Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
27/11/2016 (Nº 58) PRÁTICAS DE GESTÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ATRAVÉS DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA
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PRÁTICAS DE GESTÃO AMBIENTAL NO ENSINO SUPERIOR: CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO ATRAVÉS DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

 

 

Janaína Balk Brandão – Engenheira Agrônoma, Mestrado e Doutorado em Extensão Rural pela Universidade Federal de Santa Maria; Docente do Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural da UFSM. Av. Roraima nº 1000, Cidade Universitária, Bairro Camobi, Santa Maria/RS, CEP: 97105-900. E-mail: janainabalkbrandao@hotmail.com

Gabriella Eldereti Machado - Química Licenciada pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha Campus Alegrete; Especialista em Educação Ambiental (UFSM), discente do Mestrado em Educação na Universidade Federal de Santa Maria. Av. Roraima nº 1000, Cidade Universitária, Bairro Camobi, Santa Maria/RS, CEP: 97105-900. E-mail: janainabalkbrandao@hotmail.com

 

 

 

RESUMO

 

Este trabalho relata o desenvolvimento de um Projeto de Ensino e Extensão desenvolvido dentro da UFSM que tem como foco a educação ambiental em escolas.  Como resultado obteve-se a criação de jogos pedagógicos inéditos entregues às professoras demonstrando que é possível inovar nas práticas educativas.

 

Palavras-chave: Educação Ambiental; Produção de materiais didáticos; Metodologia de ensino.

 

ABSTRACT

 

This paper reports the development of a Teaching Project and Extension developed within the UFSM whose environmental education focus in schools. As a result creation is obtained unpublished educational games delivered to teachers demonstrating that it is possible to innovate in educational practices.

 

Keywords: Environmental education; Production of teaching materials; Teaching methodology.

 

1 INTRODUÇÃO

 

A ‘Gestão Ambiental’ enquanto componente curricular de insere recentemente nos Projetos Pedagógicos de Cursos no Centro de Ciências Rurais (CCR) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), remontando à última década. Entretanto, dos cinco cursos existentes no Centro (quais sejam: Agronomia; Engenharia Florestal; Medicina Veterinária; Tecnologia de Alimentos; Zootecnia) apenas os Cursos de Zootecnia e Tecnologia de Alimentos efetivamente incluem em seus programas.

Sabe-se da emergência dos temas relacionados ao meio ambiente relativo à produção e transformação de alimentos, tanto sob o aspecto do potencial poluidor das diferentes atividades desenvolvidas quanto pelas características intrínsecas dos sistemas produtivos, tais como, polarização das unidades produtivas, baixo nível de escolaridade, falta de fiscalização, etc. Neste sentido, procurando contribuir para a formação acadêmica dos futuros profissionais do Curso de Tecnologia de Alimentos e de Zootecnia, o presente artigo aborda uma experiência realizada através do desenvolvimento de um projeto de Educação Ambiental que atenta para a correta destinação dos resíduos gerados, integrando ensino e extensão.

Silva e Haetinger (2012) constataram que a Educação Ambiental aparece na maioria dos currículos de cursos superiores de forma tímida, cercada de dúvidas e dificuldades, limitando-se a projetos isolados, ou apenas em uma única disciplina, de baixa carga horária, que pela sua ementa não dá conta de qualificar e visualizar na prática uma possível conexão da área ambiental com a formação profissional, o que evidencia a necessidade de ampliarmos os espaços de reflexão a cerca desse tema. Para os autores, o mundo do trabalho tem apresentado alterações significativas por conta do avanço da ciência, da tecnologia e das mudanças no cenário econômico, político e social, o que clama por profissionais com visão empreendedora e com competência especializada, mas que acima de tudo tenham habilidade diante das questões ambientais e promovam práticas e iniciativas sustentáveis, visando ao respeito ao meio ambiente, ao uso inteligente dos recursos naturais e ações com vistas ao desenvolvimento local/ regional, e principalmente, ajam com compromisso ético-ambiental, para garantia de melhor qualidade de vida, proteção e sustentação ambiental.

