Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Relatos de Experiências
11/03/2017 (Nº 59) RELATO DESCRITIVO DE UMA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA
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RELATO DESCRITIVO DE UMA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA

 

Gil Dutra Furtado1; Judith Font Batalla2; Dimítri de Araújo Costa3; Cátia Alessandra Câmara Barbosa4

 

1Engenheiro Agrônomo/UFPB, Especialista em Psicopedagogia/UNINTER, Mestre em Manejo de Solo e Água/UFPB, Doutor em Psicobiologia/UFRN, Pós-Doutor em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFPB, Professor Colaborador do PRODEMA/UFPB. E-mail: gdfurtado@hotmail.com

 

2Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas/UFPB, Mestre em Ciências Biológicas (Zoologia)/UFPB, Doutorado em Ecologia e Recursos Naturais/UFSCAR, Professora Adjunto I/Centro Universidade Módulo. E-mail: judith.batalla@modulo.edu.br

 

3Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas/UFPB, Mestre em Ecologia e Monitoramento Ambiental/UFPB, Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA/UFPB. E-mail: costa.researcher@yahoo.com.br

 

4Graduação em Pedagogia/UNP, Especialista em Psicopedagogia/UNP. E-mail: catia.gencati@gmail.com

 

 

RESUMO. O presente trabalho discorresobre um relato descritivo de uma intervenção psicopedagógica clínica, realizado com um aluno de quinto ano do ensino fundamental.Para que seja aplicada de modo eficiente, esta intervenção demanda conhecer previamente e de forma sistematizada as causas que levaram o paciente a necessitar da aplicação deste método. O aluno, denominado de “X”, apresentava dificuldades na aprendizagem e no relacionamento com os colegas de classe, professores e funcionários. Por meio da Anamnese foi possível verificar os reais motivos do educando apresentar tal comportamento, e com isso, foi proposto uma forma adequada de tratá-lo com o método psicopedagógico clínico adequado.

 

Palavras-chave:Anamnese; Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem; Interdisciplinaridade.

 

 

DESCRIPTIVE REPORT OF A CLINICAL PSICOPEDAGOGICAL INTERVENTION

 

ABSTRACT. The present paper discusses a descriptive report of a clinical psychopedagogical intervention, carried out with a fifth year elementary school student. In order to be applied efficiently, this intervention demands to know in advance and in a systematized way the causes that led the patient to need the application of this method. The student, called as "X", presented difficulties in learning and in relationships with classmates, teachers and employees of the public education institution. Through the Anamnesis, it was possible to verify the real motives of the student to present such behavior, and with that, an adequate way of treating him with the appropriate clinical psychopedagogical method was proposed.

 

Keywords:Anamnesis; Operational Interview Centered on Learning;Social-business responsibility; Interdisciplinarity.

 

INTRODUÇÃO

 

O presente trabalho consiste num relato descritivo da experiência de estágio desenvolvido no IEP – Instituto de Educação da Paraíba, realizado a partir da proposta de ensino do curso de Pós-graduação em Psicopedagogia Clinica e Institucional da UNINTER.

A gestora da instituição, junto com seus professores apresentaram o educando “X”, de 13anos, que cursa o 5º ano, que foi encaminhado para um diagnóstico psicopedagogo, com a seguinte queixa:

 

O aluno apresente muita inquietação e com problemas de comunicação com osprofessores, que acaba comprometendo seu aprendizado. O educando tem um histórico de muita dificuldade de aprendizado que inclui reprovação e diversas dificuldades de comportamento social. Embora não tenha dificuldades em todas as matérias, a que mais chama a atenção é a matemática”.

 

A relevância deste trabalho oportuniza aos pós-graduandos o aperfeiçoamento e o entrelaçamento do conhecimento teórico com a construção de um exercício profissional no campo de atuação da psicopedagogia de cunho clínico.

Enquanto psicopedagogo, o professor Gil Furtado preconiza a importância deste trabalho pelo necessário aperfeiçoamento do conhecimento adquirido através do estudo de campo. Sabemos que a educação para a cidadania é uma tentativa de fazer com que haja maior conscientização da sociedade a fim de que ela assuma as responsabilidades sociais e políticas que a ela cabe.

Portanto, como o psicopedagogo se preocupa com os problemas de aprendizagem, este deve ocupar-se com este tipo de processo, estudando assim as características da aquisição do conhecimento humano.

