Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
27/11/2016 (Nº 58) O BRINQUEDO DE SUCATA COMO RECURSO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PRÉ-ESCOLA
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

O BRINQUEDO DE SUCATA COMO RECURSO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA PRÉ-ESCOLA

 

Fabricio Gregorio

Licenciatura Plena em Educação Física (UNIFIPA), Licenciatura em Pedagogia (UFSJ), Especialista em Ciências do Exercício Físico no Treinamento Personalizado (UNIFIPA), Especialista em Educação para as Relações Étnico-Raciais (UFSCAR).

 Email: fabriciogregorio81@gmail.com

 

RESUMO

Vivemos uma crise educacional e ambiental. É necessário que a escola traga uma abordagem lúdica para que a aprendizagem seja significativa, principalmente na Educação Infantil. O brinquedo de sucata traz, além dos benefícios da aprendizagem lúdica, a conscientização das questões relacionadas ao meio ambiente.

 

Palavras-chave: educação ambiental. brinquedo de sucata. aprendizagem lúdica. desenvolvimento integral.

 

 

INTRODUÇÃO

 

Este trabalho tem como temática o brinquedo de sucata na pré-escola e suas possíveis contribuições para a aprendizagem sobre Educação Ambiental. A escolha desse tema despertou-me o interesse, pois fui uma criança brincante, daquelas que brincavam nas ruas com os mais diversos materiais possíveis. Sou apaixonado pela cultura do brincar e procuro trazer para minhas aulas tais brincadeiras. A curiosidade sobre a importância da brincadeira tradicional no espaço escolar sempre esteve presente na minha vida profissional. Através de minhas vivências no campo educacional, foi possível notar a quase total exclusão do lúdico na escola, sua falta de conexão com o processo de ensino/aprendizagem e o desconhecimento das crianças por muitas das antigas brincadeiras. O brinquedo feito com materiais de sucata, além de trabalhar o lúdico e a consciência ambiental, torna-se a solução para a falta de recursos que muitas escolas enfrentam.

Esse trabalho se justifica pelo fato de que a sociedade brasileira vive uma crise educacional e ambiental. A antiquada escola autoritária está cada vez mais perdendo seu espaço. O aluno se vê desinteressado do sistema educacional e não consegue assimilar os ensinamentos à sua vida cotidiana. A escola, como microcosmo da sociedade, absorve e reproduz as discriminações e desigualdades que estão a sua volta, causadas pelos padrões eurocêntricos. Os estudos mostram que, para se ter uma aprendizagem significativa, a escola deve propiciar momentos de aprendizagem lúdicos, pois sabemos que o brincar é uma forma natural de aprendizagem da criança. Percebe-se que na sociedade atual o brincar está muito mais centrado nas novas tecnologias, valorizando o consumismo, o pronto, o modismo, a sofisticação, a praticidade, o descartável, deixando no esquecimento os brinquedos e as brincadeiras tradicionais.

O brinquedo de sucata faz com que a escola concilie a questão da aprendizagem lúdica, através das brincadeiras populares, à consciência ambiental, despertando na sociedade capitalista a reflexão sobre os problemas ambientais causados pelo consumo exagerado.

Este trabalho tem como objetivo geral analisar o papel dos brinquedos confeccionados a partir de sucata na pré-escola para o desenvolvimento da Educação Ambiental e como objetivos específicos identificar formas lúdicas de aprendizagem, resgatar as brincadeiras tradicionais, conscientizar sobre o consumismo, refletir a questão da poluição ambiental e contribuir para novos estudos sobre a aprendizagem lúdica.

                        A questão que norteia o estudo é como a utilização de brinquedos confeccionados a partir de sucata pode influenciar na aprendizagem e na conscientização das questões ambientais da criança na pré-escola.

                        A reutilização de sucatas como material pedagógico, ou seja, materiais que já cumpriram com seu objetivo principal e seriam descartados, mostra uma interessante proposta na educação infantil. Entende-se por brinquedo de sucata o objeto construído artesanalmente, utilizando-se materiais como madeira, papel, lata, plástico e outros de uso cotidiano que teriam como destino o lixo.

Para Sommerhalder e Alves (2011), a sucata é um excelente material para pesquisa, conscientização e construção. A construção de brinquedos com uso de sucata favorece a criatividade, a imaginação, a viabilidade e a conscientização. A criança sente grande valor afetivo ao brinquedo construído por ela própria, quanto mais ela se dedica à construção do brinquedo, maior sua felicidade ao final da tarefa. Essa construção traz para a criança uma imagem positiva de si mesma.  Além do aspecto econômico ser bem interessante na construção de brinquedos de sucata, trabalha-se a consciência ecológica, pois o reaproveitamento e a transformação de um material que iria para o lixo para algo lúdico conscientiza a criança para a questão ambiental e para o consumo exacerbado.

            Para realizar este estudo, a metodologia adotada foi a abordagem quantiqualitativa, ou seja, associar a análise estatística ao significado das relações humanas, procurando assim compreender e interpretar melhor os dados coletados durante o trabalho. A abordagem quantiqualitativa permite a complementação entre palavras e números, duas das linguagens fundamentais da humanidade.

A natureza da pesquisa é estudo de campo. Assim temos coleta de dados indireta (através da pesquisa bibliográfica e pesquisa eletrônica) e direta (através da observação e questionário realizado pelos indivíduos estudados).

O campo de pesquisa é a Educação Infantil e os sujeitos são os alunos de Pré II (Jardim II) da EMEI Profª Cesira Baratella Toledo, do Município de Tabapuã-SP. Os alunos participaram de oficinas de construção de brinquedos de sucata para que fossem observadas e estudadas as suas ações.

                        O trabalho está estruturado em dois capítulos. No primeiro capítulo, foi abordado a cultura do lúdico, o papel dele no desenvolvimento infantil, a importância do lúdico nas instituições de Educação Infantil, como ele pode ser analisado dentro da pré–escola, o trabalho com Educação Ambiental na Educação Infantil e como a sucata pode influenciar para um ambiente de aprendizagem mais significativo.

