Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Relatos de Experiências
11/12/2021 (Nº 73) A CONSTRUÇÃO DE MAQUETE COMO INSTRUMENTO DE ENSINO - APRENDIZAGEM DAS PROBLEMÁTICAS AMBIENTAIS RELACIONADAS COM A TEMÁTICA "LIXÃO" EM UMA ESCOLA TÉCNICA DO ESTADO DO PARÁ
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A CONSTRUÇÃO DE MAQUETE COMO INSTRUMENTO DE ENSINO - APRENDIZAGEM DAS PROBLEMÁTICAS AMBIENTAIS RELACIONADAS COM A TEMÁTICA "LIXÃO" EM UMA ESCOLA TÉCNICA DO ESTADO DO PARÁ.

Waddle Almeida Nascimento¹, Walber Lopes de Oliveira², Wanessa Kleyciane Magalhães Alves³, Vanessa de Almeida Aguiar³, Marcelo Rocha da Silva Medeiros³, Eriane Pinto da Cunha³

¹ Mestre em Ensino de Ciências Ambientais. Professor do Curso Técnico em Meio Ambiente da EETEPA Vigia de Nazaré – PA. waddle.nascimento@gmail.com

² Engenheiro Ambiental. Professor do Curso Técnico em Meio Ambiente da EETEPA Vigia de Nazaré – PA

³ Estudante do Curso Técnico em Meio Ambiente da EETEPA Vigia de Nazaré – PA.



Resumo

Este trabalho é um relato de experiência de uma aula prática que teve como objetivo a construção de uma maquete que retrata a realidade dos lixões. A metodologia foi qualitativa. Foi possível perceber o entusiasmo dos alunos ao saberem que sairiam da rotina. Conclui-se que o ensino na prática torna a aula mais interessante e a forma de absorver os conteúdos mais efetiva.

Palavras-chave: Aula Prática; Ensino-Aprendizagem; Lixão; Maquete.

Abstract

This paper is an experience report of a practical class that aimed to build a model that depicts the reality of dumps. The methodology was qualitative. It was possible to see the students' enthusiasm when they knew they would leave the routine. It is concluded that teaching in practice makes the class more interesting and the way to absorb the contents more effective.

Keywords: Practical Class; Teaching-Learning; Dumping ground; Model.



  1. Introdução

A atividade docente é caracterizada pelo desafio constante dos profissionais da educação em estabelecer conexões com os alunos, nessa conformidade o processo de ensino-aprendizagem seja articulado e que os métodos utilizados cumpram os objetivos a que se propõem. (MAZZIONI, 2013)

Desta forma, entende-se que o docente deve buscar novas estratégias de ensino, que extrapolam o simples repassar de conhecimento, despertando uma consciência crítica no aluno. (STACCIARINI & ESPERIDIÃO, 1990).

Para esse fim, novas metodologias de ensino estão começando a ser utilizadas em maior escala, tal como a utilização de maquetes, pois oferecem a vantagem de ser uma simulação de uma forma de representação tridimensional do espaço, em grande escala cartográfica que não distorce a realidade. Além disso, propiciam uma identificação do aluno com a realidade demonstrada (DA SILVA, 2012)

O presente trabalho teve por objetivo o debate e construção supervisionada, por alunos do 4º ano do ensino médio integrado ao ensino técnico em Meio Ambiente, de uma maquete que retrata as problemáticas geradas pelos lixões.

  1. Metodologia

A pesquisa seguiu a metodologia qualitativa, pois, conforme Lüdke e André (1986, p.11), “a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural [os alunos] como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento”.

A metodologia do presente trabalho se dividiu em 5 etapas que são: Problematização, Pesquisa bibliográfica, sensibilização, construção das maquetes e entrevista com os participantes.

Na primeira etapa, intitulada Problematização, foi realizado um momento de debate com os alunos pertencentes a 4º ano do ensino médio integrado ao ensino técnico em meio ambiente da Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará de Vigia de Nazaré, gerando perguntas norteadoras, buscando assim compreender o conhecimento inicial sobre: lixão; chorume; poluição; contaminação; percolação.

Callai (2005) ressalta que ao discutir os elementos do processo de ensino e da aprendizagem faz-se necessário ao professor que não se utilize apenas de diferentes metodologias, mas que faça uma correlação com o referencial teórico e metodológico da ciência em questão.

Na segunda etapa realizou-se uma revisão bibliográfica sobre a problemática dos lixões em ambientes urbanos, mais especificamente, nos impactos gerados em reservatórios de água subterrânea.

