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EDUCAÇÃO
AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL: PARATICANDO A PEDAGOGIA DOS 3 R’s. Nathália
Carina dos Santos Silva¹, Eni Carvalho Alves dos Santos¹, Patrícia Domingos² ¹
Licenciadas em Ciências Biológicas, Escola de Ciências da Saúde, Campus Duque
de Caxias, UNIGRANRIO. E-mail: nathaliacarina@yahoo.com.br ²
Professora Doutora da Escola de Ciências da Saúde, Campus Duque de Caxias,
UNIGRANRIO. Universidade
do Grande Rio (UNIGRANRIO). Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 - 25 de Agosto
- Duque de Caxias – RJ. CEP: 25071-202 RESUMO Estamos
enfrentando graves problemas ambientais, em resposta às atividades humanas ao
longo dos anos, decorrentes “de uma ordem econômica mundial, caracterizada
pela produção e consumo sempre crescentes, o que esgota e contamina nossos
recursos naturais, além de criar e perpetuar desigualdades gritantes” (NAÇÕES
UNIDAS, 1997). Com o objetivo de amenizar os impactos ambientais causados pela
atuação antrópica, principalmente através da exploração desenfreada dos
recursos naturais, surgem algumas propostas de superação desta lógica
consumista e de geração de lucro a qualquer custo, destacando-se a proposição
do chamado desenvolvimento sustentável, ou seja, uma ação mais consciente e
responsável do ser humano no planeta. Entretanto, uma contribuição essencial
para promover a mudança de pensamentos e de atitudes deve considerar a
estratégia privilegiada da Educação Ambiental, que deve ser tratada de forma
interdisciplinar. Nesse contexto, este trabalho apresenta e discute a aplicação
de um projeto, que aborda o consumo de papel oficio nas escolas, ou seja, a
relação consumo/desperdício no âmbito da Educação Ambiental e suas
conseqüências ambientais e socioeconômicas, através da Pedagogia dos 3 R’s. Palavras-chave:
Educação ambiental, sustentabilidade, pedagogia dos 3 R’s. INTRODUÇÃO Estamos enfrentando graves
problemas ambientais, em resposta às atividades humanas ao longo dos anos. O Fórum Global de 1992 e Agenda 21 ressaltam:
“Os mais sérios problemas globais de desenvolvimento e meio ambiente que o
mundo enfrenta decorrem de uma ordem econômica mundial, caracterizada pela
produção e consumo sempre crescentes, o que esgota e contamina nossos recursos
naturais, além de criar e perpetuar desigualdades gritantes” (NAÇÕES
UNIDAS, 1997). Os anos 20 marcaram o início da explosão no consumo. A
sociedade sofreu uma metamorfose da cultura produtora para a cultura do
consumo, onde desempenhar o papel de consumidor passou a ser regra, não
formalmente declarada. Essa transformação pode estar associada à propagação do
crédito ao consumidor, à criação das lojas de departamento, à venda por
correspondência e à redução da jornada de trabalho. Além disso, o aumento
do consumo está intimamente relacionado com a formação do campo publicitário,
que desfaz a idéia de que as compras correspondem a necessidades
práticas. “A promessa da publicidade para cada indivíduo é escapar à
condição comum, tornando-se um privilegiado que pode oferecer a si mesmo um
novo bem, mais raro, melhor, mais distinto” (DIAS & MOURA, 2007). As embalagens, que no inicio eram destinadas à
proteção do produto, hoje adquiriram o papel de estimularem o consumo, e os
descartáveis ocupam o lugar dos bens duráveis e retornáveis. O resultado é um
planeta com menos recursos naturais e com mais lixo. Somos invadidos a todo o
momento pelo desejo de consumir mais e mais supérfluos, e que, rapidamente
viram lixo. Além de poluição, lixo também significa muito desperdício de
recursos naturais e energéticos para produzir “bens” de consumo (ABREU, 2001). Com
o objetivo de amenizar os impactos ambientais causados pela atuação antrópica,
principalmente através da exploração desenfreada dos recursos naturais, surgem
algumas propostas de superação desta lógica consumista e de geração de lucro a
qualquer custo, destacando-se a proposição do chamado desenvolvimento
sustentável, ou seja, uma ação mais consciente e responsável do ser humano no
planeta. Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende as necessidades do
presente sem comprometer a possibilidade de gerações futuras atenderem suas
necessidades (ONU, 1991). Para alcançar esse objetivo deve haver um
