É dentro do coração do homem que o espetáculo da natureza existe; para vê-lo, é preciso senti-lo. Jean-Jacques Rousseau
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 89 · Dezembro-Fevereiro 2024/2025
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TÉCNICAS PARTICIPATIVAS EM UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO COLETIVA DE UMA FERRAMENTA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Solange Reiguel Vieira Licenciada em Geografia (UNESPAR). Mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. solgeografia@gmail.com.
Josmaria Lopes de Morais Doutora em Química (UFPR). Profa. do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. jlmorais@utfpr.edu.br.
Marília Andrade Torales Campos Doutora em Ciências da Educação (Universidade de Santiago de Compostela). Prof. Adjunta da Universidade Federal do Paraná – Setor de Educação. mariliat.ufpr@gmail.com.
RESUMO
Este artigo tem o objetivo de apresentar e discutir a experiência de uma pesquisa que utiliza técnicas participativas durante um processo de construção coletiva de uma ferramenta para a educação ambiental. O artigo também procura trazer alguns elementos fundamentados em bases teóricas que evidenciam a importância da utilização de metodologias participativas e suas contribuições para a potencialização do campo da educação ambiental. O trabalho desenvolvido com um grupo de representantes da comunidade escolar permitiu reflexões sobre as condições socioambientais da escola, do trabalho coletivo gerando conhecimento da temática ambiental a partir do desafio de estabelecer indicadores de avaliação.
Palavras-chave: Educação ambiental, construção coletiva, comunidade escolar.
Introdução
A problemática ambiental que vivenciamos em nosso cotidiano, é fruto de um modelo de desenvolvimento pautado no acúmulo de capital, no consumo desenfreado dos recursos naturais, no individualismo e na competitividade. Essas ações resultam em prejuízos ao meio ambiente e consequentemente a toda a humanidade. Para o enfrentamento dos desafios que as questões ambientais atuais impõem, há necessidade de uma mudança de postura individual e coletiva e, para isso, os processos educativos são essenciais. A educação ambiental trata da relação entre sociedade e ambiente, incide sobre os sujeitos por meio do processo formativo. Pode ser compreendida como um instrumento de transformação social, pelo seu caráter crítico, transformador e emancipatório que estimula a reconstrução coletiva e a reapropriação do saber (LEFF, 2008).Trata-se de um campo educativo de formação e transformação de mentalidades, de valores, de atitudes, de modos de pensar, de ser, de posicionarmos e mudarmos nossa maneira de agir na perspectiva da construção de um mundo mais sustentável (LEFF, 2012b) frente a uma realidade na qual empreendemos ações, sociais com desejo de intervir, de transformar e de modificar (BELTRÁN, 2012). Para isso, é necessária uma ação educativa plena e integral, articulada com outras esferas sociais para que sejam consolidadas as iniciativas que busquem mudanças ao modelo contemporâneo de sociedade (LOUREIRO, 2006). Nesse contexto, os processos participativos são fundamentais para o desenvolvimento de projetos, práticas e reflexões no campo da educação ambiental (ORTEGA, 2012). Cordioli (2001, p. 27) corrobora que o processo participativo “[...] visa não somente a elaboração de propostas mais ajustadas a realidade. Pretende mudar comportamentos e atitudes, em que os indivíduos passam a ser sujeitos ativos no processo e não objetos do trabalho dos outros”. As pesquisas no campo da educação ambiental, por si só, possuem grande relevância científica e social, ao promover a resolução de problemas ambientais e produção de conhecimento. De acordo com Tozoni-Reis (2006, p. 97), “por ser educação, a pesquisa e a ação educativa ambiental também buscam e produzem conhecimentos metodológicos. Assim, na construção de metodologias para a ação educativa ambiental algumas possibilidades pedagógicas vêm se destacando [...]”