Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
27/11/2016 (Nº 58) FEIRA DE CIÊNCIAS E ENSINO DE CIÊNCIAS: DESDOBRAMENTOS ESCOLARES
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Feira de Ciências e ENSINO DE CIÊNCIAS: desdobramentos escolares

Science Fair and Science Education: School Developments

 

Valéria da Silva Lima [valeriaslima8910@yahoo.com.br] Mestranda do IFRJ (Nilópolis)

Maylta Brandão dos Anjos[maylta@yahoo.com.br] Docente do curso de Pós Graduação Strictu-Sensu do IFRJ(Nilópolis)

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Nilópolis, R.J.

Rua Lúcio Tavares, nº 1045, Centro Nilópolis, Rio de Janeiro

                                                                                           

Resumo

Afeira de Ciências vem se constituindo um evento importante para o Ensino nos anos iniciais, pois segundo estudos, contribui para a aprendizagem colaborativa entre professores, alunos e comunidade escolar, favorecendo a divulgação científicaalém de garantir momentos interativos de visitas individuais e coletivas, de pesquisa, observação,experimentação, leituras, análise investigativa de fatos e apresentação de trabalhos.O objetivo trabalhadona Feira de Ciências foi o dedisseminar os saberes científicos para o público em geral, auxiliando na democratização do ensino, num viés crítico da realidade. Diante disso, este artigo relata observações participantes em duas escolas municipais onde foram realizadas Feiras de Ciências, numa metodologia que privilegia a abordagem qualitativa. O estudo foi centrado no sujeito como ser social, favoreceu por meio de observações e ações participantes, novos caminhos e novos desdobramentospara que o Ensino de Ciências Naturais contribua para a educação cidadã, compartilhando conhecimentos científicos e criando um olhar investigativo sobre os fenômenos da natureza. Dessa forma, a Filosofia da Práxis amparada em Gramsci, nos serviu de aporte teórico para pensar a ação educativa mais democrática e acessível.

Palavras-chave:Feira de Ciências, Ensino Fundamental, Ensino Aprendizagem

 

Abstrat

 

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The science fair is becoming an important event for teaching in the early years, because according to studies, contributes to collaborative learning between teachers, students and school community, encouraging the scientific disclosure in addition to ensure interactive moments of individual visits and collective research, observation, experimentation, readings, analysis developed in facts and presentation of papers. The goal worked in Science Fair was to disseminate the scientific knowledge to the general public, aiding in the democratization of education, a critical bias of reality. In addition, this article reports comments participants in two municipal schools where they were performed Science Fairs, a methodology which focuses on the qualitative approach. The study was focused on the subject as a social being, favored through observations and actions participants, new paths and new developments for the teaching of natural sciences will contribute to the education of citizens, sharing knowledge and creating a look on investigative the phenomena of nature. In this way, the philosophy of praxis embodied in Gramsci, was our theoretical contribution to thinking the educative action, more democratic and accessible.

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Keywords: Science Fair, Elementary Education, Teaching Learning

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Introdução:

Cada vez mais a escola demanda de conhecimentos e experiências que aproximem os sujeitos dos olhares da ciência e da tecnologia. Dentro de novas demandas, observamos que as Feirasde Ciências se constituem em eventos importantes para o Ensino nos anos iniciais, pois contribui para a aprendizagem colaborativa entre professores, alunos e comunidade escolar, favorecendo a divulgação científica além de garantir momentos interativos de visitas individuais e coletivas, de pesquisa, observação, experimentação, leitura e análise investigativo de fatos e apresentação de trabalhos.

