Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Podcast(1) Dicas e Curiosidades(5) Reflexão(6) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(11) Dúvidas(1) Entrevistas(2) Divulgação de Eventos(1) Sugestões bibliográficas(3) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(2) Soluções e Inovações(3) Educação e temas emergentes(6) Ações e projetos inspiradores(24) Cidadania Ambiental(1) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Relatos de Experiências(1) Notícias(26)   |  Números  
Artigos
30/05/2017 (Nº 60) TRILHA ECOLÓGICA COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ÊNFASE NA TEMÁTICA DA BIODIVERSIDADE
Link permanente: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=2810 
  
Caracterizações morfológica e química da água de coco de cultivares de coqueiro

TRILHA ECOLÓGICA COMO ESTRATÉGIA METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM ÊNFASE NA TEMÁTICA DA BIODIVERSIDADE

 

Sâmia Luzia Sena da Silva1,Diego Ramon da Silva Machado2, Sebastião Ribeiro Xavier Junior3, Gustavo Francesco de Morais Dias4, Giovani Rezende Barbosa Ferreira4

 

1. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Universidade Federal do Pará (samialuzia23@hotmail.com).

2. Mestre em Educação em Ciências e Matemáticas, Universidade Federal do Pará.

3.Especialista em Perícia e Avaliação de Impactos Ambientais, Instituto de Estudos Superiores da Amazônia.

4.Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, Universidade Federal do Pará.

 

Nosso cotidiano está diretamente relacionado com os elementos naturais, em especial a biodiversidade. Este elemento possui valor ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético. Diante disso, esse trabalho tem como objetivo analisar a trilha ecológica como estratégia metodológica para o ensino da educação ambiental com ênfase na temática biodiversidade com alunos do ensino fundamental. A metodologia adotada consistiu na aplicação de um questionário para avaliação do conhecimento prévio dos alunos sobre a temática da biodiversidade, na realização de uma trilha ecológica e na aplicação de um segundo questionário para avaliar a assimilação do conteúdo abordado e o potencial da trilha ecológica como instrumento pedagógico. Ao termino das três etapas, notou-se que a princípio os alunos possuíam um conhecimento superficial sobre o assunto e que após a trilha houve um aprimoramento do conhecimento sobre o tema, mostrando eficiência desta ferramenta para compreensão do tema, todavia, percebeu-se que os estudantes possuem dificuldades em conceituar o verdadeiro significado de biodiversidade, isso mostra a complexidade do tema. Ao final, o estudo identificou a potencialidade da trilha ecológica e aulas de campo para complementação da abordagem da temática biodiversidade, dessa forma colaborando para futuras pesquisas nessa área de estudo.

Palavras-chave: Trilhas Ecológicas, Ensino de Ciências, Biodiversidade

 

Ecological trail as a methodological strategy for environmental education with emphasis on the theme of biodiversity

 

Our daily life is directly related to the natural elements, especially biodiversity. This element has ecological, genetic, social, economic, scientific, educational, cultural, recreational and aesthetic values. Therefore, this study aims to analyze the nature trail as a methodological strategy for environmental education with emphasis on biodiversity theme with elementary school students. The methodology consisted of applying a questionnaire to assess the students' prior knowledge on the subject of biodiversity, the realization of an ecological trail and applying a second questionnaire to evaluate the assimilation of content addressed and the potential of eco-trail as a tool pedagogical. At the end of the three steps, it was noted that at first the students had a superficial knowledge of the subject and after the track was an improvement of knowledge on the subject, showing efficiency of this tool for understanding of the subject, however, it was realized that students have difficulty conceptualizing the true meaning of biodiversity, this shows the complexity of the issue. Finally, the study identified the potential of ecological trail and field classes to complement the theme of biodiversity approach, thus contributing to future research in this area of study.

