Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 61) AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM INSTITUIÇÃO MUILTICAMPI NO RIO GRANDE DO SUL
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Avaliação da percepção ambiental e práticas sustentáveis em Instituição Muilticampi no Rio Grande do Sul

AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM INSTITUIÇÃO MUILTICAMPI NO RIO GRANDE DO SUL

 

 

Evaluation of environmental perception and sustainable practices in Muilticampi Institution in Rio Grande do Sul

 

Bianca de Oliveira Cecato, Simone Caterina Kapusta, Magali da Silva Rodrigues, Cibele Schwanke, Evandro Manara Miletto

 

Bianca de Oliveira Cecato: Tecnóloga em Gestão Ambiental, IFRS-Campus Porto Alegre. Porto Alegre, RS, e-mail: biancacecato@gmail.com

 

Simone Caterina Kapusta: Oceanóloga (FURG), Doutora em Ciências (Ecologia, UFRGS), Professora da Área de Ciências Biológicas e Ciências Ambientais, IFRS-Campus Porto Alegre. Porto Alegre, RS, e-mail: simone.kapusta@poa.ifrs.edu.br, endereço para correspondência: Sala 325 – 3º andar– Torre Norte,  IFRS, Campus Porto Alegre. Rua Cel. Vicente, 281, Bairro Centro Histórico, Porto Alegre/RS, CEP 90.030-041.

 

Magali da Silva Rodrigues: Engenheira Química (PUC/RS), Doutora em Ciências (Ecologia, UFRGS), Professora da Área de Ciências Biológicas e Ciências Ambientais, IFRS-Campus Porto Alegre. Porto Alegre, RS, e-mail: magali.rodrigues@poa.ifrs.edu.br

 

Cibele Schwanke: Licenciada em Ciências Biológicas (UFRGS), Doutora em Ciências (Geociências – Paleontologia, UFRGS), Professora da Área de Ciências Humanas, Educação e Psicologia, IFRS-Campus Porto Alegre. Porto Alegre, RS, e-mail: cibele.schwanke@poa.ifrs.edu.br

 

Evandro Manara Miletto: Bacharel em Informática (URCAMP), Doutor em Ciências da Computação (UFRGS), Professor da Área de Informática e Tecnologia da Informação, IFRS-Campus Porto Alegre. Porto Alegre, RS, e-mail: evandro.miletto@poa.ifrs.edu.br

 

 

 

 

Agradecimentos

À Comunidade do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), que participou respondendo aos questionários.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) e ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), pelas bolsas concedidas (PROBIC/IFRS/FAPERGS – Brasil).

O presente trabalho foi realizado com apoio da FAPERGS, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – Brasil.

À professora Sabrina Letícia Couto da Silva pelo auxílio na análise estatística.

 

Avaliação da percepção ambiental e práticas sustentáveis em Instituição Muilticampi no Rio Grande do Sul

 

Evaluation of environmental perception and sustainable practices in Muilticampi Institution in Rio Grande do Sul

 

RESUMO

As instituições de ensino superior e mais especificamente os Institutos Federais possuem como uma das finalidades promover a produção, o desenvolvimento e a transferência de tecnologias sociais, incluindo as voltadas à preservação do meio ambiente. Para tanto, o diagnóstico da percepção ambiental é premissa fundamental para o planejamento do processo de sensibilização ambiental, visando à formação de uma sociedade mais sustentável. No presente estudo buscou-se conhecer as práticas ambientais cotidianas da comunidade vinculada ao IFRS que interferem de forma direta ou indireta no meio ambiente. Os dados foram obtidos através de um questionário estruturado, disponibilizado online para a comunidade, analisados de maneira descritiva e quantitativa. Verificou-se que, apesar da comunidade do IFRS ser consciente de sua responsabilidade cidadã, esta ainda não é suficiente para produzir uma mudança socioambiental transformadora, sendo possível identificar as fragilidades a serem exploradas em futuros projetos de educação ambiental.

 

Palavras-chave

Percepção Ambiental. Práticas ambientais. Sensibilização Ambiental.

 

 

 

ABSTRACT

One of the purposes of High Educational Institutions, and more specifically the Federal Institute (IF), is to promote the production, the development and the transfer of social technologies, including those related to the environment preservation. Therefore, the diagnosis of environmental awareness is essential for planning the environmental awareness process to the formation of a more sustainable society. The present study pretends to analyze the environmental practices realized by the community of the IF do Rio Grande do Sul (IFRS), which interfere directly or indirectly in the environment. Data were collected through a structured questionnaire, available online to the community, and analyzed descriptively and quantitatively. It was found that although the community of IFRS is aware of their civic responsibility, this is still not enough to produce transformative social and environmental changes. Thereby it is possible to identify the weaknesses to be exploited in future environmental education projects.

 

Keyword

Environmental Perception. Environmental Practices. Environmental Awareness.

 

 

 

 

Introdução

O estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para melhor compreensão das inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas (PALMA, 2005). Ainda, segundo a autora, a pesquisa de percepção ambiental pode ser utilizada nas mais variadas áreas do conhecimento, pois com esta análise pode-se determinar as necessidades de uma população e propor melhorias com mais eficiência na solução de problemas evidenciados.