esforço das sociedades e governos de todo o mundo para a obtenção de recursos
naturais da Terra sem desgastá-la ou poluí-la demais, combater o desperdício,
promover a reciclagem de materiais aproveitáveis e o uso de fontes alternativas
de energia e, principalmente, reduzir o consumo (CORDEIRO, 2008). Mininni-medina
(1997) afirma que “o sucesso do desenvolvimento sustentável vai depender do
empenho político e da participação da sociedade, visto que o novo conceito de
preservação não significa que a natureza seja intocável, mas que o ser humano
saiba utilizar os recursos naturais de forma adequada e tenha consciência de
que eles são esgotáveis.” Deve-se buscar em cada consumidor o verdadeiro
cidadão, comprometido com preocupações coletivas mesmo em seus espaços
privados. Consumo e cidadania devem ser compreendidos de forma conjunta e
inseparável, reconhecendo que ao se consumir se pensa, ou seja, se escolhe e se
reelabora o sentido social, constituindo-se uma nova maneira de ser cidadão
(CANCLINI, 1996; EIGENHEER, 1993). Leff
(2001), fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e complexos
problemas ambientais e reverter suas causas, sem que ocorra uma mudança radical
nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos. O
principal meio para promover a mudança de pensamentos e de atitudes é através
da Educação Ambiental, seja ela em âmbito formal ou não formal. EDUCAÇÃO
AMBIENTAL A
Educação Ambiental surge a partir das preocupações da sociedade com o futuro e
com a qualidade de vida das presentes e futuras gerações, sendo considerada uma
alternativa que visa construir novas maneiras das pessoas se relacionarem com o
meio ambiente (CARVALHO, 2004). Segundo
a conferencia de Tbilisi (Georgia/URSS-1977) meio ambiente é definido como “o
conjunto de sistemas naturais e sociais em que vivem os homens e os demais
organismos e de onde obtêm sua subsistência”. Dessa maneira a educação
ambiental torna-se um exercício de cidadania, com o objetivo de desenvolver uma
consciência crítica nas pessoas. Assim, devem ser abordadas problemáticas
ambientais que se interrelacionem com os aspectos sociais, econômicos,
políticos, culturais, científicos, tecnológicos, ecológicos, legais e éticos
(OLIVEIRA, 2006).
A Educação Ambiental pode ser realizada no âmbito formal, ou seja, onde os
projetos são voltados para inserção das questões socioambientais nos currículos
escolares, ou não-formal, que resulta na aplicação de projetos voltados para a
sociedade civil, envolvendo instituições como ONGs e Áreas de Proteção
Ambiental (Parques Naturais, por exemplo).
Na educação formal há uma forte tendência em se associar a educação ambiental
ao ensino ou à defesa da ecologia, além disso, costuma-se considerá-la como um
conteúdo interligado às ciências físicas e biológicas, sendo trabalhada num
enfoque essencialmente naturalista. Por outro
lado, muitas vezes, é organizada apenas como atividade enriquecedora de
currículo, representada por atividades como campanhas, seminários e excursões,
onde as atividades são dissociadas dos conteúdos básicos do programa escolar (OLIVEIRA,
2006). Entretanto,
a Educação Ambiental não deve ser tratada simplesmente como ensino do mundo
natural e nem pontualmente através de atividades paralelas ao currículo
escolar, ela deve ser tratada de forma interdisciplinar (DÍAZ, 2002). Segundo o
Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade
global “(...) a Educação Ambiental deve basear-se num pensamento crítico e
inovador; ter como propósito formar cidadãos com consciência local e
planetária; ser um ato político, baseado em valores para transformação social;
envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação entre o ser humano, a
natureza e o universo de forma interdisciplinar; e deve estimular a
solidariedade, o respeito aos direitos humanos e a equidade” (BRASIL, 2001
apud SILVA, 2007). Uma
das principais dificuldades de se trabalhar de maneira interdisciplinar a
Educação Ambiental, está relacionada com a complexidade da problemática
ambiental. É nesse cenário que se fundamenta a
não criação de uma disciplina que trate das questões ambientais na educação
formal, já que a mesma trata de fenômenos que abordam diferentes ciências.