 

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

 

Os instrumentos utilizados para a realização das atividades foram:

- ANAMNESE;

- Informação Social;

- EOCA – Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem;

- Provas Projetivas;

- Provas Projetivas Psicopedagógicas;

- Avaliação das fichas escolar;

- Exames motor;

- Teste de SNELLEN;

- Análise do material acadêmico escolar.

 

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

Identificação da instituição

 

Tipo de instituição: Pública, estadual

 

Número de alunos: 400 alunos

 

Número de salas: 7 salas de aula, 1 refeitório, biblioteca, 1 diretoria e assistência social e 4 banheiros.

 

Turno de funcionários: manhã e tarde.

 

Níveis de ensino: 1º - 5º ano (1ª fase fundamental)

 

Proposta pedagógica: Primeiros Saberes da Infância

 

 

Dados do avaliado

 

Nome: “X”

Data de nascimento: 20 / março / 2001.

Sexo: masculino

Série, ano, ciclo, etapa: 5º ano Ensino Fundamental

 

Repetente: sim

Observações necessárias: Criado pela madrasta “K”

 

 

Registro da queixa

 

O educando “X” foi encaminhado pela coordenação para um diagnóstico psicopedagogo, com a seguinte queixa: O aluno apresente muita inquietação e com problemas de comunicação com os professores, que acaba compro metendo seu aprendizado. O educando tem um histórico de muita dificuldade de aprendizado que inclui reprovação e diversas dificuldades de comportamento social. Embora não tenha dificuldades em todas as matérias, a que mais chama a atenção é a matemática”.

 

 

Registro descritivo dos encontros realizados

 

A avaliação ocorreu entre os dias 29 de julho a 31 de agosto de 2014, totalizando 11 sessões, assim descritas:

 

01ª

29/07

Primeiro contato com escola para explicar os objetivos do estágio.A instituição possui uma grande infraestrutura com salas de aulas, salas para os professores, cantina, banheiros,área livre para as crianças, sala de atendimento pedagógico, dentre vários outros estabelecimentos úteis para a escola; vários profissionais de nível superior, um psicólogo e funcionários de apoio.

Destes, me foi designada uma supervisora, a senhora “Y”, pedagoga.

02ª

01/08

Pela manhã, a diretora “Z”acertou os detalhes do termo de compromisso obrigatório. Neste momento,ela repassou as informações sobre o aluno que iria realizar as atividades com o acadêmico de psicopedagogia.

“X” é aluno do quinto ano e tem a idade de 13 anos. Estuda pela tarde e seu professor é o pedagogo “W”, que possui 64 anos. A diretora relatou que o aluno tem hiperatividade, não tem bom comportamento. Ele não tem pai, que foi assassinado em sua frente e sua mãe biológica é viciada em drogas.

Atualmente ele vive com sua madrasta. A diretora agendou o período da tarde para que eu pudesse entrevistar com o professor e obtenha mais informações sobre este.

03ª

01/08

No período da tarde, pude realizar a consulta com o professor quanto ao aluno em questão. O pai era morador de rua e viciado em bebida. Com o tempo passou a consumir drogas. No período que era vivo o filho sempre teve um comportamento muito difícil, fato esse que mudou um pouco com o falecimento do pai e a atuação da psicóloga da escola. Sua mão ainda é viva,porém viciada em drogas e bebida e não detém a guarda do filho que vive coma madrasta. A madrasta possui dois filhos e estes são matriculados em escola particular. Ela só aparece à escola quando é solicitada a sua presença. O comportamento do menino, no começo, era de isolamento, comportamento que aos poucos foi mudando e hoje ele já interage com os demais da sala de aula.

Segundo seu professor, ele tem mudanças de comportamento com frequência,indo de participativo para isolamento, sem querer participar das atividades com o grupo. Ele é destacado na turma por ser trabalhoso. Em casa, segundo a madrasta, é calmo e interage bem com os irmãos adotivos. A escola adota um sistema de não realizar provas e não tem boletim, adotando uma maneira de avaliar os alunos que se apresentam com “S” (Sim); “N” (Não); “PM”(Promovendo Mudanças).

O aluno frequenta esta escola há 5 anos e este é o último ano, pois a escola não oferece os anos subsequentes. Ele lê bem e interpreta o que lê, segundo seu professor, porém ele possui muita dificuldade para aprender matemática, nas quatro operações básicas.

