Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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14/12/2010 (Nº 34) PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS METAS DO PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUDADA COLETIVO EDUCADOR SAMAÚMA - BAIXO ACRE E PURUS
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PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS METAS DO PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUDADA COLETIVO EDUCADOR SAMAÚMA - BAIXO ACRE E PURUS



NEGREIROS, Luciano Pereira

Graduado em Ciências Biológicas

Técnico do Subprojeto Formação de Educadores Ambientais

Secretaria Municipal de Meio Ambiente

Prefeitura Municipal de Rio Branco

Email: lucianopn@yahoo.com.br


FAÇANHA, Tânia Gomes

Graduada em Ciências Sociais

Técnica do Subprojeto Formação de Educadores Ambientais

Secretaria Municipal de Meio Ambiente

Prefeitura Municipal de Rio Branco

Email: taniagfacanha@gmail.com


BEZERRA-FRANÇA, Irineide Ferraz

Graduada em Ciências Biológicas

Técnica do Subprojeto Formação de Educadores Ambientais

Secretaria Municipal de Meio Ambiente

Prefeitura Municipal de Rio Branco

Email: Irineide.ferraz@gmail.com



RESUMO


Este artigo apresenta a experiência da Prefeitura de Rio Branco na implantação do Programa de Formação Continuada de Educadores Ambientais - Coletivo Educador Samaúma. O Coletivo Educador consiste em conjuntos de instituições que atuam em processos formadores permanentes, participativos, continuados e voltados à formação de educadores ambientais populares. O papel de um Coletivo Educador é promover a articulação institucional e de políticas públicas, a reflexão crítica acerca da problemática socioambiental, o aprofundamento conceitual e criar condições para o desenvolvimento continuado de ações e processos de formação em Educação Ambiental com a população, visando à compreensão dos processos de aprendizagem que contribuem para a construção de territórios sustentáveis. O educador ambiental atua na capacitação, formação continuada e difusão da educação ambiental. Para a realização do programa de formação foram elencadas três metas: meta 1 (um), com o objetivo de realizar articulação, seleção e implantação de cinco núcleos do Coletivo Educador Samaúma; meta 2 (dois) formação inicial de 200 educandos através de módulos e intervenções educacionais e meta 3 (três) novas articulações, fortalecimento e novas parcerias para o processo de formação continuada de educadores ambientais.



PALAVRAS-CHAVE: Coletivo Educador Samaúma, Formação Continuada, Educação Ambiental, Intervenção, Ecocidadania.

INTRODUÇÃO



O conceito de Educação Ambiental que se apresenta neste artigo trata-se de um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas áreas do conhecimento despertando nos cidadãos uma consciência ambiental local e planetária. Buscando como principal eixo de atuação, a solidariedade, a igualdade e o respeito às diferenças, através de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. Isso se consubstancia no objetivo de criar novas atitudes e comportamentos em face do consumo na nossa sociedade e de estimular a mudança de valores individuais e coletivos.

Diante do quadro atual de desenvolvimento econômico e social, onde se experimenta um processo crescente de desenvolvimento tecnológico e desgastes dos recursos naturais como fonte de matéria prima para a produção, a Educação Ambiental apresenta-se como uma ferramenta indispensável e eficaz quando trabalhada em parceria com a comunidade promovendo a troca de saberes e a construção coletiva de alternativas mais viáveis do ponto de vista sócio-ambiental, acreditando que a cidadania se faz por meio de uma dinâmica participativa e solidária com poder de transformar profundamente as pessoas.

A Educação Ambiental no Brasil é regulada pela Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA, instituída pela lei nº 9795, de abril de 1999, que definiu os seus princípios básicos dentre os quais se destaca o enfoque democrático e participativo, a concepção de ambiente em sua totalidade e a garantia de continuidade e permanência do processo educativo. Com base na PNEA foi elaborado o Programa Nacional de Educação Ambiental - ProNEA, que tem por missão contribuir com a construção de Sociedades Sustentáveis, com pessoas atuantes em todo Brasil.

Este programa orienta as ações da sociedade e do governo para a geração e o estímulo a uma dinâmica integrada dos processos nacionais de Educação Ambiental. Pautada nos princípios contidos na PNEA e no ProNEA, a Diretoria de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (DEA/MMA) elaborou o Programa Nacional de Formação de Educadores(as) Ambientais com a proposta de qualificar as políticas públicas federais de Educação Ambiental para que estas exijam menos intervenções diretas e mais apoio supletivo às reflexões e ações autogeridas regionalmente, no sentido de desenvolver uma dinâmica nacional contínua e sustentável de processos de formação de educadores(as) ambientais a partir de diferentes contextos.