. Dentre as quais as técnicas participativas como, o círculo de cultura, os grupos focais, o metaplan, o trabalho em grupo, o brainstorming e o trabalho expressivo corporal. O círculo de cultura, foi desenvolvido pelo educador Paulo Freire, para a promoção da comunicação entre os diversos sujeitos, nos diversos espaços educativos. Trata-se de um espaço educativo, constituído por diferentes subjetividades e saberes, os quais assumem o diálogo como experiência coletiva e solidária em todos os momentos do processo (Loureiro e Franco, 2012). É considerado um espaço de trabalho, de pesquisa, de exposição de práticas, de dinâmicas e de vivências que promovem a construção do conhecimento de forma coletiva (BRASIL, 2012). Portanto, os círculos de cultura tornaram-se “[...] espaços em que dialogicamente se ensinava e se aprendia. Em que se conhecia em lugar de se fazer transferência de conhecimento. [...] Em que se construíam novas hipóteses de leitura de mundo” (FREIRE, 1994, p. 155). O grupo focal é considerado uma técnica de investigação científica utilizada em trabalhos de pesquisas sociais e humanas com abordagem qualitativa, se constitui em processo de pesquisa-ação e de comunicação flexível, utilizado em “estudos exploratórios, ou nas fases preliminares de uma pesquisa, para apoiar a construção de outros instrumentos […] por ser uma técnica de levantamento de dados que se produz pela dinâmica interacional de um grupo de pessoas [...]” (GATTI, 2012, p.12). O grupo é '‘focado’' em questões que envolve algum tipo de atividade coletiva (BARBOUR e KTZINGER, 1999). O Metaplan é caracterizado pelas técnicas de moderação e de visualização móvel com utilização de fichas coloridas, com pequenos grupos (CORDIOLI, 2001). A utilização dessa técnica de visualização com fichas (cartolinas em cores variadas) promove e prioriza a participação, com respeito a igualdade de opiniões, dando espaço para que todos possam responder às perguntas apresentadas pelo moderador (COLETTE, 2001). O trabalho em grupo é adotado para aumentar a eficácia da comunicação e garantir a intensa criação e geração de ideias consistentes, seja no grupo ou em pequenos grupos. Por meio do trabalho em grupos, pode-se debater sobre variados temas “principalmente quando o tempo disponível for reduzido, formulando propostas. As discussões e complementações são feitas em plenário. Cada grupo poderá tratar um dos temas e, desse modo, avançar nas discussões” (CORDIOLI, 2001, p. 37). Brainstorming, Chuva ou Tempestade de ideias serve para coletar e ordenar ideias, opiniões e elaborar propostas sobre determinado tema. “Com esse procedimento, podemos provocar uma maior participação de todos aumentando o intercâmbio e a organização de ideias, além de ser um forte estímulo a criatividade” (CORDIOLI, 2001, p. 38). O trabalho corporal expressivo é método aberto de trabalho que utiliza um conjunto de técnicas corporais, lúdicas e de dinâmica de grupo com vistas a criação e aprendizagem prazerosa. Por meio desses processos de interação e integração grupal é possível criar e abrir espaços de análise e reflexão individual e coletiva (HANN, 2001). Este trabalho teve por objetivo apresentar a utilização de técnicas participativas para construção coletiva de uma ferramenta para a educação ambiental.
O processo participativo: sujeitos e as técnicas
Este trabalho apresenta a primeira fase de uma pesquisa de mestrado que envolve os campos das ciências ambientais e educação, com objetivo específico de construir uma matriz de indicadores de educação ambiental por meio de metodologias participativas. O campo empírico da pesquisa é o contexto escolar, mais especificamente, escola pública do município de Curitiba-PR. Por trazer a realidade do ambiente (chão da escola) e os diversos sujeitos que o compõem, que com suas experiências, vivências e expectativas, possam trazer elementos que contribuam para observações, experimentação de técnicas participativas e a construção do conhecimento científico, este processo se insere no campo das pesquisas que adotam uma perspectiva coletiva e participada para elucidar questões e objetivos de pesquisa. A abordagem qualitativa, caraterizada por Minayo (2015) como um trabalho que se aprofunda no universo da realidade social e busca a compreensão das dinâmicas e dos significados, considerando, os motivos, as aspirações, as crenças, os valores, as atitudes, os pensamentos, as vivências, as relações, as representações e as intencionalidades foi definida como a mais adequada às característica do objeto de pesquisa. Esses fenômenos são caraterísticos do ser humano que “se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e compartilhada por seus semelhantes” (MINAYO, 2015, p. 21). Portanto, o enfoque desta publicação se dará no planejamento e no uso de técnicas participativas na educação ambiental. O local