Sendo assim, uma das estratégias possíveis é o trabalho com situações – desafio
no espaço escolar. Caracterizado por ser um trabalho de conquista, que exige
clareza de definições e resultados concretos (OLIVEIRA, 2006). Nesse
contexto, este trabalho reflete a aplicação de um projeto, que aborda o consumo
de papel oficio nas escolas, ou seja, a relação consumo/desperdício no âmbito
formal da Educação Ambiental e suas conseqüências ambientais e socioeconômicas,
através da Pedagogia dos 3 R’s. O CONSUMO DE
PAPEL E A PEDAGOGIA DOS 3 R’s A
discussão sobre o uso e reuso de papel nas
escolas é uma excelente estratégia para o trabalho com o tema
consumo/desperdício. Sabe-se que é um local com alto índice de consumo deste
material, tanto por professores quanto por alunos e, conseqüentemente, há uma
grande geração de resíduos deste material. Nos aterros, quando não há contato
suficiente com o ar e a água, o papel se degrada lentamente. Nos Estados Unidos
foram encontrados em aterros jornais da década de 50 ainda em condição de serem
lidos (CEMPRE, 2009). Cerca
de 95% dos papéis é feito a partir do tronco de árvores cultivadas. No
Brasil o Eucalipto é o mais utilizado. Para produzir uma tonelada de papel são
utilizadas aproximadamente 20 árvores. Além disso, a indústria de papel é muito
poluente, pois utiliza grande quantidade de produtos químicos principalmente
para o clareamento da massa, gerando contaminação da água utilizada nos
processos de lavagem (CIÊNCIA A MÃO, 2009). Nas
escolas há pouco incentivo para diminuição da utilização de papéis, sendo
desperdiçados grandes números. É necessária uma conscientização plena
envolvendo os alunos para contribuírem com a diminuição do consumo de papéis,
pois para cada tonelada de papel poupado significa deixar de serem cortados
grandes números de eucaliptos e pinos. Toda vez que se reutiliza um material,
e, portanto reduz-se uma etapa industrial estamos reduzindo consumo de energia
e o lançamento de resíduos da etapa industrial. Dentro
da Educação Ambiental, uma das formas de se enfocar a diminuição do consumo e
da geração de lixo que se instalou no mundo nos últimos anos é através da
pedagogia do 3R’s. Segundo as resoluções da Agenda 21 de 1992, o princípio dos
“3R’s” é apontado como a solução ou minimização dos problemas relacionados aos
resíduos sólidos; redução ao mínimo dos resíduos; aumento ao máximo da
reutilização e reciclagem ambientalmente saudáveis dos resíduos (AGENDA 21,
1996). Nesta
concepção, cada um dos R’s representa uma mudança de postura em relação ao
consumo, sendo o primeiro – Reduzir – o que representa o principal foco
desta pedagogia, pois enfatiza a redução do consumo. Dos 3R’s este é o
mais difícil de ser realizado, pois exige um alto grau de consciência; o
segundo – Reutilizar - propõe a reutilização dos mesmos objetos, antes
de descartar ou reciclar os produtos, usá-los de uma forma diferente e
criativa; e por fim o terceiro – Reciclar – Representa a reinserção do
produto no processo produtivo, substituindo matérias-primas virgens,
completando seu ciclo quando o produto volta ao mercado. É uma alternativa
somente quando não é mais possível reduzir, nem reutilizar (ZACARIAS, 2000). O
projeto aqui apresentado teve como objetivo principal a discussão do tema
consumo/desperdício, geração de resíduos sólidos e suas conseqüências
ambientais e sociais através da perspectiva da pedagogia dos 3R’s. DESENVOLVIMENTO
METODOLÓGICO
O trabalho foi desenvolvido ao longo dos meses de Setembro a Novembro de 2009,
simultaneamente, em duas escolas. A escola 1pertence à Rede Pública de Educação
Municipal de Belford Roxo, e a Escola 2 pertencente à Rede Privada,
localizando-se no município de Duque de Caxias, ambas no estado do Rio de
Janeiro. O público alvo foi formado por alunos do 2º ano do Ensino Fundamental