A percepção ambiental, considerada por Coimbra (2013, p.530) como a “ação de perceber um fato, um fenômeno ou uma realidade, dar-se conta dele com alguma profundidade, não apenas superficialmente”, quando pesquisada e analisada, serve como instrumento de grande importância, pois permite detectar as potencialidades e necessidades de uma comunidade, seus conhecimentos adquiridos em relação ao meio e os aspectos que ainda representam dúvidas no que se refere a condutas ambientais ecologicamente corretas. Ainda segundo o autor, a percepção é o primeiro passo no processo de conhecimento e dela dependem aspectos teóricos e aplicações práticas. Se esse primeiro passo falseia, o conhecimento não atingirá seu objetivo - e a inteligência (ou entendimento) pode seguir em uma direção equivocada.

De acordo com Faggionato (2002), cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente frente às ações sobre o meio. As respostas ou manifestações são, portanto, resultado das percepções, dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada indivíduo. Embora nem todas as manifestações psicológicas sejam evidentes, são constantes, e afetam nossa conduta, na maioria das vezes, de forma inconsciente. Nossa conduta, consequentemente, afeta o meio, podendo ter impactos positivos ou negativos sobre este. Sob este aspecto, os hábitos e práticas ambientais dos indivíduos representam um reflexo da sua percepção e destacam as questões com os quais o sujeito está sensibilizado.

O diagnóstico da percepção ambiental oferece à educação ambiental um conhecimento dos valores e ações que os sujeitos possuem frente ao meio ambiente, tornando-a capaz de elaborar propostas que venham a atingir grande parte da sociedade, visando provocar mudanças mais efetivas que contribuam à sustentabilidade socioambiental (OLIVEIRA & CORONA, 2008).

A educação ambiental envolve em um primeiro momento o processo de conscientização ambiental, quando o indivíduo toma contato com a realidade que o cerca e sobre os impactos ambientais gerados pela sua existência, tanto como cidadão, quanto como profissional (SEIFFERT, 2009). Contudo, é necessário que a prática da educação ambiental seja também transformadora, onde o sujeito, além de estar consciente do problema, esteja sensibilizado e efetivamente comprometido, gerando assim uma mudança em suas atitudes.

As Instituições de Ensino Superior (IES), através do seu caráter educacional, possuem grande responsabilidade na formação e consolidação de uma sociedade sustentável, interferindo diretamente sobre a percepção ambiental e práticas ambientais dos indivíduos a ela vinculados e à sociedade como um todo. Neste sentido, os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, como uma instituição de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi, consolidam seu papel social visceralmente vinculado à oferta do ato educativo que elege como princípio a primazia do bem social, possuindo como uma das finalidades “promover a produção, o desenvolvimento e a transferência de tecnologias sociais, notadamente as voltadas à preservação do meio ambiente” (BRASIL, 2008).

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) é composto por doze campi no Rio Grande do Sul, localizados em regiões com características diferenciadas, tais como número de habitantes, setor produtivo, entre outros.

Considerando o panorama apresentado, o objetivo do presente artigo foi o de avaliar a percepção ambiental da comunidade do IFRS, bem como se as práticas sustentáveis estão incorporadas ao cotidiano dos indivíduos. Ainda, busca identificar características similares (potencialidades e fragilidades) que futuramente poderão ser utilizadas para a proposição de um Programa de Educação Ambiental, que considere as características regionais dos campi.

 

 

Materiais e métodos

O presente trabalho foi realizado junto à comunidade dos doze campi do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, bem como sua Reitoria, compreendendo assim as cidades de Bento Gonçalves, Canoas, Caxias do Sul, Erechim, Farroupilha, Feliz, Ibirubá, Osório, Porto Alegre, Restinga, Rio Grande e Sertão, através de uma pesquisa quantitativa, realizada no segundo semestre de 2011 (Figura 1). Os campi em implantação não foram contemplados no presente trabalho.

 

 

mapa-IFRS

Figura 01: Mapa com a localização dos Campi que compõem o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Estado do Rio Grande do Sul. Fonte: adaptado do site oficial do IFRS.

 

A população-alvo considerada para o estudo foi a comunidade acadêmica estimada em aproximadamente 13.400 pessoas, sendo 700 docentes, 12.000 discentes e 700 Técnicos Administrativos Educacionais (TAE).  A comunidade vinculada aos campi contava ainda com 1.500 pessoas da comunidade externa, que, por dificuldade de controle, não foram incluídas na pesquisa. Com base na população-alvo estimada, efetuou-se o cálculo do tamanho da amostra representativa de cada segmento, considerando uma margem de erro de 5% e um nível de confiança de 95%.

O instrumento utilizado para a realização da pesquisa foi um questionário estruturado com 47 perguntas divididas em três blocos abordando a identificação dos participantes (06 questões), práticas ambientais adotadas pelos participantes (28 questões), e percepção sobre as práticas ambientais desenvolvidas pelos campi aos quais estão vinculados (13 questões). Um pré-teste de validação do questionário foi efetuado com os docentes vinculados às ciências ambientais do campus Porto Alegre, de forma a integrar as suas sugestões ao questionário antes de enviá-lo para a comunidade participante.

O questionário foi disponibilizado à comunidade no formato online, através da ferramenta Google Drive e encaminhado por e-mail. Para responder ao questionário, foi solicitado ainda que o entrevistado aceitasse o termo de consentimento livre e esclarecido.

Os resultados foram analisados de forma descritiva e quantitativa, considerando os aspectos gerais e por campi, bem como através da análise multivariada que objetivou identificar grupos com características similares.