escolhido para o desenvolvimento da pesquisa foi uma escola estadual de educação integral, pertencente ao Programa Federal Mais Educação, que tem por finalidade contribuir para a melhoria da aprendizagem por meio da ampliação da jornada escolar e da organização curricular na perspectiva da formação integral do estudante. Nesse Programa, as atividades estão agrupadas nos macrocampos: Acompanhamento pedagógico; educação ambiental; esporte e lazer; direitos humanos; cultura e artes; cultura digital; prevenção e promoção da saúde; comunicação e uso de mídias; investigação no campo das ciências da natureza e educação econômica. O macrocampo educação ambiental contempla: com-vida, Agenda 21 na escola, educação para sustentabilidade, horta e jardim escolar e/ou comunitária (MOLL, 2013). A escolha do ambiente escolar está de acordo com Reigota (1998) que o considera um espaço privilegiado para a informação, a construção e a produção de conhecimentos, o desenvolvimento da criatividade e possibilidades de aprendizagens de forma contextualizada, crítica e responsável. O trabalho foi realizado com os seguintes encaminhamentos: a) apresentação da proposta à equipe diretiva da escola para autorização da pesquisa; b) reunião com a comunidade escolar para esclarecer sobre a pesquisa e convidar os atores para participar; c) formação de um grupo com representantes da comunidade escolar contemplando alunos, professores, funcionários e equipe pedagógica; d) elaboração de roteiro preliminar de trabalho, organizado em quatro encontros quinzenais, com duração de duas horas, utilizando um conjunto de técnicas com enfoque participativo. Por se tratar da construção coletiva de uma ferramenta para a educação ambiental, optou-se por formar um grupo heterogêneo, porém com características comuns relevantes, membros da comunidade escolar e com interesse em colaborar com a pesquisa na temática ambiental. Foram contemplados os seguintes atores: quatro alunos (maiores de quatorze anos[1]), três professores de áreas do conhecimento variadas, cinco funcionários de diferentes atuações e um participante da equipe pedagógica, totalizando treze participantes. O grupo formado, participou dos encontros, realizados em uma sala ambiente de arte, organizada de forma que propiciasse as interações e construção coletiva na educação ambiental. As atividades desenvolvidas nos encontros, seguidas das técnicas participativas estão resumidas no Quadro 1.
Quadro 1 – Resumo dos encontros com as atividades e as principais técnicas utilizadas Fonte: autores.
Cabe destacar a importância do papel do moderador na condução e mediação dos trabalhos, atuando com sensibilidade e flexibilidade, procurando mobilizar o grupo, potencializar a participação e a interação entre os participantes, estando preparado para eventuais intervenções nas atividades, bem como, fazer possíveis adequações no roteiro para o desenvolvimento da pesquisa a fim de alcançar o objetivo proposto (GATTI, 2012). Também é importante que seja feito registro das atividades, seja pelo moderador ou por outro participante do grupo, utilizando diário de campo, armazenamento virtual (google drive), registro fotográfico, audiovisual (seguindo os termos legais científicos), entre outros.
O caminhar do uso de técnicas participativas em um ambiente escolar
A seguir é apresentada uma descrição sucinta dos encontros realizados. Optou-se por representar as técnicas participativas desenvolvidas organizadas na forma de quadros (Quadro 02 a 05) para facilitar a compreensão do processo: das atividades (o que?), o desenvolvimento (como?) e a justificativa do uso das mesmas (por que?). No primeiro encontro buscou-se uma integração do grupo para se conhecerem melhor e abertura de um espaço de discussão dos conceitos e temáticas da pesquisa (Quadro 2).
Quadro 2 – Técnicas utilizadas no primeiro encontro. Fonte: autores.
No segundo encontro foi realizado uma revisão de conceitos, apresentação de legislações de educação ambiental e elaboração de questões para indicadores de educação ambiental (Quadro 3).
Quadro 3- Técnicas utilizadas no segundo encontro. Fonte: autores.
O terceiro encontro foi destinado a construção coletiva de uma ferramenta para a educação ambiental (Quadro 4).
Quadro 4- Técnicas utilizadas no terceiro encontro Fonte: autores.
O quarto encontro do grupo foi de avaliação e conclusão dos trabalhos.
Quadro 5- Técnicas utilizadas no quarto encontro. Fonte: autores.
