Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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10/09/2018 (Nº 43) ANÁLISE DA PEGADA ECOLÓGICA DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO E PERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
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Análise da Pegada Ecológica de alunos do Ensino Médio e perspectiva de desenvolvimento sustentável

Análise da Pegada Ecológica de Alunos do Ensino Médio e Perspectiva de Desenvolvimento Sustentável

 

Gisele Aparecida Fidelis

 

RESUMO

Na década de 1960, a humanidade começou a se preocupar com a natureza e considerar questões sociais, políticas, ecológicas e econômicas com o uso racional dos recursos. Rees (1992) contribuiu com o uso de indicadores de sustentabilidade a partir do momento em que elaborou um índice chamado Pegada Ecológica. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi analisar o comportamento de jovens em relação ao consumismo e preocupação com o desenvolvimento sustentável utilizando para isso o indicador Pegada Ecológica. A verificação dos dados evidencia que os jovens estudantes não estão muito preocupados com os problemas ambientais. O consumismo é elevado e muitos deles, inclusive, ainda não sabem o significado de conceitos que se tornam comuns em noticiários e revistas. Dessa forma, se faz necessário a conscientização dos alunos por meio de palestras, oficinas e projetos na busca da formação de cidadãos mais responsáveis com a natureza.

 

Palavras chave: Desenvolvimento sustentável. Pegada Ecológica. Consumismo. Conscientização.

 

INTRODUÇÃO

Após a Segunda Guerra Mundial, a discussão dos conceitos de desenvolvimento e subdesenvolvimento se torna relevante. Neste cenário mundial, o padrão de desenvolvimento estava ligado a parâmetros econômicos como o PIB (Produto Interno Bruto), a economia de mercado evoluída e a especialização da sociedade. No final da década de 1960 surgiram modelos alternativos de desenvolvimento que se desligava dos aspectos puramente econômicos e consideravam outros benefícios, tais como qualidade de vida físico-mental, conforto, higiene, educação e também reconhecia as características negativas do chamado “mundo desenvolvido” como os fatores de poluição e a degradação ambiental. A partir dessa época, o desenvolvimento e crescimento econômico não eram mais sinônimos de qualidade de vida (SANTOS, 2004).

Nessa mesma década, a humanidade começou a se preocupar com a natureza e considerar questões sociais, políticas, ecológicas e econômicas com o uso racional dos recursos. O fato que marcou essa mudança de comportamento foi a criação do Clube de Roma, em 1968, o qual foi constituído por um grupo de trinta especialistas de diversas áreas e países, com o objetivo de promover a discussão do uso dos recursos naturais e o futuro da humanidade.

Em 1972, esta organização publicou o relatório “Os limites do crescimento”, no qual foram estabelecidos modelos globais baseados em técnicas de análise de sistemas, projetados para predizer como seria o futuro se não ocorressem ajustamentos nos modelos de desenvolvimento econômico adotados. As análises dos modelos indicavam que o crescente consumo levaria a humanidade a um limite de crescimento, possivelmente a um colapso (DIAS, 2002). Ainda em 1972, a Organização das Nações Unidas promoveu a Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano, também chamada Conferência de Estocolmo, a qual reuniu 113 países, com o objetivo de estabelecer uma visão global e princípios comuns que servissem de inspiração e orientação à humanidade, para a preservação e melhoria do ambiente humano. Nesta ocasião, foi criada a Declaração sobre o Ambiente Humano estabelecendo um Plano de Ação que serviria de base para o surgimento de instrumentos de políticas de gestão ambiental.

O conceito de sustentabilidade surgiu em 1980 durante o encontro internacional The World Conservation Strategy e a partir desta data passou a ser utilizado com maior frequência, interligando as questões econômicas, sociais e ambientais buscando embasar uma nova forma de desenvolvimento (SICHE et al., 2007).

Em 1983, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento também chamada Comissão Brundtland, com o objetivo de reavaliar os principais problemas do meio ambiente e de desenvolvimento no planeta, formular propostas de soluções viáveis e garantir o progresso humano de uma maneira sustentável. Entretanto, somente em 1987 foi divulgado o relatório oriundo desta Comissão, o qual tratou das preocupações, desafios e esforços comuns que buscavam o desenvolvimento sustentável (DIAS, 2002). Nessa ocasião, o termo sustentabilidade foi bem explicado e definido como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações em satisfazer as suas necessidades” (WECD, 1987).