(com faixa etária entre 7 e 9 anos de idade). No
início do trabalho foram colocadas em ambas as salas de aulas três caixas de
papelão, intituladas respectivamente de Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Na
primeira caixa (Reduzir) foi colocada uma quantidade de folhas oficio em
branco (600 no total), com o objetivo de consumi-las com os alunos de forma
consciente, evitando o desperdício, promovendo a redução do consumo e da
quantidade de lixo produzida ao longo do projeto. A cada 15 dias, esta caixa
era examinada e as folhas eram contadas para verificar a quantidade de folhas
que estavam sendo utilizadas. A segunda caixa (Reutilizar) foi
destinada a abrigar folhas utilizadas de apenas um lado. Na medida em que as
folhas em branco eram utilizadas na caixa anterior, eram depositadas nesta
caixa, possibilitando a reutilização do papel pelos alunos. A terceira caixa (Reciclar)
guardava os papéis utilizados dos dois lados, que posteriormente seriam
encaminhados para a reciclagem (Figura 1). Metodologia
semelhante foi utilizada no âmbito de escolas públicas do município do Rio de
Janeiro em trabalho de Educação Ambiental realizado pelo CEAMP – Centro de
Educação Ambiental do Parque Nacional da Tijuca, com a participação da terceira
autora (Domingos, com. pess.) Figura 1: Caixas colocadas
em sala de aula correspondentes a reduzir, reutilizar e reciclar o papel. A
esquerda na Escola 1 e a direita na escola 2. O
mesmo procedimento foi realizado nas duas escolas. Num primeiro momento os
alunos foram reunidos para participarem de uma discussão acerca dos temas que
seriam abordados: consumo, desperdício e poluição. Em seguida, foram
questionados sobre as maneiras como cada um poderia contribuir para a
preservação ambiental e, a partir das articulações dos mesmos, estes foram
apresentados ao projeto. Foram feitos acordos com os alunos, de práticas que
deveriam ser seguidas dali em diante para que os
objetivos do projeto pudessem ser alcançados, tais como: -
diminuição da utilização indevida de folhas ofício; -
utilização dos dois lados das folhas para confecção de desenhos e impressão de
atividades; -
doação do papel utilizado para cooperativas de reciclagem, como alternativa
para o lançamento no lixo comum. Ao
longo do desenvolvimento do projeto, na medida em que as folhas foram sendo
utilizadas e acumuladas na caixa Reutilizar, foram desenvolvidas
atividades artesanais como, por exemplo, a confecção de um caderno criativo
(adaptado de RECICLOTECA, 2009). Para
a confecção do caderno criativo foram utilizadas folhas com apenas um lado
usado, barbante; borracha; cola bastão cola branca; encartes coloridos de
jornais/revistas; estilete; furador de papel; lápis; caixa usada de papelão;
pincel; tesoura. Para
cada caderno foram separados grupos de cerca de 10 folhas e dobradas ao meio
para formar um vinco central, as folhas foram dobradas de cada lado, até vincos
centrais, depois abertas novamente de modo a ficarem marcados dois vincos
laterais, que serviram de referência para a furação das folhas. Com o furador
foram feitos furos em ambos os vincos laterais e a folha marcada como base foi
utilizada para furar as outras folhas que compõem o caderno. Para a
confecção da capa, foram utilizados dois pedaços de papelão com um tamanho um
pouco maior que o das folhas do caderno. Os desenhos das capas foram
confeccionados pelas próprias crianças, que formaram mosaicos utilizando
recortes de revista. Para montagem, foram feitos furos na capa, tendo como
referência as folhas já furadas, colocados um pedaço de cartolina ou papelão em
baixo e um (a capa) em cima das folhas e costurados utilizando o barbante. Ao
final do trabalho, as folhas colocadas na caixa Reduzir foram contadas,
e verificou-se a quantidade de folhas poupadas pelo desenvolvimento do projeto.