Esta dinâmica articulada, autônoma e interdependente tem como orientação, ou por utopia, a formação de 180 milhões de brasileiros educados e educando ambientalmente e tem na formação de Coletivos Educadores uma das suas estratégias essenciais de implementação.


A questão socioambiental possui um caráter transversal e pressupõe que a ação proativa extrapole os órgãos governamentais ambientais e envolva a sociedade como um todo. O Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio de ações, programas e projetos, objetiva chegar a todos os cantos do país com uma proposta de Educação Ambiental para a sustentabilidade. Um destes projetos é o de constituição de Coletivos Educadores para Territórios Sustentáveis. É uma política que iniciou no ano de 2004 e está em processo de construção, demonstrando, nos locais onde se iniciou a mais tempo, grande vitalidade e potencial articulador da Educação Ambiental (BRASIL, 2006).

No Estado do Acre, os problemas ambientais vêm acentuando-se cada vez mais nos centros urbanos e na zona rural, gerando impactos negativos para o meio ambiente, a exemplo das queimadas, do desmatamento, da poluição dos rios e igarapés, da poluição sonora, dentre outros. Vale ressaltar que ao longo dos últimos anos, vêm sendo realizadas atividades de Educação Ambiental em nível formal e não formal, através de várias instituições que se utilizam de diferentes referenciais metodológicos.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SEMEIA em 2005, início de sua Gestão, definiu a Educação Ambiental como um dos eixos principais de trabalho a ser desenvolvido em sua nova administração. O Programa de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente, no qual estava inserido o “Projeto de Educação Ambiental e Cidadania” foi executado através de quatro subprojetos que, contemplaram diversos temas e segmentos da sociedade rio-branquense; dentre esses foi criado o subprojeto Formação de Educadores Ambientais, o qual prosseguiu na nova gestão e cujo objetivo é atuar na formação continuada e capacitação de pessoas que desejassem atuar como protagonistas na realidade sócio-ambiental de seus bairros e da cidade em que vivem, promovendo a mudança de atitude da população, a partir do desenvolvimento de processos formativos e do fortalecimento de espaços formadores.

O subprojeto Formação de Educadores Ambientais possui três eixos de atuação: implantação de Ecotecas em escolas da rede municipal, Inclusão Digital e Educação Ambiental e o Programa de Formação de Educadores Ambientais Populares - Coletivo Educador Samaúma, projeto apresentado neste artigo.

A Constituição do Coletivo Educador Samaúma – Baixo Acre e Purus, financiado pelo Ministério do Meio Ambiente - MMA, por meio do Fundo Nacional do Meio Ambiente - FNMA, através do Convênio MMA/FNMA Nº 119/2005 com contrapartida da Prefeitura Municipal de Rio Branco-AC, teve como abrangência quatro municípios do Baixo Acre, contemplando os municípios de Rio Branco, Bujari, Senador Guiomard e Porto Acre e um município na Região do Purus - Sena Madureira, visando a formação continuada para 200 educandos ambientais populares.


Um processo de Educação Ambiental que visa formar educadoras(es) ambientais e não simples e prescritas pessoas “ambientalmente educadas”. O objetivo não é adequar o comportamento das(os) educandas(os) a um padrão pré-existente, definido externamente como sendo ambiental ou politicamente correto. O conteúdo das mudanças de procedimento, atitude, comportamento, opção política, escolhas enquanto consumidor e produtor, as modificações tecnológicas, deve ser definido com ou a partir das(os) educandas(os), imersos em seu contexto cultural, político, ambiental. A relação educador(a) - educanda(o) é um encontro de saberes, um diálogo democrático sobre a realidade vivida, não há saberes mais importantes, não há hierarquia de conhecimentos. Esta concepção libertária de educação emana de Paulo Freire, da Educação Popular, das práticas educacionais dos Movimentos Sociais e de outros educadores e teorias sociais e do ambientalismo, seu fundamento político é a Democracia Radical que reconhece que cada ser humano detém o direito à participação, à definição do futuro e à construção da sua realidade e o desafio para esta educação passa pela emancipação de dominados e dominadores, explorados e exploradores. (XENES et al, 2009).