                        No segundo capítulo, vivenciamos o brinquedo de sucata na educação infantil, através da oficina e, utilizando o método quantiqualitativo trabalhamos no campo de pesquisa. Verificamos ainda se, na prática, ou seja, no campo de estudo, pode-se perceber os fatores que foram analisados teoricamente. Analisamos o desenvolvimento infantil a partir dos brinquedos de sucata, assim como a conscientização social e ambiental.

 

1 - O BRINQUEDO DE SUCATA NA EDUCAÇÃO INFATIL

 

1.1 A cultura do lúdico

 

Nas mais variadas regiões geográficas do planeta, há evidências de que as brincadeiras acompanham a sociedade desde a antiguidade. As autoras Dallabona e Mendes (2004) relatam que os jogos, brinquedos e brincadeiras fazem parte do universo infantil, estando presentes e acompanhando o desenvolvimento da humanidade desde seu começo.

Através do jogo o indivíduo inicia a relação com a cultura. Para Sommerhalder e Alves (2011), o jogo é produção da cultura, representando símbolos, signos, valores, hábitos, costumes e comportamentos. Ele é uma forma de linguagem e comunicação que traz a identidade pessoal e coletiva. O individuo cria, transforma e reproduz jogos e estes também ajudam a criar e transformar o indivíduo. O jogo tem um valor imensurável para a aprendizagem, desenvolvimento da personalidade, do vínculo e dos valores.

      Ao brincar a criança valoriza a cultura popular. Segundo a autora Gilles Brougère (1998), o lúdico permite ao indivíduo criar e manter uma relação com a cultura. Para ela, o jogo é indispensável à humanidade, tendo papel, além de estimular a criatividade, de acesso ao conhecimento e à cultura.

O brincar é um meio de transmissão cultural. A brincadeira faz parte de todas as culturas, tendo papel fundamental sobre os aspectos biopsicossociais da criança. Para Pfeifer, Rombe e Santos (2009), através da brincadeira, a criança entra em contato com o meio ao seu redor. A brincadeira sofre influência do ambiente físico, social, cultural, além das características individuais da criança.

 

Ora, se o jogo é assim tão importante é, certamente, porque cumpre uma função vital entre os humanos. O jogo tem a propriedade de trazer as experiências do mundo exterior para o espírito humano, de maneira que, jogando com elas, a cultura passa a ser recriada, revista corrigida, ampliada, garantindo o ambiente de nossa existência. (FREIRE, 2002, p.88)

 

 

1.2 O lúdico e o desenvolvimento infantil

 

            Não é de hoje que se sabe a importância da brincadeira, atividade natural e espontânea própria da criança, para a formação integral do indivíduo, desenvolvendo os aspectos físico, intelectual, emocional e social. (ISSA, RODRIGUES, OLIVEIRA, 2009)

 

É através do brinquedo que a criança estabelece contato com o mundo externo, recria situações de desafios, satisfaz sua curiosidade e desenvolve um modo de vida pessoal que ajuda a converter-se num ser humano integral. (PIRRE; KUDO, 1997, p.197)

 

O desenvolvimento infantil ocorre através do brincar, ele traz uma melhor perspectiva de vida e proporciona a exploração do mundo. Os autores Issa, Rodrigues e Oliveira (2009) revelam que através da atividade lúdica a criança viaja para um mundo encantado, onde os objetos conhecidos se transformam nas mais variáveis formas, onde ela se deixa levar pela imaginação. Tal atividade possibilita à criança exteriorizar suas emoções, seus sentimentos como medo, ansiedade e euforia podem ser facilmente identificados nas brincadeiras.

A brincadeira proporciona prazer, descoberta, criatividade e expressividade. Segundo Pfeifer, Rombe e Santos (2009), é na brincadeira que a criança pode reviver situações que lhe causaram excitação, alegria, ansiedade, medo ou raiva.

É através do brincar que a criança entra no mundo imaginário, onde fantasia e realidade se misturam. Para Brunello, Murasaki e Nóbrega (2010), o brincar permite o florescimento da criatividade, da comunicação e da expressão.

                        Carvalho et al. (2005) revelam que a criança, quando está brincando, entra em um mundo de busca, descoberta, indagação, escolha, criação e recriação. Para os autores, o lúdico não proporciona apenas simples prazer, mas também um estado de tensões, conflitos, escolhas, limites, vivenciando a linha tênue entre equilíbrio e desequilíbrio, diferente e semelhante, união e desunião.

                        O brincar é peça fundamental para a formação infantil. Para Rodrigues (1976), a brincadeira transpassa o universo das emoções, exercendo papel também no desenvolvimento da inteligência, além de exercer a função de comportamento social. Assim, a brincadeira extravasa sua importância para além de cada indivíduo.

                        Santos et al. (2006) afirmam que:

 

O brincar é uma necessidade humana, uma atividade fundamental ao desenvolvimento e aprendizagem da criança, pois é brincando que ela pode (re)criar, (re)construir, (re)contar, (re)conhecer a si mesma e o ambiente e adquirir novas habilidades cognitivas, físicas e de participação social.

 

O desenvolvimento físico motor também é efetivado através das brincadeiras. Segundo Valadares e Araújo (1999), os jogos e as brincadeiras desenvolvem qualidades psicomotoras como a tonicidade, relaxamento, lateralidade, equilíbrio, percepção espacial, percepção temporal, coordenação motora e expressão corporal.

 

1.3 O lúdico na Educação Infantil

 

Devido a diversos fatores, a brincadeira na rua está sendo extinta, até mesmo nas pequenas cidades do interior, prejudicando a transmissão da cultura infantil. Dentro das casas, a propagação da cultura da brincadeira tradicional também vem sendo interrompida, principalmente pela diminuição do número de filhos em cada família. A escola como centro de produção de conhecimento pode assumir o papel de transmissão da cultura infantil. 