Na perspectiva de que para se produzir papel é necessário a derrubada de
árvores, foi estipulado um número simbólico de folhas que, ao deixarem de ser
utilizadas, representavam uma árvore a menos que foi retirada da natureza. Para
ilustrar essa idéia, os alunos confeccionaram uma maquete denominada “a
floresta que queremos”, que representava o numero simbólico de árvores que
foram poupadas através da redução no consumo de papel na escola. As
árvores da maquete foram confeccionadas com o uso de papel machê, feito
pelos próprios alunos. A confecção de papel machê é muito simples. Foram
utilizados papel (em média meio balde), água, bacia, peneira ou escorredor de
macarrão, 200 g de cola branca, 2 1/2 colheres de
sopa de gesso de secagem lenta, 1 colher de sopa de gesso comum, 2 colheres de
sopa de farinha de trigo e 1 tampa de vinagre. Os
papéis (jornais velhos) foram picados pelos alunos em pequenos pedaços e
despejados em um recipiente com água, onde permaneceram de molho por um período
de 24 horas. No dia seguinte, o papel molhado foi amassado até formar uma massa
homogênea. Logo após, a água foi escorrida e o excesso de água retirado com o
auxilio de um pano de prato. Já seco o papel foi esfarelado, e depositado em
uma bacia, onde foram adicionados a cola branca, o vinagre, o gesso de secagem
lenta e o gesso de secagem comum. Por último foi adicionada a essa massa 2
colheres de farinha de trigo para que não ficasse partindo. E então foram
confeccionadas as árvores da maquete. RESULTADOS E
DISCUSSÃO Este
projeto permitiu a observação de três situações importantes em relação ao tema
consumo/desperdício de papeis nas escolas. A primeira foi a demonstração de que
é possível diminuir a quantidade de papel utilizado nas instituições de ensino
ao longo do ano letivo através de medidas simples e eficazes, que podem ser
adotadas tanto por professores quanto por alunos. A segunda representou as
consequências do que o consumo desordenado traz, não apenas para o meio
ambiente, mas também, para a questão econômica da escola. E por fim, a terceira
representa a participação e o interesse dos alunos, que se mostraram altamente
participativos, receptivos e preocupados com a questão ambiental proposta
através das atividades do projeto. O reflexo da
pedagogia dos 3R’s no consumo de papel das escolas Ao
longo do desenvolvimento do projeto as turmas de ambas as escolas demonstraram
uma progressiva diminuição no consumo de folhas em branco. Em ambas as escolas,
no início do mês de setembro, foram colocadas 600 folhas de papel ofício em
branco na caixa reduzir. Na escola 1, ao fim da 1ª quinzena do mês,
foram utilizadas 42% do total de folhas colocadas na caixa. Na segunda quinzena
o consumo caiu para 21% do total de folhas que restaram na caixa reduzir.
Na primeira e segunda quinzena de outubro foram utilizadas apenas 14% das
folhas restantes na 1ª caixa (Figura 2).