Mais tarde, em 1992, foi realizada a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - conhecida como Rio 92 - na qual reuniram-se representantes de 179 países com o objetivo de analisar a situação ambiental no mundo. Neste encontro foi produzida a Agenda 21, que consiste em um Plano de Ação para as Nações visando o desenvolvimento sustentável, em que foram estabelecidas mais de 2.500 recomendações práticas para preparar o mundo para os desafios do século XXI. Trata-se, portanto, de um documento que tem como objetivo promover um novo padrão de desenvolvimento, tendo em vista a sustentabilidade e a integração dos aspectos sociais, econômicos, ambientais e culturais.

De acordo com o capítulo 4 da Agenda 21 (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 2001) como parte das medidas a serem tomadas no plano internacional para a proteção do meio ambiente é necessário levar plenamente em conta os atuais desequilíbrios nos padrões mundiais de consumo e produção. Especial atenção deve ser dedicada à demanda de recursos naturais gerada pelo consumo insustentável, bem como o uso eficiente desses recursos, coerentemente com o objetivo de reduzir ao mínimo o esgotamento desses recursos além de primar pela redução da poluição. Dessa forma, o principal objetivo deste capítulo da Agenda 21 é adotar medidas que promovam padrões de consumo e produção que reduzam as pressões ambientais e atendam às necessidades básicas da humanidade assim como desenvolver uma melhor compreensão do papel do consumismo e da forma de se programar padrões de consumo mais sustentáveis.

De acordo com o capítulo 40 da Agenda 21:

 

É preciso desenvolver indicadores do desenvolvimento sustentável que sirvam de base sólida para a tomada de decisões em todos os níveis e que contribuam para uma sustentabilidade auto-regulada dos sistemas integrados de meio ambiente e desenvolvimento (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 2001, p. 257).

 

Rees (1992) contribuiu com o uso de indicadores de sustentabilidade a partir do momento em que elaborou um índice chamado Pegada Ecológica ou EF (do inglês Ecological Footprint). Wackernagel e Rees (1996) definem o conceito de Pegada Ecológica e a associam à sustentabilidade de uma determinada área. De acordo com esses autores, a Pegada Ecológica é a área correspondente de terra produtiva e ecossistemas aquáticos necessários para produzir os recursos utilizados e para assimilar os resíduos produzidos por uma dada população, sob um determinado estilo de vida.

No Brasil, a Pegada Ecológica é uma ferramenta muito utilizada pelos especialistas de diferentes esferas da sociedade e que trabalham com o conceito de desenvolvimento sustentável. Os mais variados especialistas da área de meio ambiente afirmam que uma ferramenta de avaliação pode ajudar a transformar a preocupação com a sustentabilidade em uma ação pública consistente (VAN BELLEN, 2004).

Um índice de sustentabilidade como a Pegada Ecológica tem como objetivo explicar os mecanismos e lógicas atuantes na área a ser analisada e quantificar os fenômenos mais importantes que ocorrem no sistema. Dessa forma, será possível conhecer como a ação humana está afetando seu entorno, alertar sobre os riscos de sobrevivência humana e animal, prever situações futuras e guiar melhores decisões políticas (SICHE et al., 2007).

Segundo WWF (2007), a Pegada Ecológica não é uma medida exata e sim uma estimativa. Ela nos mostra até que ponto a nossa forma de viver está de acordo com a capacidade do planeta de oferecer, renovar seus recursos naturais e absorver os resíduos que geramos por muitos e muitos anos. Deve ser levado em considerando que dividimos o espaço com outros seres vivos e que precisamos cuidar da nossa e das próximas gerações. Consiste em uma forma de traduzir em hectares (ha), a extensão de território que uma pessoa, uma cidade ou um país “utiliza”, em média, para se sustentar.

De acordo com o Relatório Planeta Vivo da WWF (2006), a capacidade de carga ou biocapacidade da Terra constitui a quantidade de área biologicamente produtiva que inclui a zona de cultivo, pasto, floresta e pesca que está disponível para responder às necessidades da humanidade. Desde os últimos anos da década de 1980 que a Pegada Ecológica ultrapassa a biocapacidade da Terra, sendo a exigência global superior à oferta em cerca de 25%.

Entre os anos de 1961 e 2003 a Pegada Ecológica global da humanidade quase quadruplicou, aumentando assim mais rapidamente que a população, a qual quase duplicou durante o mesmo período. Em 2003, a Pegada Ecológica global era de 2,2 hectares por pessoa. Entretanto, nesse mesmo ano a média global de biocapacidade disponível por pessoa era apenas de 1,8 hectares.

