Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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03/06/2016 (Nº 56) ÁGUA E SAÚDE, RELATO DA EXPERIÊNCIA COM OS COLONOS DE GENERAL CARNEIRO, PR.
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ÁGUA E SAÚDE, RELATO DA EXPERIÊNCIA COM OS COLONOS DE GENERAL CARNEIRO, PR.

Water and health account of the experiencewith the settlers General Carneiro, Pr.

 

      Vilmar Ribeiro;

Durinézio José de Almeida;

Ana Paula de Jesus Almeida.

Biólogos-Pesquisadores do Instituto de pesquisas Gravatá. Guarapuava Pr.- Contato: institutodepesquisagravata@gmail.com.br

 

Resumo: A água está presente em todos os momentos da vida do ser humano. Sua presença é fator determinante de progresso, de desenvolvimento e de qualidade de vida. Porém, de todos os seus aspectos, aquele que mais representa a essencialidade da água à vida é a sua relação direta com a saúde. Quanto maior a disponibilidade de água tratada menores são as internações por doenças de veiculação hídrica, menores são os índices de mortalidade infantil e maior é a expectativa de vida da população.Em todo o globo, mais de um bilhão de pessoas não têm acesso à água tratada e quase 2,5 bilhões vivem sem saneamento básico. No Brasil, cerca de 60 milhões de brasileiros (9,6 milhões de domicílios urbanos) não são atendidos pela rede de coleta de esgoto e, destes, aproximadamente 15 milhões (3,4 milhões de domicílios) não têm acesso à água encanada. Além disso, 65% das internações hospitalares no país são devidos às doenças transmitidas pela água, provocadas por doenças como disenteria, hepatite, meningite, ascaridíase, opilação, tracoma, esquistossomose e outras.Este trabalho visa relatar a realidade vivenciada por moradores, de habitações rurais, de General Carneiro, Pr., que se mostrou um quadro alarmante de falta de informação, recursos e saneamento.

 

 

1 Introdução.

A água é um bem indispensável a todos os seres vivos; é um elemento básico e necessário na maioria das atividades humanas, pois utilizamos intensamente a água em nosso dia-a-dia. Ela atua no metabolismo dos seres vivos e também é importante para os ecossistemas e na composição dos solos. Os seres vivos precisam de água para realizar seus processos vitais.  As plantas e animais precisam absorver as substancias alimentares que ingerem e é a água que auxilia na dissolução desses nutrientes, levando-os a todas as partes do organismo (Cruz, 2001).

A água é essencial na produção de energia elétrica, limpeza das cidades, construção de obras, combate a incêndios e irrigação de jardins, entre outros. As indústrias a utilizam como matéria-prima, ou na remoção de impurezas, geração de vapor e refrigeração. A agricultura é a que mais consomem água, cerca de 70 % da água captada (IDEC, 2002).

A água está presente em todos os momentos da vida do ser humano. Sua presença é fator determinante de progresso, de desenvolvimento e de qualidade de vida. Porém, de todos os seus aspectos, aquele que mais representa a essencialidade da água à vida é a sua relação direta com a saúde. Quanto maior a disponibilidade de água tratada menores são as internações por doenças de veiculação hídrica, menores são os índices de mortalidade infantil e maior é a expectativa de vida da população. Dessa forma, quando se fala em água, é preciso que necessariamente se faça a devida menção à vida, à qualidade desta vida, que somente pode ser plenamente vivida com água. (SANEPAR, 2004).

Tal como consta no Art. 31 da Declaração Universal dos Direitos da Água:

 A água é seiva de nosso planeta. Ela é a condição essencial da vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito a água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no Art. 3º da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Entretanto, água limpa é um direito que está fora do alcance de muitos. E a escassez deste bem tão precioso já é prevista em muitas estimativas, como resultado do grande poder impactante causado pelo ser humano sobre os recursos naturais.

