Pós-graduado em meio ambiente, jornalista, redator e apresentador do Jornal das 10, da Globonews, desde 1996.
Creio
que um dos primeiros presentes que recebi de meus sogros em Viena foram 2
bolsas de algodão para ir ao Supermercado. Depois compreendi". No Brasil
os supermercados, farmácias e boa parte do comércio varejista embalam em
saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. Não importa o tamanho do
produto que se tenha à mão, aguarde a sua vez porque ele será embalado num
saquinho plástico. O pior é que isso já foi incorporado na nossa rotina
como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo um
saco plástico. Nossa dependência é tamanha que quando ele não está disponível
costumamos reagir com reclamações indignadas.
Quem recusa a embalagem de plástico é considerado, no mínimo, exótico.Outro
dia fui comprar lâminas de barbear numa farmácia e me deparei com uma situação
curiosa: a caixinha com as lâminas cabia perfeitamente na minha pochete. Meu
plano era levar para casa assim mesmo. Mas num gesto automático,a funcionária
registrou a compra e enfiou rapidamente a mísera caixinha num saco onde
caberiam seguramente outras dez.
Pelas razões que explicarei abaixo, recusei gentilmente a embalagem.A
plasticomania vem tomando conta do planeta desde que o inglês Alexander
Parkes inventou o primeiro plástico, em 1862. O novo material sintético
reduziu os custos dos comerciantes e incrementou a sanha consumista da
civilização moderna. Mas os estragos causados pelo derrame indiscriminado de
plásticos na natureza tornou o consumidor um colaborador passivo de um
desastre ambiental de grandes proporções. Feitos de resinas sintéticas
originadas do petróleo, esses sacos não são biodegradáveis e levam séculos
para se decompor na natureza.
Usando a linguagem dos cientistas, esses saquinhos são feitos de cadeias
moleculares inquebráveis, e é impossível definir com precisão quanto tempo
levam para desaparecer no meio natural. No caso específico das sacolas de
supermercado, por exemplo, a matéria-prima é o plástico filme, produzido a
partir de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD). No Brasil
são produzidas 210 mil toneladas anuais de plástico filme, que já
representa 9,7% de todo o lixo do país. Abandonados em vazadouros, esses
sacos plásticos impedem a passagem da água, retardando a decomposição dos
materiais biodegradáveis, e dificultam a compactação dos detritos.
Essa realidade que tanto preocupa os ambientalistas no Brasil, já justificou
mudanças importantes na legislação - e na cultura - de vários países
europeus.
Na Alemanha, por exemplo, a plasticomania deu lugar à sacolamania (cada um
levando sua própria sacola). Quem não anda com sua própria sacola a
tiracolo para levar as compras é obrigado a pagar uma taxa extra pelo uso de
sacos plásticos. O preço é salgado: o equivalente a sessenta centavos a
unidade. A guerra contra os sacos plásticos ganhou força em 1991, quando foi
aprovada uma lei que obriga os produtores e distribuidores de embalagens a
aceitar de volta e a reciclar seus produtos após o uso. E o que fizeram os
empresários? Repassaram imediatamente os custos para o consumidor. Além de
antiecológico, ficou bem mais caro usar sacos plásticos na Alemanha.
Na Irlanda, desde 1997 paga-se um imposto de nove centavos de libra irlandesa
por cada saco plástico. A criação da taxa fez multiplicar o número de
irlandeses indo às compras com suas próprias sacolas de pano, de palha e
mochilas.
Em toda a Grã-Bretanha, a rede de supermercados CO-OP mobilizou a atenção
dos consumidores com uma campanha original e ecológica: todas as lojas da
rede terão seus produtos embalados em sacos plásticos 100% biodegradáveis.
Até dezembro deste ano, pelo menos 2/3 de todos os saquinhos usados na rede
serão feitos de um material que, segundo testes em laboratório, se decompõe
dezoito meses depois de descartado. Com um detalhe interessante: se por acaso
não houver contato com a água, o plástico se dissolve assim mesmo, porque
serve de alimento para microorganismos encontrados na natureza.
Não há desculpas para nós brasileiros não estarmos igualmente preocupados
com a multiplicação indiscriminada de sacos plásticos na natureza. O país
que sediou a Rio-92 (Conferência Mundial da ONU sobre Desenvolvimento e Meio
Ambiente) e que tem uma das legislações ambientais mais avançadas do
planeta, ainda não acordou para o problema do descarte de embalagens em
geral, e dos sacos plásticos em particular.
A única iniciativa de regulamentar o que hoje acontece de forma aleatória e
caótica foi rechaçada pelo Congresso na legislatura passada. O então
deputado Emerson Kapaz foi o relator da comissão criada para elaborar a
"Política Nacional de Resíduos Sólidos". Entre outros objetivos,
o projeto apresentava propostas para a destinação inteligente dos resíduos,
a redução do volume de lixo no Brasil, e definia regras claras para que
produtores e comerciantes assumissem novas responsabilidades em relação aos
resíduos que descartam na natureza, assumindo o ônus pela coleta e
processamento de materiais que degradam o meio ambiente e a qualidade de vida.
O projeto elaborado pela comissão não chegou a ser votado. Não se sabe
quando será.
Sabe-se apenas que não está na pauta do Congresso.
Omissão grave dos nossos parlamentares que não pode ser atribuída ao mero
esquecimento. Há um lobby poderoso no Congresso trabalhando no sentido de
esvaziar esse conjunto de propostas que atinge determinados setores da indústria
e do comércio.
É preciso declarar guerra contra a plasticomania e se rebelar contra a ausência
de uma legislação específica para a gestão dos resíduos sólidos.
Há muitos interesses em jogo. Qual é o seu?
Vamos fazer a nossa parte, vamos repassar a mensagem.