Para Friedmann (2012), nos últimos tempos, fatores como diminuição do espaço físico, diminuição do tempo livre, consumismo propagado pela indústria do brinquedo, sedentarismo provocado pela televisão, jogos eletrônicos e mais recentemente as redes sociais, incitam preocupação com a diminuição da brincadeira tradicional por estudiosos e educadores, que passaram a pesquisar, resgatar e revelar a importância das antigas brincadeiras para o desenvolvimento integral da criança.

Segundo Sommerhalder e Alves (2011), apesar das dúvidas e conflitos entre atividade lúdica e educação escolar ao longo da história da educação infantil, não há como negar a necessidade da criança pelo lúdico, o que o torna indispensável nas instituições de educação infantil, porém, para parte dos professores, o lúdico é visto como simples recreação e o desenvolvimento e a aprendizagem seriam atribuição das atividades “sérias”, assim a escola leva o conhecimento por um caminho oposto ao do prazer.

A escola que vive em constante crise deveria ser um lugar privilegiado de educação, se ela privilegiasse o prazer de ensinar, inspiraria o prazer em aprender. O processo de ensino-aprendizagem através do lúdico é mais significativo, mais rico e mais fértil tanto para docentes como para discentes. O reconhecimento do lúdico significa o reconhecimento da cultura infantil (SOMMERHALDER; ALVES, 2011).

                        Em seus estudos, os autores Nista-Piccolo e Moreira (2012) relatam que é possível unir a brincadeira ao aprendizado, sendo que o lúdico, na escola de primeira infância, deve permear as propostas, alinhar os conteúdos e sofrer a mediação do professor. Através do brincar a criança desenvolve a memória, a expressão de diferentes formas de linguagem, as sensações e emoções, sendo que a aprendizagem pela satisfação é um caminho, além de prazeroso, mais eficiente do que a aprendizagem por obrigação.

Friedmann (2012) revela que a aprendizagem depende da motivação, as necessidades e os interesses das crianças são importantes para que elas se dediquem a uma atividade. As atividades lúdicas, além de serem de interesse da criança, abrem uma porta para o mundo social, para as culturas infantis e incentivam o desenvolvimento integral das crianças.

Os jogos e brincadeiras são indispensáveis para a aquisição prazerosa de conhecimentos e para o desenvolvimento integral dos educandos, mas existe uma grande dificuldade da escola em ensinar através do lúdico. Para a maior parte dos sistemas de ensino os momentos lúdicos são simples recreação ou atividades livres sem nenhum comprometimento com a aprendizagem ou desenvolvimento da criança.

      Dallabona e Mendes (2004) relatam que o processo de ensino-aprendizagem deve resgatar o lúdico, sem deixar de lado os conteúdos. A educação lúdica não significa passatempo ou simples diversão. A educação através do lúdico possibilita um desenvolvimento global e uma visão de mundo melhor.

As brincadeiras dirigidas contribuem para desafios cognitivos, promovendo avanço no seu desenvolvimento; acesso aos conhecimentos específicos como matemáticos, lingüísticos, científicos, históricos, físicos; promovem interações; desenvolvimento das emoções, da autonomia, da autoestima e da confiança; trabalham valores e desafios físico-motores (FRIEDMANN, 2012).

      Para Cipriano Carlos Luckesi (2000), a ludicidade oferece fundamentos para a educação voltada a um futuro menos neurótico e mais promissor, restaurando e estabelecendo uma vida saudável, proporcionando a administração da vida pessoal, coletiva e profissional da melhor forma possível. A prática educativa lúdica, por estar centrada na experiência, proporciona ao educando e também ao educador oportunidade de entrar em contato consigo mesmo e com o outro, levando em consideração o ser humano na sua totalidade.

 

Através do brincar as crianças nos revelam de várias maneiras a importância terapêutica natural, que auxilia na formação infantil de forma satisfatória, desde o emocional, intelectual, social e físico. Quando proporcionamos às crianças o ato do brincar, estamos oferecendo muito mais atos em si mesmo, notáveis aos olhos, onde há uma possibilidade de perspectiva de vida melhor. (JUNQUEIRA, 1999, p.1)

 

Quando a criança chega na escola de Educação Infantil, ela já é fonte de cultura, trazendo para a escola sua cultura lúdica. Embora a cultura escrita seja privilegiada pela escola, não se deve negligenciar a cultura folclórica da criança. Deve ser valorizada a diversidade cultural que o aluno traz de seu primeiro meio social que é sua família.

A escola recebe um tesouro cultural que chega com cada aluno, esse tesouro único não deve ser negligenciado e sim manipulado de tal forma que se agregue valor. Quando se soma a cultura de diversas crianças, educamos para a diversidade, quando se exalta a cultura de uns em detrimento da cultura de outros, educamos para a desigualdade.

                        Para Friedmann (2012), o desenvolvimento integral não tem sido considerado na maior parte das escolas, as atividades são estruturadas de modo compartimentado: atividade de coordenação motora, atividade de expressão plástica, atividade de raciocínio, atividade de linguagem, atividade recreativa (sem nenhum objetivo pedagógico). A fragmentação demasiada vai contra a formação integral da criança.

O autor e folclorista Rocha (1996) defende que todo ser humano é provido de cultura. Todos somos parte do povo, produtores e consumidores de cultura. Os fatos folclóricos de que temos conhecimento são a matéria prima para a nossa formação educacional, são importantes, pois herdamos e trazemos para nosso grupo social.

 

As brincadeiras tradicionais e populares fazem parte do patrimônio lúdico dos diferentes grupos infantis, constituindo as culturas da infância. Elas são uma forma especial da cultura folclórica, que se opõe à cultura escrita, oficial e formal. O que as distingue e caracteriza são seus critérios de formação e seu mecanismo de transmissão, os quais fazem delas um tipo de folclore infantil e da cultura popular em geral. Anonimamente criadas e modificadas em um processo de esforço coletivo, elas são a produção espiritual do povo acumulada ao longo do tempo. (FRIEDMANN, 2012, p. 59)

 

A atividade lúdica também é um excelente momento de observação do professor para avaliação do processo educacional, observando as crianças brincarem, podemos perceber se o ensino que a escola propôs foi interiorizado.