Neste contexto, considera-se importante iniciativas nas quais a universidade possibilite aos docentes e aos alunos espaços de experimentação de suas aprendizagens e autonomia, principalmente se permitirem interação e contribuição com a comunidade externa, formando relações de cooperação, além da valorização do contexto escolar e da educação de base. Assim, o trabalho apresentado traz uma reflexão acerca do potencial motivador de aprendizagens, pensando no jogo como um instrumento estratégico e problematizador que auxilia o trabalho docente nas escolas (GRAPIGLIA , 2015).

O referido trabalho está inserido dentro de um projeto maior denominado ‘Projeto de Extensão Escola Responsável’, que se insere na comunidade externa  por meio de uma proposta de incentivo e fortalecimento da educação ambiental no âmbito escolar no município de Alegrete (RS), atentando especialmente para a problemática da correta destinação dos resíduos gerados no âmbito escolar e alternativas para (re)utilização desses resíduos. Atualmente o projeto está no segundo ano de execução, abrange cinquenta professores, vinte funcionários e quinhentos alunos de duas escolas da cidade de Alegrete, dando continuidade às ações iniciadas no ano de 2015. Em 2016 insere-se de forma sistemática acadêmicos cerca de oitenta acadêmicos de graduação que cursam as disciplinas  de Gestão Ambiental dos cursos de Zootecnia e Ciência e Tecnologia em Alimentos da Universidade Federal de Santa Maria, a fim de propiciar a troca de saberes entre acadêmicos e comunidade escolar sendo uma forma de interação que deve existir entre a universidade e a comunidade.

 

1   INSERÇÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO

 

1.1   Problemática ambiental no contexto da Educação Superior

 

As Instituições de Ensino Superior assumem um papel importante diante do desenvolvimento sustentável, através de duas esferas: Esfera Educacional e Esfera Gerencial (CARVALHO, 2006). Logo, criam-se possibilidades para a construção de um terreno mais firme e com horizontes voltados à formação de novos sujeitos, sendo chamados de sujeitos ecológicos (CARVALHO, 2006).

No Ensino Superior, as iniciativas para propor a discussão das temáticas de educação ambiental, ou até mesmo a organização do ambiente universitário voltado à sustentabilidade ainda são tarefas a serem potencializadas. Destaca-se a pesquisa realizada por Fouto (2002) a qual investigou na Universidade Politécnica da Catalunha, qual a função do Ensino Superior para o desenvolvimento sustentável (FIGURA 1), se utiliza desse autor, pois é referência na área de Gestão Ambiental em Instituições de Ensino Superior, é o pioneiro ao discutir o papel das Instituições e suas funções voltadas ao desenvolvimento sustentável, trazendo o caso da Universidade de Politécnica da Catalunha na Espanha. A pesquisa de Fouto é problematizada em diversos artigos acadêmicos que tratam das questões ambientais no âmbito da Gestão Ambiental, podendo-se destacar: Tauchen & Brandli (2006); Silva et. al. (2015); Oliveira & Gadelha (2014); Lara (2012).

 

Figura 1 – Esquema que sintetiza o papel da universidade e o desenvolvimento sustentável

 


Fonte: Fouto (2002).

 

Quanto às práticas voltadas à gestão ambiental no meio acadêmico, salienta- se que podem ser inseridas de forma contextualizada e interdisciplinar através da educação ambiental, como ressalta Tozzoni-Reis (2001, p.42):

 

Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que imprime ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, com o objetivo de potencializar essa atividade humana, tornando-a mais plena  de prática social e de ética ambiental.

 

Destaca-se que a educação como um caminho para o desenvolvimento  sustentável, envolvendo a sociedade como um todo, efetivando a Lei 9.795 (27 de abril de 1999, Capítulo I. Art. I), que se propõe discutir as problemáticas ambientais através da Educação Ambiental, entendida como um processo no qual o indivíduo e coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas à conservação do meio ambiente, ao uso comum do povo, e a qualidade de vida e sustentabilidade (BRASIL, 1999).

Como aporte teórico das atividades realizadas traz-se uma discussão feita por Viana & Ribeiro (2014) na qual problematizam a questão da didática no ensino superior a partir de uma análise bibliográfica que colabora e incentiva docentes a proporem transpor-se didaticamente em sua prática educativa, inovando para se propor forma mais contextualizada e próxima do cotidiano dos alunos. Batalha et. al. (2015) destacam que para a educação ambiental há a necessidade de inserir na formação de professores de Geografia, fato que se assemelha ao que trazemos neste artigo, no caso dos cursos das Ciências Rurais.