A contínua e crescente pressão exercida pelo homem sobre os recursos naturais contrasta com um mínimo de interferência que anteriormente mantinha nos ecossistemas. Deste modo, são relativamente comuns, hoje, a contaminação das coleções d’água, a poluição atmosférica e a substituição indiscriminada da cobertura vegetal nativa, com a conseqüente redução dos hábitats silvestres, entre outras formas de agressão ao meio ambiente (SILVA, 1994; FERNANDES, 1997).

Essa situação tem sido observada, exatamente pelo fato de, muitas vezes, o homem visar apenas os objetivos imediatos de suas ações, privilegiando o crescimento econômico a qualquer custo e relegando, a um segundo plano, a capacidade de recuperação dos ecossistemas (GODOI FILHO,1992).

Dentro desse contexto, em praticamente todas as partes do mundo, notadamente a partir da década de 60, surgiu a preocupação de promover a mudança de comportamento do homem em relação à natureza, a fim de harmonizar interesses econômicos e conservacionistas com reflexos positivos junto à qualidade de vida de todos (MILANO,1990; LISKER,1994).

Nessa perspectiva, a redução dos impactos causados pelo ser humano sobre o ambiente é fator determinante para a sobrevivência das espécies e para a preservação e conservação dos recursos naturais indispensáveis à vida.

A partir desse pressuposto, enfocamos tudo o que consideramos importante para a manutenção da vida, no que se refere à convivência com a água, em especial às questões como abastecimento e saneamento básico.

De acordo com estimativas da ONU - Organização das Nações Unidas- a falta de abastecimento de água potável é responsável por 80% das doenças e das mortes no chamado mundo em desenvolvimento.

Em todo o globo, mais de um bilhão de pessoas não têm acesso a água tratada e quase 2,5 bilhões vivem sem saneamento básico.

No Brasil, segundo o Ministério das cidades, cerca de 60 milhões de brasileiros (9,6 milhões de domicílios urbanos) não são atendidos pela rede de coleta de esgoto e, destes, aproximadamente 15 milhões (3,4 milhões de domicílios) não têm acesso a água encanada. Ainda mais alarmante é a informação de que, quando coletado, apenas 25% do esgoto é tratado, sendo o restante despejado “in natura” nos rios ou no mar.

Além disso, 65% das internações hospitalares no país são devidos às doenças transmitidas pela água, provocadas por doenças como disenteria, hepatite, meningite, ascaridíase, opilação, tracoma, esquistossomose e outras( fonte: http://www.springway.com.br/aabr.html).

De acordo com Cairncross e Feachem (1990) apud Heller (1997) que propuseram a classificação ambiental das infecções como forma de controle e prevenção das doenças relacionadas com a água, está na desinfecção da água uma grande ferramenta na prevenção dessas infecções, pois melhora a qualidade da mesma.

 E ainda descrita por Gadgil (1998), onde afirma, que os principais fatores para reduzir a significância e o impacto das doenças diarréicas na saúde pública são boas condições sanitárias, água de boa qualidade, abundante e disponível, adequada disposição de excretas de animais e de humanos e práticas de higiene na educação pública. Dentre as principais práticas para assegurar a boa qualidade da água está a desinfecção.

Partindo dos fatores descritos anteriormente é evidente a importância dos cuidados para com a água em prol da saúde humana e ambiental, no entanto, esses cuidados são em muitas vezes ignorados pelos poderes públicos e desconhecidos pela sociedade, principalmente àquelas residentes em meio rural.

Na maioria das localidades rurais do Brasil, a população não recebe água tratada proveniente das empresas de abastecimento público, necessitando captar água, de mananciais superficiais ou subterrâneas que podem muitas vezes, possuir qualidade duvidosa do ponto de vista microbiológico, como publicado no I Seminário Regional do Meio Ambiente-Saneamento Rural e Qualidade de Vida (SEMINÁRIO DE MEIO AMBIENTE, 2005).

Tendo como principais fontes de captação para abastecimento de água, mananciais como: poços, córregos, rios e “olhos d’água”, e muitas vezes encontra-se poluída ou contaminada.

Para tanto, a promoção de saneamento ambiental em áreas rurais é um instrumento ainda sinônimo de promoção política e a verdadeira significância do termo saneamento ambiental restringe-se na maioria das vezes apenas na realização de coleta de resíduos sólidos e tratamento da água para consumo na área urbana dos municípios. 