Após a segunda etapa, avançou-se para o momento de sensibilização que consistiu em um momento de reflexão onde o facilitador buscou instigar o pensamento crítico dos alunos acerca da problemática estudada, principalmente sobre o impacto gerado pela percolação do chorume nos horizontes do solo. Tendo como objetivo principal a aplicação dos conceitos adquiridos na primeira e segunda etapa, fazendo com este conhecimento seja empregado na representação dos problemas vivenciados no lixão municipal de Vigia de Nazaré.

Progrediu-se para a quarta etapa referente a construção da maquete do lixão municipal de Vigia de Nazaré. Segundo Urbanck (2015, p. 5)

A maquete enquanto metodologia de ensino, forma, uma interação dos alunos com a espacialidade (simulada), mas, isso permite fazer análises que antes eram abstratas, e que na maquete se tornam visíveis, e aproximam os saberes dos alunos com os conteúdos geográficos. E, o aluno no papel de construtor da maquete, se vê como o real agente manipulador do espaço que está estudando”

O modelo da maquete construída foi elaborado com base na literatura estudada, na inserção dos alunos na problemática por meio da sensibilização e em outros modelos sugeridos pelos estudantes no decorrer da pesquisa. É importante ressaltar que durante este processo, os discentes foram auxiliados por um professor com relativa experiência na área de pesquisa.

Na confecção das maquetes, utilizou-se os seguintes materiais: isopor, cola de isopor, tubos e conexões de PVC, pincel, tinta de tecido, estilete, palitos de madeira, tubo de caminhada de água transparente, tinta corante de roupa, papel A4, dentre outros.

Logo após a elaboração das maquetes, entrevistou-se os alunos participantes da construção sobre os conhecimentos e experiência adquiridos sobre o tema estudado. A entrevista se deu por meio do relato pessoal das experiências vivenciadas durante a confecção das maquetes através de um roteiro de entrevistas semiestruturado.

  1. Resultados e Discussão

Participaram da construção da maquete cinco (5) estudantes pertencentes a turma do 4º ano do ensino médio integrado ao ensino técnico em meio ambiente da Escola de Ensino Técnico do Estado do Pará localizada em Vigia de Nazaré - PA.

Foi possível perceber que os alunos ficaram entusiasmados ao saberem que sairiam da rotina do uso do livro didático para uma pesquisa e construção da maquete. Os estudantes realizaram uma pesquisa sobre a temática escolhida e em um segundo encontro explanaram seus questionamentos e observações ao professor. Com isso, notou-se o engajamento de todos os alunos em desenvolver as atividades propostas.

Observou-se que durante a confecção da maquete (Figuras 1 e 2) os alunos debateram entre si os apontamentos feitos em sala de aula e iam dividindo suas falas. Para Castrogiovanni, Callai e Kaercher (2017, p. 7), “é fundamental proporcionar situações de aprendizagem que valorizem as referências dos alunos quanto ao espaço vivido”.

Também foi constatado que nesse momento de construção os estudantes foram ganhando autonomia e cada vez menos pedindo ajuda do professor.



Figura 1 Construção da maquete.



Figura 2 Confecção da Maquete pelos estudantes

Comparando o momento inicial com as respostas obtidas nas entrevistas realizadas pode-se verificar que o recursos didático contribuiu totalmente na aprendizagem dos educandos, visto que, quando questionados sobre “qual a importância da construção da maquete para estudar sobre o tema lixão?”, todos responderam que é de total importância, visto que “somos nós quem pensamentos, refletimos e passamos a entender a relação do lixo, a decomposição e todo o problema que ele gera quando descartado de maneira irregular” (Estudante 03). Segundo Almeida (2016, p. 77), utilização de maquetes no ambiente escolar possibilita o “domínio visual do espaço, a partir de um modelo reduzido”.

Quando questionados sobre “quais os termos e conceitos aprendidos?” o aluno 05 relatou que “antes eu só sabia que chorume era um liquido preto que saia do lixo, agora eu consigo entender que ele é um produto da decomposição, que entra na terra e pode contaminar o solo e os lençóis freáticos”.

3.1 Discussão sobre o Processo de Ensino – Aprendizagem Utilizando a Maquete como instrumento didático

Entende-se que os recursos didáticos são os maiores aliados dos professores, estes conseguem levar a superação das aulas. Ressalta-se que atividades como essas contribuem para reacender o interesse dos alunos para as disciplinas e romper as barreiras da escola. Segundo Oliveira (2006), é no processo de aprendizagem do pensar sobre a realidade cotidiana que se rompe com as enlaças da escola tradicional, da extensa e exaustiva descrição e memorização de conceitos sem contexto.