 

1.2   Construção do conhecimento no Ensino Superior

 

O processo de ensino e aprendizagem no ensino superior é caracterizado por diversas concepções, desde o ensino tradicional (SAVIANI, 2007), até a proposta de metodologias inspiradas no construtivismo de Piaget (1987) e Vigotski (2007) fazendo a diferença no espaço acadêmico. No ensino tradicional o professor é a fonte do conhecimento (RODRIGUES et. al., 2011) e, desta forma, torna-se responsável pela sua transmissão de uma forma quase que mecânica aos alunos, fato que pode ser explicado através da concepção bancária que Freire (1987) trás quando discute que educação bancária é aquela no qual o professor é o centro do saber, com um saber autoritário que é transmitido ao aluno através de um depósito de conteúdos, sem haver uma reflexão sobre o cotidiano e o processo de ensino e aprendizagem (URBAN et. al., 2009).

A educação construtivista propõe justamente o contrário do ensino tradicional, ou seja, que no processo de ensino e aprendizagem o aluno participe ativamente, e que esse processo ocorra através de um viés problematizador, onde ao invés dos alunos decorarem o que o professor ensino, os alunos são sujeitos em sua aprendizagem e os professores são mediadores do conhecimento neste contexto, destacando Freire (1987, p.29) onde menciona que a educação deve ocorrer através de um “diálogo crítico e libertador”, deixando em evidência a autonomia tanto do docente quanto dos alunos. A universidade como um espelho da escola deve propor-se a mudanças, e principalmente nas relações entre os sujeitos, professores e alunos, pois como menciona Werneck (2006, p.186) “o conhecimento acadêmico é um processo contínuo de correção de rumos que embora histórico ultrapassa as relações sociais, as concepções de mundo e as ideologias”.

Devido à educação superior apresentar uma estrutura diferente ao aluno, um contexto fundamentado no tripé ensino, pesquisa e extensão (FIORIN, 2015) se podem permear estes cenários acadêmicos, contribuindo para a construção do conhecimento e das experiências dos sujeitos. Dessa forma como menciona Vigotski (2007, p. 87) “o aprendizado é considerado um processo puramente externo que não está envolvido ativamente no desenvolvimento”, ou seja, o aprendizado é composto por diversos processos internos de desenvolvimento, e estes processos são despertados através da interação dos sujeitos com seu ambiente, seja ele nas suas atuações acadêmicas e relações com as atribuições da sua futura profissão, como pode ser ressaltado por Vigotski (2007, p. 103):

 

O aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e  especificamente humanas.

 

 

Dessa forma, o ensino não se resume somente ao trabalho docente, é algo que vai além desta relação entre professor e aluno, pois é uma construção em conjunto, o ensino e aprendizagem se concretizam nas relações, nas contribuições de saberes e vivências que cada um carrega e vai modificando ao decorrer do seu caminho acadêmico. Levando em conta que professores e alunos no ambiente da educação superior dividem responsabilidades, que vão desde as aulas até a produção do conhecimento (FIORIN, 2015), configurando exigências de ambos os lados que motivam uma (re)significação contínua na formação acadêmica.

 

2   METODOLOGIA

 

Como forma de aproximar a UFSM da comunidade e incentivar a criatividade dos acadêmicos, foi solicitado aos mesmos criassem materiais didáticos que pudessem ser utilizados pelas escolas participantes do Projeto Escola Responsável (em nível de educação básica), focadas na sensibilização para a questão ambiental, especialmente no que se refere à correta destinação dos resíduos.

Para tanto, cerca de setenta acadêmicos foram incluídos no projeto guarda-chuva e puderam acompanhar as atividades desenvolvidas nas Etapas iniciais do projeto, que contempla cerca de 50 professores, 20 funcionários e 400 alunos de duas escolas no município de Alegrete. As atividades foram desenvolvidas concomitantemente ao Conteúdo programático de cada disciplina no decorrer do primeiro semestre do ano de 2016.