Para a organização de Feiras de Ciências énecessária uma concepção de educação dialógica visto que a dialogicidade é a essência da educação como prática da liberdade, na medida em que os sujeitos se encontram pelo diálogo, mediados pelo mundo a fim de pronunciá-lo. Esses momentosse traduzem num processo dialógico de aprendizagens, na medida em que professor e aluno precisam selecionar e decidir o que vão estudar, para organizar e produzir experimentos ou materiais que serão apresentados. (FREIRE,1987)

A proposta se fundamenta no pensar crítico da realidade, pois o diálogo, em aula, se fundamenta numa situação pedagógica, refletido, planejado e organizado no ensino,num exercício de inquietação que não pode ser imposto, mas sim problematizador, tendo em vista a transformação.(FREIRE,1987)

Um dos principais objetivos da Feira de Ciências foi disseminar os saberes científicos para o público em geral de uma maneira bem dinâmica e colaborativa. Diante disso, este artigo teve o objetivo de relatar observações participantes em duas escolas municipais de Barra Mansa, onde foi realizada Feiras de Ciências.

A escola sendo uma instituição que valoriza a formação da cidadania para o conhecimento e transformação do mundo, a partir do Ensino de Ciências, pode levar o aluno a pensar, a exercer uma postura científica, indagar, observar e compreender a natureza com postura crítica.

A realização da Feira de Ciências foi indicada pela secretaria Municipal de Educação e todas as escolas deveriam realizar trabalhos referentes ao Tema “Luz”, numa parceria com o Museu Interativo de Ciências do Sul Fluminense.

Parcerias com espaços de divulgação científica como o Museu Interativo é fundamental para a formação continuada dos professores para o ensino de Ciências, favorecendo a aprendizagem de conceitos, contextualização de diversos saberes, consolidação de conhecimentos, desafios e entendimento do saber científico como resultado de um processo de buscas e descobertas coletivas.

O foco do tema “Luz”, normalmente é trabalhado nos anos finais do Ensino Fundamental, porém a inciativa de promover um ensino com os conceitos científicos podendo ser trabalhados desde os anos iniciais, fez com que os profissionais do Museu realizassem momentos de trocas com os professores para a democratização e ampliação do ensino.

O projeto “Uma Luz para as Crianças”, teve o objetivo de popularizar o ensino de Ciências no interior do Estado do Rio de Janeiro. As etapas do projeto foram de realizar palestras para professores dos anos iniciais, realização de uma Mostra Pedagógica e visitas guiadas ao Museu para alunos dos anos iniciais, exposições e oficinas.

Sabendo que a Ciência, é acima de tudo, uma construção humana, as Feiras de Ciências escolares são importantes espaços de conhecimento interdisciplinar, nos quaisalunos, professores e comunidade em geral, podem participar de exposições, experimentos e muito mais.

Dessa forma, a Filosofia da Práxis amparada em Gramsci, nos serviu de aporte teórico para pensar a ação educativa mais democrática e acessível a todos num espaço de disseminação de saberes científicos aos alunos iniciantes da Educação Básica para que o ensino de Ciências seja entendido como uma produção histórica cultural.

Educação crítica da realidade: a feira, a ciência, o ensino e Gramsci

A escolha teórica para formulação dessa pesquisa participante está fundamentada nas bases da educação crítica da realidade e tem numa atividade pedagógica o viés de registro dos acontecimentos da feira, intermediando o diálogo entre a ciência, o ensino e Gramscina Filosofia da Práxis que, localizada no plano da análise crítica-social em que a centralidade é a questão humana sustentada por um princípio de ética e dignidade, se ergue num discurso contra hegemônico a fim de defender o chão da escola como o grande elo que pode reascender a cultura e mobilizar os saberes que instigam as relações e que dá solidez ao pensamento criativo na construção e hipótese estabelecida pela descoberta e desdobramentos do conhecimento.

É nesse contorno que as estruturas hierarquizadas sofrerão seus abalos e caminharemos para o que não tem hierarquia, ou pelo menos não deveria ter, como o conhecimento praticado para a bem da humanidade. É dessa forma que tanto conhecer a importância da inclinação da Terra que nos oferece compreender as quatro estações é tão igual a conhecer a importância de um autor como Gramsci que nos faz pensar a educação na sua ciência, vivência, fazer cultural e na organicidade política e ideológica.