Chamamos de saneamento ambiental técnicas ligadas ao uso adequado, o manejo e a conservação dos recursos naturais, como: implantação de práticas de controle da erosão, proteção de fontes, nascentes e outras áreas de preservação permanente e conservação de florestas nativas (SEMA, 2007).

Saneamento significa sanear, ou seja, “tornar saudável”. Portanto, o objetivo do saneamento é a promoção da saúde. O saneamento ambiental é um dos fatores determinantes para saúde e a qualidade de vida da população. Quanto maior o número de municípios com saneamento ambiental, menor é o índice de mortalidade infantil e de outras doenças de veiculação hídrica. A falta do tratamento da água, da coleta e destinação adequada do esgoto e do lixo, além da ausência de ações de educação ambiental, permanentes junto à população, são responsáveis por uma série de doenças (SANEPAR, 2004).

De fato, como descrito anteriormente, a água é elemento vital em todos os aspectos e a sua preservação, fundamental para as atuais e futuras gerações. Este trabalho visa relatar a realidade vivenciada por moradores,  de habitações rurais, de General Carneiro, Pr.

2 Métodos:

O município de General Carneiro-Pr, situa-se na Região Sul do Estado do Paraná, nas margens da BR 153, Rota do Merco Sul, ocupando a extrema extensão Sul do 3º Planalto Paranaense, faz parte da Micro Região 15ª Zona Fisiográfica em que está dividido o Estado do Paraná, tendo as seguintes coordenadas geográficas: Com Latitude sul de 26º10’S e Longitude Norte 51º 10’W e com Altitude Média de 981,0 metros.

A área do Município de General Carneiro é de 1.083.433 km², o clima é subtropical úmido meso-térmico, de verões frescos e inverno com ocorrência de geadas severas e freqüentes chuvas, não apresentando estações secas. A média das temperaturas nos meses mais quentes é inferior a 22 ºC. O regime de chuvas é irregular no período de inverno e intensificando-se no verão.

 

Figura 01: Mapa demonstrando a localização das comunidades, onde foi efetuada a sensibilização ambiental de que trata este relato de experiência.

 

 

2.1 Área de Estudo

O presente trabalho foi desenvolvido com sessenta famílias residentes no entorno da RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), Paisagem da Araucaria Papagaio do Peito Roxo, no município de General Carneiro, estado do Paraná.

        A maioria das famílias reside em vilarejos com casas construídas pelas empresas madeireiras com as quais possuem vínculos empregatícios. Estas empresas são as principais responsáveis pela permanência das famílias nas comunidades por elas mantidas.

 

2.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS

Para a realização deste trabalho, utilizou-se como laboratório de estudo o ambiente vivenciado cotidianamente pelos moradores das proximidades da RPPN, com o uso dos recursos naturais disponíveis e existentes em cada comunidade abrangida por este trabalho.

Com a aplicação do questionário socioambiental “in loco” foi possível ter conhecimento dos principais problemas locais que foram apontados pelos próprios moradores.

A partir destes dados, a elaboração de uma apostila adaptada às condições em que vivem as pessoas nestas comunidades possibilitou seu uso como uma grande ferramenta de informação, instrução e aprendizagem. Com conteúdo cuidadosamente escolhido por pesquisadores que colaboraram com o estudo.

Através das informações obtidas com o questionário e sequentes visitas realizadas em cada domicilio, diagnosticou-se a necessidade de um grande trabalho em defesa da proteção das fontes de captação de água utilizadas pela população.

Para isso, a apresentação de uma alternativa viável e eficaz para a proteção das fontes e nascentes, tornou-se foco principal deste trabalho, já que, a qualidade do ambiente em especial à qualidade da água, tem a íntima ligação com a saúde das populações residentes em zonas rurais.

O modelo de proteção de fonte apresentado neste trabalho como alternativa eficaz na promoção de saneamento ambiental, destaca-se por utilizar técnicas simples e de fácil construção. É ainda, eficiente na proteção dos corpos d’água e na promoção da saúde pública.