Os acadêmicos foram divididos grupos de quatro alunos e estimulados a desenvolverem idéias inéditas e originais, relacionadas à temática, de modo que pudessem ser utilizadas nas escolas sob a coordenação das professoras. Os materiais foram desenvolvidos no formato de jogos pedagógicos, adequados a diferentes faixas etárias.

A apresentação ocorreu em sala de aula, sendo incluída na avaliação dos mesmos. Ao final do semestre, foi realizada uma avaliação individual e anônima, na forma de questionário que permitiu uma análise da percepção dos alunos em relação à atividade realizada e a disciplina de Gestão Ambiental como um todo.

O questionário foi organizado contendo quatro perguntas, quais sejam: 1. Como você avalia a abordagem dos temas ambientais no seu curso? 2. Em relação a quanto à disciplina de Gestão Ambiental sensibilizou você em relação à  problemática ambiental? 3. Você acredita que os temas abordados em sala de aula implicarão na sua atitude enquanto profissional? 4. Em relação ao desenvolvimento do material didático, você acredita que ampliou seu aprendizado?

Para facilitar a tabulação dos dados foi utilizada uma escala de que ia de zero a cinco, sendo referente para Pergunta 1: muito insatisfatória, insatisfatória,  razoável, satisfatória, muito satisfatória; Para as perguntas de número 2, 3 e 4 utilizou-se as opções: muito pouco, pouco, razoável, muito, extremamente.

Os questionários eram anônimos, exigindo apenas o sexo (feminino ou masculino) dos alunos. Participaram no curso de Zootecnia 17 alunos e 17 alunas; e no curso de Tecnologia em Alimentos 6 alunos e 25 alunas.

 

3   RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Nesta seção, primeiramente apresenta-se de forma sintética os materiais didáticos elaborados pelos alunos (Item 4.1) e logo após realiza-se uma discussão a cerca dos resultados obtidos (Item 4.2).

 

4.1Materiais produzidos

 

O Quadro 1 apresenta esquematicamente os materiais produzidos pelos acadêmicos.

 

Quadro 1 – Materiais didáticos confeccionados pelos acadêmicos.

 

JOGO

OBJETIVO

Livro de tecido com figuras em E.V.A

O livro confeccionado em tecido contém peças em E.V.A. que podem ser modificadas de lugar, onde o objetivo está na classificação dos objetos em sua respectiva forma de destinação.

História Interativa e Gincana

O jogo possui o objetivo através de atividades lúdicas sensibilizar quanto à importância de ações para a construção de um mundo sustentável. Consiste na leitura de uma história e logo a seguir os participantes são convidados no menor tempo possível depositar as peças no local correto.

Caça Palavras

Com o objetivo de despertar a curiosidade e percepção dos participantes, o caça palavras foi elaborado através do uso de copinhos de café e uso de barbante para contornar as palavras.

Corrida da Separação dos resíduos

Dispõe de caixas de acordo com as cores correspondentes ao tipo de  resíduo, os jogadores deverão acertar o local correto para a destinação dos lixos.

Quebra- cabeças

Composto por 120 peças, sendo seis desenhos diferentes.

Dominó

O jogo composto por 28 peças, no qual uma de suas faces indica os tipos de lixo e sua destinação na lixeira correspondente ao resíduo. O objetivo central é abordar a questão do resíduo e sua correta destinação.

Separação resíduos no tabuleiro

O jogo contém um caminho (trilha) em um tabuleiro no qual a partir da resposta correta dos jogadores ocorre o avanço em seu caminho, onde o jogador que completar primeiro conclui o jogo.

Trilha ecológica baseada em perguntas

Com o intuito de propor a sensibilização em relação a correta destinação dos resíduos o participante avança na trilha na medida em que adota medidas de prevenção e cuidado com o meio ambiente.

Cartelas de perguntas x repostas “Quiz”

Possui como intuito de proporcionar a interação entre os estudantes a partir da leitura e compreensão dos conceitos contidos nas cartelas. E posteriormente vincular os conceitos às suas respectivas cartelas.