Friedmann (2012) cita que a partir da observação das brincadeiras, o professor pode verificar o comportamento grupal e individual dos alunos, observar o estágio de desenvolvimento das crianças, assim como seus valores, ideias, interesses, necessidades, conflitos, problemas e potenciais. (FRIEDMANN, 2012).

 

1.4 Análise do lúdico

 

A atividade lúdica como atividade didática, planejada, pode ser analisada sobre vários aspectos e dividida em diferentes formas de jogos e brincadeiras.

Para Friedmann (2012), o brincar pode ser analisado sobre diferentes enfoques como: sociológico (influência do contexto social em que os grupos de crianças brincam); educacional (contribuição do brincar no processo ensino-aprendizagem); psicológico (brincar como meio de compreender o funcionamento da psique, das emoções e da personalidade da criança); antropológico (maneira como a brincadeira reflete os costumes, valores e história de cada cultura); folclórico (brincar como expressão da cultura infantil através das diversas gerações, assim como as tradições e costumes nelas refletidos através dos tempos). Através do jogo, da brincadeira e do brinquedo podemos observar o comportamento corporal, linguístico, cognitivo, social, moral, cultural, afetivo, as atitudes, reações e emoções vividas.

                        Para Wallon (2007), o brincar é próprio da criança, ajudando a mesma a se desenvolver integralmente. O autor divide as brincadeiras em jogos funcionais, onde é observado o primeiro estágio das brincadeiras, que são constituídas por movimentos simples como estender e encolher braços e pernas, agitar os dedos e as mãos, tocar objetos, produzir sons, sendo estas atividades simples as que preparam para outras mais complexas; jogos de faz-de-conta ou ficção - fazem parte deste grupo o brincar com bonecas e as diversas brincadeiras onde se utiliza simulação e interpretação, como transformar um cabo de vassoura em cavalo; jogos de aquisição, onde a criança se atenta e se esforça para compreender e reproduzir os fatos que lhe são de interesse, como imitar canções, gestos, sons, imagens e histórias e jogos de construção ou fabricação, onde a criança junta, combina, transforma e cria novos objetos.

                       

1.5 Conscientização ambiental

 

                        Devido a atual degradação ambiental e a necessidade urgente de se reverter esse quadro, a questão ambiental está em evidência na sociedade atual, mas o grande desafio é conciliar a sociedade capitalista com a preservação ambiental.Embora a sociedade tenha consciência dos malefícios da destruição do meio ambiente, toma poucas atitudes efetivas de preservação.

                        O consumismo exagerado leva a um problema que até então não tem solução que é a produção de uma quantidade de lixo muito maior do que o planeta pode suportar. O trabalho com reutilização de materiais, além de diminuir o consumo, conscientiza sobre a produção do lixo.

A sociedade deve ter consciência de que grande parte de tais resíduos que são considerados lixo podem ser reutilizados. Segundo Alves et al. (2012), a reutilização e a reciclagem são práticas antigas, mas que ainda não são consideradas com a devida importância. Através da reciclagem e da reutilização de materiais que teriam como destino o lixo, conseguiremos reduzir os danos causados ao meio ambiente, diminuir o impacto ambiental e preservar as fontes naturais.

Para Alves e Pereira (2015), a grande geração de resíduos sólidos e o acúmulo insustentável de lixo em aterros sanitários, lixões e terrenos baldios trazem impactos negativos à saúde pública e ao meio ambiente se tornando motivo de preocupação. Quando os recursos naturais são usados de forma desordenada proporcionam consequências graves.

A escola como centro de ensino tem como um de seus papéis produzir e transmitir conhecimentos para que o discurso do ambientalmente correto saia do papel e se transforme em atitudes reais por toda a sociedade.

Para Alves e Pereira (2015), a escola tem o papel de formar cidadãos críticos, conscientes e reflexivos, capazes de interferir na sociedade para uma melhora ambiental. O trabalho com educação ambiental deve ser feito de forma transversal e interdisciplinar, abordando os saberes e valores da sustentabilidade, provando, instigando e incomodando as crianças.

O trabalho com Educação Ambiental deve começar desde a primeira infância. Para Alves et al. (2012), na Educação Infantil, a criança está formando sua personalidade, por isso é tão importante que ela receba informações que contribuam para o desenvolvimento e conhecimento da preservação do meio ambiente. Essas crianças se tornarão multiplicadores de um modo de vida mais consciente.

 

1.6 A sucata na Educação Infantil

 

      Através do lúdico é possível trabalhar concretamente. A possibilidade de a criança construir seu próprio brinquedo auxilia a prática educativa em que se valoriza a criatividade, a interação social, a construção e a transformação, proporciona também a conscientização ambiental e a reflexão sobre o consumismo, além de ser viável financeiramente.

A sociedade atual valoriza o consumismo, o pronto, a moda, a sofisticação, a praticidade, o descartável. Isso faz com que a capacidade de criação seja comprometida. Mesmo lhe dando um brinquedo pronto, a ânsia de criar e recriar da criança vai fazer com que ela o desmonte para estudá-lo e analisá-lo. (BRUNELLO; MURASAKI; NÓBREGA, 2010)

      Segundo Sommerhalder e Alves (2012), a sociedade capitalista deixa de lado os brinquedos e brincadeiras populares, mas o consumismo e a tecnologia não são sinônimos de felicidade e muito menos de qualidade. A sociedade por vezes se engana quando acredita que brinquedo bom é o sofisticado, que realiza muitas funções, de designer moderno e última tecnologia. Muitos brinquedos podem alimentar mais o consumismo do que o desenvolvimento da criança. Quanto mais industrializado for o brinquedo, mais limitada fica a criança, ela apenas reproduz aquilo que já está pronto, perdendo a oportunidade de criar, recriar, montar e desmontar. Talvez um brinquedo simples de sucata produza muito mais significado para a aprendizagem e desenvolvimento infantil. A criança sente grande valor afetivo ao brinquedo construído por ela própria, quanto mais ela se dedica à construção do brinquedo, maior sua felicidade ao final da tarefa. Essa construção traz para a criança uma imagem positiva de si mesma. Tal trabalho ainda pode resgatar os brinquedos populares.

