Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Podcast(1) Dicas e Curiosidades(5) Reflexão(6) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(11) Dúvidas(1) Entrevistas(2) Divulgação de Eventos(1) Sugestões bibliográficas(3) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(2) Soluções e Inovações(3) Educação e temas emergentes(6) Ações e projetos inspiradores(24) Cidadania Ambiental(1) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Relatos de Experiências(1) Notícias(26)   |  Números  
Artigos
04/09/2014 (Nº 49) ANÁLISE DA EXPOSIÇÃO SOBRE AS ATIVIDADES DAS AULAS DE CAMPO NOS ECOSSISTEMAS RECIFAIS
Link permanente: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=1877 
  

ANÁLISE DA EXPOSIÇÃO SOBRE AS ATIVIDADES DAS AULAS DE CAMPO NOS ECOSSISTEMAS RECIFAIS

 

Alana Priscila Lima de Oliveira1, Monica Dorigo Correia2 e Hilda Helena Sovierzoski3

 

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática,  da Universidade Federal de Alagoas, lanapry4@gmail.com.

2 Professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática; Grupo de Pesquisa em Comunidades Bentônicas, Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de Alagoas, monicadorigocorreia@gmail.com.

3 Professora do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática; Grupo de Pesquisa em Comunidades Bentônicas, Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de Alagoas, hsovierzoski@gmail.com.

 

 

RESUMO

O presente trabalho visou analisar as atividades realizadas durante um dia temático de apresentações e exposições de materiais produzidos por alunos, a partir das aulas de campo desenvolvidas em ecossistemas recifais, assim como identificar as impressões dos estudantes após as apresentações na escola. A questão ambiental foi abordada pelos alunos no material produzido como murais, maquetes e paródias, que destacaram além das características dos recifes e dos seres vivos estudados durante as aulas de campo, as condições de conservação e os impactos ambientais encontrados nos locais visitados.

 

PALAVRAS-CHAVE: aprendizagem; aulas de campo; ecossistemas recifais, educação ambiental.


 

 


INTRODUÇÃO

 

 

As aulas de campo e o ensino por investigação

 

Pesquisas demonstram que para a realização das aulas sobre ciências naturais e nas disciplinas relacionadas ao meio ambiente existem dois tipos de metodologias que podem ser utilizadas: a aula teórica expositiva e a aula prática, realizada na forma de atividades experimentais em sala de aula, laboratório ou com aulas de campo (KRASILCHIK, 2004; SENICIATO, 2006).

O ensino por investigação busca respostas para um determinado problema e se torna uma forma mais interessante de estudar, saindo de um método rígido e procurando formas mais criativas de aprendizagem. Para que haja construção dos conhecimentos científicos, podem-se utilizar metodologias diversas e que apresentam características muitas vezes distintas das usualmente utilizadas (GIL-PEREZ et al., 2001; CACHAPUZ et al., 2005; AZEVEDO, 2010).

O papel do professor na condução dessas atividades de investigação deve ser de suma importância, sendo necessário estar atualizado com as questões científicas e inovações, buscando sempre questioná-las e discutir sobre os assuntos na busca de uma melhoria na prática de trabalho. A busca por atividades e metodologias que propiciem nos alunos uma aprendizagem mais significativa, despertando neles a curiosidade para descobrir e construir os próprios conhecimentos deve fazer parte nas aulas das áreas de ciências e biologia (BONZANINI; BASTOS, 2009; CARVALHO, 2010).

As aulas de campo têm sido destacadas por muitos professores como um momento em que se pode levar o aluno da teoria à prática, utilizando os inúmeros recursos naturais que os mais variados ambientes podem oferecer. Assuntos relacionados à ecologia e ação antrópica no ambiente, os seres vivos com suas adaptações e classificação tem apresentado um forte potencial na realização destas atividades práticas. Existe consenso sobre os ganhos afetivos e o maior interesse dos alunos, especialmente no que se referem à sensibilização das questões ambientais e de saúde (KRASILCHIK, 2004; MARANDINO et al., 2009).

A associação de várias disciplinas voltadas para o meio ambiente tem sido relatada como algo benéfico na realização desse tipo de atividade, sendo as aulas de campo consideradas propícias à integração dos diversos conteúdos, seja de uma mesma série ou entre diversas disciplinas (VIEIRA, 2005).