Keywords: Ecological trails, Science Education, Biodiversity

1. IntroduÇãO

Nosso cotidiano está diretamente relacionado com os elementos naturais, em especial a biodiversidade. De acordo com Dias (1995), a biodiversidade possui valor ecológico, genético, social, econômico, científico, educacional, cultural, recreativo e estético. Segundo Barbieri (2010), a biodiversidade é entendida como “a totalidade dos genes, espécies e ecossistemas de uma região”, agrupando, por meio desta definição, os três níveis de diversidade entre os seres vivos, que são: diversidade de espécies (diversidade entre as espécies), diversidade genética (diversidade dos genes em uma espécie) e diversidade de ecossistemas (diversidade em nível mais alto, compreendendo todos os níveis de variação).

Motokane et al. (2010),ressaltam que essa temática traz uma série de questões pertinentes à aprendizagem de conteúdos, sejam conceituais, procedimentais ou atitudinais, possíveis de promover uma compreensão dos fenômenos complexos presentes na vida do aluno. Desse modo, a inclusão deste tema na educação, particularmente no Brasil, faz-se necessária não apenas para compreender a importância da conservação das espécies, mas para o bem-estar humano, pois fazemos parte dessa biodiversidade (CULLEN et al., 2004).

Estabelecer o contato direto com a beleza e riqueza da biodiversidade Amazônica pode ser um meio mais eficaz de aumentar o conhecimento e sensibilizar futuros formadores de opinião na busca da religação do ser humano ao meio natural(OLIVEIRA et al., 2015).Nesse contexto, as trilhas ecológicas aparecem como ferramenta capaz de propiciar atividades que revelam os significados e as características do ambiente por meio de elementos originais, por experiência direta e por meios ilustrativos, sendo um instrumento básico de educação ao ar livre (SANTOS et al, 2012).

Segundo Andrade (2003), trilhas são definidas como percursos em sítio natural que conseguem promover um contato mais estreito entre o homem e a natureza, possibilitando o conhecimento de fauna, flora, geologia, geografia, dos processos biológicos e das relações ecológicas do meio ambiente e sua proteção.Assim, atividades utilizando trilhas ecológicas e saídas a campo, podem ser vistas como alternativas para o desenvolvimentodo ensino das Ciências de forma transversal, na qual a aprendizagem seja realizada de maneira diferente da tradicional, permitindo aos alunos vivenciarem o processo do fazer, comunicando-se com o mundo, buscando o aprofundamento de conteúdos (STROHSCHOEN; SALVI, 2013) e construindonovos conhecimentos, para que o processo de ensino-aprendizagem tenha sentido e contexto (RODRIGUES, 2009).

Nesta perspectiva, este trabalho teve como objetivo analisar a trilha ecológica como estratégia metodológica para o ensino da educação ambiental com ênfase na temática biodiversidade, com alunos do 7° e 8° ano do ensino fundamental; analisar de maneira mais específica o conhecimento da definição de biodiversidade e a sensibilização de sua importância, bem como da urgência na sua conservação; além de discutir as noções de biodiversidade dos alunos a partir de uma trilha e avaliar o seu potencial metodológico como ferramenta para a abordagem do tema.

2. Materiais e métodos

O estudo em questão foi realizado com 25 estudantes de uma escola de ensino fundamental, sendo 9 do sexo feminino e 16 do sexo masculino, com idade entre 11 e 16 anos, na cidade de Belém, Pará.

A escolha da instituição de ensino se deu pela sua proximidade com a Embrapa Amazônia Oriental, onde está localizada a trilha ecológica “Capoeira do Black”, local da prática de ensino, uma área de vegetação secundária remanescente abrangendo 5,7 ha, com aproximadamente 65 anos de existência (Figura 1).

 

Figura 1Mapa de localização da trilha ecológica “Capoeira do Black”.

Fonte: autores.

 

Este fragmento está inserido na Área de Pesquisa Ecológica do Guamá (APEG), representando uma zona de conservação ambiental. Nele foram identificadas várias espécies madeireiras, medicinais, oleíferas e alimentícias, além de uma diversa fauna de insetos, aves, répteis e mamíferos.

A pesquisa consistiu em três etapas, na primeira etapa o tema da pesquisa foi apresentado e foi entregue aos alunos um termo de consentimento para imagens e/ou gravações.

