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A Prática da Educação Ambiental em Sala para Explicar a Abundância e Escassez de Recursos.
Autor: Ronaldo Gomes Alvim despreze Doutor em Biologia Social pela Universidad de Salamanca, Bolsista de Desenvolvimento Cientifico Regional do CNPq/ FAPITEC-SE; Professor Visitante do Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA – da Universidade Federal de Sergipe; Currículo Lattes: lattes.cnpq.br/3857891508359148.E-mail: alvimrg@yahoo.com.br; Tel: (079) 9173-7002/ (79) 2105-6783
Resumo O presente trabalho é parte de uma atividade interdisciplinar desenvolvida em sala de aula para poder trabalhar junto ao aluno as diversas circunstâncias que envolvem o crescimento, seja ele populacional ou de produção e consumo dos recursos. O estudo destas relações pode ser utilizado em forma de projeto que envolva professores de diversas disciplinas como a matemática, ciências/biologia, ecologia, letras, história, filosofia, dentre outras, unidas ou não pelo mesmo propósito, permitindo aos professores explorar a temática sobre a visão do desenvolvimento sustentável e do aluno uma ação coletiva de reflexão sobre suas ações e dos valores sociais contemporâneos. O ponto culminante desta prática será o de entender sua dimensão e responsabilidade com o entorno. Palavras chave: Prática Docente; Crescimento Populacional; Jogo Interativo; Educação Ambiental; Recursos Naturais.
summary Keywords: Teaching Practice; Population Growth, Interactive Games, Environmental Education, Natural Resources
Introdução O uso de jogos interativos em sala de aula seja desde o ensino fundamental ao ensino superior, é sem dúvida uma das formas mais eficazes e dinâmicas de se criar no aluno a construção de bases conceituais que ultrapassam a fronteira de sua realidade capaz de contribuir com a dimensão de um conhecimento inter e multidisciplinar( MELO, 2002). Estas ações práticas e reflexivas dos experimentos em sala de aula dão margem à discussão, redimensionam a realidade do discente e propicia o prazer pela aquisição do conceito científico a partir do prazer gerado, cria prazer a partir da descoberta de conquistar o conhecimento e, por sua vez, contribui para construção do senso crítico das ações individuais e coletivas apoiadas por experiências de socialização (CANIANTO, 1992; DELIZOICOY et ANGOTTI). Partindo desta premissa, não há como negar que o ensino das ciências em sala de aula, sobre esta perspectiva, dá um novo valor ao conceito pré-elaborado ao aluno e, ao mesmo tempo, instaura nele, regras como sintonia social onde a aprendizagem tende, sobretudo, despertar o valor do entorno em um momento em que a discussão de uma temática ecológica torna-se cada vez mais necessária a partir de uma perspectiva socioecológica e ampliada ao saber interdisciplinar (VILLAR, 1997; ALVIM, 2008). Embora muitos ainda tendam em considerar a ecologia como um padrão biológico verde preservacionista/conservacionista, hoje já se tenta vislumbrar uma nova dimensão a esta ciência permeada de valores sociais, educacionais, políticos, econômicos, culturais, filosóficos, históricos, geográficos, padrões construídos que podem levar o aluno a levantar questionamentos como consumo, qualidade de vida, saúde, lazer e criar novos paradigmas de visão de mundo. Partindo deste conceito, não há como negar que o ensino de ciências, sobretudo de padrões ecológicos tornam fundamentais a uma nova postura ligada ao desenvolvimento sustentável que partem de sua perspectiva de complexidade e interdisciplinaridade e que trabalhada, unindo a teoria à prática a partir da necessidade de um posicionamento ante um problema que se tenha como relevância para o estudo, cria possibilidades para o aluno desenvolver o conhecimento científico de forma mais prazerosa através de métodos e técnicas que tenderão a se aplicar à sua formação cidadã. (KOFF, 1995) As condições anteriores expostas nos fazem levar a considerar que as tendências contemporâneas do ensino, sobretudo a ecologia, ultrapassa o padrão de conhecimento disponível livro didático e muitas vezes de forma