Para a análise multivariada foram selecionadas 15 questões relacionadas diretamente com a prática individual, sem a presença de agentes externos (serviços de terceiros ou investimentos financeiros significativos). Com as respostas consideradas ambientalmente mais responsáveis, considerando o percentual por campi, foi efetuada a análise de Cluster Hierárquico, utilizando o método de Ward e distância Euclidiana Quadrática, com o software SPSS versão 15.0. A Reitoria não foi incluída na análise multivariada, devido a ter tido somente 2 participantes.

As práticas ambientais mais responsáveis em cada grupo formado, foram classificadas como potencialidades (respostas > 75%), fragilidades (< 50%) e intermediárias ( 50-75%).

 

Resultados e discussões

Análise descritiva

Ao todo, 503 questionários foram respondidos, sendo que o maior percentual de participantes foi oriundo do Campus Porto Alegre (45,3%), seguido pelos campi Bento Gonçalves (8,0%), Ibirubá (7,8%), Osório (6,8%), Rio Grande (6,8%), Sertão (5,6%), Farroupilha (4,0%), Erechim (3,6%), Feliz (3,4%), Caxias do Sul (3,2%), Restinga (3,0%), Canoas (2,4%) e Reitoria (0,4%). O número de questionários recebidos atendeu às amostras estabelecidas e ultrapassou as expectativas em alguns segmentos.

Os discentes representaram 56,5% dos participantes, seguidos pelos docentes (26,0%) e pelos Técnicos Administrativos Educacionais (17,5%).

Do total de participantes 58,9% foram do gênero feminino e 41,1% do  gênero masculino. No que se refere à faixa etária foi possível observar que 22,7% dos participantes possuem entre 15 a 20 anos, enquanto que 36,4% têm entre 21 a 30 anos, 22,1% entre 31 a 40 anos, 14% das pessoas têm de 41 a 50 anos de idade, 4,6% possuem de 51 a 60 anos, e apenas 0,2% dos entrevistado possui 61 anos ou mais.

Pode-se considerar que, de uma forma geral, os participantes conhecem algumas práticas ambientalmente corretas que corroboram para a formação de uma sociedade sustentável. No entanto, esse conhecimento não é efetivo para uma transformação na postura individual, considerando que limitam-se à práticas superficiais cotidianas e não correspondem às reflexões mais amplas e profundas. Esta afirmação fica evidente quando se observa que 91,7% dos participantes que responderam a pesquisa, afirmaram possuir o hábito de fechar a torneira ao escovarem os dentes, porém, 20,7% permanecem por mais de 16 minutos no banho. Do total de participantes, aproximadamente 80% tomam banho com duração máxima de 15 minutos (Quadro 1). O resultado de algumas das questões do questionário, com as respectivas respostas e o percentual de respostas, considerando o total de questionários respondidos (503), podem ser observados no Quadro 1.

 

Quadro 1: Algumas das questões sobre práticas ambientais e o percentual de respostas (%), considerando o total de questionários respondidos (503).

Perguntas

Respostas

%

1 - O aparelho elétrico de lavar roupa e louça você utiliza quando?* 

 

 

Quando está na capacidade máxima*

46,0

Quando necessário sem considerar a capacidade

30,0

Não utiliza com freqüência

24,0

2 - Você utiliza lâmpadas fluorescentes?*

 

Sim*

67,0

Sim, em alguns lugares

26,4

Não

6,6

3 - Você fecha a torneira quando escova os dentes e ensaboa a louça?*

Sim*

91,7

Não

8,4

4 - O tempo aproximado que o chuveiro fica ligado é de? * 

 

De 5 a 10 minutos*

35,4

de 11 a 15 minutos*

43,9

de 16 a 30 minutos

17,3

30 minutos ou mais

3,4

5 - Ao comprar produtos em supermercado/loja, você opta por embalagens biodegradáveis?* 

 

Sim, na maioria das vezes*

21,1

Sim, às vezes

29,6

Não observo a embalagem

46,7

O que é uma embalagem biodegradável?

2,6

6 - No seu consumo há alguma preocupação com as embalagens e a fabricação desse produto e qual será seu destino APÓS o DESCARTE?*

Sim*

47,1

Às vezes

11,9

Depende de qual for o produto

28,0

Não

12,9

7 - Na hora de comprar alimentos, você dá preferência aos produtos orgânicos? *

Sim*

29,0

Às vezes

44,5

Não

26,4

8- Você utiliza os restos das frutas e legumes? (cascas, talos, sementes, etc,)*

Sim*

44,7

Não utilizo

50,3

Não se aplica

5,0

9 - No local onde você mora tem coleta seletiva? 