Reflexões sobre potencialidade das técnicas participativas na educação ambiental
Consideramos nesta pesquisa que a educação ambiental é uma dimensão essencial da educação fundamental (SAUVÉ, 2005) e pode ser entendida como um modo de pensar e fazer uma educação para a mudança social e a construção de uma sociedade sustentável e de responsabilidade compartilhada, conectada com os saberes e práticas sociais que reivindicam um pensamento global e uma ação local (CARIDE e MEIRA, 1998). Ainda nesta perspectiva Torales (2013), confirma que nos últimos anos, a educação ambiental tem representado um significativo vínculo entre a escola e a comunidade, que contribui para a compreensão da complexa relação ambiente e sociedade. Reconhecemos que os processos participativos contribuem para o fortalecimento das relações entre escola e comunidade. Para Sauvé (2012) a necessidade de uma dinâmica coletiva e reflexiva entre os atores sociais da educação ambiental que permitirá avançar na discussão das questões ambientais que nos inquietam. O emprego das técnicas da metodologia participativa para a construção coletiva e a formação dos sujeitos da escola em educação ambiental realizada “[…] por meio de um diálogo de saberes e na confluência de uma multiplicidade de sentidos coletivos, mais do que como uma articulação de ciências, de intersubjetividades e de saberes pessoais [...]” (LEFF, 2012a, p. 56). Cabe ressaltar que houve a necessidade de se criar uma “subcultura grupal” (GATTI, 2012, p. 28) em processo formativo, ao longo dos quatro encontros. Foram utilizadas diversas técnicas de metodologias participativas como, os grupos focais, o trabalho em grupos, o metaplan, o brainstorming e o trabalho expressivo corporal. O fator determinante foi o enfoque participativo, explicado por Brose (2001, p. 11): [...] Quando trabalhamos com enfoque participativo, nossa atenção não deve estar centrada nos instrumentos, métodos e técnicas, mas naquilo que constitui a questão central da participação: o poder. Ou melhor, as disputas sobre o poder. Instrumentos participativos têm como função principal ajudar a estruturar as disputas sobre poder entre os atores sociais, torná-las mais transparentes e, dessa forma, contribuir para uma distribuição mais equitativa de poder.
Confirmamos que o processo participativo foi eficaz pela sua realização coletiva e por promover o fortalecimento da cidadania e da “aprendizagem mútua, envolvendo todos os que possam contribuir, seja conceitualmente, seja pela sua experiência, assim como os que irão estar à frente da execução das ideias geradas” (CORDIOLI, 2001, p. 27). Brose (2001) assume a posição de que a participação não é neutra, ela implica em mudança e distribuição do poder, por isso é necessário manter o foco da participação. Por essas características, as metodologias participativas são adequadas para o desenvolvimento de ações de educação ambiental. O trabalho corporal expressivo propiciou “quebrar o gelo” entre os participantes, uma maior integração do grupo e animação para as atividades dos encontros. As vivências das atividades propiciam um clima alegre, descontraído, de amizade e cooperação. Esse método de trabalho participativo cria um espaço lúdico e criativo, capaz promover a reflexão e o crescimento individual e grupal (HANN, 2001). O Metaplan, com uso de fichas coloridas, potencializou a capacidade criativa e comunicativa no processo de discussão. “A participação pressupõe o intercâmbio de ideias e sua convergência para propostas comuns” (CORDIOLI, 2001, p. 32). O trabalho em grupo e subgrupos facilitou a dinâmica das atividades e aprofundamento das questões de EA por dimensões (gestão, currículo e espaço físico). Essa técnica buscou “estabelecer uma discussão mais ampliada e consistente das ideias” (CORDIOLI, 2001, p. 36). O Brainstorming, Chuva ou Tempestade de ideias provocou a participação, as opiniões, o registro das ideias e facilita a “responsabilização de todos pela sua identificação com os resultados, à medida que visualizam as suas contribuições no painel” (CORDIOLI, 2001, p. 39). A técnica de grupos focais, se diferencia por atuar no contexto da coletividade e fornecer subsídio às discussões acerca dos temas relativos a EA formal e por possibilitar a interação e trocas de experiências entre os participantes do grupo (MENDES e VAZ, 2009). O grupo focal permitiu emergir a multiplicidade de pontos de vista, emoções, experiências, comportamentos, representações, as motivações e conceitos pelo processo de interação criado. Também foi possível compreender os processos de construção da realidade, das práticas cotidianas e do ambiente escolar, comportamentos e atitudes, e o compartilhamento de ideias. Esse