A integração de experiências, atividades e acontecimentos exteriores ao ambiente escolar como formas de dinamizar o ensino e a aprendizagem tem sido buscada por vários profissionais da educação, dirigindo aprimorar a visão da escola como responsável pela construção do conhecimento (MARANDINO, et al., 2010).

Paulino Filho (2004) destacou que:

 

É preciso que o trabalho que se realiza na sala de aula contribua para a construção de competências, habilidades e atitudes nos alunos, necessárias à sua participação na sociedade e no mundo do trabalho, de forma mais construtiva, crítica e socialmente responsável (PAULINO FILHO  et al., 2004, p. 267).

 

A interação com o ambiente estudado permite ao aluno uma aprendizagem significativa, pois a aula de campo, por levar os alunos à realidade do ambiente, configura ser uma importante ferramenta para a formação de indivíduos comprometidos com a preservação ambiental. Essa prática também facilita a aquisição dos conteúdos sobre o tema em questão referente ao ecossistema recifal, sendo mais facilmente adquiridos quando expostos para os alunos em aulas de campo, além de contribuir para a conscientização dos mesmos frente aos problemas ambientais, o que ajudam em iniciativas de preservação dos ecossistemas recifais (OLIVEIRA et al., 2009; OLIVEIRA; CORREIA, 2013).

Barcelos (2010) destacou a importância de criar novas metodologias que auxiliem a formar espaços de convivência entre os seres humanos e os demais seres vivos, sendo essa prática de suma importância para a educação ambiental. As aulas de campo levam o aluno a aprender e entender a dinâmica do local estudado por meio da visita ao ambiente, promovendo atitudes de respeito e solidariedade, desenvolvidas a partir do conhecimento e estímulos a consciência ambiental.

Ter experiência com o ambiente torna-se fundamental para aquisição de anseios de cuidado e preservação pelo planeta. Estudar nos livros e na sala de aula restringe os alunos ao encantamento e sentimento frente a tudo aquilo que uma aula de campo pode proporcionar. As agressões que acontecem e que se observam no nosso cotidiano devem servir de alerta para que seja ampliada a preocupação e o desenvolvimento de uma consciência ambiental necessária para agir em benefício da natureza (GADOTTI, 2009).

 

Os ecossistemas recifais

 

A escolha dos ecossistemas recifais para a realização dessa pesquisa torna-se relevante devido a grande concentração e importância ambiental que essas áreas possuem no litoral de Alagoas. Os recifes formam ecossistemas com grande diversidade de espécies marinhas e recursos naturais, apresentando importância ecológica, econômica e social, além de formarem proteção para a linha de costa (CORREIA; SOVIERZOSKI, 2005; MMA, 2007).

Entre os diferentes tipos de ecossistemas recifais existem dois tipos que ocorrem no litoral de Alagoas: o recife de coral e de arenito. Os recifes de coral são formações calcárias formadas por esqueletos de corais, associados a algas calcárias, além de outras estruturas de carbonato de cálcio como carapaças e conchas, apresentando em geral aspecto circular ou elíptico. A estrutura dos recifes de arenito deve-se a consolidação de antigas linhas praias ou a bancos de areia consolidada, à custa de sedimentação com carbonato de cálcio ou óxido de ferro, formando faixas paralelas à linha de costa (CORREIA; SOVIERZOSKI, 2009).

Existem vários impactos ambientais que levam à degradação dos ecossistemas recifais e a destruição da biodiversidade marinha, como a captura e comércio ilegal de invertebrados e peixes, a descaracterização de habitats, o crescimento desordenado das cidades acarretando a poluição costeira, além do turismo desordenado e inadequado nas áreas recifais (AMARAL; JABLONSKI, 2005; CORREIA; SOVIERZOSKI, 2008; MMA, 2010). Esses ecossistemas apresentam lenta recuperação frente às agressões provocadas pelo homem que podem ser constatadas facilmente (OLIVEIRA et al., 2009; SILVA et al., 2013). Fatos como esses foram elencados por alunos do ensino fundamental, os quais caracterizaram a biodiversidade e os impactos ambientais existentes em dois ecossistemas recifais bastante conhecidos no litoral de Alagoas (OLIVEIRA; CORREIA, 2013).