Figura 2: Consumo de papel ofício entre os meses de setembro e
outubro de 2009 na ESCOLA 1. Na
escola 2, o consumo de papel na turma trabalhada já não era muito elevado, mas
mesmo assim, entre o início e o fim do projeto, a quantidade de folhas
utilizadas foi reduzida pela metade (Figura 3). Na primeira quinzena de
setembro o consumo foi de 12% e na ultima quinzena de outubro o consumo chegou
a 6%. A exceção foi registrada na primeira quinzena de outubro, onde
foram consumidas 60% das folhas contidas na caixa reduzir. Nesta
semana, a escola estava em período de provas, e as provas e atividades são
xerocadas na própria escola, utilizando as folhas pertencentes a cada sala de
aula. Entretanto, com exceção da sala do 2º ano, onde o projeto estava sendo
realizado, todas as outras salas não tinham número suficiente de folhas para
suprir a demanda de provas. Conseqüentemente, recorreram às folhas armazenadas
na caixa reduzir na sala do 2º ano, pois era a única onde ainda havia um bom
numero de folhas oficio. Figura 3: Consumo de papel
ofício entre os meses de setembro a outubro de 2009 na ESCOLA 2. Ao
total, em ambas as escolas, o consumo de papel foi reduzido pelo menos à
metade, apenas com a utilização dos dois lados da folha. Isso demonstra que,
mesmo em uma escola onde a utilização de papel é necessária e geralmente alta,
existe a possibilidade de haver uma redução de consumo, produzindo uma educação
de qualidade sem desperdiçar os recursos naturais. O
fato ocorrido na escola 2, onde a turma que participava do projeto supriu a
necessidade de folhas das outras turmas, nos permitiu demonstrar o quanto
se torna importante, não apenas no âmbito ambiental, como também no econômico,
a redução do consumo e a reutilização de materiais. Neste caso, além de
utilizar grande parte das folhas armazenadas pelo segundo ano, a escola teve
que fazer um investimento financeiro em folhas ofício para garantir o estoque
até o fim do ano letivo. Enquanto que na turma onde o projeto estava sendo
desenvolvido ainda estavam sendo utilizadas as folhas entregues pelos alunos no
início do ano (por se tratar de uma escola particular, o material usado na
escola é entregue pelos pais dos alunos no inicio do ano letivo e a professora
fica responsável pelo manejo do material até o fim do mesmo). O
projeto teve uma duração de apenas três meses, e proporcionou a redução do
consumo de folhas ofício pela metade, demonstrando a importância da utilização
de estratégias que estimulem o uso sustentável de recursos e redução do consumo
em geral. Foi exatamente o que a pedagogia dos 3 R’s permitiu aos alunos e
também aos professores e funcionários. A partir destes resultados pode-se
sugerir que, se tais atitudes fossem adotadas pelas instituições de ensino ao
longo de todo o ano letivo, haveria um benefício mútuo para escola e para o
meio ambiente. Grande
parte dos programas de educação ambiental acaba destacando a reciclagem em
relação aos dois primeiros "erres" (reduzir e reutilizar). Assim,
busca-se apenas atender à "consciência ecológica individual", iludida
ao acreditar que, consumindo produtos recicláveis, estes serão necessariamente
reciclados. Entretanto, como foi observado, os dois primeiros R's (Reduzir e
Reutilizar) fazem parte de um processo educativo, que tem por objetivo uma
mudança de hábitos no cotidiano dos cidadãos, e devem ser priorizados em
relação à reciclagem. A questão-chave é levar o cidadão a repensar seus valores
e práticas, reduzindo o consumo exagerado e o desperdício. Além
disso, o processo de reciclagem também resulta em algum tipo de poluição, além
de consumir recursos como água e energia. Sendo assim, a reciclagem deve ser
entendida como um complemento aos processos de redução e reutilização e não
servir para ocultar as causas reais do problema: o desperdício, o incentivo ao
consumo desenfreado e o desgaste dos locais de onde são extraídas as
matérias-primas (ECOVIVER, 2010). O reflexo
das atividades Durante
todo o desenvolvimento do projeto os alunos se mostraram bastante interessados
e dispostos a participar de todas as atividades. A confecção do caderno
criativo (Figura 4) teve seu enfoque em priorizar a redução do consumo e o
reaproveitamento de materiais em relação a sua própria reciclagem, através do
reuso das folhas utilizadas de apenas um lado. Para isso, como o número de
