
Poronominaré - O Dono da Terra
O velho pajé Cauará saiu para pescar, demorando muito a
voltar. A filha preocupada resolveu procurá-lo perto das águas mansas do rio.
Após muito andar, sentou-se na relva para descansar.
Anoitecia e a lua surgiu atrás das montanhas, ficando a
jovem a contemplá-la. Subitamente, destacou-se do astro um vulto muito
estranho que vinha em sua direção. A índia parecia hipnotizada, sendo em
seguida tomada de profunda sonolência.
Neste momento o pajé, que havia retornado a aldeia,
preocupou-se com a ausência da filha. Tomou então um pote com paricá, pó
alucinógeno que, inalado, lhe despertava os poderes de pajé, entrando assim
em transe. Muitas sombras desfilaram a sua frente e entre elas surgiu a
silhueta de um homem que subia aos céus em direção à lua.
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Aos poucos, outras imagens foram tomando formas humanas
com cabeça de pássaros, anunciando ao pajé que sua filha estava numa ilha,
não muito distante dali. Imediatamente Cauará dirigiu-se ao local revelado,
encontrando a moça enfraquecida e faminta. Voltaram à aldeia.
Passados alguns dias, a jovem, preocupada contou ao pai
um sonho impressionante: no alto da montanha ela dava à luz uma criança muito
clara, quase transparente. Não havia leite em seus seios, sendo o seu
filhinho alimentado por uma revoada de beija-flores e borboletas. À sua
volta, outros animais que também se encantaram com o bebê, lambiam-no
carinhosamente.
Um tempo depois, a filha de Cauará notou que, embora
virgem, esperava uma criança.
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O pajé, estranhando o fato, entrou novamente em transe.
As alucinações lhe mostraram ser o homem que ele vira subir à lua, o pai de
seu neto. Numa madrugada em que os animais, as aves e os insetos pareciam
agitados e felizes, nasceu na serra de Jacamin o neto do pajé, Poronominaré,
o dono da terra.
Ao ser informado do feliz acontecimento, Cauará seguiu
para a montanha para conhecer o herdeiro. Surpreso, encontrou a criança com
uma barbatana nas mãos, indicando a cada animal o seu lugar na Natureza.
Ao cair da tarde, quando tudo já estava em pleno
silêncio, ouviu-se uma cantiga feliz. Era a mãe do dono da terra que subia
aos céus, levada por pássaros e borboletas
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