O modelo adotado é chamado Proteção de Fonte à Base de Solo e Cimento e é recomendado pela Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento - SEAB e EMATER/PR.

Este modelo tem como Atribuições:

 

-                     Proteger o ponto de captação de água;

-                     Evitar que a água seja poluída com lixo e/ou agrotóxico;

-                     Evitar a contaminação por dejetos humanos e animais;

-                     Impedir a entrada de animais no ponto de captação;

-                     Facilitar o encanamento de água até reservatórios para posterior tratamento e consumo.

Apresentar este modelo de proteção de fonte e ensinar as técnicas de construção aos moradores das localidades envolvidas foi o principal instrumento para a consolidação do trabalho teórico de educação socioambiental com o efetivo trabalho prático em defesa da saúde ambiental para as pessoas que anseiam por melhor qualidade de vida.

        Atualmente um dos maiores desafios da humanidade é garantir água de boa qualidade para a atual e para as futuras gerações, com essa preocupação, é urgente a necessidade de se proteger os corpos hídricos preservando a qualidade e quantidade da água existente.

        Neste contexto, capacitar os moradores para que os mesmos realizem a construção da proteção de fontes em suas propriedades, resultou em grande melhoria no sistema de captação, distribuição e proteção da qualidade da água.

        A construção consiste nas seguintes etapas:

Realizar a limpeza dos arredores e da fonte.

É importante a retirada de folhas, raízes e lama que podem entrar em decomposição e comprometer a qualidade da água da fonte, por isso, deve-se retirar esse material até encontrar terra firme onde se inicia a construção da proteção.


Figura 2: Fotos demonstrando o curso de proteção de fontes em seus diversos passos.

É evidente o valor inestimável que a água possui, porém, seu valor torna-se notável quando sua falta é sentida pela sociedade que busca por água de qualidade e quantidade, em proporções excessivas e que atenda a demanda abusiva que compromete sua qualidade.

Os cuidados com a qualidade da água em áreas urbanas são de responsabilidades das empresas de captação que realizam o tratamento e distribuição de água que chega a cada residência.

Em áreas rurais é comum a captação da água subterrânea realizada pelos próprios moradores em suas propriedades.

A conservação e disponibilidade da água nessas áreas rurais dependem dos cuidados e da proteção que poços, rios e nascentes recebem, além da preservação dos ecossistemas que compõem o ambiente natural ao qual os mananciais estão geograficamente inseridos.

Localização das vertentes.

Preparo da massa solo-cimento.

·         Deve-se peneirar a terra retirando os ciscos;

·         Medir 05 partes de terra e uma parte de cimento;

·         Misturar muito bem o solo com o cimento;

·         Colocar água aos poucos até obter uma massa consistente;

Pode-se preparar a massa em uma caixa de madeira ou diretamente no chão em uma área limpa próxima a fonte.

A construção do muro inicia-se colocando uma camada de solo-cimento e logo em seguida assentando as pedras.

As pedras utilizadas geralmente podem ser encontradas próximas as nascentes e rios, as chamadas “pedra-ferro”, que devem ser lavadas para eliminar o excesso de materiais que podem prejudicar a construção da proteção da fonte ou causar contaminação biológica da água.

Na primeira camada de pedra assentada com solo-cimento, é necessária a introdução de um cano de “PVC” para o escoamento da água durante a construção do restante do muro e vedado posteriormente, logo que, a água atinja suas características naturais.

A escolha da fonte a ser protegida, bem como a topografia do terreno onde esta se encontra é de extrema importância, pois a condução da água até o reservatório, geralmente ocorre por gravidade.

Ao levantar mais o muro, fixar os demais canos que serão utilizados para conduzir a água até as casas. Nesta etapa, é necessário o uso de canos que servirão como suspiros ou “ladrão”, os quais permitem o extravasamento da água quando em altas pressões e vazões.

Os canos têm a finalidade de retirar a água que estão sobrando, evitando desta forma, a pressão sobre o muro. Estes canos devem conter uma tela na saída o que impossibilita a entrada de insetos.