Sim

70,8

Não

22,9

Gostaria de saber

6,2

Não tenho interesse em saber

0,2

10 - Você separa o resíduo reciclável do resíduo orgânico?* 

Sim*

81,9

Não

18,1

11 - Você sabe a quantidade aproximada de resíduos que você gera por dia?* 

Sim*

32,2

Não

27,8

Gostaria de saber

39,0

Não tem interesse em saber

1,0

12 - Você sabe como/onde jogar fora/descartar lâmpadas? (normais, fluorescentes...)?*  

Sim*

46,5

Não

18,3

Gostaria de saber

35,2

13 - No seu dia-a-dia, você utiliza sacolas retornáveis? *

 

 

Sim, sempre*

10,9

Sim, às vezes

49,3

Pretendo utilizar

14,1

Não utilize

25,7

14 - Você sabe o que é biocombustível e quais são seus benefícios?*   

Sim*

77,7

Não

6,4

Tenho interesse em saber

15,7

Não tenho interesse em saber

0,2

15 - Você observa as condições ambientais no entorno do seu câmpus? *

Sim*

68,6

Em alguns momentos

25,7

Não

6,8

16 - Você acha que causa algum impacto ambiental?* 

 

Sim, muito*

51,7

Sim, pouco*

39,4

Não

9,0

* perguntas com as respectivas respostas, selecionadas para a análise multivariada (análise de Clusters). Fonte: elaborado pelos autores.

 

Em relação à utilização da máquina de lavar roupa ou louça, 46,0% dos participantes utilizam a máquina com a sua capacidade máxima de ocupação, 30,0% a utilizam sempre que necessário sem considerar a capacidade e 24,0% não a utiliza com frequência.

Ainda referente ao uso da água em atividades cotidianas, os participantes foram questionados sobre os métodos que utilizam para limpar seus carros e/ou pátios. Assim, 36,6% dos participantes lavam o carro em postos/garagens, 18,1% utilizam mangueira, 9,5% utilizam balde com água potável, 9,5% utilizam balde com água reaproveitada. Ainda, 26,2% dos participantes não possuem carro e/ou pátio e, logo, não realizam estas atividade.

            O questionário também abordou a temática do consumo, perguntando aos participantes se a preocupação com a embalagem, fabricação do produto e destinação do mesmo, após o descarte, fazia parte do seu dia a dia. Em resposta, pode-se observar que 47,1% dos participantes preocupam-se com a origem, composição e destinação da embalagem, 11,9% somente às vezes se preocupam, 28% demonstra preocupação de acordo com o produto e 12,9% não se preocupam com esse aspecto. Ainda, relacionada a essa temática, pode-se observar que 46,7%, não optam/observam se a embalagem é biodegradável no momento da aquisição, 29,6% às vezes optam pelas embalagens biodegradáveis, 21,1% dos participantes, na maioria das vezes, optam por embalagens biodegradáveis, e 2,6% têm dúvidas sobre o que é uma embalagem biodegradável. Pode-se perceber que há uma certa incoerência nas respostas das duas questões, indicando uma fragilidade a ser explorada, tanto através de e informações em relação ao ciclo de vida dos produtos, bem como esclarecimento acerca dos termos empregados para designá-los, tais como biodegradável.

Em relação ao consumo de alimentos, verificou-se que 29,0% dos participantes preferem alimentos orgânicos, 44,5% às vezes adquirem esses alimentos e 26,5% afirmam não dar preferência a esse tipo de alimento. De acordo com Darolt (2007) uma alimentação consciente tem relação direta com a forma de produção orgânica, hábitos alimentares saudáveis e consumo responsável, uma vez que existe uma preocupação com o alimento desde a sua produção até o seu consumo. Assim, a preferência esporádica pelos alimentos de origem orgânica revelam interesse no desenvolvimento da alimentação saudável, enquanto que a sua inconstância pode estar relacionada a diversos fatores, tais como o tipo de alimento ou a diferença de preço atribuído aos alimentos orgânicos e convencionais. Desta forma, quando explorado o assunto referente aos gastos adicionais, 29,2% dos participantes responderam que se dispõem a pagar preços mais elevados por produtos orgânicos, 46,7% disseram que às vezes se dispõem a pagar mais e 24,1% responderam que não estão dispostos a pagar mais caro por estes alimentos. Nesse sentido, ações a serem desenvolvidas com a comunidade do IFRS, podem abordar as informações sobre produção orgânica e convencional, suprindo dúvidas e elucidando questionamentos da comunidade em relação a essa temática, reforçando a importância da sustentabilidade nas práticas alimentares cotidianas.

Deve-se também atentar para a necessidade de disponibilizar opções que possam superar as adversidades que se apresentam à prática de alimentação saudável, permitindo assim que os indivíduos possam, em maior número, aderir aos hábitos mais sustentáveis e conscientes, refletindo também na sua qualidade de vida. Nesse sentido, projetos de valorização de produção regional, da agricultura orgânica, podem ser propostos, aproximando os campi com as potencialidades de cada região.

Ainda sobre os hábitos alimentares dos participantes, foi questionado aos mesmos se eles utilizavam elementos de frutas e legumes que comumente são considerados como resíduos, tais como cascas, talos, sementes, entre outros. Assim, 50,5% dos participantes não utilizam estes resíduos, 27,8% os utilizam como adubo, 10,7% utilizam os resíduos em receitas culinárias, 6,2% os utilizam em receitas culinárias e como adubo e para 4,8% dos participantes a situação não se aplica. Estas atitudes são consideradas sustentáveis, pois auxiliam na diminuição do volume total de resíduos encaminhados para os aterros sanitários e podem ser realizadas pelos diversos setores da sociedade. Ao que se refere ao processo de compostagem, por exemplo, Siqueira e Assad (2015) elencam suas unidades de realização no estado de São Paulo, dividindo-as em dois grandes grupos: o modelo centralizado e o modelo descentralizado. O primeiro modelo inclui as usinas de triagem e compostagem e as usinas de adubo orgânico, ambas as quais podem ser realizadas por prefeituras e grupos empresariais. Já no segundo grupo, os autores incluem as compostagens domiciliares, as comunitárias, institucionais e os pátios de compostagem urbana, que, por sua vez são realizados por ONGs, instituições de ensino, grupos empresariais, moradores, estudantes e outros pequenos grupos interessados.

