Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
Início
Cadastre-se!
Procurar
Área de autores
Contato
Apresentação(4)
Normas de Publicação(1)
Podcast(1)
Dicas e Curiosidades(5)
Reflexão(6)
Para Sensibilizar(1)
Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(11)
Dúvidas(1)
Entrevistas(2)
Divulgação de Eventos(1)
Sugestões bibliográficas(3)
Educação(1)
Você sabia que...(2)
Reportagem(2)
Soluções e Inovações(3)
Educação e temas emergentes(6)
Ações e projetos inspiradores(24)
Cidadania Ambiental(1)
O Eco das Vozes(1)
Do Linear ao Complexo(1)
A Natureza Inspira(1)
Relatos de Experiências(1)
Notícias(26)
| Números
|
Artigos
A INTERFERÊNCIA DA AÇÃO ANTRÓPICA NA MODIFICAÇÃO DO CENÁRIO URBANO NO MUNICÍPIO DE BOCAINA-PI Francisco Antônio Gonçalves de Carvalho1, Wesley Fernandes Araújo2, Antonia Alikaene de Sá3, José Janielson da Silva Sousa4, Raissa Nuala Feitosa5, Jheycon Antônio Matos Sousa6 1Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – Universidade Federal do Piauí – UFPI/Prodema/Tropen (tonyogc@hotmail.com) 2Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – Universidade Federal do Piauí – UFPI/Prodema/Tropen (fa.wesley@homail.com) 3Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente – Universidade Federal do Piauí – UFPI/Prodema/Tropen (allyknsa@hotmail.com) 4Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente – Universidade Federal do Piauí – UFPI/Prodema/Tropen (jannyellsonwatson@gmail.com) 5Especialista em Gestão de Recursos Ambientais no Semiárido – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI (raissanuala@hotmail.com) 6Graduando em Engenharia Civil – Universidade Federal do Piauí – UFPI/Centro de Tecnologia. (jheycon_e.m@hotmail.com)
Resumo: Com a necessidade de se expandirem e crescerem cada vez mais, o desenvolvimento das cidades se tornou algo visível no decorrer das últimas décadas, sejam elas pequenas ou grandes. Com o processo de industrialização e modernização atual o meio ambiente vem sofrendo com ações aplicadas pelo homem em relação a natureza sem se preocupar com os prejuízos que essas ações podem causar futuramente. Diante disso o presente artigo buscou compreender o processo de surgimento do município de Bocaina-PI; identificar o papel do homem na modificação do cenário urbano na cidade; e analisar a percepção dos habitantes em relação a interferência humana na cidade e o impacto dessas ações diante da opinião destes residentes da região. A pesquisa realizada é de abordagem qualitativa, no qual para a coleta de dados utilizou-se de entrevistas com base em um roteiro semiestruturado. Os resultados puderam constatar que a opinião dos moradores é dividida na qual uns concordam com o processo de urbanização trazidos pelo progresso e outros que não concordam pelo fato de trazer prejuízos ao meio natural no entorno da cidade. Abstract: With the need to expand and grow more and more, the development of cities has become visible in the last decades, whether small or large. With the process of modern industrialization and modernization, the environment has been suffering from man-made actions against nature without worrying about the damages that these actions may cause in the future. In view of this the present article sought to understand the process of emergence of the municipality of Bocaina-PI; identify the role of man in modifying the urban setting in the city; and analyze the inhabitants' perception of human interference in the city and the impact of these actions on the opinion of these residents of the region. The research carried out is of a qualitative approach, in which the data collection was based on interviews based on a semi-structured script. The results showed that the opinion of the residents is divided in which some agree with the process of urbanization brought by progress and others who do not agree because it causes damages to the natural environment around the city.
INTRODUÇÃO Presenciamos através dos principais canais de comunicação a degradação ambiental sem precedentes e o agravamento dos problemas urbanos movidos pelo crescimento caótico, e pela falta de estrutura administrativa das cidades. Assim, cada vez mais se faz necessário um planejamento adequado de cidades mais sustentáveis que visem melhorar a qualidade de vida de sua população, tendo em vista, também, o aumento da poluição, as elevadas emissões de dióxido de carbono e a resultante ameaça do clima (GEHL, 2013). Pudemos observar com o passar dos anos uma maior peregrinação da população rural para a zona urbana devido a melhores condições de vida e de serviços que os centros urbanos oferecem. Isso acarretou na concentração de um contingente populacional maior causando assim desequilibro nas cidades. No Brasil, pelo próprio contexto da colonização, as cidades cresceram desordenadamente, principalmente devido a falta de um planejamento eficaz, o que acabava por interferir diretamente na modificação do ambiente natural, realidade que não foge do município de Bocaina – PI, que atualmente possui uma população estimada em 4.369 habitantes, localizada no sertão piauiense (sudeste do Estado). A pesquisa se justifica pelo fato que a cidade de Bocaina - PI é bastante conhecida por vários fatores dentre eles: religiosos, históricos, turismo e lazer dentre outros, além da sua localização ser próxima a cidade de Picos –PI da qual possui uma maior cobertura de serviços essenciais por ser a terceira em número maior de população do estado. Por ser um tema muito rico e de um vasto acervo bibliográfico julgou-se oportuno desenvolver uma pesquisa que responda ao seguinte questionário: De que forma a interferência humana modificou o cenário natural no município de Bocaina-PI? Nesse sentido foram estabelecidos os seguintes objetivos para responder ao referido questionamento: compreender o processo de surgimento do município de Bocaina-PI; identificar o papel do homem na modificação do cenário urbano na cidade; e analisar a percepção dos habitantes em relação a interferência humana na cidade e o impacto dessas ações diante da opinião destes moradores da região. REFERENCIAL TEÓRICO Nesta parte do artigo será exposta a fundamentação teórica que serviu como apoio para construção do desenvolvimento do referido estudo. AS MODIFICAÇÕES ANTRÓPICAS SOBRE O AMBIENTE EM QUE HABITA O ser humano, no transcorrer de sua história, como um ser social, busca na natureza meios de atender suas necessidades de sobrevivência. Como a sociedade está em permanente mudança de hábitos em momentos históricos diferentes, ela sempre estará construindo o seu espaço e sendo construída por ele ao mesmo tempo, o problema é que muitas vezes essa relação não é harmoniosa (CAVALCANTE; CAVALCANTE, 2009). O homem possui capacidade de adaptação nos ambientes naturais se diferenciando dos outros animais, e desta maneira cria seu próprio ambiente diferente de outros seres ao seu redor por questão de sobrevivência. Desde a pré-história, o homem vem alterando o meio ambiente, no qual superou seus limites criando ferramentas que ampliavam suas aptidões. Com a domesticação de animais e o domínio de técnicas de plantio, por exemplo, surgiu a primeira revolução científico-tecnológica (agrícola), permitindo deste modo a fixação das pessoas no que podem ser consideradas como as primeiras vilas e cidades (Dias, 2007). Kruguer (2001), quando apresenta a interação do ser humano com a natureza nos primórdios da humanidade, introduz que entre 50 e 40 mil anos atrás essa natureza dominava o homem. No entanto, após a nascimento da agricultura há cerca 10 mil anos o ser humano passou a reverter essa relação e atualmente o homem moderno domina e a transforma e logo sofre os reflexos da sua má utilização, a qual tem impacto direto no clima e na vida na terra. Segundo Berté, (2009) os impactos ambientais são ocasionados por choques de interesse diretos ou indiretos envolvendo o homem e a natureza. Esse conflito ambiental torna-se notório por meio do consumo e exploração dos recursos naturais renováveis, além de se tornarem altamente poluídos, vão se esgotando a ponto de atingirem níveis críticos (ROCHA, 1999). Philippi Junior, Romero e Bruna (2004) seguem a mesma linha de raciocínio e afirmam que a princípio, as transformações eram insignificantes, e se acentuaram com o passar dos tempos, principalmente a partir da primeira revolução industrial, no qual começa a se perceber um agrupamento populacional crescente nos centros urbanos. Quanto maior a aglomeração de pessoas maiores eram os danos ambientais. Os ambientes naturais foram transformados em ambiente urbano devido à aglomeração de pessoas que necessitam dos recursos naturais para sobreviver. A partir do controle das técnicas de produção, do desenvolvimento da forma de se relacionar com o trabalho, o homem expandiu suas potencialidades de domínio sobre o meio ambiente e o conhecimento da natureza foi tornando o homem cada vez mais senhor de si e com isso seu poder de transformação da natureza obviamente acendeu. Essa nova concepção de mundo mudou sua relação com a natureza, tendo como consequência dessa transformação efeitos negativos (ALVES, 2017). Em resumo, seu poder de alterar a natureza deriva de sua habilidade de domínio de novas ferramentas e técnicas de trabalho, sua organização em sociedades humanas e da criação de instituições e por fim sua evolução do conhecimento técnico-científico. Essas aptidões mudaram drasticamente a forma de relacionamento homem-natureza (MEDINA, 1996). Nas últimas décadas é perceptível que os impactos ambientais provocados por alterações antrópicas, principalmente nos espaços urbanos, têm aumentado de maneira expressiva, provocando destruição e alteração nos ecossistemas. A justificativa dos problemas e impactos ambientais decorrentes do desenvolvimento econômico, conforme Chaves (2017, p. 2), “foram por muitos anos colocados como sendo um ‘mal necessário’ indispensável no fator de crescimento e um desenvolvimento progressivo” e ainda ao mesmo tempo tem-se que “a responsabilidade socioambiental das empresas se confrontava com seus paradigmas de maximização de capital, com isso a maioria das empresas se limitavam-se a cumprir as normas e leis ambientais vigentes”. Esse modelo de desenvolvimento econômico aliado ao crescimento exponencial da populacional e a ausência de comprometimento ambiental têm ocasionado rupturas ecológicas que ameaçam a capacidade de suporte do planeta (MEDEIROS, et al., 2006). A exploração industrial do meio ambiente manteve-se sem discussão durante todo o século XIX e na maior parte do século XX. A noção equivocada de que os recursos naturais eram ilimitados, e que desenvolvimento significava dominar a natureza e os homens, só foi repensada nos anos 1970, quando se notou que os recursos naturais são sim exauríeis e que o crescimento sem limites começava a se revelar insustentável. Em outras palavras, passou-se a se perceber que essa exploração estava resultando em efeitos perversos à natureza e ao ser humano. (CUNHA; GUERRA, 2009). No entanto, mesmo com as novas perspectivas apresentadas ao fim do século XX, Bello e Hüffner (2012), ponderam que a urbanização verificada na atualidade não difere da praticada a partir da revolução industrial, pois, naquele período a industrialização promoveu o nascimento de grandes centros e aglomerados urbanos sem estrutura, condições salubres de moradia, ou saneamento, particularidades estas cada vez mais evidentes nas cidades contemporâneas, capitais e regiões metropolitanas. A trajetória da interferência humana na modificação do espaço urbano no Brasil A partir do século XVI, a ocupação no Brasil se concentra no litoral, devido ao extrativismo e, posteriormente, à produção de açúcar. O país possuía grandes cidades extremamente concentradas no litoral e o seu interior muito vazio. Para Dulley (2004) o que motivou o Brasil a ocupar o seu interior e começar colocar cidades longe do litoral, foi justamente o descobrimento de ouro e principalmente o crescimento da pecuária brasileira, que ocupou maior parte do interior do país. Começa-se a perceber naquela época um perfil espacial em que as cidades que antes eram localizadas no litoral, agora localizam-se no interior atrás de atividades econômicas que também geravam empregos. Já no início do século XIX o Brasil começa a ter uma distribuição melhor, onde graças ao café, os núcleos urbanos brasileiros começam a ter uma concentração de venda muito importante. Marcos (2013) diz que os lucros na produção de café, tem seu surgimento no Vale do Paraíba no Rio de Janeiro , caminha para o Oeste Paulista e termina no Noroeste do Paraná, onde se possibilitou a criação dos centros urbanos com a concentração de renda e infraestrutura. Todo lucro do café acabou criando centros urbanos cada vez mais ricos, esses espaços que acabaram concentrando uma maior renda no Brasil. A infraestrutura diferente começa a surgir ainda no século XIX, no sentido de linhas férreas e as cidades começaram a tomar proporções urbanas como vistas nos dias atuais, construções e atividades diferentes, e o surgimento de novos serviços na sociedade. No século XX, mas precisamente na década de 30, 40, e 50, a industrialização aconteceu de forma eficaz, gerando a criação de empregos nas cidades e mecanização do campo, todos estes fatores contribuíram para o marco da urbanização no Brasil (NUNES, p. 24, 2007). Em 1960 a construção de Brasília, distribuiu a população na região Centro-Oeste, até então ocupada apenas pelas comunidades dos povos tradicionais. Percebeu-se nesse período a formação de um dos centros urbanos mais bem planejados do país, local no qual é foco da administração econômica da nação onde se tem um fluxo contínuo de geração de emprego e renda. A NATUREZA, O AMBIENTE E O MEIO AMBIENTE HUMANO A natureza e o ambiente de certa forma podem ser considerados a mesma coisa, constando que a natureza é algo que exista indiferente do ser humano, mas que vai se tornando em “ambiente” na medida em que o homem a conhece e transforma. Sendo assim, podemos dizer que o ambiente, como reflexão humana, se forma a partir de uma conotação mais prática, no sentido de utilidade que a natureza pode ter tanto para o homem quanto para outra espécie. Visentini (2005) diz que o meio ambiente pode ser observado a partir da consideração de que o ambiente seria observado pelo prisma de espaço macroscópico e o meio ambiente numa perspectiva microscópica. Tendo em vista que o meio ambiente é a parcela do ambiente que reúne condições necessárias para o desenvolvimento de uma espécie ou organismo, podemos considerar que o meio ambiente humano mais comum é o meio ambiente modificado ou construído, ou