Segundo Dias (2002), a expansão dos ecossistemas urbanos, o crescimento populacional e o consumismo são importantes elementos formadores de alterações ambientais no mundo, contribuindo para a redução da qualidade de vida e o aumento da pressão ambiental sobre os recursos naturais. Nos países em desenvolvimento, a rápida urbanização concentrará nas cidades 90% do crescimento populacional e econômico, agravando os problemas urbanos. A idéia de cidade sustentável equivale à de ambientes agradáveis, com o uso racional de recursos naturais e ecologicamente corretos, envolvendo a população no processo de gestão.

O conceito de Pegada Ecológica se popularizou mundialmente, por sua fácil compreensão, e pelo fato de se constituir em um indicador de sustentabilidade cujos cálculos não são complexos. Nesse sentido, existem milhares de trabalhos publicados, com análises da Pegada Ecológica em diversas escalas. Não obstante, há algumas críticas ao método.

            O modelo da Pegada Ecológica é tido como demasiado pretensioso, por alguns setores acadêmicos. Alguns cientistas argumentam que, apesar de décadas de estudos sistemáticos e detalhados, pouco sabemos sobre como a natureza funciona, através da interação de organismos tão díspares quanto bactérias e baleias azuis. Como então, perguntam esses acadêmicos, complexas interações entre pessoas e a biosfera podem ser reduzidas apenas a uma questão de hectares?

            Os idealizadores do conceito de Pegada Ecológica respondem que, evidentemente este instrumento não abrange um nível de complexidade tão grande – e nem é esse seu objetivo. Dessa forma, a Pegada Ecológica não é precisa o bastante para gerenciar a natureza, mas ela provê informações e dados que nos permitem nos gerenciar de uma maneira ecológica e socialmente mais responsável (Wackernagel; Rees, 1996).  

            Outra crítica bastante difundida parte de economistas. Para alguns deles, os dilemas ambientais que ora presenciamos (poluição, extinção da biodiversidade, aquecimento global, entre outros), é meramente uma questão de desenvolvimento de tecnologias que possam produzir bens de consumo com menores impactos sobre a natureza.

            A esse respeito, Wackernagel e Rees (1996) argumentam que muitos desenvolvimentos tecnológicos de fato têm contribuído para a redução da Pegada Ecológica, como a difusão da energia solar, por exemplo, porém, mais frequentemente, aperfeiçoamentos tecnológicos estimulam o aumento do consumo (por exemplo, desenvolvendo automóveis mais baratos). Nesse contexto, a Pegada Ecológica pode ser um indicador importante para mensurar se tecnologias vindouras aumentarão ou diminuirão os impactos da humanidade sobre a natureza.

Nesse contexto, este artigo tem como objetivo avaliar o comportamento de jovens em relação ao consumismo e evidenciar sua preocupação com o desenvolvimento sustentável, utilizando-se como instrumento de pesquisa o indicador Pegada Ecológica.

 

 

MATERIAL E MÉTODOS

 

População analisada

 

A população escolhida para a análise da Pegada Ecológica foram os alunos de Ensino Médio do Colégio Estadual Silvio Magalhães Barros, no município de Maringá, Paraná.  A pesquisa envolveu os estudantes das três séries do período matutino, totalizando uma amostra de 180 alunos (calculado com um intervalo de confiança de 95%). 

 

Instrumento de investigação

 

A investigação consistiu na aplicação de um questionário contendo 18 questões de múltipla escolha classificadas em cinco categorias: alojamento, alimentação, transportes, consumo e resíduos. Para cada resposta foi atribuído um número de pontos e ao término do preenchimento, os resultados foram somados a fim de se obter o valor da Pegada Ecológica individual.

O questionário original foi extraído de um projeto experimental chamado PEGADA ESCOLAR - Análise Comparativa Internacional da Pegada Ecológica Escolar, o qual foi desenvolvido pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa e passou por algumas modificações para se adaptar à realidade brasileira. Além disso, o cadastro dos alunos foi consultado no Sistema Estadual de Registro Escolar (SERE), com o objetivo de traçar o perfil sócio-econômico dos sujeitos da amostra.

Durante a aplicação do questionário, houve uma breve explanação dos conceitos de Pegada Ecológica, sustentabilidade, consumismo e compostagem. Para finalizar a pesquisa, os alunos compararam o valor encontrado da Pegada Ecológica individual com valores conhecidos de alguns países.