[...]em suma, todo homem, fora de sua profissão, desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, é “um filósofo”, um artista, um homem de gosto, participa de uma concepção de mundo, possui uma linha consciente de conduta moral, contribui assim, para manter ou modificar uma concepção do mundo, isto é, para promover novas maneiras de pensar.(GRAMSCI, 1979.P.8)

Portanto, iniciamos com a Filosofia da Práxis o processo de cisão do discurso de castas e, a partir daí, podemos estabelecer e criar o discurso da contextualização e integração dos pensamentos e saberes. E não há momento mais propício, em que pese outros momentos, mais fértil para essa práxis que os Anos Iniciais oferecem num espaço de divulgação científica.

Metodologia                  

 A pesquisa realizada foi qualitativa, por creditar o estudo centrado no sujeito como ser social,como espaço de diálogo e escritas que caminham na conjunção subjetiva de uma atividade formadora, que trabalha na dimensão de aproximar o olhar à ciência e à natureza. A pesquisa por meio de observações participantesfavoreceu novos caminhos e os desdobramentosauxiliou para alargar a compreensão do Ensino de Ciências Naturais.

A pesquisa qualitativa tem como pressuposto epistemológico o estudo de comportamentos humanos e sociais, está alicerçada na relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, numa unidade viva em que, o sujeito e o objeto, relacionamcom o mundo objetivo e o subjetivo em sua subjetividade. (CHIZOTTI, 2010)

As observações participantes foram realizadas em duas escolas municipais localizadas na periferia de Barra Mansa. Os fatos foram registrados em caderno de campo e passaram aser analisados tendo por aporte os autores trabalhados ao longo do processo, sejam eles Gramsci, Freire e Tardif.

A pesquisa participante se origina numa perspectiva social, onde as interações coletivas reais dos próprios participantes, buscamum elo entre teoria e prática em ações refletidas criticamente, em que todo o processo de construção, coleta de dados, análises e resultados, interferem nas práticas do grupo da pesquisa, promovendo várias e novas investigações que se dirigem à transformação social.(BRANDÃO, 2007).

Interagindo Experiências em Feiras de Ciências,

         A Feira de Ciência é um evento que acontece em várias escolas brasileiras com o objetivo de promover o ensino e aprendizagem de conceitos científicos por meio de exposição de trabalhos e experimentos, porém muitas pessoas ainda veem este espaço como um espaço de lazer e passeio, sem compreender a riqueza que uma feira pode proporcionar.

A realização da Feira de Ciências foi indicada pela secretaria Municipal de Educação e todas as escolas deveriam realizar trabalhos referentes ao Tema “ Uma Luz para as crianças”, numa parceria com o Museu Interativo de Ciências do Sul Fluminense, localizado no município de Barra Mansa.¹

O Museu Interativo de Ciências do Sul Fluminense, foi inaugurado em 2014, com objetivo de possibilitar a divulgação científica, formação continuada dos professores e ser um centro de estudos sobre as Ciências para o sistema de ensino municipal.¹Dentro desse quadro, os MIC auxiliam a construção o de um olhar crítico que contribua para a compreensão do Ensino de Ciências e dos fenômenos ligados a ele.

O espaço se divide em dois ambientes: um laboratório multidisciplinar e um salão permanente, onde são realizadas visitas agendadas e guiadas por um profissional especializado. O laboratório oferece diversas oportunidades com experimentos nas áreas das Ciências Naturais, envolvendo conceitos interdisciplinares de Química, Física e Biologia.[1]

Antes da realização da Feira de Ciências, os professores da rede municipal de Barra Mansa, participaram de uma formação continuada sobre o Ensino de Ciências no Ensino Fundamental, no ambiente foi sinalizado as dificuldades encontradas no ensino e, as possibilidades de efetivar o ensino de Ciências Naturais, promovendo conceitos da temática “Luz para as crianças”.

A proposta da Feira de Ciências, foi um momento de formação com um profissional da área das Ciências Naturais, um biólogo, que a partir de seu conhecimento disciplinar, colaborou para a formação em serviço dos professores dos anos iniciais.

