É dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso senti-lo. Jean-Jacques Rousseau
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 89 · Dezembro-Fevereiro 2024/2025
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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DE TRILHAS ECOPEDAGÓGICAS NO
PARQUE NATURAL MUNICIPAL DE SANTO ÂNGELO-RS 1Alexandre Hüller; 2Luis Augusto de Almeida
Persigo; 3Adelita Rauber; 1.
Biólogo, Especialista em Ciências Ambientais/Conservação da Biodiversidade,
Mestrando em Ciência e Tecnologia de Sementes na UFPEL e Técnico Ambiental do
Departamento de Florestas e Áreas Protegidas da Secretaria Estadual de Meio
Ambiente/RS, Trav. Honório Lemos, 34, Apartamento 303, Bairro Centro, CEP
98802-350, Santo Ângelo-RS.Tel: 55-35125699, alexandre-huller@sema.rs.gov.br 2. Técnico Paisagista, do Departamento Municipal de Meio
ambiente de Santo Ângelo, Rua Roque Gonzáles 871, Centro, CEP 98800-000, Santo
Ângelo-RS. luispersigo@yahoo.com.br 3. Bióloga, Especialista em Ciências Ambientais/Conservação
da Biodiversidade, Travessa Jose Mendes 317, Ap 102, Bairro Cohab, CEP
98800-000, Santo Ângelo-RS. adelita_rauber@yahoo.com.br RESUMO O Departamento Municipal de Meio Ambiente de Santo Ângelo-RS,
elaborou um projeto de trilhas ecopedagógicas no Parque Natural Municipal de
Santo Ângelo, que é uma Unidade de Conservação Municipal criada por lei e
que está aguardando seu cadastramento no Sistema Estadual de Unidades de
Conservação. O projeto visa atingir diferentes faixas etárias da população
para desenvolver e despertar as necessidades de preservação do meio ambiente
através de atividades vivenciais em trilhas ecopedagógicas, como um
instrumento de Educação Ambiental que visa à integração do homem a
natureza. Esse método vivencial adota técnicas didáticas, flexíveis e moldáveis
às mais diversas situações, que busca esclarecer os fenômenos da natureza
para determinado público alvo, em linguagem adequada e acessível, utilizando
os mais variados meios auxiliares para tal. A interpretação procura promover
neste público o sentimento de pertinência à natureza, através da sua
compreensão e de seu entendimento, na esperança de gerar seu interesse, sua
consideração e seu respeito pela natureza, e conseqüentemente pela vida. As
trilhas nesse local vêm sendo desenvolvidas desde o ano de 2005, e até o
momento já foram treinados mais de 600 alunos e professores. Palavras-chave: Educação Ambiental; Trilhas Ecopedagógicas; Treinamento
Vivencial; Meio Ambiente. INTRODUÇÃO Nas
últimas décadas, vêm se intensificando as preocupações inerentes à temática
ambiental e, concomitantemente, as iniciativas dos variados setores da sociedade
para o desenvolvimento de atividades, projetos e congêneres no intuito de
educar as comunidades, procurando sensibilizá-las para as questões ambientais,
e mobilizá-las para a modificação de atitudes nocivas e a apropriação de
posturas benéficas ao equilíbrio ambiental. A
constituição Brasileira de 1988, Art. 225, Capítulo VI – Do Meio Ambiente,
Inciso VI destaca a necessidade de “promover a Educação Ambiental em todos
os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do
ambiente”. A
educação ambiental é uma forma prática e educacional sintonizada com a vida
em sociedade. Ela possibilita aos membros da comunidade participar de acordo com
suas habilidades de complexas e múltiplas tarefas de melhoria das relações
das pessoas e seu meio ambiente, dessa forma, o ser humano pode influenciar o
seu meio. Trilhas,
como meio de interpretação ambiental, não visam somente à transmissão de
conhecimentos, mas também propiciam atividades que revelam os significados e as
características do ambiente por meio do uso dos elementos originais através de
experiência direta, e dessa forma, se tornando um instrumento básico de
programas de educação ao ar livre (Pádua & Tabanez, 1997; Ashbaugh e
Kordish, 1971 apud Possas, 1999). A
interpretação ambiental nas trilhas pode incluir ainda atividades dinâmicas e
participativas, em que o público recebe informações sobre recursos naturais,
exploração racional, conservação e preservação, aspectos culturais, históricos,
econômicos, arqueológicos, e outros (Tabanez et. al., 1997 apud Tabanez e Pádua, 1997). Quando
conjugadas a grande diversidade de eixos temáticos e abordagens que as trilhas
ecológicas possibilitam, as atividades vivenciais favorecem resultados
significativos comportamentais, mexendo diretamente na atitude dos
participantes. A
educação ao ar livre é uma prática educacional que utiliza como recursos
educativos, os desafios encontrados em ambientes naturais, e objetiva o
desenvolvimento educacional do ser humano (Barros, 2000). Em
Santo Ângelo, restam poucos fragmentos florestais localizados próximos à zona
urbana que possibilitam a realização de trabalhos de educação ambiental e
trilhas ecológicas. Dentre estes fragmentos, o Parque Natural Municipal de
Santo Ângelo se destaca pela área representativa de aproximadamente 13 ha e
por sua localização, fazendo parte da mata ciliar do rio Ijuí, que é o
principal rio da região. O
Parque Natural Municipal de Santo Ângelo foi criado no ano de 2006, pela Lei
Municipal nº 2.965 de 18 de abril de 2006, que unificou os três parques que
existiam (Parque das Américas, Parque Poncho Verde e Parque do Sol das Águias).