Na turma em que está, a média de idade dos alunos é entre 10 e 11 anos,porém o aluno tem 12. Ao que tudo indica ele toma remédio controlado para epilepsia.

Através de um programa que a escola tem, “Mais Educação”, “X” fica os dois turnos na escola. Ele pediu para a madrasta o colocar neste programa. A turma tem 11 meninos e 8 meninas.

Obs.: Os dados que a escola apresenta são empíricos e sem anotações precisas, visto serem estes relatos repassados pelo professor e gestora, porém sem anotações. Este fato logo ficou evidente quando feito a ANAMNESE e então elucidado vários fatos que me foram repassados erroneamente.

04ª

11/08

Em contato com a gestora a história de “X”, me foi repassado assim: Seu pai e sua mãe viviam bem, porém sua mãe ficou viciada em drogas e por isso abandonou a casa. O pai dele casou-se com outra mulher (sua madrasta atualmente) e levou seu filho junto. Com o passar do tempo o pai também seviciou em drogas e foi morar na rua. Quando isso ocorreu, o aluno passou a ficar gradativamente antis social.

Quando seu pai estava fora dos efeitos das drogas e/ou das bebidas, ia à escola visitar o filho e este respondia bem, mudando seu comportamento para melhor. Porém, no ano passado seu pai foi assassinado na frente dele e com isso tudo o comportamento dele mudou para pior. Não tinha amigos, não se entrosava e nem aceitava que outros se aproximassem dele.

Atualmente, com o acompanhamento da psicóloga ele tem mudado bem suas atitudes. Hoje a turma dele está em aula prática, viajando para terras indígenas estudar sobre folclore e outros pontos.

Obs.: Os dados que a escola apresenta são empíricos e sem apontamentos precisos,visto serem estes relatos repassados pelo professor e gestora, porém sem anotações. Este fato logo ficou evidente quando feito a Anamnese e então elucidado vários fatos que me foram repassados erroneamente.

05ª

12/08

Observação comportamental do educando em seu espaço de estudo e recreação na escola. Ele, assim como os outros, estavam brincando de correr e de “pega,pega”, porém sem um objetivo concreto, só diversão. Neste momento de observação ele se destaca como o mais alto dentre os que brincam, que eram os alunos dos vários anos. Este momento em que eles brincam é referente ao intervalo entre as atividades do programa “Mais Educação” que o “X” faz parte, e as aulas que se desenvolvem pela tarde. Observei que ele tende a ter o controle dos demais pela força que impõe por ser o mais alto e o mais velho de todos. No momento em que se sentiram observados pelos adultos (outros professores que estavam por perto), eles tendem a se esconder em outros pontos da escola, onde não possam ser vistos. No geral, pareceu uma criança normal ao brincar com os seus colegas. Também mostrou-se muito enturmado com três alunos que estavam no pátio da escola. Neste dia tive acesso aos dados que a escola tem do aluno e fiquei sabendo de seu andamento nos anos anteriores. Os documentos relatam que ele foi reprovado no segundo ano; que esteve fora da escola por dois anos; que sempre teve notas insuficientes nas disciplinas. Notoriamente em matemática tem sido sua maior dificuldade (segundo relato do professor). Infelizmente os documentos da escola estavam com os dados atuais defasados. A responsável por estes, a Senhora “Y”,comentou que iria atualizar e me repassar estes.

Posteriormente, foi realizado com o educando a EOCA (Entrevista Operatória Centrada na Aprendizagem),onde foi observado que ele tem boa comunicação, é centrado nas ações que realiza; tem boa oratória; tem boa postura; é comunicativo; e tem objetivo para o futuro. Porém notei que ele não usou lápis de cor para colorir seu desenho e que teve dificuldade em determinar o que queria desenhar. Durante a confecção do desenho ele usou muito a borracha e procurou fazer o desenho com linhas bem definidas e posteriormente a coloriu com o próprio grafite que desenhava, ficando o desenho em preto e branco. Neste dia ficou marcado que a Anamnese será realizada no dia 21, numa quinta-feira.

