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Extinção
Suicida: reflexões sobre nosso futuro por Marcelo Valério A
grande maioria de nós aprendeu, de uma forma ou de outra, que todo ser vivo
tem um ciclo vital. Todos eles nascem, crescem e desenvolvem-se, reproduzem-se
e morrem. Perceba agora que estamos na lista, também somos seres vivos, sim,
é verdade, somos nós ... Homo sapiens sapiens ... que relembrar? Então
lá vai: Filo Chordata; Subfilo Vertebrata; SuperClasse Gnathostomata; Classe
Mammalia; SubClasse Theria; InfraClasse Metatheria; Ordem Primates; Subordem
Antropoides; SubFamília Hominoides; Família Hominidae; Gênero Homo
... Complicado
não? Porque não
"homem" ... isso mesmo, Homem e todo o resto. Pois é, esse
animal, provavelmente uma Ordem ancestral dentre os mamíferos, ainda hoje
considera-se o mais evoluído entre todos os seres vivos. Por favor, me
poupem dessa mentira deslavada. Acabo
de consultar o Aurélio e nele consta que evoluir é passar por transformações,
sendo assim, somos todos nós evoluídos, você, eu, ou uma bactéria
qualquer, todos mudamos, assim é o mundo, nada é estático, o “problema”
está em que tipo de mudança cada organismo sofreu "ao longo da evolução". Desde
que o nossos antepassados (de gênero) pararam de correr de Tigres-dentes-de-sabre,
eles deixaram de lado o fato de fazer parte do ambiente e tomaram partido de
tal para sua própria vida, sem nunca pensar - e nem poderiam mesmo - no que
se tornariam depois de tal atitude. Um ponto importante foi à dominação
da agricultura, a Terra passava por invernos extremamente longos e rigorosos e
era bastante difícil sair em busca de alimento, foi nesse momento que o homem
aprendeu a manipulá-lo. É importante que possamos perceber que as
dificuldades sempre nos dão escolhas, e nós temos
a função de fazê-las. Mas
vamos encurtar o papo e chegar ao homem moderno. Ele domina e processa todo
seu entorno, lapidando o ambiente em que vive como lhe convém para atender as
sua “necessidades”. Mais que isso ainda, o homem moderno começou a olhar
pra dentro de si, e o despertar da Medicina e Biologia Molecular lhe conferiu
a capacidade de atropelar todas as fases do seu ciclo vital: Não são mais
necessários um macho e uma fêmea para gerar uma prole; os mecanismos do
crescimento e desenvolvimento passaram a ser extremamente conhecidos e passíveis
de serem controlados; a reprodução humana acontece agora, dentro de laboratórios;
mas e a morte (?), é isso que nos resta discutir, a morte.
A
morte é iminente, todos nós iremos morrer, pelo menos até o momento em que
me pego escrevendo esse texto não apareceu ninguém provando o contrário.
Quando falo em morte, em todos nós, não estou falando nem de você nem de
mim, estou falando do homem, o Homo sapiens, aquele lá de cima. Digo
isso porque a extinção é um processo inevitável, todas as espécies irão
um dia desaparecer e novas possivelmente tomarão os seus lugares -
aproximadamente 95% das espécies que já habitaram o planeta Terra já se
extinguiram - mas essa é uma tarefa do tempo. Esse é ponto alto da discussão:
Quanto tempo nos resta? Pergunto isso porque estamos encurtando dia após dia
o tempo restante para a nossa espécie. O tipo de escolha que fizemos, quando
"ainda não pensávamos" como hoje, é a chave para o desgaste ao
qual estamos submetendo a nossa casa. Exatamente, entendo que fizemos escolhas
- que mesmo sem querer - resultaram em um tipo de desenvolvimento atual que é
predatório, excludente, não compartilhado
por nenhuma espécie que se encaixe dentro dos cinco reinos de seres vivos
existentes. A partir desse momento me pego pensando que a espécie humana, com
seu modelo atual de desenvolvimento deveria ser retirada de dentro do Reino
Animal e daqueles táxons descritos acima e alocada fora do contexto,
juntando-se a um ser vivo com o qual mais se parece: O Vírus. Por mais
espantoso que possa lhe parecer, pense como somos parecidos com esses
parasitas, não conseguimos conciliar o desenvolvimento humano (reprodução
virótica) e a sustentabilidade de nossa casa (célula infectada), e acabamos
então a destruindo, no intuito de nos tornarmos melhores, sem perceber que
acabaremos por precisar de outra célula, digo, outra casa. O
tempo está se esgotando, um pouco ainda resta, deveríamos usá-lo para
repensar a nossa posição como espécie dentro de um ecossistema com recursos
finitos. Por fim, mais uma vez uma escolha nos é oferecida, ou regramos o
desenvolvimento humano de maneira a sustentar da melhor forma possível os
recursos oferecidos pelo ambiente do qual fazemos parte ou estaremos fadados a
primeira extinção suicida da história da Terra. Marcelo Valério Estudante de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail para contato: mvalerio@newsite.com.br |