processo possibilitou experienciar “[…] a riqueza do que emerge 'a quente' na interação grupal, em geral, extrapola em muito as ideias prévias, surpreende, coloca novas categorias e formas de entendimento, que dão suporte à inferência de novas e proveitosas relacionadas com o problema em exame” (GATTI, 2012, p. 13). Concordamos com Backes et al. (2011, p. 441), que o grupo focal se constitui em uma importante estratégia e uma nova possibilidade metodológica para as pesquisas qualitativas, pela sua capacidade de interação, problematização, coleta e análise de dados, que busca “[…] inserir os participantes, da pesquisa no contexto das discussões de análise e síntese que contribuam para o repensar de atitudes, concepções, práticas e políticas sociais”. Nesta pesquisa, o foco do grupo estava nas políticas para a educação ambiental. As ideias de Gondim (2003) vêm ao encontro do que foi desenvolvido nesta pesquisa quando diz que, a técnica de grupo focal pode ser utilizada para gerar conhecimento necessário para a construção de instrumentos de medidas, permite a identificação do que é relevante sobre o tópico, a avaliação do conjunto de dimensões que cada domínio cobrirá (quantidade de itens) e também serve de pré-teste de questionários. É pertinente salientar que, os grupos focais também possibilitam à escola um trabalho com pais, alunos e professores, na tomada de decisão, no diagnóstico e avaliação (GONDIM, 2003). O trabalho com grupos possibilitou utilizar ferramentas e técnicas participativas na condução de “processos participativos” (BROSE, 2001; CORDIOLI, 2001) e a proposta Freiriana de “Círculo de Cultura” (LOUREIRO e FRANCO, 2012; BRASIL, 2012), pela condução dos trabalhos na construção coletiva nos espaços educativos, através do diálogo, da reunião de ideias e de experiências dos diferentes sujeitos, resultando na geração de conhecimento. Conforme Cordioli “A importância de um processo participativo também pode ser dada pela razão instrumental de sermos mais eficazes, realizando as coisas em conjunto” (2001, p. 27). O trabalho com grupos fez perceber a sinergia própria do grupo e traz a luz aspectos que não são revelados em outras condições, conforme destaca Gatti (2012, p. 14): “[...] faz emergir ideias diferentes das opiniões particulares. Há uma reelaboração de questões que é própria do trabalho particular do grupo mediante as trocas, os reasseguramentos mútuos, os consensos, os dissensos [...]”. De acordo com Cordioli (2001) o desenvolvimento de um processo participativo permite uma interação interdisciplinar e multissetorial, facilita o surgimento de soluções criativas e associadas a realidade. “Também se justifica pelo componente afetivo, por fazer com que sintamos mais estimulados, mais seguros, mais confiantes, trabalhando em equipe. É a base para a interação e confiança entre as pessoas e, assim, a sua autogestão” (CORDIOLI, 2001, p. 27). A experiência com o trabalho em grupo levou os participantes (incluindo a pesquisadora) a refletir sobre a realidade escolar e contribuir na elaboração coletiva de uma ferramenta, que permite diagnosticar a realidade socioambiental escolar, a pensar nos limites e possibilidades nas dimensões da educação ambiental (gestão, currículo e espaço físico). A construção coletiva de uma ferramenta para a educação ambiental por meio de processo participativo é uma iniciativa para que se inicie a transformação e emancipação social nas escolas para a sustentabilidade. Reconhecemos a missão da educação ambiental, apresentada por Caride e Meira (1998, p. 11): [...] que se identifica com uma educação total para a melhoria da qualidade de vida e seus entornos, porque também deverá assumir sua caracterização como uma prática política, afirmada em valores que promovam a transformação social, o pensamento crítico e a ação emancipatória. [...] há de ser uma educação que possibilite a humanidade dirigir seu próprio desenvolvimento que assuma opção de uma participação social crítica, consciente e responsabilizada [...].
Enfim, os processos educativos participativos e de construção coletiva, constituem em uma oportunidade de aprendizagem para os participantes e também para a geração de novos conhecimentos acerca da educação ambiental, pois pode contribuir para o êxito dos processos, promovendo, capacitando, ampliando e melhorando os instrumentos de participação. As experiências práticas, teóricas e estratégias educacionais ambientais significativas, reflexivas e críticas são apresentadas como uma oportunidade para reivindicar a educação ambiental como prática social transformadora que está presente em iniciativas recém-formados, mas compartilhada de vontades (SANTIAGO, CUNHA e MEIRA, 2013).
