Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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30/05/2017 (Nº 60) REAPROVEITAMENTO DO ÓLEO DE COZINHA PARA A FABRICAÇÃO DE SABÃO: UMA AÇÃO SUSTENTÁVEL VOLTADA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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REAPROVEITAMENTO DO ÓLEO DE COZINHA PARA A FABRICAÇÃO DE SABÃO: UMA AÇÃO SUSTENTÁVEL VOLTADA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

 

Alexandra Machado Santana Vieira1; Mailana Amorim da Silva2;Tassia Fiúza Mendes2; Quenia Costa de Carvalho2; Girlene Santos de Souza3*

 

1Professora Especialista do Ensino Médio do Colégio Estadual Manoel Benedito Mascarenhas; 2Bolsista de PIBIC/EM/UFRB e discentes do Colégio Estadual Manoel Benedito Mascarenhas; 3Professora Associada 1, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. *girlene@ufrb.edu.br

 

RESUMO

Atualmente a preocupação com as questões ambientais é bem maior do que há certo tempo atrás, visto que os problemas vêm crescendo diariamente e um desses problemas é o descarte inadequado do óleo de cozinha. Quando este é descartado de forma aleatória no meio ambiente, pode provocar inúmeros problemas aos ecossistemas aquáticos, além de provocar a impermeabilização do solo e obstrução das galerias de esgoto nas grandes cidades, ocasionando enchentes e trazendo muitos transtornos para toda a sociedade. Com base nisto, o presente trabalho teve como objetivo encontrar uma alternativa para reaproveitar este resíduo, contribuindo não só com a preservação do meio ambiente como também uma forma de obter renda e uma das saídas foi a reciclagem de óleos usados na produção de frituras através da saponificação, visando com isso uma conscientização ambiental da comunidade acadêmica. O trabalho foi desenvolvido por jovens do Ensino Médio do Colégio Estadual Manoel Benedito Mascarenhas localizado no Distrito de São José do Itaporã, Muritiba, Bahia, com a finalidade de conscientizar os alunos sobre a reciclagem de óleos e gorduras para a fabricação de sabão, mostrando os impactos que esses resíduos causam quando não são reaproveitados e descartados de forma inadequada. Salienta-se que um litro de óleo contamina um milhão de litros de água, o suficiente para uma pessoa usar durante 14 anos. Isso acontece porque o óleo impede a troca de oxigênio e mata todos os seres vivos como plantas, peixes e microrganismos, além de impermeabilizar o solo, contribuindo para a ocorrência de enchentes.  Os resultados obtidos referem-se à inclusão dos jovens - até para o trabalho, emtorno da temática ambiental, principalmente a partir da ampliação das discussões junto àcomunidade onde foi executado o Projeto, visando ações de Educação Ambientalimplantadas na escola sobre as consequências que o óleo de cozinha jogadoindistintamente no meio ambiente pode trazer para o nosso planeta.

 

Palavras-chave: Reciclagem. Educação ambiental. Óleo reutilizado

 

INTRODUÇÃO

O resíduo do óleo de cozinha, gerado diariamente nos lares, indústrias e estabelecimentos do país, devido à falta de informação da população, acaba sendo despejado diretamente nas águas, como em rios e riachos ou simplesmente em pias e vasos sanitários, indo parar nos sistemas de esgoto causando danos, como entupimento dos canos e o encarecimento dos processos das estações de tratamento, além de contribuir para a poluição do meio aquático, ou, ainda, no lixo doméstico – contribuindo para o aumento das áreas dos aterros sanitários (CASTELLANELLI et al. 2007). 

Dessa forma, o óleo de cozinha usado pode servir como matéria-prima na fabricação de diversos produtos, tais como biodiesel, tintas, óleos para engrenagens, sabão, detergentes, entre outros (PITTA JUNIOR et al., 2009). Segundo os mesmos autores, o ciclo reverso do produto pode trazer vantagens competitivas e evitar a degradação ambiental e problemas no sistema de tratamento de água e esgotos.

O óleo de cozinha usado retornado à produção, além de evitar a degradação do meio ambiente e os consequentes custos sócio-econômicos, também cumpre o papel de evitar o gasto de recursos escassos, tais como os ambientais, humanos, financeiros e econômicos - terra, água, fertilizantes, defensivos agrícolas, maquinário, combustível, mão-de-obra, financiamento bancário, fator tempo, entre outros (REIS et al., 2007).

O óleo de cozinha jogado diretamente na pia pode prejudicar o meio ambiente. Se o produto for para as redes de esgoto encarece o tratamento dos resíduos em até 45% e o que permanece nos rios provoca a impermeabilização dos leitos e terrenos, o que contribui para que ocorram as enchentes. A solução para este problema é a reciclagem do óleo vegetal. E existem várias maneiras de reaproveitar esse produto sem dar prejuízos ao meio ambiente (LOPES, BALDIN 2009).

