foi substituído pelo trabalho com o documentário “Ilha das Flores”. Após assistirem ao vídeo, os alunos foram interrogados quanto à contribuição de cada um nos problemas ambientais. O trabalho contou com a participação dos professores de filosofia, história, geografia e ciência como facilitadores. A conclusão do mesmo se deu com uma mostra do documentário e, posterior mesa redonda, com a comunidade e os alunos durante o evento.
Algumas considerações A metodologia utilizada permitiu a implantação de um processo coletivo de produção e compartilhamento de saberes, articulado a uma ação educativa interdisciplinar que envolveu toda a comunidade escolar, possibilitando: a) o aperfeiçoamento profissional dos professores com a atualização de conteúdos pedagógicos relacionados ao meio ambiente; b) organização e reorganização do trabalho dos professores priorizando sua prática pedagógica; c) mudança no horizonte educativo dos professores, estimulando ações e reflexões que conduziram a superação de dificuldades advindas da formação inicial. Elaborar práticas inovadoras de pesquisa em EA significa contribuir na construção de um campo teórico-metodológico necessário para o seu desenvolvimento e consolidação como instrumento de produção e apropriação social e democrática dos conhecimentos na construção de uma sociedade mais justa e democrática. Deste modo, a elaboração de atividades lúdicas de modo participativo permitiu o envolvimento dos alunos, professores e toda a comunidade do colégio e, possivelmente, o “divertimento” tornou-se uma ferramenta promotora da sensibilização em relação às causas ambientais. Por fim, ressalta-se a importância da implementação de políticas públicas que fomentem a parceria entre instituições produtoras de saber e a educação formal, a fim de promover a divulgação do conhecimento, a atualização de professores, a melhoria da qualidade do ensino e a sensibilização da população sobre a importância da conservação do meio ambiente local e global. Referências Bibliográficas AQUINO, Maria Sacramento. As questões ambientais no cotidiano da educação básica: políticas públicas, formação do professor e organização curricular. In: REUNIÃO DA ANPED, 33, 2010, Caxambu. Anais...Caxambu, MG: ANPED, 2010. 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