A denominação “Parque Natural Municipal de Santo Ângelo” foi escolhida
para atender a uma orientação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA),
com o propósito de incluí-lo no Sistema Estadual de Unidades de Conservação
(SEUC). O
Parque Natural Municipal de Santo Ângelo oferece um verdadeiro laboratório ao
ar livre com salas de aulas em infinitas dimensões para trabalhar os temas
ambientais com os diferentes setores da comunidade. O Departamento Municipal de
Meio Ambiente – DEMAM da Prefeitura Municipal de Santo Ângelo – RS tem
usado o Parque Natural Municipal como um espaço natural de educação
ambiental, através da utilização para a realização de trilhas ecológicas. O
presente estudo tem o objetivo de apresentar a experiência do município de
Santo Ângelo na implantação de trilhas ecológicas desenvolvidas pela equipe
técnica do DEMAM em ações de educação ambiental no Parque Natural Municipal
de Santo Ângelo. MATERIAS
E METODOS Caracterização da área de estudo A
área de estudo localiza-se no Parque Natural Municipal de Santo Ângelo, entre
as coordenadas geográficas de 28º 19’ 17” de latitude sul e 54º 15’
52” de longitude oeste, com uma variação de altitude de 195 até 240 m. A
vegetação da área de estudo faz parte da Floresta Estacional Decidual,
abrangendo parte da mata ciliar do rio Ijuí. De acordo com IBGE (1991), este
tipo de formação apresenta grandes áreas descontínuas, que se dividem em
quatro formações distintas, sendo que a formação da Floresta Estacional
Decidual Aluvial ocorre quase exclusivamente nas bacias dos rios do Estado do
RS. Na região de estudo, observa-se já uma transição entre a floresta
decidual e as formações vegetais típicas dos campos sulinos, mais ao sul e a
oeste. O
clima na região, assim como na maior parte do Rio Grande do Sul, é subtropical
úmido, do tipo Cfa, conforme a classificação de KÖPPEN (MORENO, 1961). A
temperatura média anual é de 21,8
ºC e a precipitação pluviométrica anual de 1734,5 mm (IRDeR, 2004). O município
de Santo Ângelo localiza-se na encosta Ocidental do Planalto Médio
Rio-Grandense, Região Noroeste do Estado, Zona Fisiográfica das Missões. O
tipo de solo predominante é o Latossolo Vermelho Distroférrico Típico
(STRECK et. al., 2002), originado de basalto e arenito, de textura argilosa,
relevo ondulado, substrato basáltico da unidade de mapeamento Santo Ângelo. A
Bacia Hidrográfica referente ao local é a do rio Ijuí, que inclusive margeia
a área de estudo. Metodologia
utilizada Com
finalidade de diminuir os impactos ambientais nas trilhas, o número de alunos
é limitado a cerca de 20 participantes. O DEMAM tem procurado separar os
participantes por faixa etária de acordo com o período escolar, da seguinte
forma (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, universitários e
pós-graduados), sendo que para cada faixa etária é adequada a metodologia e o
percurso das trilhas, de forma que se otimizem os recursos naturais disponíveis
para a observação e percepção dos participantes. Dentro
do plano de atividades são elaborados três cronogramas: um para o trabalho de
campo, um para as atividades da trilha, e um para sua manutenção, utilizando
os sub-métodos a seguir: Trabalho
de Campo
Atividades da trilha ·
Divulgação do projeto; ·
Autorizações de proprietários; ·
Agendamento de trilhas; ·
Palestras de reflexões; ·
Realização das trilhas; ·
Avaliação das atividades. Manutenção das trilhas ·
Estruturas físicas; ·
Limpeza e recolhimento de lixo; ·
Delimitação de percurso – extensão; ·
Colocação de Lixeiras; ·
Definição de pontos de paradas; ·
Placas de sinalização. A
aplicação prática das trilhas realizadas pelo DEMAM, consiste na realização
de quatro paradas para estudos de caso, sendo as seguintes: Ponto
1. Ponto de encontro: Neste
local é realizado o Briffing, onde são
dadas informação do objetivo da trilha, regras de segurança e demais informações,
e a realização da dinâmica (cadeia alimentar). Ponto
2. Primeira Parada: Local
em que os participantes recebem informações sobre a interpretação ambiental
da trilha, vegetação, biogeografia, ecossistema e as relações entre os seres
vivos. Ponto
3. Segunda Parada: Atividade
vivencial com a coleta de pegadas em gesso e dinâmica de impressões vegetais. Ponto
4. Terceira Parada: Os
participantes observam o ecossistema terrestre, biodiversidade e tem
oportunidade, através do método de Briffing,
de fazer a avaliação da atividade e de sua consciência ecológica. Materiais
utilizados nas trilhas Para
a execução das trilhas são utilizados os seguintes materiais de apoio pedagógico,
(Gesso em pó, Giz de cera, Vendas, Bússolas, 15m de corda, Vasilha para
misturar o gesso, Folhas de papel ofício, Clipes, Tiras de papel, Colher de
sopa e Garrafas PET). RESULTADOS
E DISCUSSÃO As