Quem lida diariamente com grandes quantidades de óleo de cozinha muitas vezes tem dificuldades para descartá-lo. A simples atitude de não jogar o óleo de cozinha usado diretamente no lixo ou no ralo da pia pode contribuir para diminuir o aquecimento global e proteger as águas dos rios, pois a decomposição do óleo de cozinha emite gás metano na atmosfera e o mesmo é um dos principais gases que causam o efeito estufa que contribui para o aquecimento da Terra(LOPES, BALDIN 2009).

É tão impactante para o ambiente que apenas um litro de óleo contamina ate um milhão de litros de água. Esse valor é o suficiente para uma pessoa consumir ao longo de 14 anos (BIODIESELBR, 2007). Já ao atingir o solo, o óleo pode causar a impermeabilização, influenciando nas enchentes e no desenvolvimento de organismos.

 

 


Fonte: Google, 2016

 

O resíduo do óleo de cozinha, gerado diariamente nos lares, indústrias e estabelecimentos, acaba sendo despejado diretamente nas águas, como em rios e riachos ou simplesmente em pias e vasos sanitários, indo parar nos sistemas de esgoto causando danos, como entupimento dos canos e o encarecimento dos processos das estações de tratamento, além de contribuir para a poluição do meio aquático, ou, ainda, no lixo doméstico. Desta forma, torna-se viável à necessidade de promover a conscientização dos estabelecimentos e da sociedade, sobre o óleo de cozinha descartado de forma inadequada que pode causar danos ao meio ambiente.

Os óleos e gorduras são, substâncias que não se misturam com a água (insolúveis) e podem ser de origem animal ou vegetal. O óleo vegetal, que é o que dá origem aos óleos de cozinha, pode ser obtido de várias plantas, ou sementes, como o buriti, mamona, soja, canola, girassol, milho, etc.

O óleo de cozinha não pode ser disposto para a coleta pública, pois não são resíduos sólidos e por isso a sua destinação não é de responsabilidade das prefeituras. Como o município de Muritiba não instituiu leis municipais específicas para esse fim, associados à carência de conhecimento da população acadêmica sobre os problemas causados pelo mesmo que foi possível verificar os benefícios do reaproveitamento do óleo de cozinha para a saponificação como uma alternativa viável. O sabão ecológico é 100% biodegradável, ou seja, não polui a natureza, além de poder ser produzido em casa e ajudar na preservação da natureza, podendo gerar economia e renda no final do mês.

Dentro deste contexto, este trabalho teve por objetivo despertar a sensibilização da comunidade em geral sobre a importância dareciclagem do óleo de cozinha usado, através da Educação Ambiental, contribuindo também na melhoria do meio ambiente.

 

METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido no Colégio Estadual Manoel Benedito Mascarenhas que está localizado no Distrito de São José do Itaporã, Muritiba, Bahia, e executado por jovens do Ensino Médio.

Para a produção do sabão foram utilizados os seguintes materiais: 5 litros de óleo reutilizado; 1kg de soda cáustica em escamas; 1 litro de água morna e 1 copo de sabão em pó.

Em um recipiente foram adicionados: a soda cáustica em escamas no fundo de um balde, depois, com cuidado, a água morna. Essa mistura foi mexida sem parar por aproximadamente 1 hora até diluir todas as escamas da soda (Figura 1).Posteriormente colocou-se o óleomexendo por aproximadamente 30 minutos sem parar. A mistura foi despejada numa fôrma e esperou-se secar  por no mínimo 20 dias. Após esse período a mistura já endurecida, foi retirada da forma, cortada em pequenos pedaços dando origem as barras de sabão que foram embaladas em papel filme para ser entregue à comunidade (Figura 2).

 


 

Figura 1- Alunos participando do processo de mexer o sabão

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Figura 2 – À esquerda, vista do sabão após a retirada da forma e à direita o sabão pronto para uso.

 

Neste trabalho empregou-se óleo comestível usado (óleo de soja) obtido por meioda coleta realizada pelos próprios alunos na escola e na comunidade em torno da mesma.

Quanto ao preparo do sabão, vale ressaltar, que foi recomendado o cuidado no manuseio, uma vez que são utilizados alguns ingredientes tóxicos que não devem em qualquer hipótese serem manipulados por crianças ou por pessoas que não detenham o conhecimento prévio.

Salienta-se que a receita caseira de transformar óleo de cozinha em sabão, contém soda cáustica e outras químicas, portanto, foram seguidas todas as normas de segurança preconizadas pelo Conselho Regional de Química e a atividade prática de preparar o sabão foi orientada pelos professores responsáveis.

 

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A produção de sabão a partir de óleo de cozinha usado, foi uma ótima forma de descarte do óleo, diminuindo a poluição de mananciais e reservatórios e possibilitando a população fazer economia, tendo em vista que qualquer pessoa, seguindo uma receita simples, pode fazer o seu próprio sabão que pode ser usado para lavar louças e até roupas.