Em seguida, foram realizadas coletas de dados por meio de questionário composto por sete perguntas sobre biodiversidade, com o objetivo de avaliar o conhecimento prévio dos estudantes acerca do tema. No momento da aplicação dos questionários foi realizada apenas a leitura das perguntas e alternativas para que não ocorresse nenhuma indução a marcação das respostas corretas. Posteriormente, foram apresentadas algumas normas de conduta visando à segurança, cuidado e respeito dos alunos com a natureza.

A segunda etapa se deu com a realização da caminhada na trilha ecológica “Capoeira do Black”, com o percurso de aproximadamente 45 minutos (Figura 2). O desenvolvimento da temática da biodiversidade foi baseado na proposta educacional dePivelli (2006, p.78), utilizando como subsídio a publicação da WWF-Brasil “Investigando a Biodiversidade: Guia de apoio aos investigadores do Brasil”.

 

 

Figura 2 – Caminhada na trilha ecológica “Capoeira do Black”.

Fonte: autores.

 

Durante a caminhada foram discutidos os seguintes temas: o entendimento do que significa biodiversidade; o conhecimento da biodiversidade local e o nível de interação que os indivíduos têm com ela; o reconhecimento da relação entre a biodiversidade e a manutenção da qualidade de vida; o saber de quais são os fatores que influenciam a biodiversidade, entendendo que a atividade humana pode tanto beneficiá-la quanto prejudicá-la; a consciência dos impactos individuais e sociais das próprias ações, estilos de vida e escolhas de consumo sobre a biodiversidade; a melhoria das habilidades em relação à biodiversidade, incluindo aquelas que aumentam sua compreensão e promovem ações apropriadas; e as ações que são úteis para preservar e aumentar a biodiversidade e como utilizá-la conscientemente (Figura 3).

 

Figura 3 – Momento do desenvolvimento e discussão da temática da biodiversidade.

    Fonte: autores.

 

O último momento se deu após a caminhada na trilha, com o reagrupamento dos alunos na sala de reuniões do Laboratório de Botânica para retomar as discussões sobre a temática e enfatizar o que foi observado no local. Para este momento, houve a aplicação do segundo questionário, que teve por finalidade avaliar a assimilação do conteúdo abordado e o potencial da trilha ecológica para a abordagem da temática biodiversidade. Optou-se por fazer menos perguntas e, sobretudo, identificar as impressões destes alunos em relação à trilha.

3. Resultados e discussão

3.1 Análise dos questionários pré-trilha

Para análise do questionário pré-trilha, trechos das respostas dos estudantes às questões foram transcritos entre aspas e com fonte em itálico.

Na 1° questão, sobre a pergunta “O que é biodiversidade?”, o resultado mostrou que 56% alunos pareceram desconhecer o significado de biodiversidade. Houve também os que possuíam pouco entendimento e associaram o tema a aspectos ligados à natureza, dizendo ser “a matéria que estuda a vida das plantas e dos animais”, “as plantas, as árvores, frutos, flores e a fauna e a flora” e “o meio ambiente, os animais, as plantas e os seres humanos”. Outros apresentaram um conceito generalista: “a diversidade da vida”.

Nota-se que alguns alunos associaram este conceito à variedade de espécies. Contudo, Sachs (2002)ressalta que o estudo da biodiversidade não deveria estar limitado a um inventário das espécies e genes, por dois motivos: primeiro porque o conceito de biodiversidade envolve também os ecossistemas e as paisagens; segundo porque a biodiversidade e a diversidade cultural estão entrelaçadas no processo histórico de coevolução.

Meglhioratti et al.(2008)afirmam que, na maioria das vezes, o ensino de ciências é realizado de forma memorística e fragmentada e que essa abordagem contribui para que os alunos de escolaridade básica, em geral, tenham dificuldades em relacionar os conceitos científicos com os fenômenos da natureza, e a representá-los de maneira integrada, permanecendo com suas concepções alternativas a respeito dos temas versados. Segundo Gambarini & Bastos (2006), a compreensão deste tema tem sido dificultada devido ao ensino do conceito ainda bastante fragmentado presente nos livros didáticos.