Coletivos Educadores são conjuntos de instituições que atuam em processos formativos permanentes, participativos, continuados e voltados à totalidade e diversidade de habitantes de um determinado território. O papel de um Coletivo Educador é promover a articulação institucional e de políticas públicas, a reflexão crítica acerca da problemática socioambiental, o aprofundamento conceitual criando condições para o desenvolvimento continuado de ações e processos de formação em Educação Ambiental com a população, visando a sinergia dos processos de aprendizagem que contribuem para a construção de territórios sustentáveis.


Coletivo Educador caracteriza-se pela união de pessoas que trazem o apoio de suas instituições para um processo de atuação educacional em um território. Seu papel é promover a articulação institucional de políticas públicas, a reflexão crítica acerca da problemática socioambiental, o aprofundamento conceitual e a instrumentalização da população de sua área de abrangência para o desenvolvimento de ações em EA, visando a continuidade e a sinergia de processos de aprendizagem que contribuem para a construção de territórios sustentáveis, (MMA, 2006).


O Coletivo Educador consiste na união de pessoas ou um grupo de profissionais que se aproximam para superar lacunas e dificuldades e potencializar as qualidades e capacidades de cada instituição, de cada pessoa, para possibilitar processos de Educação Ambiental permanentes, articulados, continuados e voltados à totalidade de habitantes de um determinado território (FERRARO e SORRENTINO, 2005).

A constituição do Coletivo Educador surge como uma estratégia para a implementação de políticas públicas federais, estaduais e municipais de Educação Ambiental, uma vez que é uma instância institucional de interlocução e de referência para as ações educadoras locais. Por meio dos Coletivos Educadores, os diversos Ministérios e instituições com atuação junto a temas como Educação Ambiental, extensão rural, saneamento ambiental, sustentabilidade, diversidade, qualidade de vida, autonomia, educação e participação social, poderão articular suas políticas de formação de gestores públicos, conselheiros, técnicos, educadores, professores e lideranças em geral, assim como qualificar seus fóruns de participação social e suas intervenções educacionais voltadas à criação e/ou aprimoramento de estruturas e espaços que tenham potencialidade de atuação como educadores na direção da sustentabilidade. Os Coletivos Educadores podem constituir-se em parcerias estratégicas na elaboração, na implementação e no controle social de Políticas Públicas no âmbito dos territórios onde atuam, (BRASIL, 2006).



JUSTIFICATIVA


No Acre, o órgão gestor da Política Nacional de Educação Ambiental é a Secretaria Estadual de Meio Ambiente – SEMA que através de sua Gerência de Educação Ambiental, juntamente com a Comissão Estadual de Educação Ambiental – COMEEA, são responsáveis pela missão de elaborar e orientar a execução da política de Educação Ambiental Estadual. Essa política está fundamentada no Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA. Além disso, existe no estado a Rede Acreana de Educação Ambiental – RAEA, uma importante ferramenta de gestão da Educação Ambiental, cujo objetivo é o fortalecimento das atividades em Educação Ambiental desenvolvidas por instituições, ONGs e especialistas que atuam no Estado, mas que precisa passar por um processo de revitalização.

Um dos grandes problemas que a Educação Ambiental encontra no Estado é a pulverização de suas ações, o que torna seus resultados poucos consistentes, sendo desenvolvidas ações pontuais de formação em Educação Ambiental, baseadas em palestras e oficinas. A união de esforços é fundamental para que haja o fortalecimento dos elos entre as pessoas e instituições que trabalham por um meio ambiente mais saudável. Diante disso, a implantação do Coletivo Educador nesta região, apresentou-se como uma estratégia chave para propiciar o fortalecimento do diálogo social em torno da educação ambiental, planejamento e execução de ações articuladas, evitando assim um desperdício de energia paralela, assumindo um compromisso de ações conjuntas e direcionadas.

O presente projeto contemplou 5 (cinco) municípios da Amazônia Ocidental no Estado do Acre observados na figura 01, sendo quatro municípios da Regional do Baixo Acre (Rio Branco, Bujari, Porto Acre e Senador Guiomard) e um da Regional do Purus (Sena Madureira). Este recorte territorial justifica-se por encontrar-se nas importantes bacias do Rio Acre e Purus.