seja, as cidades, que podem ser denominadas de centros urbanos específicos. Sendo assim, a natureza assume-se como conceito dinâmico em constante transformação, na medida em que é constantemente transformada em meio ambiente humano por meio do conhecimento que se tem dela e da utilização que se faz dos elementos que interessam mais a ordem social produtiva, ou seja, indispensáveis para a sobrevivência humana e necessários para o sistema de metabolismo social. A utilização destes elementos da natureza indispensáveis ao modelo social produtivo vai acarretar a transformação do meio ambiente humano em meio ambiente econômico, isto é, ao inter-relacionar determinados elementos do ambiente global, tendo como objetivo específico favorecer o sistema produtivo, poderíamos dizer que o meio ambiente humano assume novas necessidades e identidades de acordo com os sistemas produtivos, logo, o meio ambiente humano pode ser mutável em favorecimento do meio ambiente econômico. Um bom exemplo disso é o caso da agricultura, que é um ecossistema cultivado e pode ser considerado meio ambiente (um meio ambiente específico do homem, visando fins específicos). Logo, podemos delimitar o ambiente urbano como a natureza conhecida e modificada de acordo com os interesses humanos que correspondem às necessidades e interesses do sistema social de produção, constando que cada sistema produtivo se relaciona a um período da história. Na atualidade, o sistema social produtivo tem interesses sociais e econômicos contraditórios e antagônicos, pois o sistema capitalista traz implícito em sua estrutura uma divisão de classes e, portanto de interesses. Logo, o nosso meio ambiente tem consigo a possibilidade real tanto de preservação quanto de depredação da natureza. Neste ponto, temos que esclarecer que a natureza em sua formação dinâmica e sempre mutável está sempre se reequilibrando, se reajustando a partir de mecanismos próprios e que indiferentemente do nosso sistema social produtivo estar preservando ou depredando, a natureza não poderá ser destruída por completo, pois sua dinamicidade daria origem a outros meios ambientes, simplesmente transformando a natureza tal qual como conhecemos. O grande risco então da maneira como nosso sistema produtivo interfere no equilíbrio da natureza diz respeito mais à destruição do meio ambiente humano e do ambiente como conhecemos, além do meio ambiente de outras espécies, fato que não tem tido muita atenção quando se coloca a questão ambiental. No caso do ser humano deteriorar o seu meio ambiente até excluir definitivamente sua possibilidade de existência e havendo assim a extinção da raça humana, a noção de meio ambiente e ambiente também seriam extintas, uma vez que estes são conceitos pensados pelo homem, embora a natureza não possa ser extinta pelo ser humano. Ambiente é toda a natureza que conhecemos e que por isso utilizamos em nosso meio ambiente através de nosso sistema social de produção, uma vez que este é composto pelos meios humanos (conhecimento, força de trabalho, cultura, entre outros) que são aplicados no meio inanimado (rochas, madeira, minerais) com a finalidade de extrair energia do meio vivo (plantas, animais), tendo como finalidade principal satisfazer nossas necessidades (OLIVEIRA, p. 57, 1982). No entanto, é importante considerar o papel dos serviços ambientais prestados pela natureza, ou seja, a produção da água, a manutenção dos ciclos de nutrientes do solo, entre outras grandes produções da natureza que são ofertadas a todas as espécies, indistintamente da raça humana, e que isso mesmo podem ser considerado como patrimônio coletivo da natureza. Assim, a deterioração do meio ambiente humano, a questão do solo, ar, água, entre outros, implica também a perda da qualidade e potência dos meios ambientes de outras espécies, colocando assim a questão da natureza como “patrimônio humano” em causa. Tendo em vista isso, a questão ambiental está declaradamente relacionada também à questão social, sendo a natureza e seus benefícios um patrimônio coletivo, a questão de sua preservação e do ambientalismo ganham um argumento interessante, pois para o sistema jurídico, a questão da propriedade privada e seu uso perdem seus efeitos frente aos direitos coletivos e seus interesses. Apesar de o termo meio ambiente ser muito usado nos últimos anos, sendo reflexo da crise que alcançou todo o planeta, nota-se que as preocupações mais objetivas com o tema são pontuais e descontinuadas, refletindo um posicionamento muito mais mercadológico, um produto de consumo, o “produto verde”. Segundo Marafon e Bezzi (2006) os interesses econômicos ainda se contrapõem aos da preservação real do meio ambiente, mesmo que do próprio, assim o termo e seu conceito sofrem um processo de depreciação quanto a seu sentido verdadeiro, tornando-se apenas uma expressão cotidiana. Temos que os componentes do meio ambiente são diversos e podem ser classificados em abióticos (embasamento geológico, o relevo e o clima), bióticos (flora e a fauna, incluindo o homem) e bióticos-abióticos, o solo, praticamente a base da vida junto com a água. São os dois que dão suporte à vida integral e por sua vez à vida animal, originando assim a cadeia alimentar com toda a sua complexidade. O homem, em decorrência do uso racional de seu cérebro e das ações frutos de seu pensamento, produz arranjos próprios chamados de culturais que dependem dos componentes socioeconômicos. Logo, o homem demonstra ser simultaneamente, um componente biótico e cultural. O homem ao conhecer e compreender a natureza transforma-a em ambiente, reconhecendo nela os elementos que são indispensáveis para sua sobrevivência, utilizando-a como recursos ambientais, assim ele constrói o seu meio ambiente que será organizado de acordo com seu sistema social produtivo, produzindo assim um meio ambiente econômico (MARCOS, p. 20, 2013). Para Rodrigues (2002) o agravamento dos problemas ambientais, o dano ao meio ambiente humano e de outras espécies, está ligado à forma como o conhecimento técnico-científico vem sendo aplicado no processo produtivo capitalista, sendo, portanto, uma característica inerente à modernidade, que mostra, acima de tudo, a incapacidade de controlar os efeitos gerados pelo desenvolvimento industrial, constando que os desastres ambientais não são calculáveis, nem em termos espaciais, nem em termos temporais. Embora problemas ambientais perpassem semelhantemente por todos os países, porém com algumas especificidades, há extenso constrangimento ao delinear ações resolutivas e responsabilizadoras. Se por um lado, o discurso dos órgãos oficiais se direcione aos países elencando a dimensão social no sentido de fator socioeconômico dos países menos desenvolvidos como entrave para a solução da questão ambiental (por exemplo, o desmatamento da Amazônia sendo considerado pela perspectiva socioeconômica de que as populações pobres é que desmatam), por outro lado, não se lembram de questionar o alto grau de desenvolvimento industrial dos países desenvolvidos e os custos ambientais implícitos, tais como a questão enérgica dos Estados Unidos que consomem 30% da energia global. Logo, observamos que mais que jogos de culpa entre países, o que realmente prevalece são os interesses em jogo da sociedade globalizada, do sistema social de produção, o capitalismo.
