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Parceria:
uma atitude fortalecida pela Educação Ambiental
Berenice
Gehlen Adams Parceria
significa reunião de indivíduos que se agregam por um determinado fim,
portanto, que têm objetivos em comum. Este conceito é fundamental para todo
e qualquer tipo de atividade que possamos desenvolver. Aplicado
à educação, o conceito de parceria revela-se como essencial para que seja
possível melhorar a qualidade do sistema educacional. Apesar de tão
importante, percebe-se que este conceito é, muitas vezes, excluído ou
esquecido entre grupos de educadores, quando se sobressaem atitudes
individualistas e competitivas. A dificuldade do estabelecimento da
interdisciplinaridade nas ações educacionais confirma que: cada professor
está mais preocupado com a sua disciplina, com seus alunos, com seu
planejamento; assim como cada membro da escola está preocupado em exercer sua
função específica, e o que foge da sua “especialidade” é repassado
para o “devido responsável”. Não
que isto esteja “errado”, afinal, a escola é um espaço fragmentado,
departamentalizado, mas a forma como são jogados, de um para o outro, os
“problemas” relacionados ao cotidiano escolar, deixa transparecer o
individualismo. Se
formos observar criteriosamente as ações educativas veremos que a escola está
longe de alcançar seu objetivo pleno que é o de proporcionar aos sujeitos as
condições favoráveis para o seu desenvolvimento e aprendizado. Isto porque
a escola não sabe como lidar com a diversidade que abarca o seu público. Ao
questionarmos a finalidade da educação e da escola propriamente dita, que é
a de oportunizar o aprendizado sistemático, disseminar conhecimento, ampliar
horizontes, desenvolver habilidades e atitudes, percebemos que somente será
possível alcançar este objetivo se houver forte parceria entre os pares do
contexto educativo. Infelizmente, esta não é a realidade que perpassa o espaço
escolar.
O atual sistema educacional está fortemente atrelado à sociedade do consumo, que privilegia a competitividade e o individualismo, com raras exceções. Se esta sociedade da qual fazemos parte é excludente, capitalista, privilegia o “ter” sobre o “ser”, então se conclui que não existe uma educação para a cidadania, para a solidariedade e para uma integração social que permita uma vida digna para todos.
Uma
educação que resulta de verdadeiras parcerias, ou seja, aquela que não
oculta outros objetivos que se rendem a interesses outros, é aquela que
desenvolve o senso da cidadania, da fraternidade, privilegiando ações e
atividades voltadas para o desenvolvimento de posturas éticas. Ora, se o
nosso sistema social apresenta inúmeros problemas referentes às questões de
gênero, etnia, pré-conceitos, onde padrões de comportamento são pré-determinados
pela mídia, excluindo a maioria da população - normalmente definida como
“povo”, ou “povão”, como se estes não fizessem parte da sociedade
pela negação dos mais favorecidos – então a educação não está
cumprindo o seu papel. A sociedade reflete o que perpassa a educação e
revela o “culto oculto” ao individualismo e à competitividade. Para
JUNQUEIRA*,
“no
contexto de uma sociedade globalizada é senso comum que não se pode
sobreviver sem a colaboração de parceiros; no âmbito educacional onde o
compartilhamento do conhecimento se torna o objetivo principal, a importância
ainda é mais significativa”.
O autor refere-se, principalmente, à parceria entre professor/aluno, mas
podemos estender a uma parceria entre todos os participantes dos processos
educativos em seu amplo sentido. Segundo ele, algumas ações, comportamentos,
estratégias são indispensáveis para o estabelecimento de parceria, como:
ouvir, ser flexível, estar presente, ter humildade, gerar confiança, ser
carismático e empático, ser paciente, encarar os fatos, evitar subterfúgios.