De acordo com TARDIF(2002), os saberes disciplinares,

[...] são definidos e selecionados pela instituição Universitária. Estes saberes integram-se igualmente a prática docente através da formação (inicial e contínua) dos professores nas diversas disciplinas oferecidas pela universidade. (TARDIF,2002.P.38)

         Na formação continuada, os professores receberam orientações sobre como trabalhar as Ciências Naturais para alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental, por que trabalhar e de que forma tendo em vista a formação cidadã e o conhecimento do mundo, construindo conceitos das Ciências Naturais.

         Assim, o sistema educativo de Barra Mansa, promoveu um curso de atualização, destinado aos docentes que atuam nos anos iniciais da Educação Básica, para   apreenderem a construírem conceitos e instrumentos para mediaçãodo ensino.

         Esse trabalho de formação  para professores dos anos iniciais é importante pois fornece diagnósticos das concepções alternativas que os professores trazem, as quais na maioria vezes, baseadas no senso comum, são semelhantes a dos educandos, necessitando assim de evoluir em conceitos sistematizados. (TEODORO,2001).

         Além do aprendizado, a formação continuada é um espaço de interação coletiva que pode favorecer o estudo das descobertas científicas, por meio da história da Ciências, bem como os desdobramentos para as construções históricas do saber científico.

         As interações coletivas docentes são importantes para que o ensino de Ciências valorize não somente os conteúdos, mas também a apropriação e produção dos saberes sociais.

         Teodoro (2001) estuda Gil Perez (1991), o autor afirma que, ainda existem algumas concepções errôneas sobre o trabalho científico no ensino de ciências, os quais precisam ser conhecias e combatidas para que o ensino seja de construção democrática, que são: a visão empirista e aleatória, na qual a observação e experimentação são neutras na construção do conhecimento.A visão rígida em que o método científico tem caráter quantitativo, as etapas são seguidas mecanicamente com controle rigoroso.A visão não problemática que consiste na transmissão dos conhecimentos elaborados sem problematiza-los. A visão exclusivamente analítica que ressalta a parcialização dos estudos, a delimitação e a simplificação.Na visão cumulativa linear, os conhecimentos são resultados de um processo linear, ignorando os problemas e o pensamento comum. A visão do senso comum, que, valoriza os conhecimentos do senso comum, deixa de lado o fato de que, a construção científicaprovém de questionamentos sistemáticos do óbvio. A visão “velada” elitista, que esconde o conhecimento atrás do aparato matemático, não favorecendo a acessibilidade científica, como construção humana passível de erros. A visão individualista, em que os conhecimentos são apresentados como produções de gênios isolados e finalmente a visão descontextualizada socialmente neutra, onde o esquecimento das relações sociais entre ciência, tecnologia e sociedade eleva o papel do cientista a cima do bem e do mal.

Pensando num ensino cada vez mais próximo do conhecimento científico construído por sujeitos que na coletividade produzem ciências, os educadores municipais, receberam um guia de orientações e sugestões teóricas e práticas para a confecção e utilização do caleidoscópio, cinema de palito, óculos em 3D, representação do eclipse e o Disco de Newton.

Importante entendermos que, não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino, e essas ações mútuas colaboram para busca e indagação, pois ensinando também vou aprendendo e assim continuo educando e sendo educado, na medida que, pesquiso para conhecer algo que ainda não conheço para compartilhar a novidade. (FREIRE, 1996).

Em observações no campo da pesquisa,participamos das aulas em que os professores compartilharam saberes com os alunos. Eles realizaram vários experimentos, confeccionaram instrumentos que favoreceram o ensino e aprendizado de Ciências Naturais, visto que:

As aulas de ciências são geralmente cercadas de muita expectativa e interesse por parte dos alunos. Existe um a motivação natural por aulas que estejam dirigidas a enfrentar desafios e a investigar diversos aspectos da natureza sobre os quais a criança tem, naturalmente, grande interesse[...] (BIZZO, 2009)

         Muitas atividades foram desenvolvidas com as crianças e apresentadas na Feira de Ciências, como o Disco de Newton e a formação do arco-íris, os óculos 3d, o cinema de palitos, o caleidoscópio, confeccionaram um terrário, a sala das sensações, participaram de leituras de textos informativos sobre a biografia de Thomas Edson, fases da Lua, Sistema Solar e fotossíntese.