trilhas, como meio de interpretação ambiental, visam não somente a transmissão
de conhecimento, mas também propiciar atividades que revelam os significados e
as características do ambiente por meio de usos dos elementos originais, por
experiência direta e por meios ilustrativos, sendo assim, encaixa-se como um
instrumento básico de educação ambiental. Desde
2005, quando implantada essa trilha ecológica nas ações de educação
ambiental no Parque Natural Municipal de Santo Ângelo pelo DEMAM, já foram
atingidos 625 alunos e professores multiplicadores do programa, das redes de
ensino municipal, estadual e particular de Santo Ângelo e outros municípios da
região. Com
a trilha ecológica percebeu-se uma interação maior dos alunos com a natureza,
através da percepção de detalhes não vistos e abordados em ações normais
de visitas à floresta, motivando o participante a usar sua criatividade e
provocar atitudes capazes de na prática desenvolver uma consciência mais ecológica. Depois
dos treinamentos os professores têm notado uma mudança significativa de
atitude nos alunos que freqüentam essas trilhas ecológicas com o DEMAM,
despertando a conscientização em relação à preservação dos recursos
naturais, coleta seletiva do lixo e recuperação de áreas degradadas. Depois
das atividades é realizado o debriefing,
um dos processos das atividades vivenciais que tem como objetivo um balanço,
semi-estruturada das experiências vividas. In
most cases, the purpose of debriefing is to reduce any possibility of
psychological harm by informing people about their experience or allowing them
to talk about Na maioria dos casos, o objetivo do balanço é obter a sua
experiência ou o que lhes permite falar sobre a aprendizagem dos eventos através
da reflexão das atividades desenvolvidas. Paralelamente
a essas atividades de educação ambiental é necessário um estudo mais
aprofundado sobre o diagnóstico da área do Parque, com a posterior elaboração
de um plano de manejo do mesmo, e com isso poder avaliar as estratégias de
conservação desse fragmento florestal importante para toda a região das missões.
Atualmente está em fase de elaboração um plano de ações para conservação
do Parque onde já está sendo contemplada a manutenção dessa trilha ecológica
em função de sua relevância em termos de educação ambiental para o município. Atualmente
o município de Santo Ângelo aguarda o cadastramento dessa Unidade de Conservação
no SEUC, para reivindicar recursos de compensações ambientais de grandes
obras, como é o caso de Hidrelétricas, que conforme Lei Federal n° 9.985/2000
e regulamentada pelo Decreto n° 4.340/2002, os empreendedores ficam obrigados a
apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação devidamente
cadastrada no SEUC, por meio da aplicação de recursos correspondentes, no mínimo,
a 0,5% (meio por cento) dos custos totais previstos para a implantação do
empreendimento. Com esses recursos o Parque Natural Municipal poderá ser dotado
de uma infra-estrutura maior para sua preservação e instrumentalização de
atividades de educação ambiental. Todos
os parâmetros para a manutenção das trilhas devem ser avaliados, inclusive a
mudança de comportamento no grupo alvo, e para isso são usados alguns
instrumentos de apoio. O DEMAM tem usado dessas metodologias que consistem em
questionários pré e pós-visita, com perguntas subjetivas e diário de visitação,
conforme (Pádua, 1997). CONCLUSÃO A
educação ambiental deve ser um processo permanente no qual os indivíduos e a
comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos,
valores, habilidades, experiências e determinação que os tornem aptos a agir
e resolver problemas ambientais, presentes e futuros. Independente
da metodologia deve-se primar pela formação de pessoas conscientes de seu
papel e de sua relação com o meio ambiente, de modo a primarem pela
sustentabilidade, através do uso racional dos recursos naturais, para que tanto
esta quanto às futuras gerações possam, também, deles usufruir. O
Parque Natural municipal de Santo Ângelo apesar de ser considerada uma Unidade
de Conservação de Proteção Integral, pode e deve ser aproveitado como
instrumento de educação ambiental através de trilha ecológica para os mais
diversos públicos, desde que respeitadas as diretrizes ambientais e orientações
do plano de ação e futuro plano de manejo do Parque, para assim usufruir dessa
riqueza sem degradar o local. BIBLIOGRAFIA Barros, M. I. A. de. Outdoor Education: uma alternativa para
a educação ambiental através do turismo de aventura. In: SERRANO, C. (org.). A
Educação pelas Pedras. São Paulo: Chronos, 2000. p. 85-110. Brasil. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
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Brasil. Decreto
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