equivocada ou fora do padrão de vida do aluno que para ser bem compreendida e assimilada, deve ser transmitida a través de atividades práticas, transmitindo os conhecimentos teóricos a partir de bases consistentes, pois “a excelência da argumentação, a explicitação e a clareza da formulação das questões e das perguntas determinarão o grau de cientificidade ao projeto” (FAZENDA, 1995:69) bem como a sua aplicabilidade no cotidiano do aluno. Expor o conhecimento e aplicar a uma proposta educativa lúdica, ainda que haja uma boa teoria, compreendê-la nem sempre é factível o que requer outras formas de atividades que façam como a aplicação de um jogo dentro de uma temática de aprendizado específico, por exemplo, cria uma forma prazerosa de aprendizagem que tende a facilitar o crescimento intelectual do sujeito, rompendo a rigidez do ensino tradicional e desperta no aluno, o senso pela descoberta. No caso da ecologia, traz temas socioambientais para sala de aula, expondo seus resultados e impressões socializando, democratizando e valorizando conhecimentos principalmente quando partem da realidade e, consequentemente do interesse e curiosidade do aprendiz, capaz de interferir positivamente nos indivíduos, provocando uma transformação em seu modo de pensar e agir ao canalizar sentimentos e emoções que resgatam o que lhes era indiferente, reconhecendo e reconstruindo novas realidades (MOREIRA; SCHWARTZ, 2009:211) que necessita não apenas de uma boa base, mas, também, fazer parte do cotidiano do aluno.
O crescimento populacional Há de se considerar que qualquer prática científica como diz BAUMGARTEN (2009:19) tende a produzir conhecimentos sobre natureza e sociedade - avanços, problemas, métodos e técnicas - e a discussão sobre a perspectiva da complexidade, com seus diálogos e práticas inter e transdisciplinares podem (…) lidar com as incertezas do mundo contemporâneo e possibilitar a necessária reflexividade na construção de conhecimentos sobre um mundo cada vez mais complexo. Partindo do exposto, quando se aplica qualquer conceito em sala de aula a partir de dinâmicas envolvendo temas ambientais, não há como negar que suas bases conceituais transcenderão as perspectivas biológicas para abrir espaço a métodos e práticas sociais, econômicas e culturais. O ensino da ecologia não foge à regra, embora muitos docentes tem certa dificuldade de trabalhar a temática com os alunos por entender que alguma atividade sobre esta ótica, deva ser realizada fora do espaço escolar o que nem sempre é verdade, e muitas podem acontecer na própria sala de aula. Dentre os diversos temas que trata a ecologia, um se destaca já que se aplica diretamente à condição do padrão de vida humana e tem se tornado tema de grandes discussões é o crescimento populacional. Seu estudo parte da compreensão das condicionantes que levam o sucesso e fracasso do aumento populacional influenciado por diversos fatores como: as condições favoráveis à reprodução, abundância de recursos, competição, disponibilidade de alimentos, presença de predadores, espaço geográfico, clima favorável, índices e natalidade e mortalidade, etc. (NEBEL & WRIGHT, 1999; TOWNSEND, BEGON & HARPER, 2006). Quando as condições são favoráveis, as populações tendem a crescer de forma geométrica, mas isto é impossível ocorrer já que em algum momento, os recursos disponíveis tendem a diminuir a ponto de impedir que o crescimento seja contínuo e eterno (Kormondy, 2002). Ainda que pareça ser uma temática restrita aos outros seres, vivos, a exploração deste tópico a partir da condição humana, poderá abrir várias reflexões/discussões que o envolvem a sobrevivência da nossa espécie. Embora a maioria dos fatores citados, até o instante, tem sido pouco relevante em criar algum impacto na nossa condição de vida, a prática deste jogo poderá atentar os alunos sobre questões como o sobreconsumo de alimentos agropecuários, a sobre pesca que ultrapassam os padrões vitais para a sobrevivência de qualquer espécie e, consequentemente, acentua a degradação dos ecossistemas com a produção de rejeitos contaminação aquática, terrestre e edáficos que tendem a afetar toda a biodiversidade do planeta “em um grau de complexidade cada vez maior, o que nos obriga a analisar a questão a partir de novas ou várias perspectivas integradas (…)” (SCHUSCHNY, 2010:2)