A temática dos resíduos sólidos também se fez presente através de diversas questões. A primeira referia-se à coleta seletiva, a qual, segundo os participantes, atende 70,8% dos mesmos, 22,9% não são atendidos, 6,2% gostariam de saber se este serviço está disponível e 0,2% não têm interesse em saber. A separação dos resíduos domésticos entre “reciclável” e “orgânico” é efetuada por 82% do total de participantes, com destaque para os Campi Farroupilha, Feliz e Reitoria, nos quais o total de participantes efetua a segregação. Verifica-se, portanto, que existe preocupação com a questão dos resíduos, uma vez que o percentual de participantes que efetuam a segregação de resíduos em suas residências (82,0%) é superior aos que dispõem do serviço de coleta seletiva (70,8%). Esta maior segregação de resíduos do que a disponibilidade de coleta evidencia que os participantes estão cientes da sua responsabilidade enquanto cidadãos, realizando a sua parte dentro de suas moradias, mesmo que esta ação não seja efetiva pela falta de disponibilização do serviço correto por parte das Prefeituras.

No entanto, deve-se considerar que 18,0% do total de participantes não efetuam a segregação. Nesse sentido os campi com maiores percentuais de não segregação foram os de Ibirubá (43,6%), Osório (32,4%), Rio Grande (38,2%) e Sertão (32,1%). Esse resultado provavelmente é influenciado pela menor oferta de coleta seletiva, sendo que em Ibirubá apenas 33% dos participantes responderam que existe coleta seletiva, 58,8% em Osório, 50% em Rio Grande e 39,3% em Sertão. 

Foi possível observar ainda que 32,2% dos participantes sabem a quantidade de resíduos que geram por dia, 39,0% gostariam de saber, 27,8% não conhecem esta informação e 1,0% não tem interesse em saber. Dos participantes que responderam que sabem a quantidade de resíduos que geram, novamente merecem destaques os Campi Feliz e Farroupilha, onde 76,5% e 65%, respectivamente, dos participantes possuem esta informação. Segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil (ABRELPE, 2014), no ano de 2014 foram produzidos 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos no Brasil, formando uma anual de 387,63 kg per capita. Neste mesmo ano, ainda podemos ressaltar que apenas no estado do Rio Grande do Sul foram gerados 8.643 toneladas de resíduos por dia. Nesta questão, cabe ressaltar o percentual de 39,0% dos participantes que gostariam de obter informações sobre essa temática, indicando ações nesse sentido devem ser implementadas.

Dos participantes que separam os resíduos, 28,0% não lavam os resíduos recicláveis antes de descartá-los, 27,0% lavam, 28,0% lavam às vezes, 5,0% disseram que a questão não se aplica e 11,0% não responderam a questão. As orientações sobre o melhor procedimento em relação aos resíduos, devem ser disponibilizadas pelas Prefeituras Municipais, analisando os procedimentos efetuados nas suas respectivas usinas de triagem. Além das orientações, deve-se considerar a origem da água utilizada para lavar os resíduos - por exemplo, se for utilizada a água potável, tem-se um gasto considerável deste recurso, o ideal seria utilizar águas residuais, tais como água já utilizada para lavar a louça ou água oriunda da máquina de lavar roupa.

Dos 228 participantes do Campus Porto Alegre, 28,5% possuem o hábito de lavar os resíduos, mesmo que a orientação do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre (DMLU, 2013) atente para esta questão, pois deve-se limpar os resíduos com guardanapos usados ou com a água residual da lavagem de louça, buscando evitar o uso de água potável no processo. Nesse sentido, percebe-se o desconhecimento da comunidade em relação a esta prática, verificando-se a necessidade da busca por informações, por parte da sociedade, bem como um programa de informação mais eficiente por parte da prefeitura. Salienta-se que na maioria dos sites dos municípios esta informação não está disponibilizada.

O questionário ainda contemplou uma pequena simulação de separação de resíduos, onde os participantes deveriam decidir o destino de alguns resíduos a eles apresentados. Assim, verificou-se que existem dúvidas referentes à segregação correta de resíduos (pote de margarina engordurado, bandeja de isopor de carne, guardanapo de papel usado e embalagem de óleo), visto que 21,7% dos participantes responderam que o guardanapo de papel usado é considerado resíduo reciclável, enquanto que o seu destino correto é o aterro sanitário. Essas respostas reforçam a necessidade de um programa de educação ambiental voltado para orientar a sociedade sobre as práticas a serem realizadas.

Sobre o tipo de sacola que utilizam, 10,9% dos participantes fazem uso rotineiro de sacolas reutilizáveis, 49,3% as utilizam às vezes, 14,1% pretendem utilizar e 25,6% não as utilizam. Neste sentido, a pouca utilização de sacolas reutilizáveis deve-se, provavelmente, ao uso de sacolas plásticas para acondicionamento dos resíduos domésticos. Verificou-se que 66,4% dos participantes utilizam as sacolas plásticas do supermercado para os resíduos domésticos, 31,6% utilizam tanto as sacolas plásticas do supermercado como sacos específicos e 2% compram sacos específicos para descartar os resíduos.