Estas atitudes, portanto, são fundamentais para a “criação de um clima
de parceria”. No
início do ano 2000 foi criado um grupo de Educação Ambiental que se
comunica através do recurso tecnológico de correio eletrônico. O grupo foi
criado com o objetivo de aproximar indivíduos de diferentes segmentos da
sociedade que têm o interesse comum de divulgar e difundir a Educação
Ambiental/EA em diferentes contextos, considerando seu aspecto
interdisciplinar. Com o passar do tempo, o grupo foi crescendo e se
fortalecendo. Após três anos de funcionamento, o grupo, nomeado de
GEAI/Grupo de Educação Ambiental da Internet, consolida-se graças ao forte
sentimento de parceria que se estabeleceu entre seus membros ativos. Este
clima de parceria é percebido através: -
da ajuda permanente na busca de informações sobre a temática central do
grupo; -
da troca de informações; -
dos debates sobre a teoria e prática da EA; -
da consolidação de laços de amizade; -
das ações prestativas de um membro para com outro; -
da troca de experiências e dúvidas sobre a EA; -
da criação de uma revista eletrônica. Seria
possível ampliar esta lista de ações que confirmam o clima de parceria
existente no grupo, mas estas são suficientes. Alguns
participantes que ingressam no grupo, que é aberto a todos interessados pelo
assunto, destacam que se surpreendem com a solidariedade e bom convívio
virtual que se estabelece entre os participantes do GEAI. Alegam, também,
sentir um forte diferencial entre este grupo (GEAI) e outros dos quais fazem
parte, que utilizam a mesma ferramenta – correio eletrônico – no que se
refere ao clima de parceria. Um dos fatores que influem para esta aparente e
consolidada parceria entre os membros do grupo é, justamente, o tema central
que une os membros: Educação Ambiental. Se para falar de Educação Ambiental faz-se necessário falar em respeito, ética, cuidado (Boff), complexidade (Morim), teia (Capra), interdisciplinaridade, inclusão, cidadania, colaboração, conseqüentemente estaremos, também, falando em parceria. Este convívio com as questões acima relacionadas, colabora, sobremaneira, na formação de sujeitos parceiros. Não é à toa, portanto, que o clima de parceria existente no GEAI seja tão aparente. A
'educação' ambiental revela-se como uma contribuição filosófica, um ato
político calcado na opção por valores que levem à transformação (...) Logo,
do ponto de vista didático, a idéia de um projeto pedagógico fundado na
malha imaginária dos sujeitos, dos grupos, das culturas, da forma de organização
social, sugere um ponto de partida para encarar a variedade de visão de meio,
de necessidades e de interesses, tendo em vista que o conhecimento do ambiente
vai além do entorno que compõe a própria natureza, abrangendo todo o patrimônio
cultural e o uso que dele se tem feito e se faz (...) e as complexas relações
sociais tornam multidimensionais os conflitos já existentes, fazendo com que
não possam mais ser vistos unicamente como crises ambientais ou problemas
ecológicos, passando a ser encarados como problemas de outra ordem - a busca
de outras formas de organizações sociais (PEREIRA**
). Uma
das ferramentas que muito tem contribuído para o estabelecimento de parcerias
que confirmam esta busca por outras formas de organizações sociais são as
chamadas Redes, que agregam pessoas que se relacionam a partir de um núcleo
comum. As
redes de educação ambiental têm se tornado uma prática comum de
comunicação e
interação entre educadores, ambientalistas, técnicos de órgãos
públicos e
pesquisadores das Universidades, para que haja uma troca de
idéias em tempo
praticamente real sobre tudo o que está sendo desenvolvido
nesta área na
nossa região, no Estado e no país” (GUERRA***). Neste
sentido, entendemos que a Educação Ambiental transcende ao seu principal
objetivo que é o de agregar ao sistema educacional o contexto ambiental
buscando mudanças de atitudes, porque ela desenvolve, também, o senso da
cidadania, da fraternidade, privilegiando ações e atividades voltadas para o
desenvolvimento de posturas éticas, incentivando o estabelecimento de
parcerias. * Vice-presidente do Instituto MVC- Educação Corporativa http://www.institutomvc.com.br/costacurta/artlacj_Aparceria.htm Artigo acessado em 26.02.2004 ** Yára Christina Cesário Pereira é diretora do Colégio de Aplicação e docente nos cursos de biologia e pedagogia da UNIVALI - http://an.uol.com.br/anverde/especial21/ - Artigo acessado em 26.02.2004. *** Antônio Fernando Guerra é presidente da Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental http://www.reasul.univali.br/ |