Após a análise dos resultados, promovemos uma “Oficina de Sustentabilidade” dirigida aos estudantes do Ensino Médio do Colégio Estadual Silvio Magalhães Barros. Durante o evento, os resultados foram apresentados e discutidos com os alunos e foram sugeridas possibilidades de redução da Pegada Ecológica dos participantes da Oficina e consequentemente de seus familiares.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A quantificação da frequência das respostas foi convertida em valores percentuais e demonstrada através de gráficos. Para isso foi necessária a utilização do software Excel.

A análise dos dados evidencia que os jovens estudantes não estão muito preocupados com os problemas ambientais que estamos vivenciando. Muitos deles, inclusive, ainda não sabem o significado de conceitos que se tornam comuns em noticiários e revistas. Essa verificação ocorreu durante a aplicação do questionário, no momento em que os alunos mostravam que não sabiam, por exemplo, o significado dos termos: alimentos produzidos localmente, produtos de baixo consumo de energia e compostagem.

As questões foram agrupadas em cinco categorias. A primeira foi chamada alojamento e abordou o estilo de moradia. Na pergunta “quantas pessoas moram na sua casa”, foi obtido o seguinte resultado: 6,1% responderam duas pessoas; 21,7% responderam três pessoas; 42,2%, quatro pessoas e 30,0% moram em uma casa com cinco ou mais pessoas. A pergunta que aborda o tipo de moradia mostrou que 98,9% dos alunos entrevistados moram em residência do tipo casa e apenas 1,1% moram em apartamento.

          Dessa maneira, a estrutura familiar dos alunos entrevistados é constituída por várias pessoas, necessitando de uma moradia grande que satisfaça as necessidades de todos os integrantes da família, utilizando para isso, um maior número de construções civis e uma área de solo maior daquela que seria utilizada para moradia em apartamentos. Contudo, morar em coletivo possibilita o melhor aproveitamento dos recursos naturais como a água, a energia e outros. Nesse sentido, quem mora sozinho, em geral, atinge altos graus de desperdício de recursos.

          A segunda categoria de perguntas abordou os hábitos de alimentação. Segundo os alunos, apenas 3,3% não comem nenhuma refeição de carne ou de peixe por semana; 10,0% comem de uma a três; 31,1% se alimentam com quatro a seis refeições desse tipo; 27,8% comem carne ou peixe de sete a dez vezes por semana e 19,4% mais de dez vezes por semana. Nesse contexto, é importante lembrar que 60% da água doce disponível em nosso planeta é destinada à produção de alimentos e que para processar 1 Kg de carne, por exemplo, são gastos 15.000 litros de água.  

          Na questão “você procura comprar alimentos produzidos localmente”, foram obtidas as seguintes respostas: 25,0% disseram que sim; 17,2% que não; 41,1% responderam às vezes; 14,4% declararam que raramente compram produtos produzidos localmente e 2,2% não responderam esta pergunta. Dessa forma, uma parcela considerável afirma que procura comprar alimentos produzidos localmente e assim estão contribuindo para a redução do uso de agrotóxicos além da exploração mais racional dos recursos do planeta.                        


A terceira categoria se referiu aos transportes. Na questão “como você vai para o colégio” foi constatado que 10,6% dos alunos vão de carro; 3,3% de carona; 32,8% utilizam o transporte público e 52,8% vão para o colégio de bicicleta ou a pé. Provavelmente pelo fato dos alunos morarem próximo ao estabelecimento de ensino, uma grande parte utiliza a bicicleta ou vai a pé para o colégio. Sabe-se que o aquecimento global é causado, em grande parte, pelos gases da combustão dos motores dos automóveis. Por isso, um transporte sustentável deve utilizar a energia de maneira eficaz, ou seja, transportar o máximo de carga possível gastando o mínimo de combustível.


Com relação às atitudes de consumo, 8,3% dos alunos responderam que não fizeram nenhuma compra significativa de móveis ou eletrodomésticos durante o ano de 2009; 61,7% fizeram de uma a três compras; 16,1% compraram por quatro ou seis vezes; 13,3% compraram mais de seis produtos significativos e 0,5% não respondeu essa questão. O excesso do hábito consumista é um dos fatores que mais contribui para o esgotamento das reservas naturais do planeta. Sendo assim, é importante que se evite a aquisição desnecessária de aparelhos que agregam alta tecnologia.                                    