Caminhos para a sustentabilidade: breve resumo dos acontecimentos históricos Uma das grandes questões do século XXI é a sustentabilidade. Desenvolver-se local e globalmente interagindo constantemente com o meio ambiente, conservando para as gerações futuras. O conceito de desenvolvimento sustentável surge então para enfrentar a crise ecológica promovendo mudanças no modelo de desenvolvimento das sociedades atuais nas suas condições de vida e ambiental (PORTO, 1998). Machado (2011) contribui ainda ao afirmar que o desenvolvimento sustentável não dificulta o padrão de crescimento econômico, apenas incorpora a necessidade de conservação do meio ambiente em escala mundial. Quando tratamos de sustentabilidade, tem-se segundo Sachs (2007), que a mesma pode ser de cunho social, econômico, ecológico, cultural e geográfico. A primeira é caracterizada pela equiparação da qualidade de vida proporcionada pela justa distribuição de renda, enquanto que a segunda ocorre quando se concede recursos públicos e privados, regulados pelo eficiente manuseio dos recursos naturais. A sustentabilidade ecológica, propõe a produção de recursos renováveis a partir da preservação do capital natural e sugere a exploração dos recursos não-renováveis com reservas e limitações. A sustentabilidade cultural, de acordo com o próprio Sachs (2007), se apresenta de difícil consolidação em virtude das amplas condições de acesso à modernidade. Por fim, a sustentabilidade geográfica, diz respeito a um melhor equilíbrio na relação existente entre a ocupação do meio urbano e rural, de maneira que não haja uma aglomeração urbana acentuada a partir do abandono da zona rural, nem ao menos, que exista uma pressão urbana indesejável sobre o campo. Quanto a sustentabilidade urbana, entende-se que ela somente deverá ocorrer a partir da boa condução dos seus vários aspectos, como a sustentabilidade econômica, social, política, intra-urbana e ambiental. (MOLFI, 2009). Esta percepção de mundo veio de forma um pouco tardia e se apresentou por meio de encontros, convenções e tratados internacionais que discutissem e procurassem meios de minimizar os impactos ambientais, sociais, econômicos e políticos existentes. Segundo Seiffert (2011), o debate sobre as questões ambientais, no mundo, se deu a partir da década de 1960, graças ao aumento da população e a redução dos recursos naturais. Com o avanço desses debates, no ano de 1992 ocorreu um dos mais importantes encontros sobre o meio ambiente no mundo, a Eco-92, na cidade do Rio de Janeiro ocasião em que foram propostas várias medidas de combate à poluição, e formas de conservação do meio ambiente e de seus recursos. Durante o evento foram discutidos, analisados e aprovados documentos acerca de temas ambientais (PEREIRA; CURI, 2012). Vale destacar ainda um novo encontro 20 anos depois (RIO+20) que objetivou observar o cumprimento das metas da Agenda 21 e para propor novas metas relacionadas ao tema para as próximas décadas. Nesta mesma linha, tem-se que a partir da primeira metade do século passado começou a se estabelecer o conceito de que a humanidade deveria conservar o ambiente como forma de garantir a coexistência das futuras gerações. O desenvolvimento histórico da abordagem representada pelos estudos de impactos ambientais inicia-se na década de 1960, quando começam a surgir os movimentos para que o tema ambiental e o social sejam incorporados no processo de desenvolvimento, além de questionamentos sobre o valor dos prejuízos ambientais causados em função do paradigma do “progresso” (SÁNCHEZ, 2008). IMPACTOS DAS AÇÕES ANTRÓPICAS SOBRE O MEIO AMBIENTE URBANO A ação antrópica causa danos à natureza, modificando o meio natural e prejudicando a atual e futura gerações. Como também transtornos sociais, frutos do crescimento da pobreza e da marginalidade urbana (AMARAL, 2013). As mudanças ocasionadas no ambiente em função da ação antrópica refletem as alterações significativas no equilíbrio dos ecossistemas naturais, principalmente no decorrer das últimas décadas, com o aumento da população e do processo de urbanização, onde intensificaram-se os impactos da interferência humana na paisagem. Estes processos transformaram toda a estrutura ecológica e social, provocando, assim, uma maior fragilidade e vulnerabilidade do ambiente (RODRIGUES, et al., 2009). As modificações ambientais urbanas são encontradas de muitas formas, como: nos vários tipos de contaminação (do ar, da água, do solo, visual e sonora), nas ilhas de calor, em deslizamentos de encostas, no assoreamento de rios, dentre outras. Estes desequilíbrios são considerados impactos ambientais, conforme afirma Cappelli (2011, p. 34) “impacto ambiental é, então, o processamento de mudanças sociais e ecológicas internas à artigo astral e ecológico, histórico e socialmente determinado”. Assim, impacto ambiental é a alteração no meio ambiente por determinada ação ou atividade. O planeta Terra enfrenta fortes sinais de transição, levando o homem a rever seus conceitos sobre natureza. Esta conscientização da humanidade está gerando novos paradigmas, determinando novos comportamentos e exigindo novas providências na gestão de recursos do meio ambiente. No Brasil, a percepção de que o meio natural precisa de uma atenção principalmente de políticas rigorosas, uma vez que os mais diversos ambientes naturais, estão de alguma forma, sendo modificados pela ação humana, direta ou indiretamente (CUNHA; GUERRA, 2009). A intensificação das ações provocadas pelo ser humano na constituição do meio urbano com a falta de planejamento acarreta problemas ambientais de diversas dimensões. Dentre eles, pode-se citar uma redução das áreas verdes que deveriam ser de conservação ambiental e que são visivelmente ocupadas pela proliferação do zoneamento urbano. Para Borelli (2007) houve na verdade um gigante descompasso entre o crescimento urbano e o desenvolvimento econômico, uma vez que tal crescimento se deu sem o planejamento adequado, havendo insuficiência estrutural na produção de bens de consumo coletivo, o que contribuiu significativamente para a intensificação da degradação ambiental no país e para a redução da qualidade de vida da população. Os aspectos que envolvem a expansão urbana são apontados por Lima, Lopes e