Experiência didática: Na contemporaneidade, tem-se discutido muito a questão da produção econômica neoclássica dos preços dos alimentos, a inflação, a depleção dos recursos naturais renováveis e não renováveis gerados pela ordem do crescimento populacional. Por outro lado, as condições descritas são um fator desencadeador à falta de distribuição de tais recursos, acabam por desencadear a fome em todos os continentes, comprometendo os recursos públicos para obras essenciais como educação, saneamento, melhoramento viário e arborização para ações como violência social, miséria, caos nos serviços de saúde, e o desperdício de todos estes fatores. Não há como negar que as explicações supracitadas apresentam uma dimensão que provavelmente ultrapassa a visão do professor de ciências/biologia que pode aproveitar o jogo como uma atividade da sua área em específico, mas a dinâmica de tal estudo visto de forma interdisciplinar, poderá se transformar em um projeto rico em informações interdisciplinar que envolva todas as áreas a partir de um projeto que envolva todos os docentes. Espera-se que com esta atividade, se bem trabalhada e com apoio dos demais professores, gere no aluno capacidade de reflexão/discussão e mudanças de paradigmas pautados em valores éticos, políticos, responsabilidade social e ambiental quanto ao armazenamento, consumo e rejeito dos produtos de forma adequada.
Objetivo: Promover reflexão-ação sobre o crescimento populacional, produção, consumo, desperdício de alimentos a degradação socioambiental a partir do cotidiano cidadão como alternativa fundamental para alcançar o desenvolvimento sustentável.
Público alvo: Estudantes em idades a partir dos 15 anos e em todos os níveis de ensino.
Materiais e métodos: Embora para a realização da experiência possa ser utilizado qualquer objeto como marcador, sugere-se o uso de sementes grandes para facilitar o manuseio (ex. milho, feijão, girassol, soja etc.) bem como para poder explicar a relação entre tamanho populacional e alimentos por entender que esta temática poderá ser explorada em diversas disciplinas. Além disso, papel caneta e cronômetro. Para a realização da atividade, deverá haver uma divisão de grupos de alunos nunca inferior a 5 pessoas uma vez que cabe a cada grupo haverá dois responsáveis por cronometrar, outro responsável pela retirada e outro para a colocação de grãos na unidade de semente e um fiscal. Para cada equipe, deve-se dar um montante de sementes suficiente. Etapa 1: Cada grupo deverá desenhar no caderno um quadrante com 7 colunas e 5 linhas com espaço suficiente para o manuseio das sementes.
Definido o quadrante,
coloque 20 sementes sendo uma em cada unidade
X= um objeto marcador (ex: semente) Etapa 2: Sugere-se que para a realização efetiva de cada parte do experimento, o professor deixe a atividade acontecer por pelo menos 6 minutos. Uma vez passado as regras para os alunos e distribuído os grãos, cada grupo tem liberdade para começar a atividade. De acordo com o estudo, utiliza-se o cronômetro para definir a colocação ou retirada de grão, considerando que a primeira se trata do nascimento de um indivíduo da espécie e a retirada, a morte de membro que deixa de utilizar os recursos naturais. Sugere-se cada grupo repita cada fase ao menos duas vezes e faça os três estudos sucessivamente. O professor não deve dizer os resultados esperados e sim esperar que o resultado seja mostrado. Para as três fases, deve-se utilizar o seguinte critério onde o professor vai apenas dirigir o tempo de retirada e colocação de grãos. - Para Crescimento populacional: Utiliza-se um cronometrista que a cada 5 segundos indica a um aluno a necessidade de se colocar de um grão e um outro com a mesma função que informa o momento da retirada a cada 3 segundos. - Para Estabilidade: A mesma estratégia utilizada para cada 5 segundos, coloca-se e retira-se um grão, obedecendo ao mesmo padrão de registro. - Para Decréscimo: faz-se a retirada a cada 5 segundos de um grão e a cada 3 coloca-se outro. Obedecendo ao mesmo padrão de registro. No final do tempo dado, conta-se o número de grãos totais