A respeito do segundo questionamento aos estudantes “Como a biodiversidade está presente no seu dia-a-dia?”,respostas como “na comida, no suco, em casa, se você tiver plantas”, “nas plantas, nos animais, e nas árvores” e “em alguns dias quando saio com meus pais para um passeio em um bosque, em passeios de escola também como hoje”, mostraram como se dá percepção da biodiversidade no cotidiano dos estudantes. Observou-se também que muitos alunos não sabem identificar a presença da biodiversidade no seu dia-a-dia.

Quando perguntamos na terceira questão “Por que a biodiversidade é importante para o planeta?”, alguns dos estudantes relataram desconhecer a importância, enquanto outros destacaram: a sobrevivência “porque sem a biodiversidade não tem como viver”, o efeito estufa e oxigênio “porque ela diminui o efeito estufa e os gases tóxicos”, “por causa do oxigênio, sem ela morreríamos de calor e não poderíamos respirar” ou ainda “porque as pessoas precisam da natureza para poder comer as frutas que elas nos proporcionam ou até mesmo de algumas plantas que fazemos remédios".

Percebe-se que estes estudantes sabem a relação entre biodiversidade e sobrevivência, porém a natureza se apresenta de maneira utilitarista, ou seja, a funcionalidade da biodiversidade é servir ao homem. Nenhum deles chegou a citar, por exemplo, a importância da biodiversidade para outros animais ou, ainda, para outras plantas.

Quanto ao quarto questionamento sobre o que contribui para a redução da biodiversidade, alguns estudantes declararam desconhecer as causas da diminuição, enquanto outros citaram como principal causa: “o desmatamento”, “a poluição, o lixo, os bueiros entupidos, e jogar lixo no chão e etc” e “a fumaça, o óleo, a gasolina”.

Na quinta questão “Seu estilo de vida afeta a biodiversidade? Por quê?”, notou-se que a maioria dos alunos não sabia se seu modo de vida interferia na biodiversidade; houve aqueles que relataram nunca ter pensando sobre isso. Houve também os que negaram qualquer interferência: “Não, porque não tem nada que eu faça que prejudique a biodiversidade”; e ainda os que afirmaram intervir na biodiversidade: “Sim, porque eu ando de ônibus e poluo o mundo”.

Para a sexta questão “Por que é importante preservar a biodiversidade?”,respostas como “Porque nos ajuda a viver”, “Para respirar e ter oxigênio, e não morrer de calor”, “Para não prejudicar os animais e as plantas” mostraram que existe a consciência, ainda que reduzida, sobre a importância de sua preservação.

Na sétima questão os estudantes foram indagados sobre como poderiam contribuir para preservar a biodiversidade do planeta. As respostas analisadas indicaram que a maioria dos alunos não possuia um conhecimento aprofundando sobre o que realmente pode ser feito para preservar a biodiversidade, destacando-se as respostas: “preservando a natureza e os animais e as pessoas”, “deixando de fazer maus costumes” e “não gastar muita água, não matar os animais só por diversão, não cortar as árvores, e desmatar plantas raras”.

Diante destes resultados, percebeu-se que os alunos possuíam um conhecimento muito superficial sobre a temática da biodiversidade, mas entendiam a sua importância, mesmo que de maneira descontextualizada.

3.2 Análise dos questionários pós-trilha

O questionário pós-trilha teve como objetivo avaliar a assimilação das discussões e observações realizadas durante a caminhada, bem como o potencial da trilha ecológica para a abordagem da temática biodiversidade.

Nas respostas à primeira questão “O que você achou mais interessante na trilha ecológica Capoeira do Black?”, as descrições a seguir mostram como a riqueza de elementos presentes na trilha despertou a atenção dos estudantes:

“A diversidade de árvores e plantas, tudo foi muito gratificante porque eu pude aprender mais sobre biodiversidade, por exemplo, que o aumento populacional contribui muito para a diminuição da biodiversidade e várias outras coisas” (L.C.S.C.).

“O que eu achei mais interessante na trilha foi que algumas árvores e plantas que eu pensava que não serviam para fazer nada podem se tornar objetos usados no nosso dia-a-dia” (V.J.L.).

“Tudo, as árvores, plantas e flores que eu vi, os animais, um sapo tipo, minúsculo, uma lagarta branca linda, a árvore Cumatê que faz aparecer a cor da cuia” (E.L.M.S).