À medida que seja construído o muro que protege a fonte, é necessário que se preencha o espaço interno da fonte com pedras até a altura do último cano.

Encaixar um cano de PVC 25mm com tampão, no meio das pedras. Este cano servirá para fazer a desinfecção da água sempre que necessário

Para finalizar o processo de construção pode-se colocar uma camada de pedra brita sobre as pedras maiores e fazer o fechamento total da fonte com uma camada de massa solo-cimento para concretar.

Com a efetiva construção da proteção de fonte, algumas medidas são necessárias para a correta conservação da proteção construída:

-          Na frente do muro colocar pedras que servem para calçar os canos;

-          Fazer desvios na parte superior da fonte, evitando que a água da chuva cause danos à proteção e à fonte;

-          É importante para utilização deste sistema, que não tenha árvores muito próximas da fonte, pois suas raízes podem comprometer a estrutura da proteção e a qualidade da água da fonte.

 

2.3 Quanto à desinfecção da água

 

A desinfecção da água deve ser realizada a cada 04(quatro) meses da seguinte forma:

-          Tampar as saídas de água;

-          Retirar o tampão do cano e colocar 01(um) litro de água sanitária;

-          Deixar a água escoar pelo último cano na parte superior;

-          Abrir as saídas para que a água escoe pelos canos e desta forma será feita a desinfecção dos canos.

 

2.4 Importância da desinfecção da água

 

A desinfecção da água destrói os agentes patogênicos responsáveis por inúmeras doenças de veiculação hídrica, como:

Diarréia, Hepatite, Verminose, Febre Tifóide e outras. A desinfecção deve ser realizada também em reservatórios e caixas d’águas.

 

3  RESULTADOS  E DISCUSSÃO

 

Além de receber pouca assistência escolar a comunidade também recebe pouca atenção na área da saúde, agrícola e de saneamento. Esta é uma realidade conflitante no Brasil, pois as comunidades que habitam áreas rurais afastadas e de difícil acesso são as que mais sofrem, têm menos acesso a alguns tipos de acompanhamento como o acompanhamento médico e as que possuem menos recurso financeiro para buscá-los.

Desta forma, é notável o contraste socioeconômico encontrado entre áreas urbanas e rurais.

A acessibilidade, ainda que básica, aos meios de formação e instrução técnica é fator de grande importância para mudança de hábitos dos residentes em áreas rurais, pois, a grande maioria desses moradores não recebe nenhum tipo de assistência especialmente direcionada a atividades e práticas rurais.

As atividades desenvolvidas como laboro, são em geral aprendidas e aperfeiçoadas na prática, sem nenhum tipo de formação profissional ou técnica que possibilite ao trabalhador buscar por novas oportunidades de trabalho e propicie a estes, maiores expectativas de renda.Apesar de tratar-se de famílias que retiram seu sustento basicamente da extração da madeira, é comum nas zonas rurais a criação de animais para a subsistência das famílias, que encontram nessa prática simples, uma alternativa para complementar sua alimentação e renda. A maioria cria galinhas e isto é normal no ambiente rural. Porém o principal problema dessa prática é que os animais vivem soltos e muitos não são vacinados, embora as aves não sejam grandes vetores de zoonoses elas vêm acompanhadas da criação dos suínos que podem causar graves doenças, quando criados de forma imprópria.

 

Figura 3 : Gráficos demonstrando a percepção das famílias quanto a agua que consomem, bem o como o tipo de captação.

Constatou-se no local estudado, que muitas habitações lançam os despejos de cozinha e do banheiro a céu aberto e que a captação da água também é feita através de poços e rio local, todas as casas são de madeira, com luz elétrica e possuem água encanada e, a maioria das casas é cedida pelas empresas que trabalham com madeira na região e um menor número de pessoas possui casa própria.

 

Apesar de a maioria das famílias rurais afirmarem saber que é importante algumas medidas de proteção da qualidade da água para o consumo humano em prol da saúde, muitas, não relacionam seus hábitos de vida e práticas de trabalho à real qualidade da água que consomem.