Façanha (2017) como expressividade concreta pela busca e produção do espeço físico. A concentração de pessoas no espaço urbano devido ao trabalho e ao consumo, promove o desenvolvimento econômico e acelera a reprodução do capital, o que aumenta, ainda mais, a concentração e crescimento populacional e a necessidade, cada vez maior, de espaço. Uma das atividades que provoca impacto, é a agricultura, pois sendo feita de forma equivocada, ou mal elaborada, traz danos para o meio ambiente, e para os seres humanos, conforme salienta Ab`Sáber (2006, p. 32): Os impactos da agricultura sobre os ecossistemas naturais, organizados em mosaicos regionais, são muito mais drásticos e muitas vezes irreversíveis do que se possa imaginar. Nas áreas tropicais dotadas de florestas e savanas, há séculos eliminam-se coberturas arbóreas biodiversas e seus componentes vivos para se produzirem espaços agrários. Os ciclos econômicos identificados na história do mundo rural, em sua grande maioria, foram ciclos de predação da natureza vegetal e animal. A supressão das florestas para as grandes plantações de cana, café, soja ou pastos era tida como uma necessidade normal e habitual para a organização de espaços produtivos de alimentos e insumos agroindustriais. Assim, o homem passou a ter uma maior participação nas transformações do ambiente, principalmente, nos quadros negativos, passando a aumentar cada vez mais essas ações, conforme as suas necessidades e também a utilização de outros recursos naturais. Da mesma maneira, temos problemas relacionados com a água, que mesmo sendo considerada um dos recursos naturais mais afetados pela ação direta do homem, estando a sua qualidade intimamente ligada com a urbanização. Para isso, Oliveira (2008) alega que a intervenção humana no ciclo da água aumenta na proporção do crescimento populacional, da urbanização e do seu uso desordenado e irracional. Nesse viés, Silva Neto, et al. (2012) destaca que o modelo de desenvolvimento econômico vigente, aliado ao crescimento da população e à ausência de Educação Ambiental, têm provocado rupturas ecológicas que vem ameaçando a capacidade de suporte do planeta. Para o autor, a situação de degradação e poluição tem despertado a atenção das comunidades atingidas. A ação do homem pode acelerar a degradação ambiental, mas, ao mesmo tempo, através do uso e manejo adequados, pode retardar que esses processos ocorram (CUNHA; GUERRA, 2009). Para Coelho (2001), a generalização da ideia de que os seres humanos são, por natureza, depredadores, faz com que, geralmente, as vítimas dos impactos ambientais sejam responsabilizadas e transformadas em culpadas. Pelo contrário, na medida em que precisam dos recursos naturais para sua sobrevivência, as pessoas podem se tornar aliadas da conservação do meio ambiente, desde que sejam garantidas as necessidades básicas da população, como acesso à moradia adequada e infraestrutura, e sejam conscientizadas através da educação ambiental. A ocupação de áreas de proteção ambiental para fins de moradia ocasiona um duplo problema, pois, além das baixas condições de habitabilidade da edificação e da exclusão à cidade formal, estes loteamentos irregulares impactam no meio ambiente. As ocupações em APP´s (Áreas de preservação permanente), são parte integrante de um problema maior dentro das cidades, o fenômeno dos assentamentos e loteamentos irregulares. No entanto, a complexidade das ocupações em margem de cursos d´água é ainda mais expressa, pois está em desacordo com duas normas: a de posse e a pertinente às questões ambientais (MARTINS, 2006). Vale destacar ainda, conforme Salles, Grigio e Silva, (2013, p. 285) que: As cidades estão em processos contínuos de construção, influenciadas por desordens em torno do uso e da ocupação do solo urbano, conflitos socioambientais, injustiças e exclusões. Onde existem interesses, pressões e disputas quanto a esse uso e apropriação do solo e dos recursos disponíveis. Paralelamente convivem no mesmo ambiente da “cidade” problemas como os baixos padrões de vida, conflitos e ocupações em áreas vulneráveis, e altos padrões de vida e os desperdícios de consumo. Representando assim diversos desejos e interesses em um único ambiente. Bispo e Levino (2011), citam os principais problemas advindos de uma ocupação desordenada do solo urbano, quer seja por planejamento inadequado, inexistência de planejamento ou omissão do poder público, neste caso, reproduzindo o que os autores já trouxeram, temos: Alteração do regime de produção: a impermeabilização do solo impede a infiltração da água, acentuando os problemas da erosão urbana e aumentando os picos de cheia. Por outro lado, a minimização da recarga nos solos, reduz a disponibilidade de água nos períodos de baixa precipitação. Ausência de infraestrutura básica: a falta de coleta e tratamento de esgotos e a disposição inadequada de resíduos leva contaminantes aos rios, que têm a qualidade da água comprometida, o que dificulta a potabilização da água. Desperdício: diferentes usos da água associados ao baixo custo e a disponibilidade aparentemente abundante torna o recurso natural de uso mais negligente, mal administrado e desperdiçado pelo homem. (BISPO; LEVINO, 2011, p. 3-4) Outra característica da urbanização problemática é que “o aumento da população urbana é muito maior do que sua capacidade de gerar empregos.” Além disso, deve-se destacar que “suas atividades sem projetos urbanos definidos geram mais impactos negativos ao meio ambiente e consequentemente locais hostis e desumanos.” As reduções desses resultados passam por um processo de planejamento da ocupação do solo (ALVES, 2017, p. 12). Ainda conforme Alves (2017, p 26): A rápida urbanização, o contingente de pessoas sem possuir uma mão-de-obra adequada, associada à inexistência de planejamentos e crises econômicas, provoca total transtorno, gerando desorganização no uso do solo, o que dá origem a bairros sem nenhuma infraestrutura pelo preço da destruição de áreas verdes e rios, além de provocar a saturação dos serviços públicos. A dinâmica de urbanização pela expansão de áreas periféricas gerou um ambiente urbano com divisões sociais e altamente degradado, com efeitos muito graves sobre a qualidade de vida de sua população. Pode-se