“Eu achei interessante as árvores que tinha lá, principalmente a “Cumatê”, uma árvore bem interessante, uns ninhos de passarinhos que tinha em algumas árvores” (L.N.N).

As respostas dos alunos ressaltam a importância das trilhas como método pedagógico, pois permitem que sejam criadas verdadeiras salas de aula ao ar livre e verdadeiros laboratórios na natureza, fomentando o interesse, a curiosidade e a descoberta e promovendo formas diferenciadas para o aprendizado tradicional(SOUZA et al., 2012).

Assim, o uso de trilhas é uma ótima maneira de aprendizagem, por possibilitar objetivos educacionais através da experiência prática, contextualizando o conhecimento passado nas aulas teóricas. Apesar disso, atualmente essa prática ainda é pouco usada pelas escolas(REZENDE; CUNHA, 2014).

A segunda pergunta questionou: “Você acha que há biodiversidade na trilha ecológica Capoeira do Black? Se sim, você acha que a trilha ajudou você a entender sobre o conceito de biodiversidade?”. As respostas mostraram que todos os alunos identificaram a presença da biodiversidade na trilha e que esta ferramenta contribuiu positivamente para a compreensão do tema. Destacam-se as seguintes respostas:

“Sim, ajudou bastante, pois me fez entender o que é a biodiversidade em si, e tudo o que ela representa para todas as formas de vida” (L.C.S.C.).

“Sim, porque explicaram várias coisas sobre biodiversidade e sobre a trilha, assim eu fui entendendo melhor” (G.B.).

“Sim, eu entendi sobre as árvores e as plantas, sobre o que elas fazem pelo meio ambiente e o que nós podemos fazer por elas” (V.J.L.).

“Sim, aprendi que devemos preservar as áreas verdes e que precisamos mudar os nossos atos e começarmos a preservar” (J.P).

“Sim, ajudou e muito, ajudou a entender melhor a fauna e a flora” (E.L.M.S).

Percebe-se que os alunos passaram a compreender que o papel da biodiversidade vai além dos serviços ambientais e benefícios proporcionados ao homem, ao apresentar a ideia da importância deste elemento não só para os seres humanos, mas para todas as formas de vida, e a necessidade de sua preservação.

Assim, percepção do meio e conhecimentos adquiridos coincidem com o que foi exposto nas trilhas realizadas com alunos do Ensino Fundamental(MACHADO et al., 2009), onde mais de 95% dos alunos relataram a importância da associação entre a teoria e a prática das trilhas ecológicas.

Segundo Pinheiro et al. (2010), o contato com ambientes naturais pode gerar um sentimento de pertencimento ao ecossistema, sendo fundamental à conscientização dos visitantes e de todos aqueles que mantêm contato com locais de preservação, para entenderem que o ser humano é parte da natureza.

Desse modo, a busca pela compreensão e contato direto com os ambientes naturais pode ser uma das mais fortes tendências atuais, pois o intuito de sensibilizar e educar sobre questões ambientais são modificações vindas de atitudes e posturas benéficas ao equilíbrio ambiental (SANTOS, 2011).

São nesses locais que as pessoas, de maioria residente no ambiente urbano, podem entrar em contato com a natureza e adquirem informações sobre as interações que ocorrem no ambiente natural e as relações existentes entre a sociedade e natureza (CAMPANHA, 2013).

Na última pergunta questionou-se novamente “O que é biodiversidade?”.Observou-se que alguns alunos continuaram conceituando a biodiversidade como “diversidade da vida”, notou-se também um aprimoramento na qualidade de algumas respostas, pois os alunos não se limitaram a citar apenas os seres vivos, passando a incluir também os ecossistemas, destacam-se:

“É a vida das plantas, animais, etc., o meio ambiente na sua forma diversa, são os animais, as plantas e todas as formas de vida”. (L.C.S.C.)

“São todos os seres vivos, assim como os ecossistemas, os animais, as árvores e as plantas”. (V.J.L.)

“É a floresta, animais, as árvores e os ecossistemas”. (J.M.P.)