O presente trabalho visou analisar os resultados obtidos a partir de atividades desenvolvidas em aulas de campo nos ecossistemas recifais do litoral de Alagoas, região nordeste do Brasil, as quais foram compartilhadas durante um dia temático por meio de apresentações e exposições de materiais produzidos pelos alunos do 3º ano do Ensino Médio, assim como identificar as impressões dos demais estudantes visitantes após as apresentações na escola.

 

 

METODOLOGIA

Esse trabalho foi realizado com alunos do Ensino Médio, em uma escola pública estadual no município de São Miguel dos Campos, Estado de Alagoas. A pesquisa de caráter qualitativo e quantitativo foi desenvolvida em forma de projetos interdisciplinares, envolvendo as disciplinas de artes, português, biologia, geografia, sociologia e filosofia.

Inicialmente, houve a realização de aulas teóricas expositivas em sala de aula com a participação de 38 alunos do 3° ano do Ensino Médio, quando foram abordados os temas biomas, ambientes e os ecossistemas recifais. Posteriormente, esses mesmos alunos participaram de duas aulas de campo, no recife de coral da Ponta Verde no município de Maceió e no recife de arenito do Francês, em Marechal Deodoro, ambos localizados no litoral central de Alagoas, nordeste do Brasil (CORREIA; SOVIERZOSKI, 2009). Durante essas aulas de campo, os estudantes realizaram observações, anotações e obtiveram imagens do local, incluindo os seres vivos encontrados nos ambientes mencionados.

A partir do material obtido, foi proposto aos estudantes que eles apresentassem uma exposição na própria escola, durante uma atividade diferenciada na forma de um dia temático, para que os alunos das demais turmas visualizassem os trabalhos produzidos, assim como os resultados obtidos a partir das aulas teóricas e das atividades de campo desenvolvidas.

A atividade foi realizada no pátio da escola, onde os alunos proporcionaram esse momento para os demais estudantes de outros anos. As turmas visitaram a exposição uma de cada vez, visando assim atrair maior atenção por parte dos alunos para o entendimento da apresentação. O tema adotado para essa exposição foi “Os ecossistemas recifais: vida e preservação”.

          A turma A apresentou no dia 11 de julho de 2012, enquanto que a turma B realizou a atividade no dia 13 de julho do mesmo ano. Cada uma delas ficou responsável por:

v  Construção de uma maquete do recife visitado;

v  Elaboração de murais com textos e imagens obtidas nas aulas de campo;

v  Criação de uma paródia que descrevesse a atividade realizada.

 

Com o intuito de valorizar o trabalho de cada turma, determinou-se para a turma A ficar responsável por apresentar o recife de arenito do Francês, sendo que a turma B apresentou o recife de coral da Ponta Verde. Os alunos organizaram no espaço do pátio da escola estandes para fixação dos painéis e uma mesa para a instalação das maquetes produzidas. Posteriormente, na sala de aula foram realizadas entrevistas com os alunos do 3º ano que participaram de todas as atividades realizadas.

As impressões dos alunos que visitaram as exposições foram captadas por meio de entrevistas estruturadas e aplicadas pelos próprios alunos do 3º ano envolvidos, visando obter uma amostra representativa das turmas visitantes. Comparou-se também a capacidade dos alunos de outras séries em perceberem a importância do trabalho realizado pelas duas turmas do 3º ano (MARCONI; LAKATOS, 2010).

Os dados obtidos foram analisados e expressos em porcentagem para melhor visualização e quantificação dos mesmos (DELIZOICOV; ANGOTI, 1994; GIL, 1999). As justificativas, quando citadas pelos alunos durante as entrevistas, foram categorizadas após serem efetuadas as análises de conteúdo e expressas em tabelas, de acordo com a metodologia proposta por Bardin (2004).

 

 

RESULTADOS

Apresentação e Exposição

 

A turma A responsável pela apresentação sobre o recife de arenito do Francês elaborou uma maquete representando o referido ecossistema estudado que foi exposta de forma central (Figura 1), entre cinco painéis com imagens desse ecossistema recifal, seres vivos visualizados e alguns textos explicativos (Figura 2).

 


 

DSC00080

DSC00081

Figura 1: Maquete produzida pelos alunos do 3° Ano Turma A sobre o recife de arenito do Francês, localizado no litoral central de Alagoas, Brasil.

 

DSC00082

DSC00085

DSC00089

DSC00087

DSC00091

Figura 2: Cartazes apresentados na exposição sobre o recife de arenito do Francês, localizado no litoral central de Alagoas, Brasil.