 A reutilização de sucata como material pedagógico, ou seja, materiais que já cumpriram com seu objetivo principal e seriam descartados, mostra uma interessante proposta na educação infantil. Entende-se por brinquedo de sucata o objeto construído artesanalmente, utilizando-se materiais como madeira, papel, lata, plástico e outros de uso cotidiano que teriam como destino o lixo, pois já cumpriram sua função principal, mas ainda podem ser transformados para ter novas funções. Essa ação de transformar o pronto leva a um processo de criação (BRUNELLO; MURASAKI; NÓBREGA, 2010).

      A construção de brinquedos com uso de sucata favorece a conscientização, a pesquisa, a construção, a criatividade, a imaginação e a viabilidade. A criação de um brinquedo a partir de sucata leva à aprendizagem, conhecimento, troca de interações sociais, alegria, respeito mútuo e cooperação. A reutilização de materiais para confecção de brinquedo, além da questão ambiental e financeira, desperta na criança a capacidade de criação que é um caminho para a saúde física e mental (BRUNELLO; MURASAKI; NÓBREGA, 2010).

Com base nesses preceitos teóricos, desenvolvemos um projeto para confecção de brinquedos de sucata, o qual teve como objetivos, além do desenvolvimento integral da criança a partir do lúdico, o conhecimento e a conscientização a respeito do meio ambiente.

 

2 – PESQUISA DE CAMPO

 

2.1 Estudo de caso

 

O estudo de caso é uma estratégia de investigação que se revela eficaz no campo educativo. A natureza da pesquisa foi estudo de campo. Para uma maior consistência da pesquisa e melhor interpretação dos dados foi realizado, como base nos estudos, uma pesquisa de revisão bibliográfica. Assim tivemos coleta de dados indireta (através da pesquisa bibliográfica e pesquisa eletrônica) e direta (através da observação e entrevista dos indivíduos estudados).

Para Meirinhos e Osório (2010), o estudo de caso permite analisar o objeto no seu real contexto, utilizando fontes de evidência qualitativas e quantitativas. O estudo de caso permite uma lógica de construção do conhecimento, ele se torna coerente quando está estruturado sobre uma metodologia rigorosa onde os objetivos sejam claros, assim como o embasamento teórico da investigação, que deve apresentar ideias teóricas já abordadas pela literatura, fornecendo um plano de investigação, de busca e interpretação de dados. Portanto as informações devem ser registradas e analisadas criticamente com base nos conceitos teóricos.

 

2.2 Abordagem quantiqualitativa

 

A principal característica das pesquisas qualitativas é o fato de que estas seguem a tradição ‘compreensiva’ ou interpretativa. Isto significa que essas pesquisas partem do pressuposto de que as pessoas agem em função de suas crenças, percepções, sentimentos e valores e que seu comportamento tem sempre um sentido, um significado que não se dá a conhecer de modo imediato, precisa ser desvelado. Dessa posição decorrem as três características essenciais aos estudos qualitativos: visão holística, abordagem indutiva e investigação naturalística. A visão holística parte do princípio de que a compreensão do significado de um comportamento ou evento só é possível em função da compreensão das inter-relações que emergem de um dado contexto. A abordagem indutiva pode ser definida como aquela em que o pesquisador parte de observações mais livres, deixando que dimensões e categorias de interesse emerjam progressivamente durante os processos de coleta e análise de dados. Finalmente, investigação naturalística é aquela em que a intervenção do pesquisador no contexto observado é reduzida ao mínimo (ALVES-MAZZOTTI e GEWANDSZNAJER, 1999, p.131).

 

Para Ramos (2014), a abordagem qualitativa é a mais apropriada para as pesquisas no campo educacional, pois tal área é dinâmica e complexa devido à grande diversidade de sujeitos e culturas e de inúmeros casos a serem estudados.

Contudo, para Ramos (2014), não podemos desprezar o valor científico da pesquisa quantitativa, pois esta fornece medidas precisas e confiáveis para uma análise quantificável e estatística. Também tem o papel de medir opiniões, atitudes e preferências de uma determinada amostra populacional. Faz com que a linguagem do pesquisador se torne objetiva, racional, precisa, científica e neutra.

Ainda segundo Ramos (2014), é importante ressaltar que grande parte dos pesquisadores tem associado essas duas abordagens de pesquisa, trazendo dados estatísticos como fonte de informação e utilizando fundamentações teóricas para compreender o contexto dos dados de campo.

Para Meirinhos e Osório (2010, p. 51) “a utilização de dados qualitativos e quantitativos, na mesma investigação, vai no sentido de olhar para estas metodologias como complementares e não como opostas ou rivais.” Portanto, para realizar a pesquisa sobre “o brinquedo de sucata como recurso de Educação Ambiental na pré-escola”, realizou-se o paradigma quantiqualitativo, ou seja, associar a análise estatística ao significado das relações humanas, procurando assim compreender e interpretar melhor os dados coletados durante o trabalho. Este tipo de pesquisa está se tornando frequente e tem como fator positivo a integração entre dados quantitativos e qualitativos no mesmo estudo, procurando oferecer o que cada um tem de melhor, assim evitando as limitações que cada abordagem teria isoladamente.