O fato de essas famílias residirem a muitos anos no mesmo local, utilizando a mesma fonte de água para seu consumo durante toda sua vida, faz com que, acreditem fielmente na qualidade da água que utilizam no seu dia-a-dia.

Este conceito é defendido por muitos moradores que não associam a preservação ambiental como instrumento de interferência direta na saúde humana. Porém, trata-se de uma questão cultural, erroneamente construída através dos tempos de geração a geração.Devido à baixa instrução, o difícil acesso à educação e o precário serviço de assistência à saúde, é fácil perceber a fragilidade da vida humana diante os inúmeros processos de risco a que estão expostos e que nem ao menos têm conhecimento.

         A maioria acredita que a água é de boa qualidade, porém uma análise de turbidez já revela alterações.A fervura também pode ser uma medida preventiva contra a contaminação da água.Devido a pouca informação, muitas famílias desconhecem métodos de desinfecção da água que podem ser realizados de forma simples e doméstica, considerados básicos em defesa da saúde humana.

A desinfecção da água através da fervura é uma técnica simples e garante a eliminação de inúmeros agentes patológicos nocivos à saúde da população. No entanto, ainda não é realizada pela grande maioria das famílias que consomem a água sem nenhum tratamento prévio.

Quando realizada a desinfecção da água através da fervura, observou-se que esta técnica é empregada apenas pelas famílias preocupadas com a saúde de seus filhos, principalmente menores de cinco anos, porém, não existe a mesma preocupação ou cuidado com adultos que bebem a água em seus locais de trabalho, ou, até mesmo com as crianças que saciam sua sede tomando a água fornecida na escola.

É importante o estímulo de uma nova consciência quanto á necessidade de desinfecção da água, independente da faixa etária ou do local de dessedentação.

Desta forma, proporcionar o tratamento da água para consumo coletivo também é de fundamental importância, já que, constatou-se que nas escolas e empresas da região estudada a água consumida também não possui tratamento ou desinfecção necessária como garantia de saúde.

Devido à água consumida ser captada em fontes, foram necessárias medidas urgentes contra a contaminação dos cursos de água, quer pelos despejos humanos ou por animais. 

 

Figura 04: foto demonstrando a realidade de abastecimento das famílias avaliadas e os gráficos quanto a segurança e hábitos sanitários dos mesmos.

A maioria dos despejos está a mais de 40 metros das fontes abastecedoras de água. Contudo nos demais casos há riscos de contaminação da água, pois, além dos despejos localizarem-se próximos às nascentes, os animais são criados soltos e com fácil acesso aos corpos d’água utilizados pela população.

A ausência de vegetação possibilita o carreamento de diversos materiais pela ação da chuva até rios e nascentes, resultando em assoreamento, contaminação e desequilíbrio ambiental.

Neste cenário, ficou fácil identificar os agravantes que contribuem para o comprometimento da saúde humana e corpos hídricos encontrados na região.

A contaminação por dejetos humanos, animais, matéria orgânica e agrotóxicos é facilmente prevista nas propriedades pesquisadas.

 A maioria já possui fosso negro, e é importante que a tecnologia das fossas sépticas chegue  a estas comunidades, visto que o que nessas áreas pode ser considerado o método mais seguro contra contaminações e agressões a saúde ambiental. No entanto, como mostra o gráfico anterior, a destinação dos dejetos é variada e algumas formas de destinação são altamente impactantes ao ambiente, aos corpos hídricos e consequentemente a saúde da população.A maioria do despejo de cozinha e banheiro é lançada a céu aberto causando poluição e contaminação dos ambientes e das criações das propriedades.

O lançamento de dejetos em corpos d’água é considerado crime ambiental, o que não significa que não seja realizado.

A falta de estrutura de saneamento básico, atrelada a pouca informação de educação ambiental, resulta em atividades impactantes praticadas diariamente pelos moradores de áreas rurais, os quais sofrem diretamente os efeitos colaterais de suas ações sobre o meio.

Apesar de muitas destas ações ser consideradas lesivas ao meio ambiente e realizadas em desconformidade com a legislação ambiental, tais práticas são comuns e aparentemente não causam nas pessoas, preocupação quando relacionadas com a própria saúde.