 

 


Com base na mesma metodologia, os discentes da turma B criaram uma maquete do trecho visitado do recife de coral da Ponta Verde que ficou exposta no meio do pátio para visualização (Figura 3), além de três painéis sobre este recife com textos e imagens obtidas durante a aula de campo em questão (Figura 4).  

 

 


DSC00108

 

 

Figura 3: Maquete representando o recife de coral da Ponta Verde, localizado no litoral de Maceió, Alagoas, Brasil.

 

 

DSC00102

DSC00100

DSC00104

Figura 4: Cartazes apresentados na exposição sobre o recife de coral da Ponta Verde, localizado no litoral de Maceió, Alagoas, Brasil.

           

 

Nos painéis confeccionados prevaleceram imagens que retrataram os ecossistemas recifais visitados, com as belezas naturais e os impactos antrópicos, alguns com legendas explicativas detalhadas, caracterizando dessa forma a pesquisa realizada pós-aula de campo. As maquetes foram criadas com base nos modelos das estruturas visualizadas em cada um dos ambientes recifais, como currais de pesca e a praia, além de seres vivos encontrados.

Os alunos das duas turmas também criaram e apresentaram duas paródias elaboradas por eles próprios para retratar os conhecimentos adquiridos nas aulas e atividades em campo (Quadro 1).  

 

Quadro 1: Paródias criadas pelos alunos acerca dos ecossistemas recifais visitados.

Recife de Arenito do Francês

 

Tenho uma história para te contar

De um passeio na Praia do Francês

A nossa sala venho confirmar

Todas as coisas que ali está

Vimos tantos animais

Seres que ali estavam no recife de arenito

 

Coro

Recifes quero visitar

Eu quero cuidar

Para que ninguém o destrua (2x)

 

Que habite em nós o mesmo sentimento

De preservar e de não acabar

Com as riquezas que ali existentes

Tem para nos encantar

E não podemos jogar lixo na beira do mar

Para ele não arrastar.

 

Oh oh oh!

Cuidar é o meu dever

Cuidar é o nosso dever

Estrela-do-mar, ouriços, algas, esponjas, peixes todos habitam lá (4x)

 

Recife de Coral da Ponta Verde

 

Aquela terça viajei com a galera pra praia

Pensei que era sonho o estudo apenas começava

Os alunos na aula de campo estavam concentrados, pois aquilo valia ponto

 

Os caras me perguntando:

E aí mano você tá legal?

Estou observando os moluscos desse local

Degradação é mal, lixo não é bom sinal

Como ajudar e preservar os recifes desse local?

 

Que poluição é essa aqui

Querem admitir, agora é tarde, tarde, tarde

Qual é, os professores ensinaram

Cena após cena

Passo a passo que presenciaram

 

Mano foi um estudo muito legal

A gente escreveu

Tiramos foto daquele local

Na Ponta Verde e tal

Sentido ao centro 10 da manhã

Lembrei daquele momento

Vários alunos, maior carreata

E eu logo atrás, estudando os tipos de algas

 

 


As paródias foram cantadas ao final das apresentações dos painéis e maquetes pelas duas turmas e entregues por escrito. Essas paródias revelaram a grande preocupação ambiental que os alunos adquiriram após a realização das aulas e das atividades. Trechos como “Recifes quero visitar, Eu quero cuidar, Para que ninguém o destrua” da turma A e “Degradação é mal, lixo não é bom sinal, Como ajudar e preservar os recifes desse local?” da turma B, evidenciaram que as aulas contribuíram para o aumento da preocupação com a preservação dos recifes, demonstrando que esses alunos passaram a se preocupar em cuidar e preservar os ecossistemas recifais.

           

Análise da Participação dos Alunos

 

Após a realização da exposição, os 38 alunos que estavam apresentando as produções foram entrevistados a partir de questionários para verificar as respectivas impressões acerca das aulas e das atividades desenvolvidas durante todas as etapas. Essas entrevistas apresentaram um formato estruturado, onde foi possível os estudantes responderem abertamente sobre as questões apresentadas.

Inicialmente, os alunos do 3ª foram questionados a respeito da aprendizagem por meio da metodologia adotada durante as aulas de campo, sendo que 100% dos participantes consideraram ter aprendido o conteúdo abordado.