06ª

13/08

Foram realizadas provas operatórias com “X”, onde na primeira prova ele acertou cinco perguntas das sete que lhe foram feitas, errando na percepção

da junção das cores vermelhas e azuis (redondas) no círculo preto. Ele conservou apenas as de uma cor, sem se aperceber que todas eram circular,mesmo sendo de cores diferentes; e errou na junção de todas as cores azuis,independentes da forma das fichas. Ele conservou também somente as azuis circular. Na segunda prova foi-lhe apresentado dois grupos de fichas, distintas por cores, e lhe pedi para que dissesse quantas fichas compunham cada grupo.

Ele não conseguiu realizar esta separação, contando todas em um só grupo. Na sequência, acerto todas as demais respostas referentes a esta prova.

07ª

21/08

Realização da Anamnese com a madrasta de “X”, onde fora elucidado pontos importantes para se entender o atual quadro clínico do educando. O educando fora abandonado pela mãe aos sete meses de vida, ficando os cuidados ao pai. Como este não tinha como cuidar dele, “X” passou por creches e orfanatos. Seu pai veio a óbito quando ele tinha dez anos de idade,vindo este a ocorrer em seus braços, devido a um ataque cardíaco fulminante que ocorrera em lugar público. Como mencionado anteriormente, muitas informações que a escola tem são irreais e desacertada, cabendo a esta atualizar seus dados e informações. Também se realizou exames motor com o mesmo, onde ele se saiu muito bem em todos os itens abordados.

08ª

22/08

Foram realizadas provas operatórias com “X”, onde na primeira prova,conservação de distancias, ele não acertou as respostas. Destaco a última resposta em que ele responde que para igualar as distancias deve-se cortar o cordão maior. Na prova de conservação de quantidade de matéria, ele não conseguiu perceber que as massas conservam o mesmo peso, independente da forma que elas possam estar (redondas, circulares ou em forma de charuto).

09ª

25/08

Foram realizadas provas projetivas psicopedagógicas, onde os temas abordados foram “Plano de sala de aula” e “Os quatro momentos de um dia”.

Nos dois, pude observar o uso excessivo da borracha, os desenhos são pequenos utilizando apenas uma parte da folha que tinha para este fim, sempre teve o comportamento de olhar para o terapeuta durante todo o desenvolver da atividade, como se estivesse procurando aprovação pelo seu desenho e/ou reconhecimento de que estava fazendo certo.

10ª

26/08

Realizou-se as provas pedagógicas de leitura e matemática, com o auxílio de material lúdico/infantil, como gibi e jogo pega palito. Durante estes, fora observado a leitura e compreensão do texto escolhido e durante a atividade com o jogo desenvolveu-se problemas de matemática, com soma, subtração,divisão e multiplicação. Em todos, ele se saiu bem.

11ª

28/08

Devolutiva para a escola e para a responsável pelo “X”.

 

 

A seguir, um resumo das atividades ao longo do período de estudo:

 

29/07

Visita a escola e contato com a gestora

01/08

Aceite e identificação do educando

01/08

Entrevista com o educador

11/08

Levantamento de dados

12/08

Observação do educando e aplicação da EOCA

13/08

Provas operatórias

21/08

ANAMNESE + exames motor

22/08

Provas operatórias

25/08

Provas projetivas psicopedagógicas

26/08

Provas pedagógicas + teste de SNELLEN

28/08

Devolutiva

 

 

Analisando os resultados obtidos, pode-se constatar que na área afetiva,o educando “X” encontra-se em um momento crítico de sua vida,pois está enfrentando fatores estressantes que fogem totalmente ao seu controle. Os fatosrevelados com a Anamnese mostram como ele foi desprezado desde sua gestação até o dia de hoje por sua mãe biológica e no fato de ter convivido com todas as intempéries que percorreram a vida do pai até seu falecimento em seus braços. Toda perspectiva de uma vida com segurança, afeto e felicidade familiar (social, psicológica, emocional, etc.) foram abalados fortemente. E embora este esteja sob a tutela da madrasta, este sabe da existência da mãe e vive o descaso dela para com ele. Problemas de saúde se manifestam como indicado r(mesmo inconsciente) desta situação. Também seu comportamento de aprendizado acaba sendo fortemente afetado.

 

 

Parecer diagnóstico clínico

 

Ao desenvolver o presente trabalho e subsidiado, também, pelo levantamento de dados acadêmicos do educando, através de conversas com a coordenação e os educadores, além da aplicação dos instrumentos investigativos, conclui-se que o educando apresenta um forte nível de estresse decorrente da instabilidade de sua vida pessoal/social, além de ter forte ansiedade e sobre carga psicológica, levando a crer que seja possuidora de dificuldades de aprendizado, devido a estes fatores, que deve ser melhor estudado, levando em conta fatores ambientais(escolar, residência, religioso, de laser, etc.) e afetivos (BALESTRA, 2007).