folhas na caixa Reutilizar era pequeno em relação ao número de alunos,
este se encarregaram de recolher folhas “reutilizáveis” nas outras turmas, se
tornando multiplicadores. Assim, entravam nas outras salas de aula, explicando
o objetivo do projeto e recolhendo um maior numero de folhas para serem
reutilizadas. Dessa maneira, houve uma contribuição maior para a diminuição do
desperdício de papel e, ao mesmo tempo, foi possível ampliar a abrangência do
tema realizado envolvendo outras turmas. Ao
serem questionados sobre a utilidade dos cadernos criativos, sugeriram que
podem ser utilizados como caderno de desenhos, diário, agenda e caderno para
brincar com os amigos. Na
escola 1, as folhas reutilizáveis e os resíduos, tais como revistas velhas e
pedaços de papelão, que sobraram da confecção desta atividade, foram doadas
para a sala de leitura para ser utilizados com as
outras turmas da escola, ampliando assim o conhecimento do projeto e seu
objetivo em relação ao desperdício de papel. Na
Escola 2, todos os resíduos desta e de outras atividades, foram doados para uma
cooperativa de catadores do município. Figura 4: “Caderno Criativo” – caderno
confeccionado pelos alunos com folhas reutilizáveis (usadas de apenas um lado) Ao serem analisados, juntos com os alunos, os valores referentes à
redução de consumo dos papeis que estavam contidos na
caixa Reduzir, estes ficaram muito satisfeitos com o resultado de suas
ações, pois um grande número de folhas deixou de ser utilizada. Como já foi
mencionado anteriormente, uma quantidade simbólica de folhas poupadas
representava uma árvore que a turma ajudou a salvar. Dessa maneira ao final do
projeto os alunos confeccionaram uma maquete, no qual cada um produziu sua
própria árvore feita de papel machê, simbolizando “a floresta que
queremos” (Figura 5). A produção de papel machê foi vista como uma forma moderada de diminuir os problemas
ambientais, causados pelos processos industriais de fabricação, além de reduzir
o desperdício na utilização dos materiais. O trabalho com papel machê
também é uma forma de reciclar. Dessa maneira, é possível trabalhar de forma
lúdica e artística a consciência ambiental nos alunos. Este trabalho foi muito
produtivo, pois proporcionou que os alunos visualizassem a transformação do
papel em matéria prima para a realização de atividades artesanais. Figura 5: Esquerda: árvores
feitas de papel machê. Direita: alunos confeccionando a massa de papel machê. Paralelamente
ao trabalho com as caixas dos 3R’s, a confecção do caderno criativo e das
atividades com papel machê, foram realizadas atividades enfocando a
minimização dos impactos dos resíduos sólidos gerados pela escola e pelos
moradores do entorno sobre o meio ambiente. Como exemplo, destaca-se a
implantação de coleta seletiva, separando lixo orgânico do lixo reciclável,
onde este segundo foi doado para uma cooperativa de catadores do município de Duque de Caxias e
atividades de produção de sabão a partir de óleo vegetal usado. Com essas
atividades complementares foi possível promover um alto grau de sensibilização
em todo o ambiente escolar em prol da preservação ambiental através da redução
do consumo, reuso de materiais reaproveitáveis e reciclagem. O
ganho com o trabalho, para além da ação individual, tem relevância pela ação
coletiva. A partir desta ação o grupo percebeu que sua organização em
função de um desejo e objetivo comuns, resultou em intervenção positiva sobre a
realidade. Trata-se de valorizar a percepção de conquista coletiva, a partir de
uma ação conjunta, em prol de um grupo. CONCLUSÕES Mesmo
o consumo de papel nas escolas sendo estritamente necessário e alto, devido ao
número de alunos e atividades, este trabalho demonstrou que é possível reduzir
o consumo de folhas através da adoção de atitudes simples e eficazes que, com
tempo e prática, podem passar a fazer parte do cotidiano escolar. Além disso, o
trabalho obteve grande aceitação pelos alunos que demonstraram interesse em
ajudar a tornar possível a redução da geração de resíduos pela escola e a
diminuir a utilização dos recursos naturais em geral. Através deste projeto os
alunos obtiveram uma visão mais ampla sobre a problemática ambiental,
percebendo a importância de contribuir para a preservação do meio ambiente, não
só no ambiente escolar, mas também em casa. REFERÊNCIAS
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