 

2.3 Campo de pesquisa

 

                        Para Ramos (2014, p. 14) “a pesquisa de campo é realizada quando se tem por objetivo estudar um determinado fenômeno da realidade, como uma escola, a prática de uma professora específica, ou práticas pedagógicas em uma sala de aula.”

Esta pesquisa foi realizada em uma escola de Educação Infantil da rede municipal de ensino. A escolha desta escola se deu por eu trabalhar neste estabelecimento há oito anos, assim conhecendo o ambiente e a comunidade escolar. A escola está localizada no município de Tabapuã, cidade pequena, com aproximadamente 11.000 habitantes, no interior do Estado de São Paulo. Situa-se no centro da cidade. A comunidade escolar é composta por diversas faixas socioeconômicas, visto que no município não há escolas particulares. A escola conta com aproximadamente 150 alunos e 10 professores, sendo dois professores especialistas nas disciplinas de Educação Física e Língua Inglesa e uma professora auxiliar. Abrange apenas o ensino infantil, com aulas nos turnos da manhã e da tarde. Quanto à estrutura, a escola conta com um prédio conservado, as salas não deixam a desejar em tamanho pela quantidade de alunos, o mobiliário é composto por carteiras (adequadas ao tamanho dos alunos), quadro com giz, rádio, TV, mini biblioteca, diversos brinquedos e jogos, ventilador, cortinas e até aparelho repelente de mosquitos. Cada sala tem a capacidade de atender aproximadamente 25 alunos. O prédio conta com um grande parque infantil, com brinquedos novos e chão de areia, pátio coberto, refeitório, cozinha, sala dos professores, quatro banheiros (sendo dois para funcionários e dois para os alunos), lavanderia, uma espécie de depósito onde são guardados materiais escolares, pequeno cômodo onde são guardados materiais de educação física, secretaria e diretoria. Quanto aos recursos tecnológicos, ela possui em todas as salas e no pátio TV e rádio, para os eventos realizados na escola também são utilizados microfones e caixa de som. Na sala dos professores, na secretária e na diretoria existem computadores com conexão à internet e impressoras que ficam disponíveis aos funcionários e professores.

Esse estudo contou com a aplicação de dois questionários a quinze alunos e um questionário aos pais ou responsáveis de alunos da escola. Esses alunos fazem parte da única classe de Pré II da escola no período da tarde, sendo que todos os alunos dessa sala participaram do estudo. A elaboração dos questionários visou avaliar os conhecimentos prévios dos alunos quanto à temática ambiental e, após a oficina, foi feito novo questionário para comparação entre os conhecimentos anteriores e posteriores à oficina. Os pais dos alunos participantes da pesquisa receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), sendo informados do compromisso do sigilo e da não remuneração para a participação na pesquisa, concordando com a participação.

 

2.4 Oficina

 

Objetivo Geral:

·                     Refletir sobre a reutilização de materiais descartáveis.

 

Objetivos Específicos:

·                     Explicar a importância da reutilização de materiais;

·                     Apresentar brincadeiras tradicionais esquecidas pelas novas gerações;

·                     Estimular a habilidade e a criatividade;

·                     Desenvolver a coordenação motora geral;

·                     Identificar formas de reutilização de materiais descartáveis em brinquedos.

 

Procedimentos metodológicos:

Mobilização:

Aula 1: A primeira aula do Projeto foi destinada à mobilização dos alunos, fazendo uma roda de conversa sobre lixo, reciclagem e reaproveitamento, assim verificou-se os conhecimentos prévios dos alunos sobre o tema. Em seguida foi questionado se eles sabiam ou já tinham visto brinquedos feitos com materiais que iriam para o lixo. Previamente foi solicitado aos pais dos alunos para que trouxessem para a escola os materiais necessários à confecção dos brinquedos.

Instrumentalização:

As três aulas seguintes foram destinadas à instrumentalização: em cada aula foi confeccionado um tipo de brinquedo e logo após todos conseguirem fazer seus objetos, foi estimulada a brincadeira.

Aula 2 (fitas): Cortou-se três tiras de folhas de revistas, jornais ou retalhos de papel crepom, foram enroladas em uma base feita de jornal, amarrou-se com barbante deixando que sobrasse 50cm para as crianças segurarem. Após a confecção foi estimulada a brincadeira.

Aula 3 (bilboquê): Recortou-se a tampa de uma garrafa pet, pegou-se outra tampinha que foi furada no meio, amarrou-se um pedaço com cerca de 30cm de barbante entre as duas tampinhas. Deixamos que cada aluno enfeitasse seu brinquedo e em seguida mostramos como era a brincadeira. Aqueles que tiveram dificuldades receberam auxílio.

Aula 4 (pião): Furou-se uma tampinha de refrigerante e fixou-se um palito de dente no centro dela. Cada aluno decorou seu brinquedo e aqueles que tiveram dificuldades receberam auxílio.

Avaliação:

Aula 5: A última aula do projeto foi destinada à avaliação final. Novamente foi realizada uma roda de conversa com os educandos sobre os mesmos temas da primeira aula e foi observado se eles adquiriram conhecimentos sobre tais temas. Também foi questionado se eles conheciam outros brinquedos produzidos a partir da reutilização de materiais.

 

Recursos utilizados:

·                     Revistas;

·                     Jornais;

·                     Papel crepom;

·                     Barbante;

·                     Garrafa pet;

·                     Fita adesiva;

·                     Palito de dente.

 

2.5 Análise do questionário aplicado aos pais/responsáveis.

 

Os pais/responsáveis participantes da pesquisa, de modo geral, têm certo conhecimento sobre preservação do meio ambiente, mas tal conhecimento além de ser limitado, não gera, em uma parte considerável dos pais, mudanças de hábitos. Alves e Pereira (2015), afirmam que atualmente percebe-se que a educação ambiental vem recebendo destaque, sendo fundamental que práticas ambientalmente corretas sejam discutidas chamando a atenção da sociedade para o uso e acesso inadequado aos recursos naturais.