         Diante disso, trabalhar a ciência, como um ensino culturalmente mais abrangente, possibilitando o entendimento do processo de produção  científica ainda é  um grande desafio para o ensino nos anos iniciais da Educação Básica.

Os saberes experienciais foram sendo construídos com os sujeitos do ensino e em interação com os saberes pedagógicos, disciplinares e curriculares. Esses saberes nascem da experiência e são validados por ela por meio da interação coletiva e individual do saber fazer e ser. Com isso um professor ideal é capaz de lidar com todos esses saberes garantindo assim domínio, integração e mobilidade entre os saberes (TARDIF, 2002).

                                                                               

Fotografado pela professora do 5º ano para os alunos descobrirem o segredo ao olhar com os óculos 3D

A atividade com os óculos 3D, foi realizada pela professora do 5º ano com os alunos, que deveriam olhar e descobrir a partir do viram porque será que esse processo de deu.

 

Fotografado na Escola Municipal Vila Elmira. Confecção do terrário para observação e aprendizagens

Na imagem 2, a professora do 2º ano está confeccionando um terrário com os alunos, para observar e estudar o ciclo da vida, por isso ela conversou com os alunos que o terrário deveria ficar fechado para que a turma pudesse acompanhar as transformações, observando continuamente o processo vital.

 O terrário é um recurso didático excelente para estudar o ambiente, o ciclo da água, os seres vivos, o solo, efeito estufa, os seres bióticos e abióticos e suas relações. O terrário é uma representação de ecossistema terrestre, onde as plantas se relacionam com outros seres vivos e que podem ser estudados a partir de observações diárias, registros por meio de fotografias, diário de bordo, exposições orais, ilustrações e escrita de textos informativos e descritivos.

 

Fotografado na escola. Alunos observando o caleidoscópio

A professora e alunos do 5º ano construiu um caleidoscópio, que é um aparelho óptico que permite a formação de imagens associadas a espelhos planos. O objeto foi feito com três réguas , várias paetês e botões, cujo objetivo foi de levar os alunos a pensarem sobre as imagens que podem se formar a partir de um prisma.

Sala das Sensações, relato da professora do 5º ano da Escola Municipal Nonô Reis.

“A Sala das Sensações foi idealizada assim que lançaram o tema Luz para a Mostra Pedagógica da prefeitura de Barra Mansa, comecei no conteúdo de Ciências do 5º ano - Sistema Nervoso- e assim que chegamos no Órgão do sentido, que é onde conseguimos perceber o mundo ao nosso redor, lancei a ideia para a turma, que foi recebida com bastante entusiasmo.

Daí em diante começamos a aprofundar mais o assunto, levei diversos textos para serem discutidos, acerca do assunto e foram surgindo diferentes ideias para compor nossa Sala das Sensações, sendo todas registradas. A partir daí a turma foi dividida em 5 grupos (cada grupo para um dos sentidos) para que tudo fosse organizado e arrecadado por eles.

Com 2 semanas faltando para a mostra fomos recolhendo e organizando todo o material já arrecadado para conseguirmos fazer o levantamento do que estava faltando.

Com 1 semana faltando para o início da mostra, com a ajuda de diversas pessoas da equipe da escola, estruturamos a sala para que tivesse 3 ambientes distintos e bastante escuros.

O 1º ambiente ficou a mesa do Olfato, Audição e Paladar, o 2º ambiente ficou o Tato e o 3º ambiente a Visão.

Na mesa do Olfato encontravam-se pó de café, canela, hibisco, erva cidreira, louro em pó.

Na mesa da Audição encontravam-se chocalhos com milho, feijão, arroz e conchas. E um chocalho contendo todos os itens citados anteriormente.

Na mesa do Paladar foi colocado balas de frutas macias, bala de café, bala ardida (Halls Preta), maça e laranja.