As lâmpadas fluorescentes fazem parte da residência de 67% dos participantes, 26,44% as utilizam em alguns lugares e 6,56% não utilizam estas lâmpadas. Contudo, apesar de a maioria dos participantes utilizar as lâmpadas fluorescentes, apenas 46,5% sabem a forma correta de descartá-las, 35,2% gostariam de saber e 18,3% dos participantes não sabem como efetuar o descarte. Novamente se percebe a fragilidade e a necessidade de informações para a comunidade.

Na questão que envolve as válvulas do vaso sanitário das residências, 57,5% dos participantes utilizam válvulas tradicionais, 23,1% possuem válvulas econômicas, e 19,5% não sabem o tipo de válvula que possuem. A utilização de válvulas sanitárias econômicas exige um investimento inicial mais elevado do que as válvulas tradicionais, contudo, consistem em uma opção ambientalmente correta por minimizar o desperdício de água. Nesta questão foi possível observar que 41,7% dos participantes do Campus Canoas possuem este tipo de válvula sanitária enquanto que na Reitoria nenhum participante possui.

A maioria dos participantes não possuem captação da água da chuva (81,5%) em sua residência ou prédio 6,2% responderam que existe a captação da água, 5,8% pretendem implantar este sistema e 6,6% responderam que a implantação não se aplica, pois precisaria de muito investimento. O maior percentual de participantes 18,8% que possuem esta tecnologia em suas residências, são do Campus de Caxias do Sul, localizado na Serra Gaúcha.

Ainda sobre as estruturas, foi questionado sobre a presença de energia “ecológica”, tais como energia solar, no local em que residem e 87,7% não dispõem deste sistema, 1,6% possuem este sistema, 5,0% pretende implantar esta tecnologia e 5,8% responderam que este sistema não se aplica ao seu local de moradia, devido ao custo elevado.

Em relação aos seus automóveis, 58,1% dos participantes realizam a manutenção com regularidade, 11,7% realizam a manutenção às vezes, 18,9% não realizam a manutenção regularmente e 11,3% não responderam a questão. Ressalta-se aqui que, além de essencial para garantir a segurança dos indivíduos, a manutenção regular dos automóveis auxilia no controle e redução das emissões poluidoras. Outro aspecto poluidor dos automóveis é o combustível utilizado, surgindo como alternativa o biocombustível. Quando questionados sobre seu conhecimento em relação a esta alternativa, o biocombustível, 77,7% das pessoas responderam que sabem o que é, 6,4% não sabem, 15,7% têm interesse em saber e 0,2% não têm interesse em saber.

Verificou-se que apenas 33,8% dos participantes possuem atividades com enfoque ambiental no local onde residem, 40,2% responderam que não existem estas atividades, 16,7% não sabem e 9,3% gostariam de saber. No Campus Feliz foi obtido o maior percentual, de 52,9% de participantes que possuem atividades.

A existência de atividades com enfoque ambiental é de extrema importância, visto que um dos seus resultados positivos é a disponibilidade de informações sobre os mais variados temas ambientais, auxiliando no senso crítico dos cidadãos e disponibilizando as ferramentas para que os mesmos assumam posturas sustentáveis. No entanto, para que essas atividades sejam efetivas, o sujeito deve perceber e se sensibilizar as mesmas, bem como com o ambiente no qual está inserido.

Sobre a percepção ambiental, a maioria dos participantes (68,6%) observam as condições ambientais do entorno do campus ao qual estão vinculados 24,7% as observam em alguns momentos e 6,8% não observam. Em relação à poluição visual, 49,7% dos participantes consideram que existe muita poluição visual, 31,2% percebem poluição visual mas as consideram pequenas e 19,1% não notam. Ainda, 52,1% dos participantes consideram que há poluição sonora no entorno do campus, 27,2% identificam o barulho, porém o mesmo não incomoda e 20,7% responderam que no entorno do campus não existe barulho.

Nessa temática, pode-se citar os Campi Porto Alegre e Caxias do Sul, onde 79,4% e 75%, respectivamente, dos participantes reconhecem a grande presença de poluição visual e 86,8% e 62,5% respectivamente, ressaltam a poluição sonora. A localização dos Campi, bem como o número de habitantes, colaboram para esse resultado. Os menores percentuais foram observados no Campus Feliz, onde apenas 5,9% dos participantes identificam muita poluição visual e 0% identificam muita poluição sonora. Vale ressaltar a diferença entre a população dos municípios, sendo a população de Porto Alegre encontrada em 1.409.351 habitantes, com densidade demográfica de 2.837,53 hab/km², Caxias do Sul com 435.564 habitantes e densidade demográfica de 264,89 hab/km² e, por sua vez, a cidade de Feliz conta com 12.359 habitantes e densidade demográfica de 129,59 hab/km² (IBGE, 2010).

Sobre a percepção individual da geração de impacto ambiental 51,7% dos participantes acreditam que causam muito impacto ambiental, 39,4% que causam pouco impacto ambiental e 8,9% que não causam impacto ambiental. No Campus Porto Alegre verificou-se que 72,8% dos participantes possuem esta percepção de grande geração de impacto. O reflexo desta questão é de extrema importância para compreender como os indivíduos se portam perante o meio, como se dá suas atitudes e percepção. No caso de Porto Alegre, os participantes estão acostumados a conviver com um percentual de impacto mais direto e exposto, evidenciado pela grande concentração de pessoas e consequente geração de resíduos.