Dentre as justificativas apresentadas pelos alunos do 3° ano que promoveram e ampliaram a aprendizagem sobre os ecossistemas recifais, a turma A considerou ver o conteúdo na prática como o principal aspecto positivo. Entretanto, os alunos da turma B além de enfatizarem essa mesma resposta, também escolheram outras três opções, como descritas abaixo na Tabela 1.

 


Tabela 1: Justificativas que ampliaram a aprendizagem dos conteúdos dos alunos do 3°ano durante as aulas de campo nos ecossistemas recifais.

CATEGORIAS

    TURMA A

       TURMA B

 

No de   Alunos

  %

 No de   Alunos

 %

 

Ver o conteúdo na prática

15

88

9

43

 

Aula diferente

2

12

6

29

 

Interesse nos conhecimentos abordados

0

0

4

19

 

Boas explicações

0

0

2

9

 

Total

17

100

21

100

 

 

 


Na segunda pergunta os alunos responderam sobre qual a metodologia utilizada que despertou maior preferência. Nessa questão nenhum aluno mencionou a aula teórica, tendo-se verificado na turma A que 82% dos alunos citaram as aulas de campo, 7% a exposição das atividades e 11% se referiram as três metodologias empregadas. Na turma B foi constatado que 62% dos alunos optaram pelas aulas de campo, 28% pela realização da exposição e 10% escolheram as três metodologias utilizadas (Figura 5).


 

Figura 5: Caracterização da preferência dos alunos pelas metodologias utilizadas.

 

 


A grande maioria dos alunos de ambas as turmas afirmaram que gostaram de participar do dia temático de exposição do material produzido após as aulas de campo. Na turma A, 94% dos alunos afirmaram que sim, sendo que na turma B todos os alunos afirmaram que o momento de exposição foi gratificante (Figura 6).


 

Figura 6: Interesse dos alunos em apresentar um dia temático sobre o material produzido na escola a partir das aulas de campo.

 


Essa questão verificou o que os alunos julgavam ter sido mais importante durante as aulas de campo. Entre as respostas citadas destacou-se o aprendizado e conhecimento adquirido com um total de 79% da opinião dos alunos da turma A, sendo que outros 16% relataram a importância da preservação e 5% citaram ver os seres no ambiente. Na turma B foi constatado que 45% dos alunos destacaram o aprendizado e conhecimento, 35% optaram por ver os seres no ambiente, 8% indicaram a preservação do ambiente e 12% citaram outras opções (Figura 7).


 

Figura 7: Relação dos itens mais importantes constatados pelos alunos durantes as aulas de campo.

 

 


Quando os alunos foram questionados se conheciam os ecossistemas recifais visitados antes da realização das aulas de campo em questão, pode-se verificar que 59% dos alunos da turma A nunca haviam estado nos referidos ambientes, tendo-se encontrado um maior número de alunos, representado por 76% na turma B (Figura 8). 


 

Figura 8: Conhecimento dos locais visitados antes da realização das aulas de campo.

 

 


Entre os alunos que já tinham estado nos ecossistemas recifais visitados todos afirmaram que após a realização das aulas de campo, a visão sobre esses ambientes havia sido modificada, sendo que a maioria das duas turmas destacou a importância da preservação do ambiente como principal motivo para a mudança de visão. Também foi citado em menor número uma maior cautela com relação aos recifes e o conhecimento do local (Figura 9).  

 

Figura 9: Motivos para mudança de visão com relação aos recifes.

 


 

Entrevistas com os Alunos Visitantes

 

            Os alunos que assistiram e visitaram a exposição no pátio da escola também foram entrevistados, os quais incluíram um total de 46 estudantes ouvidos. Com base nas respostas desses constatou-se que a maioria afirmou identificar a importância dos recifes e que tais ambientes não estavam preservados. Demonstraram interesse em ter aulas de campo, sendo que somente uma pequena porcentagem já tinha participado de aulas de campo, porém a maioria afirmou aprender muito melhor o conteúdo por meio da aula de campo (Tabela 2). Esses resultados foram bastante positivos, pois com base nas apresentações expostas pelos alunos dos 3º anos, os dados obtidos demonstraram que os mesmos atingiram o objetivo e ampliaram o conhecimento dos alunos visitantes sobre os ecossistemas recifais.