Reflexões finais
A temática abordada na pesquisa traz a reflexão coletiva sobre a situação socioambiental da escola, por meio de metodologias participativas, que constitui-se em uma contribuição para o campo da educação ambiental. Salientamos que depois do planejamento e desenvolvimento do trabalho de campo, vem a etapa de sistematização e análise das informações e dados levantados, à luz dos objetivos propostos. Essa ação importante da pesquisa, depende das decisões tomadas com relação às técnicas utilizadas e de como a pesquisa foi organizada e conduzida para alcançar os objetivos. Os aspectos principais a considerar são: organização do material colhido - registros de campo, observações da pesquisadora, as produções coletivas dos grupos, as respostas individuais, expectativas, conclusões, fotografias e outras formas de registros – e o processo de análise e interpretação – os caminhos, a busca dos significados e sentidos, as interações, socializações e os produtos, considerando as particularidades de cada técnica. O conjunto de técnicas de metodologias participativas utilizadas com representantes da comunidade escolar (professores, alunos, funcionários e equipe pedagógica), possibilitou vivência e aprendizagem e contribuiu para a construção coletiva de uma ferramenta de educação ambiental para ser utilizada nas escolas. As metodologias participativas utilizadas nesta pesquisa, favoreceram a obtenção do resultado esperado (produto) que é a construção coletiva de uma matriz de indicadores de educação ambiental escolar. Além, do objetivo alcançado, o processo de pesquisa com o enfoque participativo permitiu emergir outros pontos relevantes e que merecem ser destacados: · Ponto mais crítico e emocionante quando as pessoas se reúnem para discutir informações elaboradas por elas próprias durante a realização do trabalho - visualizar o produto construído coletivamente, respeitando as ideias e experiências de cada segmento (alunos, professores, funcionários e equipe pedagógica), a riqueza das informações dos sujeitos, a confiança e afinidade do grupo; · Momentos recompensadores e angustiantes - o debate sobre as expectativas e frustrações da realidade escolar pública brasileira frente aos desafios que são impostos, propiciados nos encontros principalmente pelas técnicas de grupos e focais e círculo de cultura; · A equipe/participante tem influência ou controle no processo? Como? - nessa pesquisa, houve uma ação estratégica da pesquisadora na autonomia e proposição de um conjunto de técnicas participativas e na moderação e condução dos encontros com neutralidade para a alcançar o objetivo, porém, foram tomados os devidos cuidados de cada técnica assegurando a participação de todos e a gestão dos conflitos, evitando a influência ou interferência da pesquisadora nas decisões, discussões e definição de resultados em torno do tema em questão, bem como, de qualquer hierarquia, controle, dominação, manipulação ou pacificação de algum participante sobre os demais, nas situações e/dados e informações consistentes e verídicas. Também cabe destacar que dependendo da quantidade de grupos e técnicas utilizadas o pesquisador deve estar ciente dos limites e possibilidades dos instrumentos e ações participativas; · Frustrações e expectativas não atendidas - no curto intervalo dos trabalhos não foram identificadas frustrações e expectativas não atendidas pelos participantes. Porém, os encontros realizados possibilitaram a construção coletiva conforme planejado. Talvez se tivesse mais encontros para explorar um pouco mais cada técnica, ou mais grupos na mesma escola, para ter mais olhares sobre a pesquisa; · Relação com experiências anteriores - essa pesquisa possibilitou utilizar algumas técnicas já utilizadas pela própria pesquisadora com outros públicos (homogêneos, só alunos, ou só professores) bem como de conhecer outras experiências de pesquisadores que utilizaram metodologias participativas e o aporte teórico das mesmas com a multiplicidade possível de seu uso; · Aspectos positivos e novos desafios - potencialidade das metodologias participativas e desafios de aproximação da universidade à comunidade (escolas, sociedade, entidades não governamentais, entre outros) para a construção coletiva no campo da educação ambiental. Com os resultados obtidos podemos pronunciar que as metodologias participativas contribuem significativamente para o fortalecimento e potencialização do campo da educação ambiental. E constituem ótimas ferramentas para o desenvolvimento de diagnósticos, planejamentos e realização de projetos de ação e pesquisas em educação ambiental, de curto, médio e longo prazo.
Ante estas reflexões, concluímos esta análise com a convicção de que mais do realizar uma pesquisa acadêmica, a aproximação ao campo empírico para realizar a coleta de dados, se constituem em um rico processo de aprendizagens mutuas e compartilhadas. Neste sentido, as metodologias participativas põem em relevo a importância de aprender a construir novas alternativas com base no diálogo, no embate de ideias, nas contradições, nas possíveis somas e rupturas, e principalmente, na crença de que, mesmo numa corrente de contracultura, o fortalecimento das ações coletivas ainda é possível e evidentemente, necessário.
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