Cada município tem sua própria característica apresentada a seguir: O município de Rio Branco (capital) possui 253.059 habitantes em uma área de 9.222,577 Km². O município de Sena Madureira possui uma população total de 29.420 habitantes, em uma área de 25,278,095 Km² sendo a terceira maior cidade do Estado; em relação ao município do Bujari esse limita-se com os municípios de Rio Branco, Porto Acre, Sena Madureira e com o Estado do Amazonas, está situado às margens da BR- 364, distante 28 Km de Rio Branco, sua economia e baseada na agricultura de subsistência, com destaque para a produção de hortaliças possui considerável rebanho bovino e também uma piscicultura em ascensão, boa parte da Floresta Estadual do Antimari encontra-se dentro de seus limites, possui uma área de 3.397,9 Km² equivalendo a 2, 22% da área total do Estado, sua população é de 4.641 habitantes, 72,91% rural e 27,09% urbana.

Porto Acre possui uma população de aproximadamente 8.326 habitantes, possui uma área de 2.923 Km² de área, com densidade populacional de quase 2.85 habitantes por Km². A cidade de Senador Guiomard com uma população de aproximadamente 14.280 habitantes possui uma área de 1.806 Km² e uma densidade populacional de quase 7.91 habitantes por Km², apresentando uma população significativamente urbana movida economicamente pelo comércio e setor público. (IBGE, 2007)


Figura 01 – mapa do Estado e os municípios onde foi implantado o Coletivo Educador Samaúma.


DESENVOLVIMENTO


O Coletivo Educador Samaúma tem o papel de atuar em processos formativos permanentes, participativos, continuados e voltados à totalidade e diversidade de habitantes de um determinado território. O papel do Coletivo Educador Samaúma é promover a articulação institucional de políticas públicas, a reflexão crítica acerca da problemática socioambiental, o aprofundamento conceitual e criar condições para o desenvolvimento continuado de ações e processos de formação em Educação Ambiental com a população dos municípios contemplados baseados na realidade de cada núcleo implantado.

O processo de implantação do Coletivo Educador Samaúma se deu baseado em metas e atividades. Na primeira meta objetivava a constituição do Coletivo educador Samaúma por meio de realização de reuniões de articulação efetiva, bem como articulações nos micro-territórios, oficinas para a ampliação do coletivo educador, articulação político-institucional, aprofundamento e debate nos micro-territórios para subsidiar a elaboração do Projeto Político Pedagógico, elaboração da proposta de formação, divulgação da proposta para vários segmentos sociais e seleção dos educandos.

Na segunda meta que teve como princípio o desenvolvimento de processos educadores, realização de cursos de formação, acompanhamento e orientações através de tutoria em grupo das atividades realizadas pelos educandos, além dos registros de aprendizagem dirigida em grupo e individualmente, finalizando com o desenvolvimento da intervenção pedagógica, sendo este um dos principais focos do programa, por se tratar da atividade prática e participativa, onde os educandos mobilizam a comunidade envolvendo-a nas ações interventivas realizadas em cada módulo.

A terceira meta teve como escopo avaliar o processo e planejar a continuidade e ampliação do Coletivo as ações para realização desta meta consistiram em oficinas de avaliação, seminários locais, articulação com novas parcerias, reafirmação de parcerias antigas e replanejamento do Coletivo Educador Samaúma.

De acordo com as metas apresentadas a constituição do Coletivo Educador Samaúma Baixo Acre e Purus concretizou-se em cinco municípios: núcleo de Rio Branco composto por duas turmas, uma no período da manhã (com 25 de educandos) e outra no período da tarde (com 25 educandos); núcleo do Bujari uma turma com 25 educandos; núcleo de Sena Madureira uma turma com 28 educandos; núcleo de Porto Acre com 25 educandos, núcleo de Senador Guiomard com 30 educandos totalizando 158 educandos. Os educandos dos núcleos do Coletivo Samaúma apresentavam perfil diversificados dentre os quais podemos citar: estudantes, agentes de saúde, líderes comunitários, líderes religiosos, agricultores, professores, comerciantes, madeireiros, políticos e comunidade em geral, todos voluntariamente educadores ambientais, levando em consideração também o grau de escolaridade, faixa etária e gênero observado nas figuras 2, 3 e 4, respectivamente.

Figura 02. Escolaridade






Figura 03. Faixa Etária


Figura 04. Gênero dos Educandos.