A quinta categoria se referiu à produção e manejo dos resíduos. Na pergunta, “você procura reduzir a produção de resíduos”, 4,4% disseram sempre procurar reduzir; 45,6% somente às vezes se importam com a redução de resíduos; 29,4% raramente se preocupam com essa questão e 20,6% afirmaram que nunca procuram reduzir a produção de resíduos. Infelizmente, uma pequena parcela dos alunos se preocupa em reduzir a geração de resíduos. Já com relação à prática da compostagem, 59,4% disseram que nunca fizeram; 32,8% fazem às vezes; 6,1% praticam sempre e 1,7% não responderam a esta questão. Aliás, essa questão gerou muitas dúvidas, mostrando que os alunos ainda não tem conhecimento a respeito desse assunto.                                


O resultado da Pegada Ecológica individual mostrou que 46,1% dos estudantes necessitam de uma extensão de terra entre 4 e 6 hectares (ha) para sustentar o seu padrão de consumo; 52,8% precisam de 6 a 8 ha e 1,1% necessitam de 8 a 10 ha. Segundo o Relatório Planeta Vivo 2008, países como o Japão apresenta Pegada Ecológica per capita de 4,4 ha, o Brasil de 2,1 ha, Portugal 4,4 ha e os EUA 9,6 ha por pessoa para manter o padrão de consumo da população. A análise da Pegada Ecológica mostra que a biocapacidade global – isto é, a área do planeta disponível para produzir recursos e reter as emissões de CO2 – é, em média, de 2,1 ha por pessoa. Dessa forma, a Pegada Ecológica encontrada para os alunos está bem acima do que o planeta pode suportar.                                              

A renda familiar dos alunos está principalmente entre um e três salários mínimos (77,2%), seguido por três a cinco salários mínimos (8,9%); 5,6% recebem até um salário mínimo; 2,2% apresentam renda familiar com mais de cinco salários mínimos e 6,1% não apresentam essa informação no cadastro escolar. As informações sobre a moradia dos alunos mostram que 72,2% possuem casa própria, 18,9% moram em casa alugada, 8,33% residem em casa cedida e 0,6% não está com o sistema cadastral atualizado.

O potencial de redução do consumo depende, em parte, da situação econômica de cada indivíduo. Enquanto as pessoas que vivem no limiar da subsistência ou abaixo dele poderão ter de aumentar o seu consumo para escapar à pobreza, as pessoas mais ricas podem reduzir o seu consumo e mesmo assim melhorar a sua qualidade de vida (WWF, 2006).                          


O estilo de vida de cada pessoa é de fundamental importância para o desenvolvimento sustentável. Pequenas atitudes diárias podem coletivamente causar um impacto irreversível ao ambiente.  A Pegada Ecológica individual é considerada um indicador que faz uma estimativa na qual mostra até que ponto a maneira que os humanos vivem está de acordo com a capacidade do planeta.

Considerando que o ambiente escolar é constituído por pessoas que estão adquirindo conhecimento e valores que farão parte de seu comportamento no futuro, existe uma elevada preocupação com as atitudes atuais desses jovens.

Com os resultados da pesquisa, pode-se observar que a preocupação dos jovens com o meio ambiente é relativamente baixa. Geralmente, eles são induzidos pela sociedade capitalista a consumir bens e serviços que trarão benefícios imediatos sem considerar os benefícios futuros, seja no âmbito econômico ou social. Dessa forma, a preocupação com as questões ambientais nem sempre está envolvida na tomada de decisão em relação ao consumo. Nesse aspecto, é importante que os jovens recebam as informações necessárias para a prática do desenvolvimento sustentável. É essencial o reconhecimento que pequenas atitudes diárias realizadas coletivamente são suficientes para amenizar o impacto ambiental que os humanos estão causando no planeta.

Se continuarmos na nossa trajetória atual, até mesmo as previsões moderadas das Nações Unidas relativas à mudança, em termos de população, do consumo de alimentos e fibras e das emissões de CO2, sugerem que em 2050 a humanidade utilizará o equivalente a mais de dois planetas. Este grau de excesso coloca em risco não só a perda da biodiversidade, como também destrói os ecossistemas e a sua capacidade de fornecer recursos e serviços dos quais a humanidade depende.