As respostas apontam que os estudantes possuem dificuldades em conceituar o verdadeiro significado de biodiversidade, pois, mesmo depois da introdução do assunto, muitos continuaram respondendo no questionário pós-trilha quase da mesma forma que responderam no questionário pré-trilha. Na pesquisa de opinião promovida pelo Ministério do Meio Ambiente – MMA, com adultos em 1997, obteve-se um resultado semelhante ao da presente pesquisa, cerca de 78% dos entrevistados não souberam explicar o que é biodiversidade (DOUROJEANNI; PÁDUA, 2001). Isso demonstra a complexidade do tema.

Diante disto, compreender o conceito de biodiversidade parece ser muito complicado, porém esse aprendizado pode ser simplificado caso deixemos de insistir em um ensino abstrato, dando vez ao professor para conduzir seus alunos a novos processos de conhecimento que estimulem sua percepção, sendo o estudante o sujeito ativo de seu processo de aprendizagem (PERTICARRARI et al., 2010).

Neste sentido, as aulas de Ciências e de Biologia desenvolvidas em ambientes naturais são uma metodologia muito eficaz para envolver e motivar as atividades educativas, por promoverem mudanças nas atitudes e valoresrelacionados ao meio ambiente (VIVEIRO; DINIZ, 2009; SENICIATO; CAVASSAN, 2009).

Dessa maneira, tratar a biodiversidade de forma educacional implica ir além da simples transmissão de aspectos conceituais, mas também a compreensão das dimensões culturais, econômicas, sociais e ambientais envolvidas no aprendizado desse campo. Logo, a educação para a biodiversidade não pode dispensar a discussão de sua dimensão conservacionista (MAGALHÃES, 2012).

Quanto à questão da conscientização, podemos perceber que esta atividade foi o princípio para possíveis mudanças de valores e atitudes. Contudo, para uma conscientização efetiva, são necessários projetos mais duradouros.

4. ConclusÃO

Diante dos resultados obtidos, conclui-se que a utilização da trilha ecológica proporcionou a aproximação dos alunos com a biodiversidade local, contribuindo para a compreensão do tema, dando-lhes a oportunidade de interagir com o meio natural, sendo assim desafiados a refletir sobre situações do cotidiano, integrando o ensino de ciências ao contexto de suas vidas.

Percebeu-se a potencialidade da trilha ecológica e aulas de campo para o ensino da educação ambiental e biodiversidade no âmbito do ensino fundamental. Assim, cremos que esta metodologia vem de encontro às necessidades não apenas de construir conhecimentos, mas propiciar aos estudantes a possibilidade de descobrir, interagir, refletir e discutir a temática da biodiversidade, além de facilitar o seu aprendizado.

Portanto, esta proposta não encerra as discussões aqui apresentadas e nem identifica como objetivo finalizá-las, mas busca colaborar com outras pesquisas, visando à melhoria do ensino de ciências e à utilização das suas metodologias para a educação ambiental.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, W. J. Implantação e manejo de trilhas. Brasília: WWF Brasil, 2003.

BARBIERI, E. Biodiversidade: a variedade de vida no planeta Terra. In: Instituto de Pesca, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. 16 p. 2010.

CAMPANHA, L. F. P. Trilhas Ecológicas como Recurso de Educação Ambiental. Universidade Estadual de Londrina. Paraná, 2013. 9 p.

CULLEN JUNIOR, L.; RUDRAN, R.; VALLADARES-PADUA, C. Métodos de estudo em biologia da conservação e manejo de vida silvestre. Curitiba – PR: Editora UFPR, p. 19, 2004.

DIAS, B. F. S. A implementação da convenção sobre diversidade biológica no Brasil: desafios e oportunidades. 1995. Disponível em: . Acesso em: 28 mar. 2017.

DOUROJEANNI, M. J.; PÁDUA, M.T.J. Biodiversidade: a hora decisiva. Curitiba: Ed. UFPR, 2001.

GAMBARINI, C.; BASTOS, F. A utilização do texto escrito por professores e alunos nas aulas de Ciências. São Paulo, Escrituras, p. 93-115, 2006.

