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ENTREVISTA COM MÁRCIA ZIMMER SCHERER PARA A 52ª EDIÇÃO
DA REVISTA VIRTUAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO Por Bere Adams A Entrevistada desta edição é a pedagoga
especialista em Gestão Regional de Recursos Hídricos /UFRG Márcia Zimmer
Scherer, que é uma das sócias fundadoras (e por muito tempo esteve a frente das
atividades) do Instituto Martim Pescador, cuja sede se localiza em São
Leopoldo, RS, e mantém uma embarcação que possibilita à população um contato
direto com o Rio dos Sinos. Em algumas ocasiões, participei de eventos e
acompanhei de perto o empenho desta profissional por fazer uma Educação
Ambiental de qualidade, não somente à bordo da embarcação do Martim Pescador,
mas também nas ações promovidas pela instituição, como o caso das duas edições
do Encontro Metropolitano de Educação Ambiental Martim Pescador, (Cujos anais
estão disponíveis em http://www.apoema.com.br/EncontroMP2009.htm ). Atualmente, ela está mais do que empenhada
para a retomada das atividades do Instituto que se encontra com dificuldades,
sem uma equipe diretiva definida e atuante, razão pela qual esteve com suas
atividades interrompidas até pouco tempo atrás. Vamos conhecer melhor esta
história e a sua principal protagonista para a retomada das ações do Instituto
Martim Pescador. Bere - Márcia, é um prazer muito grande tê-la
como nossa entrevistada. Vou começar com uma pergunta que sempre faço aos meus
entrevistados. Quando você começou a se interessar pelas questões ambientais?
Aconteceu algo específico que te sensibilizou para este campo? Márcia – Meu interesse iniciou na adolescência,
quando numa atividade externa com professores, fomos visitar uma exposição fotográfica
sobre o Rio dos Sinos. Essa Exposição foi registro de uma expedição pelo Rio
dos Sinos, da Universidade do Vale dos Sinos -Unisinos, Secretaria de Meio
Ambiente de São Leopoldo e outras instituições que não me recordo no momento.
Assim despertei sobre o espaço em que vivia. E muito mais tarde trabalhei e
participei de projetos com as pessoas que estavam envolvidas nesta expedição. Bere – E como foi o processo de nascimento do
Instituto Martim Pescador? Márcia – Bem, o envolvimento com o “ Meio”, passou
a fazer parte da minha vida, na minha formação Magistério, depois em Pedagogia.
Concursada para atuar na rede Municipal, minha trajetória na educação passa a
ter um cuidado ainda maior por aquilo que ensino também pelo exemplo. A frente do departamento de Educação Ambiental,
junto a Secretaria de Meio Ambiente em São Leopoldo, resgatei de certa forma,
minha experiência anterior, de quando aluna. Sair da escola, e vivenciar
experiências de contato com o meio onde vivo, passou ser meu foco dos projetos e
atividades. Estando próxima ao Rio, não tinha como não
provocar ações que viessem a trazer os sujeitos a conhecer para perceber
esse espaço. Foi quando então, para atender um grupo de 30 alunos, organizamos
três atividades, em forma de circuito. Navegação pelo rio: navegávamos com
embarcações de alumínio, capacidade de seis passageiros, num percurso de meia
hora, onde o diálogo acontecia entre cheiros, olhares e informações sobre esse
ecossistema do Rio; exposição fotográfica(aquela que me sensibilizou na
adolescência) que percorria com imagens, desde a nascente até a foz, de forma
dirigida, monitores buscavam focalizar aspectos de todo o ecossistema, bem como
as intervenções humana; e a trilha da margem, que percorríamos o entorno do
rio, na parte central de São Leopoldo, procurando compreender como se deu o
processo de desenvolvimento da cidade e suas consequências para esse espaço. Assim, nasceu a proposta pedagógica do Instituto
Martim Pescador, e consequentemente o próprio, pois não queríamos que esse
processo finalizasse após quatro anos de governo, como sempre acontece. Fundar
uma instituição que atendesse essa proposta de forma independente era nosso
objetivo. Após veio o sonho de construir uma embarcação que atendesse mais
pessoas numa hora de atividade, assim como consequência o aprimoramento
do projeto. Esse projeto em um ano atendeu 3500 alunos das redes escolares de
toda região. A procura era grande, e os resultados então, foram a