 

Análise multivariada

            Através da análise de Cluster, verificou-se a formação de quatro grupos (Figura 2), considerando o corte em 5%. O grupo 1 foi formado pelos campi Osório (Osó), Porto Alegre (PoA), Rio Grande (RG), Bento Gonçalves (BG), Erechim (Ere) e Ibirubá (Ibir); o grupo 2 englobou os campi Restinga (Res), Sertão (Ser) e Caxias do Sul (CS), grupo 3 representado pelos campi Farroupilha (Far) e Feliz; e o grupo 4 representado por Canoas (Can).

 

 

Figura 02: Resultado da análise de Cluster Hierárquico, utilizando o método de Ward e distância Euclidiana Quadrática com os dados em percentuais de quinze questões sobre práticas ambientais, com participantes de doze campi do IFRS, no segundo semestre de 2011. Campi Osó – Osório, PoA - Porto Alegre, RG – Rio Grande, BG - Bento Gonçalves, Ere – Erechim, Ibir – Ibirubá, Res -  Restinga, Ser -  Sertão, CS - Caxias do Sul, Far – Farroupilha, Feliz, Can – Canoas.

 

A comunidade pertencente ao grupo 1 (formado pelos campi Osório, Porto Alegre, Rio Grande, Bento Gonçalves, Erechim e Ibirubá) apresenta como potencialidades a economia de água, segregação de resíduos, conhecimento sobre biocombustível, bem como está  consciente do seu impacto no meio. Suas fragilidades envolvem o descarte adequado de lâmpadas fluorescentes, conhecimento da quantidade de resíduos que produz por dia, preocupação com o ciclo de vida das embalagens e opção por embalagens biodegradáveis. Estas questões sugerem que a falta de informação, ou de atenção às informações existentes, pode consistir em um problema comum, dificultando a compreensão do verdadeiro contexto ambiental e direcionando a conduta dos participantes para ações não muito sustentáveis. Jacobi (2003), acredita que há a necessidade de fortalecer o direito ao acesso de informação e educação ambiental, como forma de multiplicar práticas que auxiliem na alteração do atual quadro de degradação ambiental. Ainda, há a necessidade que as informações não sejam apenas repassadas aos indivíduos, mas trabalhadas, de forma a fornecer conhecimento sobre as complexas relações existentes entre as suas ações cotidianas e os impactos no meio. Para Castro e Baeta (2011):

 

A autonomia do indivíduo, seja na dimensão intelectual, seja na moral, não exige apenas o conhecimento superficial de termos adquiridos, em sua maioria, por modismos ou por meio de conceitos alternativos, mas a crescente construção de significados e suas possíveis inter-relações (CASTRO E BAETA, 2011, p.110).

 

Quadro 2: Classificação das práticas ambientais  mais responsáveis, em cada grupo formado: fragilidades (< 50%, em amarelo),  intermediárias ( 50-75%, cor laranja) e potencialidades (> 75% em verde).

 

Práticas ambientais

grupo 1

grupo 2

grupo 3

grupo 4

Utilização do aparelho elétrico de lavar roupa e louça na capacidade máxima 

39,3

31,3

24,0

46,0

Utilização de lâmpadas fluorescentes 

66,1

84,5

57,4

33,3

Descarte adequado de lâmpadas

44,1

46,2

57,4

50,0

Fecha a torneira quando escova os dentes e ensaboa a louça

92,5

88,7

97,5

91,7

Fica com o chuveiro ligado até aproximadamente 15 minutos

76,5

83,2

94,6

100,0

Opta por produtos com embalagens biodegradáveis

15,5

20,8

24,7

58,3

Se preocupa com as embalagens, fabricação do produto e descarte

41,5

44,3

67,4

91,7

Na hora de comprar alimentos, prefere produtos orgânicos 

35,4

13,2

30,6

33,3

Utiliza os restos das frutas e legumes (reaproveitamento e⁄ou compostagem) 

48,5

35,8

54,9

66,7

Sabe a quantidade aproximada de resíduos que gera por dia

26,9

32,2

70,7

58,3

Separa o resíduo reciclável do resíduo orgânico

75,0

82,8

100,0

91,7

Utiliza sacolas retornáveis no seu dia a dia

8,1

10,7

21,3

0,0

Sabe o que é biocombustível e seus benefícios 

80,9

78,2

83,7

75,0

Observa as condições ambientais no entorno do campus 

65,3

79,2

76,6

83,3

Acha que causa impacto ambiental

87,3

92,1

86,2

66,7

Fonte: elaborado pelos autores.