Na sala do tato foi espalhado diversos materiais com diferentes texturas como caixas de ovos, cabos de vassouras, garrafas pet amassadas, folhas secas, jornal amassado, colchonetes, copos descartáveis, tampinhas de garrafas de vidro, cd’s, lixas e E V A (emborrachado) e era explorado com uma venda nos olhos.

E na sala da visão, foi feito uma apresentação de animais feitos com sombra das mãos.

Cada aluno dos grupos divididos anteriormente fizeram suas apresentações defendendo e explicando os sentidos que cada um aprofundou para os alunos da escola, funcionários e pais que foram visitar a mostra pedagógica. ”

 

 

Fotografado na Escola. Teatro de sombras na Sala das Sensações

 

Fotografado na Escola. Sentindo os sabores na Sala das Sensações

 

As fases da Lua, relato da Professora do 3º ano do Ensino Fundamental

 

“O trabalho desenvolvido com o 3º ano foi sobre as fases da lua e a necessidade da luz do sol para a iluminação da lua.

Através de vídeos animados e explicativos, os alunos conheceram o tema proposto pela professora. Observaram como acontece cada fase da lua e puderam nomear oralmente cada uma delas. Também por meio de um vídeo, conheceram como ocorre o processo em que a lua se coloca entre o sol e a terra, ocultando total ou parcialmente a sua luz numa estreita faixa terrestre, chamado eclipse solar.

Já com o conhecimento do que seria o trabalho exposto pela turma na mostra pedagógica, os alunos concluíram coletivamente a pintura das fases da lua, do sol e do planeta terra. Foram confeccionados pelos alunos, com a intervenção da professora, dois experimentos: o primeiro mostrando o processo de cada fase da lua, com a ajuda de uma lanterna representando o sol, e o segundo mostrando o processo do eclipse solar.

Divididos em grupos, os alunos obtiveram a oportunidade de observar como funciona cada experimento e explicar para os colegas o processo ocorrido.

A partir de atividades escritas, os alunos concluíram que a lua tem quatro fases: lua cheia, lua nova, quarto crescente e quarto minguante. Descobriram também que ela leva de sete a oito dias para mudar de fase e quais são suas características.

Conheceram a história de toda a trajetória percorrida pelo homem para chegar a lua e o período em que cada evento aconteceu, como: o primeiro homem a sair do planeta terra, o primeiro homem a pisar na lua e etc.

Os alunos descobriram que a lua não tem luz própria e precisa do sol para ser iluminada. Aprenderam também, que a lua gira em torno da terra e o sol permanece parado.

Ao final do trabalho o resultado foi satisfatório e os objetivos atingidos”

                                                                                                         

            A fotossíntese, relato apresentado pela professora do 2º ano.

“O projeto sobre a Fotossíntese foi realizado a partir do dia 13 de junho. Iniciamos o projeto com a leitura de um texto “A Importância do Sol para os Seres Vivos”. Onde conversamos sobre algumas palavras do texto que os alunos não conheciam como fotossíntese, clorofila e glicose.  A partir dele iniciamos uma pesquisa sobre a fotossíntese, primeiramente sondando o que as crianças já sabiam e depois propondo uma pesquisa para casa com os pais. Na próxima aula conversamos sobre a importância do sol para a que as plantas realizem a Fotossíntese, e a importância da Fotossíntese para a sobrevivência dos seres vivos. Na sala de aula fizemos um texto coletivo sobre os conhecimentos adquiridos e uma ilustração da Fotossíntese. E, para enriquecer nosso projeto e expor na Mostra Pedagógica, propus que eles fizessem em dupla e com o auxílio dos pais, uma maquete que demonstrasse o processo da fotossíntese.  Ao levarem para sala de aula, pedi para que cada aluno explicasse suas maquetes e   com isso pude avaliar a aprendizagem e participação que cada um deles tiveram na confecção das maquetes. A maioria dos alunos caprichou em suas maquetes demonstrando gosto e conhecimento do assunto. Finalizamos o projeto com a exposição do texto trabalhado, dos desenhos e das maquetes dos alunos.”