justificativa da Proposta de fundação do Instituto e construção da embarcação
Martim Pescador. Bere – Quais foram as maiores dificuldades deste
início? Márcia – Acredito que a maior dificuldade foi
desvincular a Instituição do poder público. Criar uma autonomia de gestão. Bere – Como o Instituto contribui para a efetivação
da Educação Ambiental? Márcia – Pra mim não existe educação ambiental
se não interagirmos com ele. Perceber e sentir esse ecossistema do Rio é
extremamente necessário para desacomodar e conflitar as pessoas para reelaborar
seus conceitos sobre a vida. Bere – O que acontece – de forma resumida – em
uma navegação? Há um roteiro a ser seguido? Márcia – Acho que coloquei na questão
anterior, mas cada grupo é um grupo, depende da idade e do propósito daqueles
que vem até a navegação. Mas procuramos situar a Bacia hidrográfica,
contextualizar sobre esse recurso Hídrico e as cidades que se desenvolveram a
partir dele, enfatizamos a vida que ainda pulsa, mas também os impactos que
fazem dele o quarto rio mais poluído do Brasil. E isso acontece de forma dialogada,
lúdica e com o prazer de se deslizar sobre as águas de um Rio. Eu,
particularmente entendo, que o processo de construção de uma nova aprendizagem
precisam passar por esses aspectos. Bere – E como as pessoas reagem e participam
durante a embarcação? Márcia – Como a atividade de certa forma é um
passeio, de forma muito gostosa, o diálogo acontece. No final, é muito comum,
as pessoas saírem com novas ideias, com o sentimento de pertencimento da
situação. O registro fotográfico acho bastante importante, pois fica eternizado
aquele momento. Tenho certeza que existe o “ ser” antes e o “ser” depois, da
navegação. Tivemos uma situação esses dias de um casal que retornou a atividade
após oito anos, trazendo o primeiro filho. Bere – Tens ideia de quantas pessoas já foram
alcançadas com Educação Ambiental, ao longo destes anos do Instituto? Márcia – Olha, até 2009, os registros mostravam,
110 mil pessoas. Hoje, retornando ao Instituto, estamos buscando esses dados,
mas acreditamos que já passam de 250 mil. Bere – Qual é a situação do Instituto hoje? Márcia – As instituições registradas como
Organizações não Governamentais sofrem bastante, pois precisam de pessoas
comprometidas a frente de seus objetivos. O Instituto esta passando por uma
reorganização, com nova diretoria que deverá assumir nos próximos dias. Esteve,
por um bom tempo sem um grupo técnico com autonomia para gerir projetos.
Queremos resgatar um período que tínhamos muito qualidade, com grupo
qualificado. Estamos em processo. A busca e o engajamento de parceiros
acontecem quando essa qualidade é garantida. Vamos trabalhar pra isso. Bere – Quais são as necessidades principais e
como as pessoas podem ajudar? Márcia – O Instituto passou por uma enchente, em
2014, que levou bens e estrutura de trabalho. Uma gestão individual, que levou
ao afastamento de muitas pessoas que acreditavam e poderiam colaborar.
Resgatamos neste primeiro momento, colaboradores voluntários, que estão
atendendo na embarcação como monitores e outros na busca de projetos de
parcerias. O Instituto tem três funcionários(tripulação) para atuarem na
embarcação. Esse custo hoje é o grande problema, pois projetos estão parados
por falta de equipe técnica para elaboração e busca de recursos. Bere – Há espaço para estagiários e voluntários?
Se sim, como é este processo? Márcia – Estamos buscando voluntários
comprometidos, para isso, importante mandar e-mail, contendo currículo,
salientando qual sua forma de colaborar, disponibilidade de horário.. Bere – Qual é, para você, a importância do
Instituto Martim Pescador para a população do Vale do Rio dos Sinos e para a
Educação Ambiental? Márcia – Tanto o Instituto como outras
instituições, temos a necessidade de atuar no coletivo, resultados são
urgentes, precisamos construir novos valores, novas formas de nos
relacionarmos, entre nós e o ambiente. O primeiro passo que estamos dando, é
neste sentido, nos unindo a outras instituições com o mesmo propósito. Hoje
vivemos um momento histórico de mudança na educação, com o Plano Nacional de
Educação, estadual e municipal. A Educação que não for ambiental, não é
educação. Temos a conclusão do Plano de Saneamento da Bacia Sinos, concluído.