O sabão produzido pelo projeto obteve uma consistência adequada e um cheiro agradável, possibilitando o seu uso para a lavagem de louças, roupas e limpeza em geral.

Com a execução deste projeto, recolhemos cerca de 20 litros de óleo e o transformamos em sabão, que com base na literatura deixamos de poluir o equivalente a20 milhões de litros de água, tendo em vista que esse óleo seria descartado indevidamente no ralo. É provável que o projeto continue, tanto pelos executores quanto pelos participantes, dessa forma estaremos contribuindo com o nosso meio ambiente.

Através do presente trabalho, observou-se que a maioria das pessoas ainda não sabe o que fazer com o óleo de cozinha usado e muitas desconhecem os prejuízos causados ao meio ambiente e por esse motivo acabam despejando o resíduo no solo, água, ou então descartam no lixo comum, estas pessoas, no entanto, necessitam de orientações quanto ao impacto que este óleo causa no ambiente e o que fazer então com esse resíduo, neste caso podendo ser usado o exemplo da fabricação de sabão, que além de ser ótimo para limpeza, pode gerar benefícios econômicos e ambientais.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando as primeiras etapas do trabalho verificou-se que os objetivos propostos com a realização dessa atividade, de coletar e preparar o sabão a partir do óleo usado em frituras foi plenamente atingido. Dessa maneira, pretende-se manter essa linha de trabalho no decorrer do ano, utilizando como foco principal a conscientização da população em geral, pois a Educação Ambiental de uma comunidade propicia o gerenciamento do resíduo a partir da reciclagem e da reutilização. Essa conscientização acontecerá através de palestras e oficinas que serão realizadas em escolas, comunidades rurais e associações do distrito de São José do Itaporã, município de Muritiba, Bahia.

É de extrema importância chamar a atenção da população para a questão ambiental que está inserida em cada momento das nossas vidas e este projeto mostra como pequenas ações podem refletir positivamente na preservação do meio ambiente, além de despertar a conscientização da comunidade em geral quanto às questões ambientais envolvidas no descarte inadequado do óleo de cozinha usado no meio ambiente, essas atividades de reutilização desse óleo usado em frituras podem tornar também fonte de renda para as comunidades mais carentes do município. Desse modo além conscientizar esperamos levar para a população uma fonte renda.

Sendo assim, foi de importância chamar a atenção das pessoas do município de São José do Itaporã para a questão ambiental que está inserida em cada momento das nossas vidas. E com esses resultados, entende-se, portanto, que os alunos que participaram do projeto “Construindo Práticas Educativas no Ensino Médio com Enfoque em Educação Ambientalsintam-se motivados com o trabalho e dêem continuidade às ações, com o intuito de chamar a atenção da sociedade sobre os problemas de degradação ambiental que enfrentamos

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, O. A. et al. Fabricação de sabão a partir do óleo comestível residual: conscientização e educação ambiental. 2009. XVIII Simpósio Nacional de Ensino de Física. Vitória, Espírito Santo.

 

BIODIESELBR. Não jogue o óleo de fritura. 2007. Disponível em:<http://www.biodieselbr.com/noticias/biodiesel/nao-jogue-oleo-de-fritura-03-04-07.htm>. Aceso em:13 nov. 2016

 

CASTELLANELLI, C.; MELLO, C. I.; RUPPENTHAL, J. E.; HOFFMANN, R. Óleos comestíveis: orótulo das embalagens como ferramenta informativa. In: I Encontro de Sustentabilidade em Projetodo Vale do Itajaí. 2007.

 

MANO, E. B. Meio Ambiente, Poluição e Reciclagem. São Paulo: Edgard Blücher, 2005.

 

LEFF, H. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade e poder. Petrópolis:Vozes, 2001.

LOPES, R. C.; BALDIN, N. Educação Ambiental para areutilização do óleo de cozinha na produção de sabão-projeto“Ecolimpo”, 2009.

 

JUNIOR, V. D. M. Educação ambiental, política, cidadania e consumo. Interações. n.11, p. 214- 229. 2009. Disponível em: <http://nonio.eses.pt/interaccoes/artigos/K11%281%29.pdf>. Aceso em:18 jan. 2017

 

PITTA JUNIOR, O. S. R.; NOGUEIRA NETO, M. S.; SACOMANO, J. B.; LIMA, A. Reciclagem doóleo de cozinha usado: uma contribuição para aumentar a produtividade do processo. Keyelements for a sustainable world: Energy, water and climate change. 2ns International Workshop –Advences in Cleaner Production. São Paulo, Brasil ,maio 2009. Disponível em:

sessoes/4b/2/M.%20S.%20Nogueira%20-%20Resumo%20Exp.pdf> Acesso em: 18jan. 2017.

 

REIS, M. F. P.; ELLWANGER, R. M.; FLECK, E. Destinação de óleos de fritura. 2007.

 

Ilustrações: Silvana Santos