 


 

Tabela 2: Opinião dos alunos visitantes à exposição apresentada pelo 3º Ano sobre Ecossistemas Recifais.

Categorias

  % Sim

  % Não

+ ou -

Importância dos Recifes

89

11

0

Preservação dos Recifes

24

67

9

Interesse por Aulas de Campo

98

0

2

Participação em Aulas de Campo

30

70

0

Aprendizagem por meio da Aula de Campo

98

0

2

 


Os alunos que afirmaram que gostariam de participar de aulas de campo deram como justificativa vários fatores, como o local diferente para visitação, facilidade de aprender o conteúdo vendo “ao vivo”, entre outros. Ao todo foram quatro motivos elencados, os quais foram categorizados e expressos na Tabela 3.


 

Tabela 3: Motivos para a ida a campo segundo os alunos das turmas visitantes na exposição.

Categorias

   Quantidade

  %

Aula diversificada

9

20

Incentivo a preservação

3

7

Conhecimento prático

6

13

Melhorar a aprendizagem

18

40

Não justificaram

9

20

Total

45

100

 

 

Os alunos que já tinham estado em aulas de campo relataram algumas das disciplinas nas quais os professores os levaram para realização dessas atividades, as quais na grande maioria envolveram disciplinas que eram ligadas às Ciências Naturais (Tabela 4).

 


Tabela 4: Disciplinas relatadas pelos alunos visitantes nas quais participaram de atividades de campo.

Categorias

   Quantidade

 %

Ciências Naturais

7

63

Geografia

1

9,5

História

1

9,5

Português

2

18

Total

11

100

 

 

 


DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

 

A partir do material produzido e exposto pelos alunos das duas turmas do 3º ano pôde-se perceber que por meio das aulas de campo realizadas, esses alunos demonstraram interesse em obter mais informações para apresentar o tema estudado da melhor forma possível. Nos painéis confeccionados prevaleceram imagens que retrataram os ecossistemas recifais visitados, com as belezas naturais e os impactos antrópicos, alguns com legendas explicativas detalhadas, caracterizando dessa forma a pesquisa realizada. As aulas de campo serviram também como marco inicial para os alunos buscarem e estudarem mais sobre os ambientes recifais e os seres vivos observados. Diversos autores demonstraram que a ida a campo estimulou a busca pelo conhecimento e que a aula aplicada por meio dessa metodologia incentiva a aprendizagem dos alunos (VIEIRA, 2005; SENICIATO, 2006; OLIVEIRA et al., 2009; OLIVEIRA; CORREIA, 2013).

Nas maquetes, os alunos recriaram os modelos das estruturas visualizadas em cada um dos ambientes recifais, como currais de pescas e a praia, além de seres vivos encontrados. A forma de apresentação das mesmas chamou bastante atenção já que os estudantes demonstraram segurança ao produzirem as maquetes com detalhes. Paulino Filho (2004) destacou que o estímulo para a produção de material pelos alunos deve ser de suma importância no processo ensino-aprendizagem, como foi observado no presente trabalho.

As paródias produzidas pelos alunos apresentaram a preocupação com o ambiente após a realização das aulas, além de destacarem a visualização dos diversos seres vivos encontrados. As atividades relacionadas à educação ambiental, segundo Barcelos (2010) quando realizadas fora da sala de aula, podem trazer vários benefícios, sendo consideradas boas alternativas para serem empregadas e implementadas na ampliação desse contexto educativo.

Em ambas as turmas todos os alunos consideraram ter aprendido o conteúdo ministrado e evidenciaram como aspecto mais importante para as justificativas apresentadas, o fato de ter visto o conteúdo de forma prática durante as aulas de campo. Muitos pesquisadores têm destacado que estudar determinados conteúdos de maneira mais prática levou os alunos a uma aprendizagem mais significativa (AZEVEDO, 2010; CACHAPUZ et al., 2005; CARVALHO, 2010; CARVALHO; GIL-PEREZ, 2011). O segundo aspecto mais citado foi com relação à aula de campo ser uma forma diferente de passar os conteúdos, saindo da forma tradicional de apresentação teórica dos conteúdos. Krasilchik (2004) e Marandino et al. (2009) afirmaram que o uso de metodologias diferentes no ensino de disciplinas nas áreas de ciências atraem a atenção dos alunos, promovendo assim resultados mais favoráveis no processo ensino-aprendizagem, fato comprovado no decorrer dessa pesquisa.