dizer que existe uma estreita relação entre riscos urbanos e a questão do uso e ocupação do solo. A ausência de saneamento em muitas favelas e loteamentos, por exemplo, além de poluir diretamente as águas dos rios e córregos, compõe um problema de saúde e de baixa qualidade de vida para a população residente, assim como a perda do valor das águas (JACOB, 2006). A ocupação desordenada é vista como o principal motivo dos problemas ambientais urbanos. Conforme Molfi (2009), isso pode estar mais diretamente relacionado a questões sociais e econômicas, muito em razão da ocupação se dar de forma rápida e não planejada, uma vez que a falta de recursos da população menos favorecida a conduz para as periferias dos centros urbanos da mesma maneira que a carência de investimentos faz com que esta ocupação se dê sem o mínimo planejamento e implemento da imprescindível infra-estrutura. Outro fator que contribui para o problema diz respeito ao próprio sistema empregado no planejamento urbano que é bastante burocrata, apresentando caráter centralizador e proporciona desarticulação entre os vários agentes envolvidos no processo (BEZERRA; RIBAS, 2004). Segundo Oliva Júnior (2012) a degradação ambiental, cada vez mais presente nos dias atuais, leva-nos a procurar formas, possíveis soluções que faça diminuir ou tentar estabilizar estes processos degradatórios, que causa uma série de danos muitas das vezes irreparáveis ao meio ambiente, devido à ação humana, e a exploração de forma erronia dos recursos naturais. METODOLOGIA Esta pesquisa se caracteriza como exploratória, pois buscará novas informações sobre o tema proposto. A pesquisa possui o objetivo de identificar de que forma a interferência humana modificou o cenário natural no municipio de Bocaina. O intuito da pesquisa exploratória, de acordo com Gil (1995), é proporcionar uma visão geral sobre a temática debatida, de forma que se tenha uma visão e compreensão do problema abordado. A pesquisa possui uma abordagem qualitativa, onde serão analisadas diferentes perspectivas sobre uma mesma temática. Os sujeitos da pesquisa serão os moradores que residem no zoneamento urbano da cidade de Bocaina-PI, que poderão esclarecer o seu ponto de vista diante da situação estudada. Um critério que pode determinar os sujeitos que serão entrevistados é o fator idade, tendo em vista que pessoas mais velhas puderam observar de perto as mudanças que ocorreram na cidade com o passar dos anos devido à interferência humana sobre o meio natural. Para Gil (1995), o uso dessa abordagem propicia um aprofundamento da investigação das questões relacionadas ao fenômeno em estudo e das suas relações. Os dados são coletados através de registros fotográficos, observação do ambiente em estudo e de entrevistas com roteiros previamente elaborados pelo pesquisador. Logo em seguida os dados são analisados através da técnica análise de conteúdo. Essa análise permite identificar outros significados intrínsecos na mensagem que se estuda, aumentando a possibilidade de descobertas, podendo se buscar provas para a afirmação de uma hipótese. Por fim, cabe ressaltar que algumas limitações poderão ser encontradas no decorrer do desenvolvimento da pesquisa. Considerando os recursos humanos e financeiros disponíveis para a coleta de dados percebe-se uma dificuldade para obtenção das informações necessárias, além de uma possível não concordância na participação da pesquisa por parte de alguns moradores que não se sintam confortáveis em fornecer uma entrevista sobre o tema. ANÁLISE DOS RESULTADOS Nesta seção são exibidos e discutidos os resultados desta pesquisa. O estudo foi desenvolvido através de entrevistas com os moradores da cidade de forma que possam atender aos objetivos em descrição. O público-alvo escolhido para a pesquisa foram habitantes mais velhos que vivem na cidade há tempo considerável e presenciaram o processo de modificação do meio natural devido a ação humana ao passar dos anos. A história da cidade de Bocaina-PI A história de Bocaina-PI tem início ainda no período colonial por volta de 1712 e denominada de Fazenda Bocaina, quando chega da Bahia o português Antônio Borges Leal Marinho, sua mulher Maria da Conceição de Sousa Brito e seus irmãos Francisco e Albino Borges Leal Marinho com bastante e alguns escravos, ocupando vastos territórios para iniciar as primeiras atividades pecuárias. Os Borges Marinho instalaram-se à margem direita do rio Guarituba, na afluência com o riacho Barrocão, fazendo ali beneficiamentos, além de firmar marcos e sinais convencionais de sua posse e implantou uma criação de gado. Durante a ocupação do território, providenciou logo a construção de uma casa com materiais vindos de Oeiras. Católico devoto, logo providenciaria a construção da primeira capela na região que é finalizada em 1754. Em suas viagens a Bahia ele traz consigo um missionário jesuíta e assim essa capela passaria a ser dedicada à Nossa Senhora da Conceição, batizando a Igreja e as imagens de Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora do Rosário, que era a padroeira dos escravos. (IBGE, 2019) Com o passar do tempo o povoado de Bocaina foi desmembrado de Oeiras e anexada ao território de Picos. Elevado à categoria de município e distrito com a denominação de Bocaina, pela lei estadual nº 2561, de 19/12/1963, desmembrado de Picos. (IBGE, 2019) A modificação do cenário urbano sob a análise dos moradores Um dos questionamentos levantados nesse estudo diz respeito sobre o papel que o homem teve na modificação do ambiente urbano na cidade de bocaina. Essas interferências podem provocar mudanças no meio natural e beneficiar a população em alguns aspectos pois pode trazer desenvolvimento para uma localidade, geração de emprego e renda em um curto espaço de tempo. Entretanto essas mudanças podem também causar desconfortos para parte alguns moradores que defendem a ideia de que o meio natural deve permanecer intacto. A seguir apresentamos algumas das falas dos entrevistados e suas percepções a cerca do tema: “Meu jovem, eu já moro aqui há cinquenta e quatro anos, vi muita coisa acontecer na cidade, muita mudança, umas benéficas e outras que não foram muito boas, um exemplo que eu te cito é o fato da barragem de bocaina, que já foi uma coisa