Em cada núcleo foram oferecidos 10 módulos, sendo os quatro primeiros módulos com temas básicos de caráter obrigatório na formação e os demais escolhidos pelos próprios educandos conforme o cardápio apresentado no quadro abaixo:



  1. Introdução a Educação Ambiental;

  2. Legislação Ambiental;

  3. Gestão dos Recursos Hídricos ;

  4. Queimadas Urbanas/Rurais e Alternativas ao Uso do Fogo;

  5. Jardinagem Comunitária e paisagismo

  6. Inclusão Digital e Educação Ambiental (Curso Básico);

  7. Organização e Mobilização Comunitária: processos participativos;

  8. Recursos Naturais;

  9. Gestão dos Resíduos Sólidos e Poluição;


  1. Oficinas de redução, reutilização e reciclagem;

  2. Direitos Humanos e Violência;

  3. Economia Solidária e Meio Ambiente;

  4. Horticultura Comunitária;

  5. Educomunicação Ambiental;

  6. Conhecimento Tradicional dos povos da floresta;

  7. Mudanças Climáticas e Consumo sustentável;

  8. Agricultura Orgânica;

  9. Filosofia e Meio Ambiente.


Os módulos foram ministrados por profissionais de áreas afins, sendo estes funcionários das instituições parceiras que disponibilizaram os funcionários para que contribuíssem voluntariamente na facilitação dos módulos além de colaborar com insumos, logística dentre outros apoios necessários para a realização das intervenções.

Cada módulo apresenta durabilidade de 16 horas/aulas teóricas além das atividades de planejamento e intervenção. Os módulos foram oferecidos conforme a necessidade e realidade de cada núcleo, considerando que apesar de apresentarem objetivos similares enquanto programa, se encontravam em situações geográficas, sociais e econômicas diferenciadas, além do perfil dos educandos que também se diferenciava de núcleo para núcleo.

Durante o processo de desenvolvimento do projeto algumas dificuldades e entraves foram encontrados tais como:


  • Institucional: carência de recursos humanos, alternância dos representantes institucionais, morosidade e burocracia no processo licitatório, comunicação.

  • FNMA: Atraso nos repasses de recursos, demora na apreciação dos materiais educativos e de divulgação, Comunicação.

  • Outros: evasão dos educandos, sobreposição, burocracia


Outro aspecto considerado como uma dificuldade consiste na a falta de entendimento da grande maioria dos envolvidos, desde os gestores, tomadores de decisão, executores e participantes, sobre o que é um processo formativo, principalmente de educação continuada, pois exigem metodologias e estratégias que levam tempo para executar e se consolidar. A pressão por resultados imediatos e quantitativos comprometem a qualidade e a riqueza da construção de momentos que levem ao despertar do protagonismo comunitário.



METODOLOGIA


No processo de formação de Educadores Ambientais Populares a base metodológica do processo é o PAP, que significa Pesquisa-Ação-Participante, no entanto, pode-se adotar a terminologia “pessoas que aprendem participando”. O PAP tem como base a arquitetura de capilaridade, de forma que o PAP 1 é constituído pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e pelo Ministério de Educação (MEC) que são os órgãos gestores da política. O PAP 2 são o conjunto de instituições que atuam com processos formativos e que juntas planejam implementam e avaliam processos continuados de formação de educadores ambientais populares. No Coletivo Educador Samaúma, o PAP 2 é constituído pelas Prefeituras, por meio das Secretarias de Agricultura, Meio Ambiente e Educação, Universidades, escolas estaduais e municipais, instituições públicas, movimentos sociais, organizações não governamentais, associações, sindicatos, entre outras.

O PAP 3 por sua vez é formado pelos grupos de educandos (as) de várias instituições que atuam em processos formativos no campo da Educação Ambiental, Educação Popular e da Mobilização Social, participantes de diversas instituições dos 5 (cinco) municípios que compreende o Território do Baixo Acre/Purus, divididos em 05 (cinco) Núcleos de Formação em Educação Ambiental: Núcleo de Rio Branco, Núcleo do Bujari, Núcleo de Porto Acre, Núcleo de Senador Guiomard e Núcleo de Sena Madureira, onde foi realizado o curso de formação com 10 (dez) módulos presenciais e outras atividades coletivas e individuais, tendo os educando (a) a responsabilidade de desenvolver projetos de intervenção na área de abrangência da sua localidade.