MACHADO, J.V.V.; SANTOS, R.F.; MOURA, C.F.A.; ROSS, B.; COPATTI, C.E. Interpretação de trilhas ecológicas para alunos do Ensino Fundamental – Séries Finais de Cruz Alta-RS. Cataventos, v.1, p.1-14, 2009.

MAGALHÃES, C. E. R.; SILVA, E. F. G.; TERÁN, A. F. O tema da biodiversidade e a educação de ciências. Anais do III Simpósio Nacional de ensino de Ciências e Tecnologia. 2012.

MEGLHIORATTI, F. A.; ANDRADE, M. A. B. S.; BRANDO, F. R.; CALDEIRA, A. M. A. A compreensão desistemas biológicos a partir de uma abordagemhierárquica: contribuições para a formação depesquisadores. Filosofia e História da Biologia,v. 3, p. 119-138, 2008.

MOTOKANE, M. T.; KAWASAKI, C. S.; OLIVEIRA, L. B. Por que biodiversidade pode ser um tema para o ensino de ciências? São Paulo: GEENF/FEUSP/INCTTOX. p. 30-60, 2010.

OLIVEIRA, A.T.; ARIDE, P.H.R.; LIMA, J.P,; VALSECCHI, J.; ARIAS, R.B; SILVA, M.I.L.; SILVEIRA, R. Reserva de desenvolvimento sustentável (RDS) Mamirauá e Amanã: Usos de espaços não-formais na disciplina de Biologia da Conservação. Areté Revista Amazônica de Ensino de Ciências. Manaus, v. 8, n. 16, p. 115-123, jan-jun, 2015.

PERTICARRARI, A.; TRIGO, F. R.; BARBIERI, M. R.; COVAS, D.T. O uso de textos de divulgação científica para o ensino de conceitos sobre ecologia a estudantes da educação básica. Ciência e Educação,v. 16, p. 369-386, 2010.

PINHEIRO, B. R. A; SOARES, A. S.; AZEVEDO, F. F. A relação homem-natureza e a práxis do turismo: um (re)encontro para a preservação. Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.3, n.2, p.331 340, 2010.

PIVELLI, S. R. P. Análise do potencial pedagógico de espaços não-formais de ensino para o desenvolvimento da temática da biodiversidade e sua conservação, 2006. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

REZENDE, V.L.; CUNHA, F. L. Os desafios do uso de trilhas em unidades de conservação. Periódico Eletrônico “Fórum Ambiental da Alta Paulista”, v.10, n.3, 2014.

RODRIGUES, D. C. G. A. Ensino de Ciências e a Educação Ambiental. Revista Práxis. ano I, n.1, 2009.

SACHS, I. Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2000.

SANTOS, M. C.; FLORES, M. D.; Educação ambiental por meio de trilhas ecológicas interpretativas com alunos nees. Monografias ambientais, v.5, n.5, p. 982 -991, 2012.

SANTOS, M. C.; FLORES, M. D.; ZANIN, E. M. Trilhas interpretativas como instrumento de interpretação sensibilização e educação ambiental na APAE de Erechim/RS. Vivências. v.7, n.13, p.189-197, out. 2011.

SENICIATO, T.; CAVASSAN, O. O ensino de ecologia e a experiência estética no ambiente natural: considerações preliminares. Ciência & Educação, v. 15, n. 2, p. 393 – 412, 2009.

SOUZA, V. T.; RAGGI, F. A. S.; FRANCELINO, A. S. S.; FIGEIRÓ, R.; RODRIGUES, D. C. G. A.; SOARES, R. A. R. Trilhas interpretativas como instrumento de educação ambiental. Anais III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente, v. 5, p. 294-304, ago. 2012.

STROHSCHOEN, A. P. G.; SALVI, L. C. Construindo práticas educativas no ensino superior: roteiros de atividades experimentais e investigativas. Lajeado: Ed. da Univates, 2013.

VIVEIRO, A. A.; DINIZ, R. E. S. Atividades de campo no ensino das ciências e na educação ambiental: refletindo sobre as potencialidades desta estratégia na prática escolar. Ciência em tela, v. 2, n. 1, p. 1-12, 2009.

 

 

Ilustrações: Silvana Santos