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ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 87 · Junho-Agosto/2024
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Educação e temas emergentes
15/12/2023 (Nº 85) UM FUTURO FEMININO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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UM FUTURO FEMININO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Trazer o contingente de mulheres, que já predomina no setor da educação, para a educação ambiental e a sustentabilidade pode ser um caminho para transformações socioambientais

Suzana Padua

07 DE DEZEMBRO DE 2023

Equipe do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas em atividade de educação ambiental - Foto: Claudio Rossi/IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas

Gênero (nesse artigo refiro-me apenas a homens e mulheres) passou a ser tema em quase todas as áreas de atuação. Já que número de mulheres e de homens no mundo é quase o mesmo, não parece nada inteligente ignorar o potencial feminino que poderia contribuir fortemente em todas as áreas, principalmente na produção de mudanças que contribuam para a qualidade de vida planetária. Ainda mais pelo fato de que hoje há mais mulheres do que homens cursando universidades e aptas ao mercado de trabalho. E isso é verdade em todos os campos, não só em pedagogia ou “prendas domésticas”, como na época de nossas avós ou bisavós.

Por muitos séculos foram negadas às mulheres oportunidades de empoderamento que as ajudassem a descobrir suas potencialidades. No entanto, o senso de coletividade, família e comunidade cultivado por elas sempre esteve presente e fez diferença no decorrer da história. Mas, em muitos cenários, as mulheres foram “abstratas”, “invisíveis”, por séculos a fio. Raras foram as que despontaram em ciência, política ou negócios. Estavam presentes nos lares, com as escolhas e preparo de alimentos, vestimentas e tudo o que ajudasse a tornar as famílias mais protegidas e os ambientes aconchegantes.

Dimensão da participação feminina

Mesmo com as mudanças que vêm ocorrendo e que propiciam maior participação feminina em diversos ramos, ainda se vê discrepâncias acirradas.  Por exemplo, na política as diferenças são gritantes. O Brasil apresenta um dos piores rankings do mundo. Dentre 192 países, o Brasil aparece em 142º em participação feminina.

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SAIBA COMO

No mundo dos negócios a realidade não é melhor. Muitas entram no mercado com perspectivas promissoras, mas ganham menos que os homens e poucas atingem posições de mando – apenas 8% chegam a CEOs. Isso inclui conselhos de empresas, que ainda contam com percentual baixo de presença feminina, chegando a um pouco mais de 15% do total.

O mesmo ocorre em outros campos das atividades humanas. A participação feminina vem aumentando, mas ainda é pífia. A exceção é na educação, onde a presença e a atuação das mulheres sempre preponderou. As mulheres são grande maioria na docência e na gestão da educação básica, com aproximadamente 80% de profissionais femininas.

Mulheres na educação ambiental

Foi com base nesses dados que me ocorreu tirar proveito e investir no potencial feminino. Por que não aproveitar essa margem de “lucro” para fortalecer o campo da educação, que tanto necessita de incrementos de qualidade? E dentre os campos educacionais está a educação ambiental, que pode se enriquecer com estratégias direcionadas a esse segmento.

Existem estudos que mostram como as mulheres promovem a proteção das famílias e do que é coletivo. Por que não aumentar o alcance e as incentivar a se envolverem com os cuidados necessários de nosso grande lar, Gaia, que na mitologia grega é a Mãe-Terra, elemento primordial e latente da potencialidade geradora do planeta?

Recentemente, Marina Silva definiu o papel feminino na conservação da natureza e na vida como um todo, em entrevista à Paulina Chamorro. Usou uma expressão que define a mulher como tendo papel visceral na proteção da vida. Segundo Marina, a conservação da natureza, das pessoas e das culturas pode acabar dependendo de as mulheres assumirem protagonismos que influenciem mudanças estruturais com cuidados bem mais profundos dos que os que vêm sendo empregados nos dias de hoje, e que se mostram insuficientes para mitigar e regenerar o que foi destruído. Marina pode não ter expressado essa ideia com tanta ênfase, até para não suscitar polêmicas, mas certamente lançou essa premissa.

Este artigo não tem por objetivo desclassificar ou menosprezar a participação masculina. Negar seu valor seria manter a mesma postura adotada em relação ao que hoje ocorre com as mulheres, o que novamente significaria perdas inestimáveis. Ademais, inúmeros homens são exemplos e inspiram comportamentos éticos e de cuidados com gente e natureza. Esses sempre serão aplaudidos e ficarão para a história como benfeitores da vida. São incontáveis e em diversos campos aqueles que se destacaram e inspiraram novos caminhos. E na conservação da natureza não é diferente. Mas as chances que os homens sempre tiveram precisam chegar às mulheres também.

Os dados mostram que essa oportunidade existe na educação. Já que no campo educacional as mulheres são as mais numerosas, quem sabe tiramos proveito desse contingente feminino e aproveitamos o senso de cuidado inerente à sua essência. É nesse sentido que me ocorre haver um imenso e inestimável potencial que precisa ser aproveitado na educação ambiental. Pensar em meios de sensibilizar as mulheres para cuidar do meio ambiente como seu lar estendido pode trazer benefícios e contribuições em questões socioambientais que hoje se mostram tão necessitadas.

Já que a mulher é sensível às questões que afetam a coletividade com os cuidados de quem se importa, me parece fazer sentido desenvolver meios que a leve ao que é essencial na educação ambiental: sensibilizar para despertar o interesse na busca de conhecimentos inerentes às questões que favoreçam a vida e levem os aprendizes a se tornarem cidadãos conscientes e atuantes em sua proteção. O professor, no caso, a professora, tem esse potencial – abrir fronteiras para seus alunos e os apresentar oportunidades de perceberem seus potenciais de transformação. A partir de pequenas ações que exercitem o se importar e valorizar a vida, as mudanças podem chegar a ser grandes se o objetivo for o bem coletivo.

Mudar realidades e hábitos é sempre desafiante, principalmente quando isso significa renunciar a confortos que muitas vezes trazem prejuízos ao meio ambiente ou mesmo às pessoas envolvidas nos processos produtivos. Esses são aspectos comuns na atualidade que merecem ser questionados para que haja chances de reversão e construção de cenários inclusivos e éticos.

Portanto, trazer o contingente feminino que predomina no setor da educação para a educação ambiental e a sustentabilidade com estratégias bem formuladas pode ser um caminho para a ativação de transformações socioambientais. Esse artigo tem por objetivo apenas levantar esse potencial que pode ser explorado futuramente com passos desenhados e colocados à prova.

Propor estratégias com o uso de todos os sentidos, envolvimento e resolução de problemas reais, desenvolvimento de atividades com arte, esporte e visitas de campo são algumas das ideias com potencial de trazerem maior empatia a quem precisa, o que inclui a natureza. Essa é uma reflexão que requer aprofundamento, principalmente agora, com tantas evidências de crises e riscos à nossa própria sobrevivência. A força feminina na educação ambiental merece ser considerada na formulação de mudanças que nos

Sobre o autor / Suzana Padua

Doutora em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília e mestra em educação ambiental pela Universidade da Flórida (EUA). Atua em educação ambiental desde 1988, quando criou um programa no Pontal do Paranapanema (SP) ligado a áreas naturais, espécies ameaçadas e envolvimento das comunidades locais. Realiza pesquisas em educação ambiental e publicou inúmeros trabalhos no Brasil […]

Fonte: Um futuro feminino na educação ambiental (faunanews.com.br)

Ilustrações: Silvana Santos