As atividades do PAP 3 desenvolveram-se por meio de duas ações: construção do cardápio de formação e o desenvolvimento de intervenções educacionais ou ações locais. Sendo que o cardápio de formação foi construído a partir dos projetos e ações que já são desenvolvidas pelas instituições parceiras do coletivo, observando as peculiaridades dos públicos que cada uma já atuava, valorizando a experiência e o potencial da região.

Cada núcleo de formação desenvolveu um cardápio de aprendizagem de acordo com a realidade dos municípios, os temas para sua formação foram escolhidos pelos educandos, sendo dividido em dez módulos, com duração mínima de 16 horas por módulos alternados em intervalos mensais, foram realizados também, encontros paralelos com a carga horária de oito horas em cada núcleo.

No decorrer dos módulos de formação, os educandos desenvolveram intervenções educacionais orientadas e planejadas a partir da ação e reflexão crítica, buscando formas de transformação da realidade rumo à sustentabilidade socioambiental. Todas as ações de formação foram acompanhadas em momentos de teoria, planejamento, intervenção e avaliação.

O PAP 3 como objetivo a continuidade da formação recebida atuando na formação do PAP 4, tornando-se os agente locais de sustentabilidade, animadores socioambientais. Na medida em que provoca, age e intervém em determinado contexto socioambiental na perspectiva da construção da sustentabilidade de seu território. São os atores do PAP 4: as donas de casa, pescadores, agricultores, professores, estudantes secundaristas e universitários, vendedores, lideres comunitários, empresários, gestores públicos, comerciantes, agentes de saúde, professores etc.

O trabalho desenvolvido pelo Programa de Formação do Coletivo Educador Samaúma para o Território do Baixo Acre/Purus diferenciou-se pela forma de se trabalhar em parceria, buscando na autogestão comunitária, uma forma de descentralização, por meio da aprendizagem continuada com ação e reflexão, construindo comunidades fortes e unidas em seus propósitos. Trabalha-se com os municípios envolvidos para desenvolver uma arquitetura de capilaridade que contribui com a mudança de atitude e compromisso da comunidade com os cuidados necessários com o meio ambiente unindo todos em busca de uma melhor qualidade ambiental e de vida alcançando desta forma o propósito do trabalho, não foi criar novas estruturas, mas de potencializar as já existentes promovendo o diálogo de saberes e a participação comunitária na transformação da sua realidade.



RESULTADOS


Tendo como base as três metas propostas no projeto, após 4 (quatro) anos de início das ações foram alcançados os seguintes resultados:

Criação do Coletivo Educador Samaúma – Baixo Acre e Purus: através do subprojeto Formação de Educadores Ambientais no ano de 2005 a equipe trabalhou na elaboração de projetos para arrecadação de fundos através de financiamentos e parcerias, que estivessem de acordo com a proposta do subprojeto e a formação continuada de educadores ambientais populares. Neste ano, sendo o primeiro da gestão municipal, as ações do subprojeto Formação de Educadores Ambientais estavam voltados para capitação de recursos através de elaboração de projetos alcançando o êxito da aprovação do Projeto de Constituição do Coletivo Educador Samaúma – Baixo Acre e Purus financiado pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio do Fundo Nacional do Meio Ambiente, através do Convênio MMA/FNMA Nº 119/2005 e com contrapartida da Prefeitura Municipal de Rio Branco-AC.

Além disso, foi realizada a aquisição de todos os equipamentos e materiais necessários para a implementação do programa e visando a constituição do Coletivo Educador Samaúma foi realizada a Internalização da proposta nas instituições integrantes do Coletivo Educador Samaúma, a articulação progressiva com outras instituições que atuassem no âmbito do território e dos micro-territórios, a criação das bases jurídicas necessárias para firmar as parcerias instituídas e a certificação dos educandos. Esse fortalecimento das estruturas educadoras se deu a partir do resultado da aprovação do Projeto incidindo com a implantação do Programa de Formação Coletivo Educador Samaúma além da articulação e estabelecimento de parcerias com várias instituições, como: Universidade Federal do Estado do Acre, Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Instituto de Meio Ambiente, Corpo de Bombeiros, Ministério Público Estadual dentre outras totalizando 23 instituições parceiras.

Após a definição dos territórios foi elaborado o Projeto-Político-Pedagógico do Coletivo Samaúma, por meio de reuniões com as instituições parceiras que em conjunto elaboraram o cardápio de aprendizagem a ser oferecido durante o processo de formação dos educadores ambientais populares. Esse Projeto-Político-Pedagógico consiste em um plano que apresenta as diretrizes do processo de formação (estado da arte, marco situacional, marco conceitual).