Questionados sobre o interesse aos assuntos relacionados ao meio ambiente (Gráfico 1), oito se manifestaram muito interessados, seis razoavelmente interessados e um pouco interessado.

 

Gráfico 1

 

Quando questionados se praticam alguma ação para proteger o meio ambiente em seu dia-a-dia (Gráfico 2), seis responsáveis disseram que sim, cinco disseram à vezes, dois disseram que não e dois não souberam responder. Quanto às ações, seis não especificaram, quatro disseram separar o lixo reciclável, quatro disseram não jogar lixo nas ruas/rios, outras ações citadas apenas uma vez foram economizar água, não acumular entulho e não poluir.

 

Gráfico 2

 

Sobre a importância da abordagem da Educação Ambiental desde a Educação Infantil (Gráfico 3), 13 pais/responsáveis disseram ser muito importante e dois disseram ser importante.

 

Gráfico 3

 

Quanto ao costume de reutilizar materiais (Gráfico 4), nove disseram que não, porque não sabem fazer reaproveitamento de materiais, dois disseram que não, porque lixo é para ser jogado no lixo, quatro disseram que reutilizam, destes, três reutilizam garrafas pets e um caixas de leite.

 

Gráfico 4

 

Quando perguntados se antes de jogar algo no lixo, há o pensamento em como poderia reutilizá-lo (Gráfico 5), oito dos pais/responsáveis assinalaram algumas vezes, quatro assinalaram pouquíssimas vezes, dois marcaram todas as vezes e um assinalou que nunca.

 

Gráfico 5

 

Na questão sobre a separação do lixo que pode ser reciclado (Gráfico 6), oito pessoas anotaram que separam algumas vezes, quatro pessoas nunca separam e três dos entrevistados separam sempre.

 

Gráfico 6

 

Foram também questionados sobre quem deveria fazer a separação do lixo doméstico (Gráfico 7), doze dos pais/responsáveis anotaram que deveria ser feita pelas próprias pessoas da casa, três anotaram pelos catadores/garis.

 

Gráfico 7

 

Foi pedido para que falassem sobre os termos reciclar, reutilizar e reaproveitar. Nesta questão pode-se observar que seis pessoas falaram corretamente, dentre estes um relatou que “reciclar é processo que visa transformar materiais usados em novos; reutilizar é usar um objeto para outro fim e reaproveitar é usar aquilo que já foi usado”. Seis, mesmo relacionando tais termos ao meio ambiente, não conseguiram defini-los “garantir o meio ambiente, o ecossistema e um futuro melhor para nossa descendência” e três não responderam.

Quanto ao interesse em projetos de reutilização ou reciclagem de materiais (Gráfico 8), nove pessoas disseram estar interessadas ou muito interessadas, três pessoas não responderam e três relataram que estão razoavelmente ou pouco interessadas.

 

Gráfico 8

 

A última questão trata da consciência ambiental. Doze pessoas relataram que têm consciência, destas uma disse “sim, me considero uma pessoa consciente, mas não sou muito interessada”. Três pessoas disseram “não muito”, “mais ou menos” ou “em partes”.

 

2.6 Análise do questionário aplicado aos alunos antes da oficina

 

Os alunos participantes desta pesquisa apresentam, de modo geral, pouco conhecimento do tema. Quanto a este aspecto, Alves; Pereira (2015) pontuam que a formação da consciência sustentável deve se iniciar na primeira infância, logo que as crianças adquiram a capacidade de compreender os conceitos do tema. A Educação Ambiental trabalhada de forma interdisciplinar desde a pré-escola proporciona que o aluno, além de crescer refletindo criticamente sobre o valor dos recursos naturais, se torne multiplicador dos conceitos sustentáveis, podendo modificar antigos padrões sociais prejudiciais ao meio ambiente.

Quando questionados sobre o que é lixo (Gráfico 9), doze alunos não souberam responder, dois alunos disseram a respeito do lixo: “é o que põe na lixeira”, “os negócios que jogam fora”.

 

Gráfico 9

 

Questionados sobre o que eles fazem com o lixo produzido em suas casas (Gráfico 10); um aluno não soube responder, um aluno disse que “vira dengue” e os outros doze alunos disseram que jogam no cesto/lata de lixo ou que o caminhão do lixeiro leva embora.

 

Gráfico 10

 

Quando questionados sobre o que fazem com o lixo produzido na escola (Gráfico 11), treze alunos disseram que jogam no cesto de lixo/lixeira, dois alunos não souberam responder e um disse “a moça da limpeza pega”.

 

Gráfico 11

 

Questionados sobre o que sabem a respeito de coleta seletiva, nenhum aluno conseguiu explicar tal procedimento. Sobre separar o lixo para reciclagem (Gráfico 12), quatorze alunos disseram que não separam, enquanto apenas um disse “separo papel e garrafa”.

 

Gráfico 12

 

A respeito do destino do lixo produzido no município (Gráfico 13), dez alunos não souberam responder, quatro disseram que o lixo vai para o lixão/buracão e um disse “vai para a reciclagem”.

 

Gráfico 13

 

Perguntado se eles jogam lixo no chão, foram unânimes em dizer não. Os motivos para não jogar lixo no chão foram variados, cinco dos alunos disseram que não jogam lixo no chão porque a mãe não deixa/fica brava, três relataram que não jogam porque suja, três não souberam responder, um disse que não gosta, um disse que não pode, um disse que provoca dengue e um disse que não joga lixo no chão “porque tem que jogar na lixeira, para não ficar a casa suja”. Quando questionados se o lixo jogado no chão causa poluição (Gráfico 14), doze alunos responderam que sim, enquanto três responderam que não.

 

Gráfico 14

 

Quando foram questionados a respeito do conceito de reciclar (Gráfico 15), treze dos alunos não souberam responder, um aluno disse “o negócio que joga fora as coisas e dá para usar para fazer outro negócio” e outro aluno confundiu reciclagem com reutilização  relatando “que é fazer brinquedo, fazer coisas”.