 

 

Análise e discussão

A análise se deu na observação participante, num envolvimento por inteiro  com os sujeitos da pesquisa, e o contato direto com o campo garantiu informações e ações sobre os sujeitos em seu próprio contexto, estabelecendo relação dialógica com o grupo (Minayo, 2002).

A pesquisa participante, amparada em Brandão, aponta sua origem numa perspectiva social, reconhecida como uma construção dinâmica de ação comunitária. O compromisso social, político e ideológico do pesquisador se dará com os sujeitos num caráter educativode saber partilhado, abrangente e acessível às camadas populares, a fim de motivar transformação. (Brandão, 2007)

O processo de formação, estudo e ensino para a divulgação científica no espaço escolar nos levou a organizar duas categorias de análise para a pesquisa, que são: a formação em serviço para o ensino e a aprendizagem no processo de construção e apresentação da Feirade Ciências entendido como um processo dinâmico, que envolve pesquisa e ação num exercício de práxis.

A formação em serviço para o ensino numa concepção crítica

O profissional da educação necessita de constante aperfeiçoamento, em especial para ministrar conteúdos das Ciências Naturais, porqueos saberes instituídos e selecionados pela universidade possuem limites na sua execução, e os cursos de formação de nível médio e Pedagogia, ainda não fornecem elementos fundamentais para a sistematização do ensino ao professor polivalente dos anos iniciais.

Ensinar exige, estudo, pesquisa, inquietação, dialética, planejamento e interação, levando em conta a subjetividade do professor, pois o ofício docente, não se restringe somente em  transmissões teóricas, envolve também a crítica social para a transformação e o despertar de sensibilidades para o que acontece por ordem natural e artificial no mundo.

Na pesquisa, observamos que a maioria dos professores apresentou dificuldades em trabalhar o tema “Luz” para as crianças dos anos iniciais, pois acreditavam que esse conceito era muito complexo para o ensino com alunos desta etapa do ensino.

A partir das sugestões e das interações na formação continuada, houve aprendizagens e motivações para o ensino, bem como mudanças na forma de fazer Ciência de maneira colaborativa e dialógica, pois dificuldades e dúvidas que o professor enfrenta, é um convite a pesquisa e à reflexão, pois:

[...]todo professor tem muito que aprender a respeito do conhecimento que ministra a seus alunos e da forma como fazê-lo. Especialmente o professor dos anos iniciais, de quem se exige domínio de assuntos diversos[...], tem diante de si um imenso campo de conhecimentos sobre os quais precisa constantemente se renovar e aprimorar-se. (BIZZO, 2009.p84)

A importância do exercício do pensar crítico e da ação reflexiva para o ensino, favorece a busca por um ensino de qualidade, onde o saber-fazer se traduz em estudos dialéticos os quais devem culminar em conhecimentos que propiciarão a emancipação coletiva da realidade problema.

Analisando a formação oferecida aos professores, vale ressaltar que,  momentos de trocas e ensino, demonstrou ser fundamental na formação cotidiana para a ministração do ensino, principalmente quando se trata do Ensino de Ciências Naturais. Os docentes aprenderam e precisaram estudar para mediar o ensino e transformação de saberes.

A formação docente para o ensino dialético precisa promover mudanças amparados na Filosofia da Práxis garantindo a formação consciente do cidadão desde os primeiros anos escolares levando-os a compreensão do ambiente natural e real.

A aprendizagem no processo de construção e apresentação da Feira de Ciências

Entendemos que, na análise dos dados de um pesquisa qualitativa o sujeito com suas concepções, ideias e experiências se encontram no centro das  observações, pois são eles que darão estrutura aos fatos interpretadas em seu contexto material.

Assim sendo, tanto  professor quanto aluno são sujeitos da aprendizagem. A participação docente em estudos e orientações de ensino, demonstrou que os professores precisam ter apoio pedagógico para auxiliar nas aulas, visto que, os estudos da Ciência constituem um campo que deve estar fundamentado na crítica social à concepção linear da ciência.