 

Já o grupo 2 (formado pelos campi Restinga, Sertão e Caxias do Sul) mostra-se muito consciente do meio que os circunda, sendo o segundo grupo que mais observa o entorno dos campi em que estão vinculados e o que mais acreditam causar impactos ambientais. Ainda, este é o único grupo a possuir um percentual maior que 75% no que se refere à utilização de lâmpadas fluorescentes, mesmo que o percentual de participantes que sabem como descartá-las corretamente seja inferior a 50%, demonstrando a fragilidade nessa questão. Outras fragilidades a serem exploradas, envolvem a conscientização sobre os produtos orgânicos, a reutilização ou compostagem de restos de alimentos; a preocupação com o ciclo de vida dos produtos, e que apresenta ligação com a utilização de embalagens biodegradáveis e de sacolas retornáveis. Dedicar atenção às questões das embalagens é de fundamental importância, visto que o plástico, material predominante nas embalagens, provoca danos ambientais desde a sua fabricação até a deposição inadequada no meio. Segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil (ABRELPE, 2014), no ano de 2014 o consumo de plástico no país atingiu a marca de 7,24 milhões de toneladas, contudo, em 2012, apenas 20,9% do plástico consumido era reciclado.

O grupo 3 (composto pelos campi Feliz e Farroupilha) demonstrou ser o mais informado, sendo que a segregação de resíduos alcançou o percentual de 100% dos participantes, tornando-se um ideal de conduta sustentável. O conhecimento sobre biocombustível, a observação do entorno do campus e a consciência sobre o impacto que causam no meio, constituem verdadeiras potencialidades. Ainda, pode-se observar neste grupo o maior percentual de participantes que tem informações sobre o descarte adequado de lâmpadas fluorescentes e conhecem a quantidade de resíduos que geram por dia, apesar de os percentuais alcançados não ser o suficiente para considerá-las uma potencialidade, pois ambas não alcançam 75%. Além das fragilidades comuns a todos os grupos, este apresenta destaque apenas a opção por embalagens biodegradáveis e a utilização de sacolas retornáveis, ambas com percentual inferior à 50%.

Já o grupo 4 (campus Canoas) apresentou o maior percentual de participantes que opta por embalagens biodegradáveis e utilização de restos de alimentos, ainda que estes percentuais não ultrapassem 75%, necessitando de atenção. Já a preocupação com o ciclo de vida das embalagens, o grupo alcançou o único percentual favorável, ultrapassando os 90%. A observação das condições do entorno do campus também é uma potencialidade, bem como o cuidado com a permanência do chuveiro ligado durante o banho, sem o mesmo ultrapassar 15 minutos, que, por sua vez, atinge 100% dos participantes. Contudo, o grupo ainda possui fragilidades a serem trabalhadas, devido à baixa utilização de lâmpadas fluorescentes, a percepção sobre o papel do indivíduo nos impactos ambientais e a questão da utilização das sacolas retornáveis.

 

 

Considerações finais

 

De uma maneira geral, as comunidades dos campi analisados são conscientes de sua responsabilidade cidadã. Contudo, é evidente que as reflexões referentes aos problemas ambientais e a inter-relação entre homem e ambiente são incipientes e o nível de consciência ambiental apresentado pelos entrevistados ainda não é suficiente para produzir uma mudança socioambiental transformadora.

Embora a percepção ambiental de cada indivíduo seja de natureza singular, pois resulta de um conjunto de variáveis que compõem a realidade e a trajetória do indivíduo, através dos resultados obtidos no presente trabalho foi possível observar que alguns indicadores se refletem de forma coletiva, representando maior ou menor interesse e conhecimento em um assunto específico. Este reflexo pode ocorrer pelos mais variados aspectos, tais como campanhas divulgadas nas mídias, custo de algum recurso, entre outros.

Pelo percentual das respostas das práticas ambientais mais responsáveis, por grupo formado, pode-se verificar as práticas ambientais positivas e que podem ser potencializadas junto à comunidade, bem como as práticas a serem incentivadas e seus assuntos relacionados elucidados, pois representam fragilidades, sendo necessárias proposições de ações de educação ambiental para a sensibilização da comunidade. 

De uma maneira geral, as práticas ambientais incorporadas no dia a dia da comunidade, e que podem ser consideradas como potencialidades, envolvem o cuidado com o desperdício de água, durante atividades rotineiras e muitas vezes freqüentes ao longo do dia, tais como o fechamento da torneira no ato de escovar os dentes ou lavar louças, bem como o tempo médio de banho de até 15 minutos. Pode-se destacar ainda a segregação de resíduos recicláveis e orgânicos, bem como o conhecimento e aplicação de biocombustíveis, sendo que nos quatro grupos o percentual de respostas para estas questões, foram superiores a 75%.

Verificou-se que o grupo 3, formado pelos campi Farroupilha e Feliz, se caracterizou pela porcentagem mais elevada de respostas, em maior número de questões relacionadas às práticas ambientais mais responsáveis, seguido pelo grupo 4 (Campus Canoas).

Aspectos a serem explorados em todos os campi do IFRS, uma vez que o percentual de respostas foi baixo (<50%), representando a fragilidade da comunidade, envolvem a utilização de equipamentos na sua capacidade máxima, evitando com isso o desperdício de energia e recurso hídrico; a alimentação com preferência pelos produtos orgânicos, visando uma alimentação mais saudável e que utilize práticas sustentáveis na agricultura, bem como a utilização de sacolas retornáveis, visando a minimização da geração de resíduos.

Neste contexto, torna-se crucial que os campi adotem projetos de sensibilização ambiental, permitindo e fomentando a reflexão sobre a relação que os integrantes, enquanto indivíduos e comunidade estão mantendo com o meio ambiente, bem como aprofundem os conhecimentos individuais sobre a verdadeira sustentabilidade ambiental e conduta ecologicamente correta.

 

 

Referências

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Ilustrações: Silvana Santos