 

Gráfico 15

 

Quanto ao conceito reutilização de materiais nenhum dos quinze alunos soube explicar. O mesmo aconteceu com o conceito meio ambiente. Já sobre o conceito de educação ambiental, quatorze alunos não conseguiram explicar, enquanto que um aluno disse que é “educar as pessoas”. 

 

2.7 Análise do questionário aplicado aos alunos após a oficina

 

                        Após o Projeto de construção de brinquedos com sucatas, foi realizada nova entrevista com os alunos. Para critério de comparação, esta entrevista contou com as mesmas questões da primeira. Em comparação com o primeiro questionário, observou-se que os alunos aumentaram seus conhecimentos quanto ao tema.

                        Na primeira questão, que trata sobre o que é lixo (Gráfico 16), oito alunos continuaram não sabendo responder, enquanto sete relataram entre suas respostas “é o que joga fora”, “vidro, papel, lata, garrafa”, “o que vai para a reciclagem”.

 

Gráfico 16

                       

Na segunda questão, sobre o procedimento tomado com relação ao lixo produzido em casa, onze alunos disseram que jogam na lixeira, um aluno disse que separa para a reciclagem, dois não souberam responder e um disse que não faz nada.

                        Na questão sobre o que o aluno faz com o lixo produzido na escola, quatorze alunos disseram que jogam na lata/cesta do lixo, enquanto que um disse que não faz “nada”.

                        Com relação à coleta seletiva, apenas um aluno soube responder o que era “separar latinha, litro, papel, revista”.

                        Na quinta questão foi perguntado se o aluno separa o lixo de casa para reciclagem (Gráfico 17). Três alunos disseram que não e doze disseram que separam materiais como lata, papel e garrafa.

 

Gráfico 17

                       

Na questão sobre o destino do lixo no município, dez alunos não souberam responder e cinco disseram que vai para o “lixão”.

                        Quanto a jogar lixo no chão, os alunos foram unânimes em dizer que não jogam, destes quatro não souberam responder porque não jogam lixo no chão, sete disseram que não jogam porque “pode causar dengue”, dois “porque a mãe não deixa”, um não joga porque “pode escorregar” e outro disse que “é proibido”. Os alunos foram unânimes em dizer que o lixo jogado no chão causa poluição.

                        Sobre o termo reciclagem, doze alunos não souberam explicar, enquanto três conseguiram definir o termo: “levar para reciclagem para fazer outra coisa”. Nenhum aluno conseguiu definir o termo reutilização de materiais. Quanto ao termo meio ambiente, quatorze alunos não souberam responder, enquanto que um disse que “são as árvores”. Sobre o termo educação ambiental, nenhum dos alunos soube responder.

                        A última questão foi sobre práticas de reutilização de materiais (gráfico 18), sete alunos não souberam responder e oito citaram a confecção de brinquedos com sucatas.

                       

Gráfico 18

                       

Percebe-se, através da análise dos questionários, que os alunos refletem a falta de informações e cuidado com o meio ambiente advindo da sociedade, observando que os questionários aplicados aos pais evidenciaram o desinteresse e o limitado conhecimento sobre o tema.

                        A partir das análises, pode-se perceber que o projeto foi positivo, apresentando resultados relevantes, sendo capaz de auxiliar no processo de ensino/aprendizagem para formar cidadãos críticos e conscientes, uma vez que a maior parte dos alunos mudou a maneira de pensar sobre o assunto, a perspectiva é que os alunos sejam transmissores de tais conhecimentos para mudar a realidade de suas famílias e suas comunidades.

                        Para Alves e Pereira (2015), é importante, desde a Educação Infantil, abordar a questão ambiental, sendo esta uma importante ferramenta interdisciplinar que leva à aquisição de valores que considerem uma mudança de hábitos e padrões em benefício do meio ambiente.

                       

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O lúdico sempre fez parte da cultura infantil, contribuindo para o desenvolvimento integral da criança. Atualmente diversos fatores levaram a uma diminuição das brincadeiras tradicionais, podendo causar prejuízos ao desenvolvimento cultural, social, intelectual e físico das crianças. A escola como difusora de conhecimento e cultura deve atentar-se para a importância do lúdico que leva a um processo de ensino-aprendizagem mais significativo e prazeroso.

A Educação Ambiental vem ganhando destaque na sociedade contemporânea, as pessoas começam a ter consciência sobre o que é benéfico ou prejudicial ao meio ambiente, porém, embora esse tema esteja sendo popularizado, a sociedade continua tomando atitudes de desrespeito aos recursos naturais. O discurso politicamente correto quanto à preservação do meio ambiente não leva às praticas que causem menos impactos ao mesmo.

Um grande desafio da atualidade é reduzir a produção de lixo numa sociedade consumista. A formação de cidadãos conscientes e críticos é um dos papéis dos sistemas de ensino. O trabalho de conscientização e respeito ao meio ambiente deve começar na primeira infância, fazendo com que as crianças, além de se conscientizarem sobre a importância da preservação ambiental, se tornem divulgadores, fazendo com que o conhecimento transpasse os muros escolares e penetre na sociedade.

Quando a escola de Educação Infantil reutiliza materiais que iriam para o lixo em suas práticas pedagógicas, além da conscientização ambiental e da reflexão ao consumismo, resgata brincadeiras tradicionais e propicia um desenvolvimento harmônico da criança.

O estudo de caso revelou que os pais, em sua maioria, têm conhecimento limitado e pouco interesse sobre a importância da preservação ambiental, isso reflete nas crianças que reproduzem atitudes de desrespeito ao meio ambiente. As crianças, no início do projeto tinham pouco conhecimento sobre as questões ambientais e práticas ambientalmente corretas, contudo no final do projeto já apresentavam melhora nos níveis de consciência ambiental e mudanças de antigos hábitos que causam prejuízo ambiental.

 

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Ilustrações: Silvana Santos