Trilhas ecológicas com dados

Em ordem, cada grupo ou participante escolhe seu “peão” e a cada resposta correta irá avançar, incentivando o desafio de pensar sobre os problemas ambientais de uma forma lúdica.

Dominó

Propõem-se por meio do dominó discutir sobre a correta destinação de resíduos ligando o resíduo à sua respectiva lixeira de material reciclável.

Jogo memória

O jogo contém cartas que após serem embaralhadas devem ser ‘viradas’ de duas em duas por cada jogador. Propõe desenvolver através deste jogo um processo de reflexão sobre importância da correta destinação do lixo.

Rouba monte ecológico

Este jogo de cartas apresenta as características do rouba montes original. Entretanto, as figuras estão relacionadas à resíduos.

 

As Figuras 2 e 3 ilustram os momentos de apresentação dos acadêmicos para seus pares. Pode-se perceber a satisfação expressa nos seus rostos e a criatividade dos materiais apresentados.

 

 

 

FIGURA 2 - Apresentação dos materiais didáticos produzidos na turma de Ciência e Tecnologia em Alimentos da UFSM

 


 

 

FIGURA 3 - Apresentação dos materiais didáticos produzidos na turma de Ciência e Tecnologia em Alimentos da UFSM

 


 

 

A Figura 4 ilustra o conjunto dos materiais elaborados pelos acadêmicos.

 

FIGURA 4 – Juntada dos jogos

 

 

 

4.2         Percepção dos acadêmicos sobre a metodologia adotada: resultados e comentários referentes aos questionários aplicados

 

Ao final das atividades realizadas ao longo do semestre, foi disponibilizado um questionário composto de quatro perguntas relacionadas ao desenvolvimento da disciplina. Os resultados obtidos são apresentados através de gráficos que apresentam as diferentes respostas dos sessenta e cinco alunos que participaram da pesquisa. As respostas estavam dispostas numa escala que ia de 1 até 5, sendo que,  quanto mais próxima de 1 mais insatisfatório o resultado obtido.

A primeira pergunta foi relativa à percepção dos acadêmicos com relação à abordagem dos temas ambientais no seu curso (GRÁFICO 1). Percebe-se que a maior parte das respostas ficaram na classificação satisfatória. Entretanto, pondera- se que no Curso de Zootecnia os alunos sujeitos da pesquisa estão no 3º Semestre e na TA no 1º o que não permite aos mesmos uma análise mais crítica, considerando que sequer chegaram na metade dos cursos.

 

 


Gráfico 1 – Pergunta 1: Como você avalia a abordagem dos temas ambientais no seu curso?

 

A segunda pergunta (GRÁFICO 2) objetivava obter uma avaliação da disciplina como um todo e em que medida a mesma foi capaz de sensibilizar os alunos para a problemática ambiental, tão necessária quanto  escassa  nos  dias atuais. Nessa prática educativa realizada é possível problematizar conhecimentos teóricos e práticos sobre a questão dos resíduos e da educação ambiental, contribuindo para a formação de sujeitos mais conscientes sobre os problemas ambientais atuais. Compreendendo o que Tozzoni-Reis (2001, p.42) menciona que: “os conhecimentos técnico-científicos sobre os processos ambientais só têm sentido como conteúdos educativos da Educação Ambiental se ligados de forma indissociável aos significados humanos e sociais desses processos”.

 

Gráfico 2 – Pergunta 2: Em relação a quanto à disciplina de Gestão Ambiental sensibilizou você em relação à problemática ambiental?


Já a pergunta 3, sistematizada no Gráfico 3, teve como meta verificar em que medida uma disciplina com foco na questão ambiental pode ser relevante para a formação acadêmica.

Gráfico 3 – Pergunta: Você acredita que os temas abordados em aula implicarão na sua atitude enquanto profissional?