A maioria dos alunos mencionou as aulas de campo como a atividade que mais gostaram durante todo o processo realizado, justamente por ser algo novo para eles, sendo uma forma diferente de ensino quando comparada a habitual aula teórica. Estudos demonstraram que os alunos ficaram bem receptivos no emprego de atividades de campo como metodologia de ensino (OLIVEIRA; CORREIA, 2013).

O envolvimento dos alunos, observado na realização das atividades propostas e os resultados obtidos em termos de aprendizagem evidenciou que as atividades em conjunto, aulas de campo, pesquisa e apresentações levaram a construção do conhecimento ampliado como destacado por Paulino Filho (2004).

Grande parte dos alunos envolvidos destacou que desconheciam os recifes estudados antes da realização das aulas de campo, apesar da proximidade dos locais escolhidos. Aqueles alunos que já conheciam modificaram a visão com relação aos ecossistemas visitados, pois passaram a vê-los de forma mais criteriosa, pensando em uma forma de preservação e percebendo a importância que esses ambientes representam. Gadotti (2009) afirmou que a educação é responsável pela formação de cidadãos conscientes com o meio ambiente, como comprovado com a realização desse trabalho. Esse fato proporcionou aos alunos verem com outros olhos o ambiente que os rodeia e mesmo aqueles que já o conheciam foram capazes de perceber que os recifes são muito mais do que estruturas no ambiente costeiro, pois apresentam uma grande importância ecológica, sendo que a manutenção do equilíbrio desses ambientes depende em muito da ação de cada individuo quando usufrui tais locais.

As imagens negativas que retrataram as agressões ambientais chamaram mais atenção do que as positivas, demonstrando que a exposição também serviu para despertar nos alunos visitantes a preocupação com o ambiente em questão, assim como a necessidade do uso sustentável dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente. Oliveira et al. (2009) destacaram que a participação de alunos e professores em pesquisas sobre os ecossistemas recifais, os tornou mais curiosos sobre o tema, levando-os a querer conhecer melhor esse ambiente costeiro e como melhor preservar. Acredita-se que a exposição tenha levado os alunos visitantes a refletirem sobre o estado de conservação dos ecossistemas recifais brasileiros, em especial os alagoanos, servindo como uma sementinha na busca por atitudes mais conscientes para preservação da natureza como um todo.

Os alunos visitantes da exposição também demonstraram grande expectativa com relação a atividades de campo. Eles relataram também que por meio dessa metodologia o aluno aprende com mais facilidade. Atividades de investigação e que buscam a construção do conhecimento pelo aluno, como a utilizada na presente pesquisa, tem sido destacadas como fundamentais no processo de ensino-aprendizagem (CACHAPUZ, et al., 2005).

Os professores precisam investir nessa forma de trabalhar, considerando todas as áreas além das relacionadas às ciências, pois todas as disciplinas dispõem de metodologias para realizar atividades práticas. Apesar disso, como evidenciado no decorrer desse trabalho, foi constatado que grande parte dos professores que realizam aulas de campo pertencem as áreas das ciências (MARANDINO et al., 2009).

 

 

REFERÊNCIAS

 

AMARAL, A. C. Z.; JABLONSKI, S. Conservação da biodiversidade marinha e costeira no Brasil. Revista Megadiversidade, 1 (1), 43-51, 2005.

 

AZEVEDO, M. C. P. S. Ensino por investigação: problematizando as atividades em sala de aula. In: CARVALHO, A. M. P. (Org.). Ensino de Ciências: unindo a pesquisa e a prática. São Paulo: Cengage Learning, 1-19, 2010.

 

BARCELOS, V. Educação ambiental: sobre princípios, metodologias e atitudes. 3 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

 

BARDIN, L.. Análise de conteúdo. 3 ed. Lisboa: Edições, 2004.

 

BONZANINI, T. K.; BASTOS, F. Formação continuada de professores de ciências: algumas reflexões. Anais do VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC), http://posgrad.fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/644.pdf, 2009.

 

CACHAPUZ, A.; GIL-PEREZ, D.; CARVALHO, A.M.C.; PRAIA, J.; VILCHES, A. (Orgs.). A necessária renovação do ensino das ciências. São Paulo: Cortez, 2005.