Etapa 3 Esgotado o tempo, solicite aos grupos que registrem os resultados no papel e se o trabalho for realizado em etapas, que se tente montar o experimento em uma planilha de Excel® caso o aluno tenha conhecimento e computador à disposição. Com os resultados levantados, pode-se dar ao aluno oportunidade de pesquisar sobre a produção alimentar no mundo, relacionar com o crescimento populacional do Brasil de acordo com as últimas décadas e a produção de alimentos, identificar as condições que envolvem a produção e impacto sobre os ecossistemas. Poderá haver por parte dos professores argumentos a serem para cada uma das circunstâncias descritas tais como: - O que houve com o número de grãos? Explique sobre a visão do crescimento populacional e disponibilidade de alimentos. - Com o maior/estável/menor processo de produção (ou crescimento populacional), quais as situações que podem aparecer? - em que circunstâncias há riscos de aumento dos preços? E por quê? - em que condições há maior tendência de pessoas famintas? - qual o reflexo do crescimento e da violência urbana? - O que envolve a produção do alimento até chegar à sua mesa? (transporte, energia, armazenamento, distribuição, venda) - Como fica a pressão sobre o ambiente em cada uma das circunstâncias? - Onde participo positiva ou negativamente desta relação? Além das indagações aqui citadas, poder-se-á trabalhar com os alunos, dependendo do nível de ensino em que estejam frequentando, questões como inflação, lei malthusiana, condicionantes que limitam o crescimento de uma espécie (ecologia), relação entre abundância de recursos como responsáveis pela diminuição/extinção da biodiversidade, preço dos produtos, o grau de consumo, obesidade, fome, violência social, guerra por recursos, biotecnologia, transgenia, etc.
Resultado esperado:
Havendo a participação de outros professores, poderá ser feito na escola/faculdade, um grande evento que trate o tema.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALVIM, R. G. Ecologia multidisciplinar - visão ética e social da problemática
ambiental. 2008 Acessado em 20/mai/2011. ANDRADE, L.; SOARES G.; PINTO, V. Oficinas Ecológicas: uma proposta de mudanças. Vozes, 1995. Petrópolis.
BAUMGARTEN, Maíra. A prática científica na "era do conhecimento": metodologia e
transdisciplinaridade. Sociologias, Porto Alegre, n. 22, dez. 2009 .
Disponível em CANIATO, R. Com ciência na educação: ideário e prática de uma alternativa brasileira para o ensino de ciências. Papiros, São Paulo. 1992. DELIZOICOY, D.; ANGOTTI, J. A. Metodologia do ensino de ciências. Cortez. São Paulo. 1995. FAZENDA. I. C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Papirus. 2ª ed. São Paulo. 1995. KOFF, Elionora Delwing. A questão ambiental e o estudo de ciências. Algumas atividades. UFG, 1995. KORMONDY, Eduard J. Brown Daniel E. Ecologia Humana. Atheneu Editora. São Paulo. 2002. MELO, C. M. R. . As atividades lúdicas são fundamentais para subsidiar o processo de construção do conhecimento. Información Filosófica. Volume II. Número 1, 2002. Pág. 128-137.
MOREIRA, Jaqueline C. Castilho; SCHWARTZ, Gisele Maria. Conteúdos lúdicos,
expressivos e artísticos na educação formal. Educ. rev., Curitiba, n.
33, 2009. Disponível em NEBEL B. J.; WRIGHT, R. T. Ciencias ambientales. Ecología y desarrollo sostenible. 6ª ed. Prentice Hall, México, 1999. SCHUSCHNY, A. “La metodología de los ‘Síndromes de Cambio Global’: un abordaje para estudiar la sostenibilidad del desarrollo”. Revista Brasileira de Ciências Ambientais, Número 17 - Setembro/2010. Acesso em jun. 2011. TOWNSEND Colin R.; BEGON, MICHAEL.; HARPER, John L. Fundamentos em ecologia. 2ª edição. Artmed. Porto Alegre, 2006. VILLAR, S. La nueva racionalidad: comprender La complejidad con métodos transdisciplinarios. Barcelona: Kairós S. A. 2007
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