Uma vez elaborado o plano, foram realizadas as seleções dos educandos que foram capacitados pelo processo de formação desenvolvido pelo Coletivo Educador Samaúma.

A meta 2 se desenvolveu, por meio da socialização, reflexão, discussão e articulação de educadores ambientais populares e o desenvolvimento, pelo Coletivo Educador Samaúma, de um processo de Formação de Educadores Ambientais Populares. Outras atividades realizadas nessa meta foram à realização, pelos diferentes sujeitos do processo de formação, de um detalhamento por micro-território, do mapeamento realizado na fase I e o fortalecimento e articulação de foros e coletivos, municipais e regionais, pertinentes às questões socioambientais. O desenvolvimento de processos de formação por meio de espaços e estruturas educadoras; a implementação do plano de Educomunicação, a elaboração de material de apoio pedagógico e o desenvolvimento de processos de intervenção educacional pelos educandos (PAP3) na formação do PAP4.

A meta 3 foi contemplada no ano de 2009 consistindo nas avaliações dos resultados do processo de formação em cada núcleo a partir dos diferentes olhares, das instituições do Coletivo Educador Samaúma (PAP2), dos Formadores de Educadores Ambientais (PAP3), dos Educadores Ambientais Populares (PAP4) e de representantes dos diferentes setores e grupos sociais da região; apresentação dos resultados do programa e avaliação coletiva junto aos educadores e demais atores sociais; planejamento de estratégias para continuidade e sustentabilidade do processo de formação e de sua ampliação e articulação entre Coletivos Educadores de diferentes regiões para formular diretrizes para Políticas Públicas de Formação de Educadores Ambientais.

Ao final da formação continuada obtive-se um total 158 Educadores Ambientais Populares capacitados nos municípios de Rio Branco, Sena Madureira, Bujari, Porto Acre e Senador Guiomard, outros resultados obtidos foram às realizações das oficinas de avaliação em cada núcleo contemplado e de um seminário geral resultando a criação e o fortalecimento de novas estruturas educadoras nestes municípios contemplados.



DISCUSSÃO


O Coletivo Educador Samaúma teve como foco atuar em processos formativos no campo da Educação Ambiental, educação popular e da mobilização social, tendo como objetivo a formação continuada de 200 educandos de diferentes perfis, como: produtores rurais, estudantes secundaristas, universitários, pós-graduados, funcionários públicos, presidentes e conselheiros de associações comunitárias, lideres religiosos, catadores, artesãos e comunidade em geral.

A formação de educadores/as ambientais populares promoveu a criação de um Coletivo Educador, que atua nos municípios de Rio Branco, Bujari, Senador Guiomard (Quinari), Porto Acre, Sena Madureira, com perspectiva de expansão para outros municípios, visando desenvolver processos formativos em Educação Ambiental, Educação Popular e Mobilização Social tendo como missão a realização de planejamentos, a implementação e a avaliação de processos formativos integrados e continuados, buscando o envolvimento de todos os segmentos sociais junto a sua base territorial.

Na primeira meta do Programa de Formação realizou-se o processo de planejamento através de reuniões, articulações, seminários, seleção de educandos e oficinas obtiveram eficiência, já que todas as atividades foram cumpridas. Em relação à segunda meta voltada para a implementação do Programa de Formação de Educadores Ambientais – Coletivo Educador Samaúma; também pode-se considerar que se obteve êxito, no sentido que estavam previstos a implantação de 6 (cinco) núcleos na Região do Baixo Acre-Purus e esses núcleos foram criados, com exceção do núcleo de Manoel Urbano devido as dificuldade para se chegar até o município, onde o acesso só é possível por meio fluviais, e a impossibilidade e mobilizar tutoria para o núcleo. Nos demais municípios as atividades foram desenvolvidas com uma demanda considerável de participantes.

Foram realizados os 10 módulos previstos no projeto. Devendo ressaltar ainda alguns pontos negativos e dificuldades encontradas no decorrer do processo formativo tais como: evasão de educandos, o não envolvimento de algumas parcerias fatos estes que foram colocados e redefinidos em reuniões para que os próximos grupos de novos Educadores Ambientais Populares, não sejam de certo modo prejudicados.