Nesse sentido, a Educação Ambiental pode ser considerada um importante recurso para a execução de práticas mais sustentáveis. No ambiente escolar, a introdução de conceitos e atividades que buscam a melhoria da qualidade de vida deve tomar como base a realidade da comunidade atendida para que as práticas sejam realmente viáveis. A intenção é de garantir qualidade de vida para a nossa e para as futuras gerações, considerando valores e atitudes individuais e coletivas. Muitos dos grandes problemas ambientais que enfrentamos podem ser relacionados, direta ou indiretamente, com a apropriação e uso de bens, produtos e serviços, suportes da vida e das atividades de uma sociedade capitalista. O consumo exagerado ou consumismo passou a ser entendido como sinônimo de bem-estar e de felicidade. Entretanto, esse se tornou o principal causador de uma série de problemas sociais e ambientais.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Sabemos que nossa sobrevivência depende do consumo, da existência de alimentos, de uma fonte constante de energia, da disponibilidade de matérias-primas para os processos produtivos bem como da capacidade dos vários resíduos que produzimos serem absorvidos sem se constituírem em ameaça. Contudo, para assegurar a existência das condições favoráveis à vida, teremos que produzir e consumir de acordo com o que a Terra pode fornecer.

O uso excessivo de recursos naturais, o consumismo exagerado, a degradação ambiental e a grande quantidade de resíduos gerados são marcas deixadas por uma humanidade que ainda se vê fora e distante da Natureza. As escolhas individuais são necessárias para se reduzir a pegada da humanidade, mas não são suficientes. É preciso salientar a necessidade de se fazer mudanças no modo como vivemos coletivamente na busca da sustentabilidade.

O ambiente escolar pode ser considerado um meio poderoso na busca do desenvolvimento sustentável, uma vez que os integrantes dessa comunidade -incluindo pais, alunos, educadores e gestores da educação -  são verdadeiros multiplicadores de informações e atitudes. Portanto, atividades como palestras, oficinas e projetos devem fazer parte do cotidiano escolar na busca da formação de cidadãos mais conscientes e preocupados com o planeta em que vivem, na tentativa de reduzir os impactos ambientais causados pelo homem através do seu modo de vida.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CNUMAD (Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), 1992. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento: Agenda 21. Curitiba: IPARDES, 2001. 260 p.

 

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Agenda 21. Curitiba: IPARDES, 2001.

 

DIAS, G. F. Pegada Ecológica e sustentabilidade humana. São Paulo: Gaia, 2002. 257 p.

 

REES, W. Ecological footprints and appropriated carrying capacity: what urban economics leaves out. Environment and Urbanization, v. 4, n. 2, p. 121-130, 1992.

 

SANTOS, R. F. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004. 184 p.

 

SICHE, R.; AGOSTINHO, F.; ORTEGA, E.; ROMEIRO, A. Índices versus indicadores: precisões conceituais na discussão da sustentabilidade de países. Ambiente & Sociedade, Campinas, v. X, n. 2, p. 137-148, jul.-dez. 2007.

 

VAN BELLEN, H. M. Desenvolvimento sustentável: uma descrição das principais ferramentas de avaliação. Ambiente e Sociedade. Campinas, Brasil, v. 7, n. 1, p. 67-87, jan./jun. 2004.

 

WACKERNAGEL, M.; REES, W. Our Ecological Footprint: Reducing Human Impact on the Earth. Philadelphia, PA: New Society Publishers, 1996. 160 p.

 

WCED, World Commission on Environment and Development. Our Common Future. Oxford, U.K.: Oxford University Press, 1987. 383 p.

 

WWF, World Wildlife Fund (Brasil). Pegada ecológica: que marcas queremos deixar no planeta? Texto: Mônica Pilz Borba; Coordenação: Larissa Costa e Mariana Valente; Supervisão: Anderson Falcão – Brasília: WWF Brasil, 2007. 38 p.

 

WWF, World Wildlife Fund. Relatório Planeta Vivo 2006. WWF Internacional, Sociedade Zoológica de Londres e Rede Global da Pegada Ecológica, 2006. 40 p. Disponível em: <http://www.assets.wwf.org.br/downloads/wwf_brasil_planeta_vivo_2006.pdf. Acesso em: 20 set. 2012.

 

WWF, World Wildlife Fund. Relatório Planeta Vivo 2008. WWF Internacional, Sociedade Zoológica de Londres e Rede Global da Pegada Ecológica, 2008. 44 p. Disponível em: < http://www.wwf.org.br/index.cfm?uGlobalSearch=relatorio+2008>. Acesso em: 20 set. 2012.

 

Ilustrações: Silvana Santos