Pelo fato de o educando “X” apresentar problemas de asma, sistema nervoso,alterações comportamentais e complicações de aprendizado, indica-se ao mesmo procurar profissionais da saúde (pneumologista, psicólogo/psiquiatra) e psicopedagogo com o intuito de contribuir para o melhor desenvolvimento do educando no aprender.

 

 

Prognóstico

 

O educando “X” necessita maior ajuda frente às atividades que envolvem autocontrole, melhor distribuição de sua atenção para as atividades educativas, maior reflexão na sua importância e atuação como educando junto aos demais companheiros de sala de aula e frente aos educadores (BOCK, 1999).

 

 

Recomendações e indicações

 

1) No âmbito familiar:

a – Momentos em família;

b – Atividades lúdicas;

 

2) Na escola:

a – A coordenação, junto aos educadores ter maior contato de qualidade com o educando;

b – Aplicar metodologia mais adequada para o repasse das matérias para o educando;

c – Promover melhor entrosamento entre o educando e os educadores em diversos momentos.

 

 

Proposta de intervenção

 

Percebe-se que educando “X”, apresenta Déficit de Atenção. Essa agitação impede a sua iniciativa para executar ou encontrar respostas mais adequadas às atividades propostas e melhorar o convívio com a turma. A sua aprendizagem torna-se desafiadora e requer intervenções psicopedagógicas. Neste sentido a constituição de uma intervenção psicopedagógica segue orientações específicas, porém, não há modelos rígidos para tal(CARRAHER, 1996).

Importante ter em mente as finalidades traçadas ao processo, bem como uma visão bem exercitada. O processo, uma vez iniciado pela apresentação de uma proposta de inclusão em educação, seguiu uma trajetória de grupo operativo e construção deum projeto político pedagógico. O presente trabalho toma este processo como exemplo, denotando o papel do psicopedagogo frente às demandas educacionais futuras. Para a implementação da proposta de trabalho, a articulação com a metodologia de pesquisa-ação confiou maior produtividade ao mesmo; apontando a intervenção cotidiana como a mais eficaz.

Neste contexto, ao se tratar de uma pessoa com déficit de atenção, a intervenção psicopedagógica é de suma importância, porque “se realizam entre um sujeito que acompanha o processo e outro que o vivencia ativamente, configurando ambos, um sistema transformador” (Visca, apud BARBOSA, 2010, p. 15). Neste sistema, o indivíduo tem a oportunidade de vencer os obstáculos que surgem no processo de aprendizagem.

Nesta intervenção psicopedagógica seria viável utilizar jogos e brincadeiras, por serem elementos de ação e de caráter objetivo, podendo ser utilizados tanto no âmbito individual quanto grupal, atingindo assim, o objetivo principal de aprendizagem deste educando. Segundo (BARBOSA, 2010) “Tanto a brincadeira quanto o jogo são marcados pela ludicidade”, sendo esta, um ingrediente fundamental desses recursos psicopedagógicos. No caso da brincadeira, apresenta a imaginação e a regra, sendo a imaginação o que a define, pois as regras são frágeis. Já o jogo possui ênfase nas regras, embora não abandone a imaginação.

Jogos e brincadeiras possuem formas de utilização diferentes, sendo as brincadeiras espontâneas e disparadoras, enquanto os jogos podem desenvolver e instrumentar, aliviar tensões e servir de elementos intermediários na relação com a aprendizagem, e ambos devem preservar a ludicidade e a vinculação afetiva durante o seu desenvolvimento. Com base em Macedo, Petty e Passos, apud Barbosa(2010, p. 183 e 184), as atividades para serem lúdicas devem possuir cinco qualidades: 1) devem ter o prazer funcional, que “está relacionado à escolha que um aprendiz pode fazer entre ou não participar de uma atividade”; 2) serem desafiadoras, colocar em prática o conhecimento vivenciado e estar disposto a desenvolver habilidades novas; 3) criarem possibilidades de tornar seus sonhos em realidade e encontrar resultados possíveis ao que parece impossível; 4) possuírem o caráter simbólico, onde “as brincadeiras e os jogos expressam sua intuição, e que as narrativas decorrentes do faz deconta são uma projeção de seus sentimentos, desejos e valores”; 5) e serem expressas de modo construtivo ou relacional “indica a possibilidade de considerar-se numa atividade lúdica,vários pontos de vista e várias possibilidades de expressão”.