 


 

 

Conforme esquematiza o Gráfico 3, observa-se visualmente que os resultados obtidos são muito positivos. Se somados o item “Extremamente” e o “Muito” tem-se um total de 58 respostas, o que em termos relativos representa que 89% dos acadêmicos acreditam que os conteúdos curriculares trabalhados serão de muita, ou extrema relevância para sua futura atuação como profissional. Embora a abordagem da questão ambiental em todos os níveis de ensino ainda esteja distante de uma realização efetiva, é evidente a importância de propostas e atividades sobre as temas em questão, relacionando metodologicamente o contexto do ensino superior com o cotidiano e a temática ambiental. Destaca-se o seguinte trecho no qual Tozzoni-Reis (2001, p.44) ressalta:

 

Assim, a prática educativa ambiental, desenvolvida pelos educadores formados nos cursos de graduação, traz, em sua formação, condicionantes sócio-históricos. A complexa relação entre sociedade e educação define o cenário da formação dos educadores. Desta forma, não se pode pensar a formação dos educadores - e a formação dos educadores dos educadores ambientais - como solução definitiva para os problemas socio-ambientais.

 

A quarta pergunta, apresentada no Gráfico 4, refere-se a avaliação pelos acadêmicos da atividade de confecção dos materiais didáticos, neste caso representando os Jogos Pedagógicos.

 

 

Gráfico 4 – Pergunta 4: Em relação ao desenvolvimento do material didático, como você avalia que a atividade tenha ampliado seu conhecimento?

 


 

 

Verifica-se que a atividade teve uma boa aceitação e aproveitamento pelos estudantes. Se somados os acadêmicos que consideraram que ampliou muito ou extremamente a metodologia utilizada, temos 68% o que demonstra que a experiência realizada foi muito proveitosa para maior parte dos alunos.

Por fim, o questionário utilizado como o instrumento de avaliação propunha que o acadêmico fizesse algum comentário de ordem geral sobre as atividades desenvolvidas, das quais seguem alguns exemplos: ”Gostei da forma que foi dirigida as aulas, com relação aos trabalhos foi uma forma de pesquisar sobre o tema, poderá ser elaborado algum trabalho dissertativo ou múltipla escolha para ver se os outros grupos prestaram atenção na apresentação dos outros. E palestras, são ótimas!”; “Ter aulas práticas, ver os problemas ambientais pessoalmente em saídas de campo, etc e assim ajudar a resolver os problemas na cidade ao invés de somente estuda-los teoricamente”; “Realizar visitas para visualizar melhor  a resolução de problemas ambientais”; “Que passe a ser ministrado em todos os semestres do curso, porque é muito interessante e nos faz melhores no sentido de compreender melhor o meio ambiente como trata-lo melhor”.

Dessa forma o saber ambiental, se transforma e não se limita aos laboratórios e salas de aula, mas se perpetua no sentido integrador de processos de autoformação e formação coletiva. Leva-se em conta assim a função que a educação ambiental possibilita de articulação subjetiva do educando e a produção do conhecimento a partir do momento em que problematiza a problemática ambiental (LEFF, 2001).

No mês de agosto de 2016 houve a entrega dos materiais elaborados dentro na UFSM e que serão utilizados por professores e alunos da rede de educação básica. Ao mesmo tempo em que foi entregue os materiais produzidos pelos acadêmicos as professoras expuseram a diversidade de materiais que elas desenvolveram dentro do ambiente escolar. Observou-se o encantamento e entusiasmo por parte das professoras, demonstrando que é possível construir conhecimento, em consonância com as demandas da sociedade, ligando os diferentes níveis de ensino, aproximando de fato a universidade da comunidade.

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Considera-se que a abordagem utilizada contribuiu tanto na questão metodológica do ensino superior quanto para a sensibilização para a problemática ambiental, produzindo nos discentes inquietações e fazendo com que os mesmos compreendam a complexidade que é produzir ou manipular alimentos, para além de uma ótica puramente produtivista. Como indicativo de estudos futuros argumenta-se que é conveniente aplicar um questionário semelhante em cursos das rurais que não tenham a disciplina de Gestão Ambiental, especialmente no que se refere a primeira pergunta, numa tentativa de comparar a percepção dos mesmos.

Foi significativa a relação de trocas de saberes ao aliar a extensão universitária e o ensino, provocando os discentes ao desenvolvimento da consciência sobre as questões ambientais do cotidiano, propondo outros espaços metodológicos para a construção do conhecimento no ensino superior, na perspectiva do uso dos jogos didáticos, potencializando a capacidade crítica, criativa e cognitiva dos discentes.

 

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Ilustrações: Silvana Santos