Incentivar o uso das chamadas fossas sépticas, ainda é o método mais seguro para deposição dos dejetos provenientes das residências rurais, por ser o mais eficiente, menos impactante e por não permitir o acesso de animais que em geral, não são manejados adequadamente.

Boas práticas sanitárias, juntamente a bons hábitos de higiene individual e coletiva, são responsáveis por grandes melhorias, nas condições de saúde e meio ambiente, para isso, muitas ações são necessárias conjuntamente com uma política participativa voltada ao saneamento ambiental rural.

           Além das diversas ações de bons hábitos sanitários para garantir saúde e qualidade de vida, é importante ressaltar a necessidade da preservação das riquezas naturais e a utilização dos próprios recursos naturais como proteção do equilíbrio ambiental.

Neste sentido, a presença de florestas é fator determinante para a qualidade ambiental. Delas dependem o solo, o ar, a fauna, a quantidade e a qualidade da água a ser consumida nas zonas rurais.

Em todas as comunidades abrangidas por este trabalho, ficou constatada a utilização de florestas com cultivo de espécies exóticas em monocultura (principalmente Pinus) que influenciam fortemente no equilíbrio ambiental, principalmente sobre a água consumia pela população.

A ausência de vegetação ciliar nativa próxima aos mananciais caracteriza a forte expansão da indústria madeireira e a supressão das florestas nativas como fonte matéria prima. Em consequência a isso, os mananciais de captação de água para consumo humano estão expostos a todo tipo de poluição e contaminação.

Quando questionados sobre a importância da vegetação ciliar, foi interessante saber que a maioria das pessoas conhece a finalidade das matas ciliares, no entanto, a realidade local contrasta com os conhecimentos teoricamente apresentados pelos moradores dessas localidades.

É evidente a importância das “matas ciliares” para os corpos d’água e a escolha das espécies para sua composição, ainda assim, constatamos que muitas pessoas não conhecem quais são as plantas corretas para compor a vegetação ciliar.Para isso é que se faz muito eficaz o trabalho de educação socioambiental, pois nem todos os moradores possuem essa consciência a respeito das matas e dos rios.

A maioria já sabe como deve ser feito o procedimento com relação às nascentes, mas alguns moradores presumem que a área de nascente é área de pasto, alguns de monocultura, de exóticas, sem saber a consequência que isso traria ao meio ambiente e consequentemente à vida deles que, direta e indiretamente dependem dos recursos naturais.

Outro fator determinante para saúde ambiental e da população estudada é o fato de que muitos trabalhadores já utilizaram ou utilizam agrotóxicos nas plantações, tanto na agricultura, quanto na cultura do pinus, principal cultivo na região.

 

5. CONCLUSÕES

As medidas necessárias para a garantia de saúde pública através de ações de saneamento básico em áreas rurais são do conhecimento tanto das políticas públicas, quanto da população local que necessita de especial atenção. No entanto, a baixa instrução, a precária condição de vida e o difícil acesso à educação colaboram grandemente para que essas comunidades rurais permaneçam omissas quanto aos seus direitos como cidadãos.

Conclui-se com esse trabalho, que a boa qualidade da água é o fator determinante na promoção da saúde ambiental rural e que a preservação dos recursos naturais está diretamente ligada à saúde humana.

Dessa forma, o modelo de proteção de fonte de água adotado neste trabalho, mostrou-se extremamente adequado aos pontos de captação de água, pois é economicamente viável, ecologicamente correto e altamente eficaz na preservação da qualidade da água.


 

 

REFÊRENCIAS

 

CRUZ, F. Das águas: sua importância no novo milênio: histórico - legislação. Belo Horizonte: Palpite, 2001.

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Companhia de saneamento do Paraná. Água  direito humano e bem público. Diretoria de Meio Ambiente e Ação social. Unidade de Serviço Educação Sócio Ambiental. – Curitiba, 2004, p. 3.

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HELLER, L.  Saneamento e saúde. Brasília, OPAS/OMS, 1997.

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Ilustrações: Silvana Santos