No caso de “X”, iniciar com brincadeiras espontâneas, por permitir que ele desenvolva os aspectos relacional, ambiental e psicossocial, criativo e que possa se posicionar de maneira decisiva, partindo do prazer para depois conviver com a realidade. Sendo que esta, quando vivida pelo educando, abre novos caminhos para ele se reconhecer, sentir-se inserido no meio em que desenvolve suas atividades e adquirir novos conhecimentos.

Oliveira, apud BARBOSA(2010), apresenta três núcleos organizadores que atraem e direcionam à criança: o corpo, o simbólico e a regra, através dos quais o ser humano pode se organizar no espaço e no tempo, se organizar no mundo interno e externo, sentindo desejo de expressar-se como sujeito.

De acordo com Barbosa (2010), no processo de atenção psicopedagógica, é possível utilizar os jogos com o objetivo de desenvolvimento do aprendiz em diferentes aspectos ou dimensões: raciocínio lógico, oralidade, escrita, percepção, rapidez, ritmo, motricidade,atenção, memória e outros.Nesta perspectiva, seria viável para o educando jogos como o de “dominó” e o “jogo de dama” para ajudar a desenvolver a atenção do educando, cuja finalidade é propiciar a possibilidade de progredir segundo seu próprio ritmo, valorizando a sua motivação pessoal,desenvolver a sua capacidade de concentração, além da criatividade, ousadia, improvisação,solidariedade e cooperação. Essa atividade ajudará na escrita espontânea e assim no processo de aprendizagem. Portanto, percebe-se a necessidade do lúdico, na forma de jogos e brincadeiras, para despertar o interesse e arrebatar a atenção do mesmo, tornando este processo recheado de significado.

 

 

Devolutiva ao responsável pelo “X”

 

A madrasta mostrou-se satisfeita pelos resultados apresentados. Ela expressou que,em base do relatado, procurará auxilio de outros profissionais para melhorar a sua própri acompreensão e se possível continuará com as ações da psicopedagogia com o objetivo de melhorar os pontos apontados para o jovem “X”.

 

 

Devolutiva a escola

 

A gestora mostrou-se satisfeita pelos resultados apresentados. Com base nesta devolutiva, a escola poderá redirecionar a atenção para este aluno, favorecendo um melhor relacionamento com ele e melhorando sua capacidade de aprendizado. Expressaram que a atuação da psicopedagogia foi muito elucidativa, provando sua eficiência e importância no centro de ensino.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

Este trabalho oportunizou a prática das teorias e conhecimentos adquiridos durante o curso de Psicopedagogia Clínica e Institucional. Ao desenvolver este trabalho, foi possível observar e analisar, e desta forma, melhor compreender a aprendizagem de um sujeito com dificuldades de aprendizado. Bem como este sujeito pode vencer os obstáculos que surgem durante este processo.

A partir da queixa apresentada pela coordenação da instituição, ocorreu o acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem, como também as dificuldades do aluno apresentado. Assim, expus o resultado ao responsável pelo educando e a coordenação da escola, apresentando alternativas para contribuir com um melhor desempenho acadêmico do mesmo.

Este estudo demonstrou a importância que a presença de um psicopedagogo possui e como este pode intervir junto aos educadores e educandos para sanar dificuldades no aprendizado e ensino de um, ou mais, alunos.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BALESTRA, M. M. M. A Psicologia em Piaget: uma ponte para a educaçãoda liberdade. Curitiba: IBPEX, 2007.

 

BARBOSA, L. M. S. Intervenção Psicopedagógica no Espaço da Clínica.Curitiba: IBPEX, 2010.

 

BOCK, A. M. B; FURTADO, O.;TEIXEIRA, M. L. T.Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. reformulada e ampliada.São Paulo: Saraiva, 1999.

 

CARRAHER, T. N. Intervenção Educativa e Diagnóstico Psicopedagógico. 3. ed. PortoAlegre: Artes Médicas,1996.

 

Ilustrações: Silvana Santos