Os municípios concluíram o plano de resíduos. Tudo converge para um futuro que
promete, e o Instituto colabora na sensibilização da comunidade para as ações
necessárias para essa transformação. Precisamos trabalhar juntos. Bere – Quais são as principais dificuldades do
Instituto hoje e quais as estatégias para contorná-las? Márcia – A falta de recursos e equipe de
trabalho, hoje, são as maiores dificuldades. A diferença de outras instituições
do instituto, está num bem, a embarcação, que necessita de vários cuidados, e
cumprimento de muitas exigências da marinha, e isso são custos fixos. Bere – Recentemente foi retomada a navegação,
qual foi a sensação? Márcia – Estar novamente, após cinco anos
afastada, junto a um projeto que ajudei a criar, me traz muita satisfação, mas
também, muita responsabilidade. Bere
– Deixa um recado para os-as leitores/as da EA em Ação, pode ser uma palavra,
uma frase, algo que seja significativo para você e para eles/as... Márcia – Venha fazer
parte desta história, o rio a cada dia luta para continuar vivo! Bere
– Querida, tu és um verdadeiro exemplo de cidadania planetária, que inspira,
que renova, que nos dá esperanças, parabéns pelo seu trabalho e pelas suas
iniciativas. E como agradecimento especial, colo a seguir um texto que foi
publicado na minha coluna do JNH quando você estava viajando. Gratidão profunda
e sucesso!!! Meio ambiente e o Rio dos Sinos Bere Adams Para quem se preocupa com a preservação
ambiental e busca uma vida mais sustentável, o mês de junho é uma vitrine de
ações que podem ser replicadas, graças ao Dia Mundial do Meio Ambiente e da
Ecologia, comemorado no dia 5. Muitas instituições vão além e comemoram não só
o dia, mas a Semana do Meio Ambiente, aproveitando um período mais prolongado
do mês para incentivar um olhar mais intenso para uma vida mais equilibrada.
São realizadas inúmeras atividades, desde ações em instituições, até eventos
culturais populares, com o objetivo de provocar uma mudança de postura para
minimizar impactos no ambiente. Basta ficar atento para participar e colaborar.
O mais importante destas comemorações é que, através delas, muitas pessoas
despertam o interesse pelo cuidado da vida e fortalecem o ativismo ambiental,
passando a atuar de forma consciente e crítica. Apesar de poucos avanços e
muitos retrocessos relacionados às questões ambientais, é preciso reconhecer
que cada pequena ação é bem-vinda e faz a diferença. Trago o exemplo da
retomada animadora das navegações promovidas pelo Instituto Martim Pescador,
uma atividade que coloca a população em contato direto com a vida do Rio dos
Sinos. Em pleno Dia da Terra, ocorrido em 22 de abril, algumas pessoas se
reuniram para definir o futuro da instituição, que buscam driblar esse
momento delicado pelo qual passa o Instituto. O empenho de sócios fundadores na
reconstituição deste importante Instituto já começa a receber, não somente
pessoas interessadas em navegar pelo rio, mas também voluntários e parceiros
que arregaçam as mangas para a continuidade desta proposta. Marcia Scherer,
idealizadora e sócia fundadora do Instituto, destaca que a navegação “é uma
vivência que, mais do que passar informações sobre o rio em relação à sua
biodiversidade, sensibiliza e compartilha a ideia do cuidado com a água, um dos
principais agentes biológicos que proporciona vida”. Portanto, além do seu valor
histórico e ambiental, o Instituto é um potente recurso de sensibilização e
conscientização ambiental: “conhecer para preservar!”. Eis uma excelente
oportunidade para colaborar. Escreva para o e-mail do Instituto: institutomartimpescador@gmail.com a faça parte desta bela história. O Meio
ambiente e o Rio dos Sinos agradecem! |