O livro didático, revista, artigos e materiais impressos, são recursos importantes de ensino, porém na pesquisa, observamos o papel excepcional de um profissional da área da Biologia mediando o ensino para os colegas professores, visto que o texto escrito como parte das interações para o ensino, não pode ser desvinculado de outras mediações que envolvem os sujeitos.(SOUZA, 2001)

Estudando com teóricos da aprendizagem, já sabemos que o sujeito tem um papel ativo na aprendizagem, seja ele em relação ao estudo do objeto como nos mostrou Piaget, ou nas interações sociais, ampliadas por Vygotsky e mediadas pela cultura. Importante saber que para que aja ensino significativo, o professor precisa de práxis para que o aluno compreenda e não somente receba o conteúdo como transmissão de algo, pois:

Meu papel fundamental, ao falar com clareza sobre o objeto, é incitar o aluno, a fim de que ele, com os materiais que ofereço, produza a compreensão do objeto, em lugar de recebê-la, na íntegra, de mim. (FREIRE, 1996. P.118)

O papel do professor, no contexto do ensino, tem categorias que se apresentam no estudar, no ensino para que o aluno compreenda o ambiente natural nas ciências naturais, começando no ambiente escolar como aconteceu na pesquisa.

Na avaliação dos professores, sobre a realização da feira, eles relataram que, embora tenha sido muito trabalhoso, o planejamento e execução da Feira de Ciências, tanto eles quanto os alunos construíram muitos saberes e experimentos que continuam como recurso de ensino para todos os alunos da escola, o caso do terrário que está exposto no corredor escolar para a continuação da observação e ensino e o disco de Newton.

Relataram também que foi a primeira feira em que eles puderam construir materiais de ensino nos quaisalunos e comunidade poderiam experimentar, observar e também brincar aprendendo, pois as outras feiras que realizavam era sempre produzido bonequinhos com material reciclado para serem descartados.

  Ressaltaram a importância de mais encontros de formação continuada, sobre a realização da feira todos os anos, falaram sobre os materiais pedagógicos para a confecção de experimentos e já marcaram visitas para os alunos no Museu Interativo do Munícipio.

 

Conclusão

         O trabalho com Feiras de Ciências é um movimento de extrema importância para o ensino, na medida em que promove não somente novas aprendizagens, mas, produção, apropriação e divulgação da Ciência no espaço escolar dos anos iniciais, levando em conta seu caráter não linear, mas processual, coletivo e ideológico.

         Importante levantarmos a questão de que é preciso interação e formação docente para a ministração do Ensino de Ciências nos anos iniciais, pois, a formação pedagógica inicial, ainda não prepara o docente para a polivalência nas várias áreas a serem trabalhadas.

Diante disso, na mediação docente com um profissional do Museu de Ciênciasfoi realizada a formação continuada com os docentes, contribuindo para que as concepções alternativas dos professores fossem consolidadas em conhecimento científico para o ensino, disseminando a “Luz”  ao alcance de todos, tornando a Ciência um campo de registros, de saber coletivo, de inovação, de envolvimento com experimentos e observações, entendendo a Ciência como um artefato cultural que favorece  o pensamento crítico  sobre a vida e as formas de pensar o mundo.Por isso, autores que consolidam o pensamento da práxis educacional, casam tão bem em atividades escolares que alargam os olhares sobre a ciência.

 

Referências:

Bizzo, Nélio. Ciências, Fácil ou difícil?/ Nélio Bizzo 1ª ed.-São Paulo: Bituta, 2009

Brandão, C. R.; BORGES, M. C.- A Pesquisa Participante. Rev. Ed. Popular, Uberlândia, v. 6, p.51-62. jan./dez. 2007. Disponível em:http://www.seer.ufu.br/index.php/reveducpop/article/view/19988/10662Acesso em: 27 jul. 2016

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997. 126p. 1. Parâmetros curriculares nacionais. 2. Ensino de primeira à quarta série. I. Título.

Cadernos do Cárcere, volume 2/ Antônio Gramsci; edição e tradução, Carlos Nelson Coutinho; coedição, Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira.- 4ª ed. –Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

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[1] Acesso;htpp micinensebm.blogpot.com.br/2014/10

Ilustrações: Silvana Santos