linda de se ver, e hoje está praticamente seca, e eu sei que isso tudo é por causa que não cuidamos do que é nosso, nunca vi uma seca tão grande como essa que presenciei nos últimos anos, e nós cidadãos temos uma dose de culpa, a natureza está se voltando contra nós, outra coisa que te falo é o fato das pessoas não valorizarem a história, os monumentos que fizeram parte dessa cidade, desde a fundação até os dias de hoje, essa geração de hoje parece que não entende a importância de manter a cultura histórica.” “Uma das coisas que mais me incomodam é quando chega o período das queimadas, a temperatura já é quente como é e as pessoas ainda tocam fogo pra piorar a temperatura e isso deixa a paisagem muito feia, a gente abre a janela e a coisa que vê são cinzas e mais cinzas, isso deixa a terra feia, sem brilho.” “A cidade se desenvolveu sim, e trouxe com ela o progresso, mas a beleza de antes não é mais a de hoje, a gente vê como as coisas mudam com o passar dos anos, hoje o que é bonito pra você pode não ser pra mim , não é verdade? Eu vi o asfalto chegar e com ele veio os carros, as motos, e tudo mais, na época de carnaval aqui então nem se fala, ninguém nem dorme. Antes era tudo mais calmo, e hoje isso não acontece mais, e eu sinto falta daquele tempo.” Podemos perceber na fala de alguns moradores que a interferência do homem no meio natural pode sim afetar a população de uma determinada localidade. Diante dessas análises percebemos como o meio natural na cidade foi modificado com o passar dos anos, através de vários fatores que foram abordados pelos entrevistados, entre eles as queimadas, que danificam a paisagem e trazem danos não só para a natureza como também para a população e isso ajuda a intensificar as temperaturas pois contribuem com o aquecimento global, causando prejuízos assim nas bacias hídricas como relata um dos moradores ao falar sobre a barragem que serve de abastecimento para a cidade, onde o mesmo relata o fator da estiagem na região ao longo dos anos Entretanto presenciamos que as cidades mudam seus ambientes constantemente e que varios fatores contribuem para essas mudanças, entre elas podemos citar: população, turismo, clima dentre outros. As cidades passaram a se desenvolver com mais intensidade e acompanham a modernização da era moderna. E diante desse contexto, existem moradores que acham que houve inúmeros benefícios na cidade, como pode ser observado nos pronunciamentos na sequência: “Eu acho que tudo mudou pra melhor, antes era uma dificuldade danada, hoje tem escola pra menino, comércio pra gente comprar alguma coisa sem precisar andar uma légua de distância, tem banco pra gente tirar nosso aposento, tem emprego pra esse povo mais novo então as coisas ficou mais fácil, e foi bom eu viver pra poder ver isso de perto.” “Eu vi muita gente chegar aqui pra morar, antes era uma casa ali e outra acolá, compraram terreno e construíram, é muita construção, agora é mais gente, mais pessoas, eu mesmo achei foi bom, num sei como esse povo da cidade prefere morar naquele perigo, eu não sairia daqui pra nenhum lugar, a vida na cidade pequena é melhor do que na cidade grande.” “Olha mudou muita coisa, a igreja, a praça , as casas, as ruas, o centro da cidade, tudo foi mudado, e isso é bom porque deixa a cidade mais bonita, quem vem de fora, de outros lugares e vê tudo arrumadinho, tudo novo, é bom, e eu espero que continue assim, que tudo fique cada vez mais bonito, hoje a cidade deixou de ser velha pra ser nova, e olha que eu já moro aqui a 46 anos, a gente acompanha a modernidade sentado na calçada de casa.” “Hoje a cidade possui várias lojas, supermercados, coisa que antes não tinha, era obrigado a gente ir pra Picos pra comprar alguma coisa, e a estrada era ruim, hoje é um tapete. Claro que com esse asfalto o calor aumentou né, desde o começo dos anos dois mil muita coisa mudou, tudo se modernizou, até mesmo as casas que antes eram feitas com material mais fraco e hoje são mais resistentes, as ruas mudaram, as praças, a igreja foi reformada, ta tudo diferente, mas é um diferente bom.” Os fragmentos acima mostram a satisfação dos moradores com a modificação do cenário urbano na cidade, e que essas mudanças trouxeram progresso para a localidade. Esses fatores devem ser levados em consideração quando se trata dos aspectos que contribuem para o desenvolvimento das cidades. Contudo, vale um destaque para questão do clima como ponto negativo em dos comentários pois, como foi possível observar, se nota uma elevação na temperatura da cidade provocada pela implantação do asfalto e que, além disso, ainda pode dificultar a permeabilização do solo em períodos de chuvas, o que contribui para maiores chances de inundações. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo visou englobar a trajetória da interferência do homem no zoneamento urbano da cidade de Bocaina-PI, através da análise dos próprios moradores. Podemos perceber com a realização da pesquisa que a opinião dos moradores é dividida onde alguns concordam com o processo de urbanização trazidos pelo progresso e outros se sentem desconfortáveis pelo fato desse processo prejudicar o meio ambeinte em algum grau. Por fim, pode-se dizer que o universo a ser investigado é bastante vasto, complexo, além de trazer um esclarecimento para a comunidade sobre o assunto. Espera-se que diante da pesquisa, seja possível colaborar na divulgação da importância do tema fortalecendo assim o progresso da ciência. REFERÊNCIAS AB`SÁBER, A. N. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas, São Paulo: Ateliê Editorial, 2006 ALVES, S. B. Os impactos ambientais causados pela ocupação Irregular urbana de áreas de várzeas em Belém – PA. (Dissertação). Programa de Mestrado Profissionalizante em Tecnologia Ambiental, Centro de Ciências Exatas, Naturais e Tecnologias, Universidade de Ribeirão Preto, 2017. AMARAL, E. A. Avaliação de impactos ambientais em uma área de preservação permanente no bairro Céu Azul, Patos de Minas-MG, Minas Gerais. 