Para Pontuschka, Paganelli e Cacete (2009, p. 330), “a construção da maquete na sala de aula merece alguns cuidados por parte do professor, no sentido de enfatizar e incentivar a criatividade na busca de material, no exercício do trabalho coletivo e nas representações dos objetos”. Para Castrogiovanni, Callai, Kaercher (2017) o professor deve agir como agente “desequilibrador”. Os alunos (sujeito) passam a viver a construção da maquete e contextualizar os referenciais teóricos. Ainda para os autores, a problema-tização/contextualização é um momento em que o estudante relaciona o cotidiano (prático) e o teórico (acadêmico), onde elas são formadas por meio de questionamentos que levam os alunos a refletirem sobre análise espacial e a representação do espaço que foi construído por ele.

Ao visualizar a maquete o aluno tem despertada a curiosidade de manuseá-la, ampliando assim as possibilidades de aprendizagem. Ao utilizar esse procedimento metodológico, o docente contribui para a percepção do educando em detrimento às relações do homem e espaço e a compreensão da dinâmica do processo de transformação da realidade em que ele se encontra inserido (GALLO; CASARIN; COMPIANI, 2002).

Segundo Oliveira (2006), é no processo de aprendizagem do pensar sobre a realidade cotidiana que se rompe com as enlaças da escola tradicional, da extensa e exaustiva descrição e memorização de conceitos sem contexto.

Pimenta (2002) enfatiza que a prática do professor é essencial para promover o ensino-aprendizagem junto ao aluno, ou seja, através do ensino, há a garantia da aprendizagem como consequência a ação de ensinar.

Por esta ação complementar que o processo de ensino aprendizagem promove maior oportunidade de se conhecer novas realidades, em vista do desenvolvimento da concepção cientifica, condicionando em uma mudança de realidade e intervenção sobre este ponto, no campo do conhecimento (MELLO, 2012).

  1. Conclusão

Pode-se verificar que a realização de uma aula com recursos didáticos diferentes dos tradicionais proporciona aos alunos um maior interesse no conteúdo, além de despertar a curiosidade e melhor apreensão dos conteúdos.

Percebeu-se que a maquete quando feita com o cuidado de representar o real, possibilita aos estudantes relacionarem o conteúdo visto em sala de aula, sob uma lógica visual e palpável, possibilitando assim que os alunos relacionem os conceitos já estudados. Pode-se concluir também que a quantidade de conteúdos relacionados ao tema é absorvida pelos alunos de forma mais concreta e clara.

  1. Referências

ALMEIDA, R. D. Do desenho ao mapa: iniciação cartográfica na escola. São Paulo: Contexto, 2016.

CALLAI, H. C. Escola, cotidiano e lugar. In: BUITONI, M. M. S. Geografia: Ensino Fundamental. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2005.

CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.; KAERCHER, N. A. Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2017.

DA SILVA, Vládia, Vieira Muniz, Alexsandra Maria A GEOGRAFIA ESCOLAR E OS RECURSOS DIDÁTICOS: O USO DAS MAQUETES NO ENSINO-APRENDIZAGEM DA GEOGRAFIA. GEOSABERES: Revista de Estudos Geoeducacionais. 2012, 3(5), 62-68. Disponível: <https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=552856435008> Acesso em: 28 de outubro de 2020.

GALLO, F.; CASARIN, R. A.; COMPIANI, M. A geografia em sala de aula evidenciada por projeto de formação continuada. XIII Encontro Nacional de Geógrafos, João Pessoa – Paraíba, 2002.

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. André. Pesquisa e educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU,1986. 99p.

MAZZIONI, Sady. As estratégias utilizadas no processo de ensino-aprendizagem: concepções de alunos e professores de ciências contábeis. Revista Eletrônica de Administração e Turismo – ReAT | vol. 2 – n. 1 – JAN./JUN. Pelotas, 2013.

MELLO, Márcia Cristina de Oliveira. Da teoria à prática do ensino da Geografia. Conteúdos e didáticas de geografia. UNESP, 2012.

OLIVEIRA, B. R.; MALANSKI, L. M. O uso da maquete no ensino de geografia. Extensão em Foco, Curitiba, n. 2, p. 181-189, 2008.

PIMENTA, Selma Garrido. O estágio na formação de professores: unidade teoria e prática? 5. ed. São Paulo: Cortez, 2002.

PONTUSCHKA, N. N; PAGANELLI, T. I.; CACETE, N. H. Para ensinar e aprender Geografia. São Paulo: Cortez, 2009.

STACCIARINI, Jeanne Marie R.; ESPERIDIAO, Elizabeth. Repensando estratégias de ensino no processo de aprendizagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto , v. 7, n. 5, p. 59-66, Dec. 1999. Disponível em <https://url.gratis/dDo2l>. Acesso em 28 de outubro 2020.

URBANCK, L. F. Maquetes como recurso didático no ensino de geografia: Relato de experiência no Colégio Estadual Teotônio Vilela em Campina do Simão-PR. In: VII ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE GEOGRAFIA, Catalão (GO), 2015.



Ilustrações: Silvana Santos