 

Carvalho, A. M. P. Critérios estruturantes para o ensino das ciências. In:_____Ensino de ciências: unindo a pesquisa e a prática. São Paulo: Cengage Learning, p.1-19, 2010.

 

CARVALHO, A. M. P.; GIL-PEREZ, D. Formação de Professores de Ciências: tendências e inovações. 10ª Ed. São Paulo: Cortez, 2011.

 

CORREIA, M. D.; SOVIERZOSKI, H. H. Ecossistemas Marinhos: recifes, praias e manguezais. Série Conversando sobre Ciências em Alagoas. Maceió: Edufal, 2005.

 

CORREIA, M. D.; SOVIERZOSKI, H. H. Gestão e Desenvolvimento Sustentável da Zona Costeira do Estado de Alagoas, Brasil. Revista de Gestão Costeira Integrada, 8(2), 25-45, 2008.

 

CORREIA, M. D.; SOVIERZOSKI, H. H. Ecossistemas Costeiros de Alagoas – Brasil. Rio de Janeiro: Technical Books, 2009.

 

DELIZOICOV, D; ANGOTTI, P.A.J. Metodologia do Ensino de Ciências. São Paulo: Cortez, 1994.

 

GADOTTI, M. Educar para a Sustentabilidade: uma contribuição à década da educação para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009.

 

GIL, A. C.. Métodos e técnicas em pesquisa social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.

 

GIL-PEREZ, D.; FERNÁNDEZ, I.; CARRASCOSA, J.; CACHAPUZ, A.; PRAIA, J. Por uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação, 7 (2), 125-153, 2001.

 

KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. 4ª Ed. Rev. e ampl., 2ª reimp. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.

 

MARANDINO, M.; SELLES, S. E.; FERREIRA, M. S. Ensino de Biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009.

 

MARANDINO, M; SILVA, A.C.B; SCARPA, D; CRÉTÉ, A.R.M; ONODA, C.M; FILHO, L.R.S; BARROS,L.C; SILVA, M.B; OLIVEIRA, M.C; JUNIOR, N.B. Montagem de uma exposição escolar: articulação entre escola e universidade. V Congresso Iberoamericano de Educación em Ciências Experimentales. Revista da SBEnBio, 03, 2010.

 

MARCONI, M. A., LAKATOS, E. M. Metodologia Científica. 7 ed. São Paulo: Atlas, 2010.

 

MMA - Ministério Do Meio Ambiente. Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA n. 09, de 23 de janeiro de 2007. Série Biodiversidade, 31, 2007.

 

MMA - Ministério Do Meio Ambiente. Gerência de Biodiversidade Aquática e Recursos Pesqueiros. Panorama da conservação dos ecossistemas costeiros e marinhos no Brasil. Brasília: MMA/SBF/GBA, 2010.

 

OLIVEIRA, A. P. L; CORREIA, M. D. Aula de Campo Como Mecanismo Facilitador do Ensino-Aprendizagem sobre os Ecossistemas Recifais em Alagoas. Alexandria Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, 6 (2), p. 163-190, 2013.

 

OLIVEIRA, A. C. S.; STEINER , A. Q.; AMARAL, F. D.; SANTOS, M. F. A.V. Percepção dos ambientes recifais da praia de boa viagem (Recife/PE) por estudantes, professores e moradores. Ciência & Tecnologia, 9 (2), 136, 2009.

 

PAULINO FILHO, J.; NUÑEZ, I.B.; RAMALHO, B.L. Ensino por projetos: uma alternativa para a construção de competências no aluno. In: NUÑEZ, I.B.; RAMALHO, B.L (orgs.). Fundamentos do Ensino-Aprendizagem das Ciências Naturais e da Matemática: o Novo Ensino Médio. Porto Alegre: Sulina, 2004.

 

SENICIATO, T. A formação de valores estéticos em relação ao ambiente natural nas licenciaturas em ciências biológicas da UNESP. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências da UNESP/Campus de Bauru, 2006.

 

SILVA, L. M.; CORREIA, M. D.; SOVIERZOSKI, H. H. Percepção Ambiental sobre os Ecossistemas Recifais em duas Diferentes Áreas do Litoral Nordeste do Brasil. Revista de Educação Ambiental em Ação, 45,1-13, 2013.

VIEIRA, V. S. Análise de espaços não formais e sua contribuição para o ensino de Ciências. Tese de Doutorado. Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2005.

Ilustrações: Silvana Santos