2013. Disponível em <https://goo.gl/84gtca>. Acesso em agosto de 2018. BELLO, L. A. L.; HÜFFNER, J. G. P. Análise dos impactos ambientais da expansão urbana na ilha de Cotijuba, Belém-PA, Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 13, n. 44, p. 286–298, 2012. BERTÉ, R. Gestão Socioambiental no Brasil. Ed. Especial. Curitiba: Ibpex, 2009. BEZERRA, M. C.; RIBAS, O. O Desafio da Gestão Ambiental Urbana: conceitos e instrumentos. In: Anais do Seminário A Questão Ambiental Urbana: experiências e perspectivas. Brasília: NEUR/UNB, 2004. BISPO, T. C.; LEVINO, N. A. Impactos ambientais decorrentes do uso e ocupação desordenada do solo: um estudo da região da periferia de Maceió/AL. Encontro Nacional de Engenharia de Produção, v. 31, 2011. BORELLI, E. Urbanização e qualidade ambiental: o processo de produção do espaço da costa brasileira. Revista Internacional interdisciplinas Interthesis, Florianópolis, v. 4, n. 1, 2007. CAPPELLI, S. P. N. M. A: 30 anos da Política Nacional de Meio Ambiente. Homenagem à Professora Helita Barreira Custódio. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2011, p. 80. Disponível em <https://goo.gl/fjPWQ2>. Acesso em setembro de 2018. CAVALCANTE, Márcio Balbino; CAVALCANTE, Mário Balbino. Globalização e meio ambiente: dialética da relação entre sociedade moderna e natureza. Revista Saber Acadêmico. n. 7. p. 165, 2009. CHAVES, T. F. Uma análise dos principais impactos ambientais verificados no estado de Santa Catarina, Revista gestão e sustentabilidae ambiental, Florianópolis, v. 5, n. 2, p. 611-634, 2017. COELHO, M. C. N. Impactos ambientais em áreas urbanas – teorias, conceitos e métodos de pesquisa. In: GUERRA, Antônio José Teixeira; CUNHA, Sandra Baptista (orgs.). Impactos ambientais urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p.19-45, 2001. CUNHA, S. B; GUERRA, A. J. T. A questão ambiental: diferentes abordagens. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 5ª ed. 250p., 2009. DIAS, R. Gestão Ambiental: Responsabilidade ambiental e sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2007. DULLEY, R. D. Noção de natureza, ambiente e meio ambiente, recursos ambientais e recursos naturais. Revista Agricultura. São Paulo, v. 51, n. 2, p. 15-26, 2004. GEHL, J. Cidades para pessoas. São Paulo, Perspectiva, 2013. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1995. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. História Bocaina Piauí-PI. 2019. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pi/bocaina/historico>. Acesso em Janeiro de 2019. JACOB, P. Cidade e Meio Ambiente: percepções e práticas em São Paulo. 2ª edição. São Paulo: Annablume, 2006. KRUGUER, E. L. Uma abordagem sistêmica da atual crise ambiental. Desenvolvimento e Meio Ambiente. Curitiba, v. 4, p. 38, 2001. LIMA, M. S. A.; LOPES, W. G. R.; FAÇANHA, A. C. A relação entre as áreas urbanas e rural em cidades contemporâneas: estudo em Teresina, Piauí, Brasil. Revista Espacios, v. 28, n. 24, p. 32, 2017. MACHADO, M. Urbanização e sustentabilidade ambiental: questões de território. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 1, n. 3, 2011. MARAFON, G. J.; BEZZI, M. L. Manual Didático sobre a evolução do pensamento geográfico. Santa Maria. UFSM/CCNE, 2006. MARCOS, J. K.. Produção e Consumo do e no espaço: Problemática Ambiental Urbana. São Paulo, Hucittec, 2013. MARTINS, M. L. R. Moradia e Mananciais: tensão e diálogo na metrópole. São Paulo: FAUUSP/FAPESP, 2006. MEDEIROS, M. J. L, et al. Impactos Ambientais causados em decorrência do rompimento da Barragem Camará no município de Alagoa Grande, PB. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 6, n. 1, p. 20-34, 2006. MEDINA, N. M. A construção do conhecimento. Brasília: Ibama,1996. (Série Meio Ambiente em Debate). MOLFI, P. R. A urbanização e os impactos ambientais em Palmas: o caso do Jardim Aureny III. (Dissertação). Programa de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, 2009. NUNES, S. P. O desenvolvimento da agricultura brasileira e mundial e a ideia de Desenvolvimento Rural. Boletim eletrônico, DESER–Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais, n. 157, p. 1-15. 2007. OLIVA JÚNIOR, E. F. Os impactos ambientais decorrentes da ação antrópica na nascente do Rio Piauí - Riachão do Dantas-SE. Sergipe: Revista Eletrônica da Faculdade José Augusto Vieira, ano V – n. 7, 2012. OLIVEIRA, E. M. Cidadania e educação ambiental: uma proposta de educação no processo de gestão ambiental. Brasília: Edições IBAMA, 2008 OLIVEIRA, M. C. Discussões sobre o conceito de meio ambiente. Revista do Instituto Geológico, São Paulo, v. 3, n. 2, p. 53-60, 1982. PEREIRA, S. S.; CURI, R. C. Meio ambiente, impacto ambiental e desenvolvimento sustentável: conceituações teóricas sobre o despertar da consciência ambiental. Revista de Administração, Contabilidade e Sustentabilidade, v. 2, n. 4, p. 35-57, 2012. PHILIPPI JUNIOR, A.; ROMERO, M. A.; BRUNA, G. C. Coleção ambiental: Curso de gestão ambiental. Barueri, SP: manole, 2004. PORTO, M. F. de S. Saúde, ambiente e desenvolvimento: reflexões sobre a experiência da COPASAD – Conferência Pan-Americana de Saúde e Ambiente no Contexto do Desenvolvimento Sustentável. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 3, n. 2, p. 33-46, 1998. ROCHA, J. S. M. Educação Ambiental Técnica para os Ensinos Fundamental, Médio e Superior. Santa Maria: UFSM, 548p., 1999. RODRIGUES, A. M. Desenvolvimento sustentável, teorias, debates e aplicabilidades. Campinas: UNICAMP/IFCH, p. 13-48, 2002. RODRIGUES, I. et al. Diagnóstico dos Impactos ambientais advindos de atividades antrópicas na margem do Rio Sanhauá e Paraíba. Centro Científico Conhecer – Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v. 5, n. 8, 2009. SACHS, I. Rumo à ecossocioeconomia: teoria e prática do desenvolvmento. São Paulo. Cortez, 2007. SALLES, M. C. T.; GRIGIO, A. M.; SILVA, M. R. F., Expansão urbana e conflito ambiental: uma descrição da problemática do município de Mossoró, RN – Brasil. Revista Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. 25, n. 2, p. 281-290, 2013 SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. SEIFFERT, M. E. B. Gestão ambiental: instrumentos, esferas de ação e educação ambiental. São Paulo: Atlas, 2011. SILVA NETO, M. F; et al. Análise do perfil agrícola do perímetro irrigado de São Gonçalo – PB. Revista Brasileira de Tecnologia Aplicada nas Ciências Agrárias, v. 5, n. 2, p. 155-172, 2012. VESENTINI, J. William. Geografia, natureza e sociedade. São Paulo: Contexto, 2005. |