A terceira meta também realizada, meta esta que propõe dar seguimento ao programa, através de novas parcerias, articulações com instituições em cada núcleo e o fortalecimento do grupo formado, uma vez que cada educando encontra-se apto para atuarem como formadores capacitados a proporcionar a continuidade através da formação de outros novos grupos de futuros educadores ambientais.

Durante todo o período de realização do Programa de Formação de Educadores Ambientais em todos os núcleos, foram feitas observações e registrados aspectos positivos e negativos tanto da do perfil do educandos, como da comunidade a qual estes realizavam as suas intervenções, chegando à conclusão de que apesar de todo um esforço conjunto, ainda encontramos muitas dificuldades no sentido de combater os problemas ambientais. Isso acontece por fatores que precisam de uma maior atenção, tanto por parte da administração pública como por parte da própria população, que muitas vezes recebe a informação, porém não transforma em prática diária em sua vida.

As atividades diversificadas e a metodologia do Programa possibilitaram uma Educação Ambiental dinâmica e atrativa para os educandos refletindo, de um modo geral, nas comunidades sem perder de vista que é necessário um trabalho contínuo de formação em todos os núcleos e se possível com expansão pra outros municípios, considerando que a consciência ambiental é um processo educativo muitas vezes lento, que requer uma transformação não só no entendimento das informações repassadas, mas também um processo de cognição que leve o indivíduo a mudança de hábitos e até mesmo a uma transformação cultural.



CONCLUSÃO

O desafio de construir uma sociedade brasileira educada ambientalmente para a sustentabilidade envolve a promoção de mudanças per colem o cotidiano de todos os indivíduos e instituições. Nesse sentido, a concepção da Educação Ambiental objetiva a articulação das ações educativas voltadas às atividades de proteção, recuperação e melhoria socioambiental, potencializando as ações da educação para as necessárias e inadiáveis mudanças culturais e sociais de transição societária em direção à sustentabilidade.

O programa consiste no fortalecimento de processos de formação de educadoras e educadores ambientais, por intermédio do estabelecimento de articulações entre instituições que atuam com atividades socioambientais de caráter pedagógico.

Consiste também na harmonização de interesses entre as instituições ofertantes e demandantes de processos formativos em Educação Ambiental que contribuam na criação de sociedades sustentáveis, com pessoas educadas ambientalmente. São esses os complexos que a Educação Ambiental brasileira promove e se envolve, tecendo laços e relações entre humanos e natureza e nas relações sociais, para a criação de processos continuados que visem à construção de uma conscientização individual e coletiva em favor da sustentabilidade das sociedades.

Acreditamos que as bases para a implantação e o enraizamento da Educação Ambiental foram e estão sendo lançadas, mas que há muito que se trabalhar, pois assim como a educação, este é um processo dinâmico e em permanente construção. Devendo, portanto propiciar a reflexão, a sensibilização, o debate e a sua própria modificação, buscando as formas ideais de promover as mudanças através da conscientização buscando com isso a transformação individual e coletiva.






REFERÊNCIAS


BRASIL. Programa Nacional de Formação de Educadores Ambientais - por um Brasil educado e educando ambientalmente para a sustentabilidade. Brasília: MMA - Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental, 2006.


XENES, M. B. B.; ZAKRZEVSKI, S. B.B e DECIAN. V. D. Coletivo educador do alto Uruguai gaúcho: por uma educação ambiental permanente, participativa e continuada. In: Revista Eletrônica de Extensão da URI. v.5, n.7. mai. 2009. p. 28-35.


FERRARO, Luiz Antônio. Encontros e Caminhos: formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Diretoria de Educação Ambiental, 2005.


FERRARO, Luiz Antônio. Encontros e Caminhos: formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, Diretoria de Educação Ambiental, 2007. Volume 2.


PRONEA – Programa Nacional de Educação Ambiental/Ministério do Meio Ambiente, Diretoria de Educação Ambiental; Ministério da Educação. Coordenação Geral de Educação Ambiental. 3° Edição – Brasília: MMA, 2005.


FERRARO, L. A. e SORRENTINO, M. Coletivos Educadores. In. Encontros e Caminhos: formação de educadoras(es) ambientais e coletivos educadores. v.1. Brasília: MMA, Diretoria de Educação Ambiental, 2005. p. 59-69.


MAPA e DADOS ESTATÍSTICOS do Acre/Brasil. In: IBGE online. Disponível em: . Acesso em: 24 mar. 2010.

Ilustrações: Silvana Santos