“Preservar
a vida é o primeiro passo, pois o segundo é conquistar a qualidade que o viver
precisa ter.” - Regis de Morais (1993:23)
Esta edição tem como tema “Educação Ambiental: educar para cuidar da vida”, e então, escolhi comentar meu preceito preferido de vida - Tikun Olam*, ou, Conserto do Universo, pois ele trata justamente do propiciar, do possibilitar, do promover, do resgatar e do recuperar a vida em todos os seus modos e significados. Este posicionamento tem sido minha profissão de fé, meu norte profissional e pessoal.
A transmissão deste conceito parte de um diálogo de D-us com Adão, em uma de suas visitas habituais ao Paraíso - e inevitavelmente sempre imagino D-us como o carismático condutor das trilhas interpretativas do Jardim do Éden... - quando Ele lembra à humanidade as suas responsabilidades respectivas às ações e omissões individuais e coletivas, visando à conservação e preservação do mundo:
Veja as coisas que eu formei, como são lindas e louváveis! Tudo o que criei, o fiz por ti. Tenha cuidado para não estragar e desolar Meu mundo, pois se o estragares, ninguém o consertará depois de ti. (Midrash Rabá apud BUNIM, 2001: 299)
Assim, tenho repetido esta passagem como um refrão em minhas aulas nas universidades e em palestras onde o alvo é o comprometimento do ser humano com o meio ambiente: ninguém virá depois de mim para fazer aquilo que eu já poderia ter feito! A responsabilidade e o comprometimento são meus exclusivamente: começa a partir de mim e estende-se tal qual uma rede que, pode ou não, envolver o outro dependendo do meu exemplo...
Educar para
cuidar da vida, é educar, ou reeducar, o meu próprio “eu” e depois o próximo,
consertar meu próprio universo pessoal, e depois expandir suas fronteiras
passo-a-passo, atitude após atitude, sempre observando, e lembrando que todas
as ações devem ser vivenciadas pelas comunidades sob a ótica de uma
responsabilidade coletiva, de modo que não apenas sejam protegidas as condições
relacionadas à propiciação da vida como também a sua própria conservação e
preservação.
Para estes
gestos de conserto do universo é preciso uma perspectiva de atitude e de
conduta conscientes e disciplinadas por parte dos indivíduos e da
coletividade, envolvendo pautas, valores e prioridades inerentes as suas
culturas. Na visão da Ecologia Profunda, o sentimento de pertinência, de
conexão, de alteridade, de valores e de consciência integrados “a partir da
perspectiva de nossos relacionamentos uns com os outros, com as gerações
futuras e com a teia da vida da qual somos parte” (CAPRA, 2000:26)
De um conceito espiritual, que transcende muitas vezes meu entendimento pela maravilha e harmonia dos processos da Vida, percebo seus conteúdos e mensagens práticos, cotidianos, sem mistérios, capazes de dar sentido à tarefa mais banal e corriqueira: atividades domésticas tais como cuidar do jardim, preparar compostos orgânicos, plantar uma árvore, preparar nosso alimento, dar de comer a passarinhos, reciclar aquilo que descartamos como lixo, até mesmo àquelas que envolvem um comprometimento maior com a comunidade onde vivemos. Esta escala de ação pode abarcar os domínios do seu bairro até alcançar todo o planeta! Comprometimento que com atividades de voluntariado social, e aqui não falo do voluntariado empregatício, e com o engajamento em movimentos ou associações para conseguir melhorar a qualidade ambiental de vida e do bem-estar comunitário. Existem pessoas que precisam de auxílio de diversos aportes, às vezes um sorriso amoroso já é o suficiente para iluminar uma alma!(sem pt final depois da !) Cito, ainda, a participação em campanhas preventivas na sua área de ação profissional, dedicando parte do seu tempo pessoal ao cuidado e à educação necessários à manutenção das condições de valorização da vida.
Tudo isto pode ser vivenciado como experiências de “educar para cuidar da vida”. Tão simples e natural como o desabrochar de uma flor em nossos jardins: uma celebração espontânea do milagre da vida.
E, pensando bem, acho que poderia terminar lembrando o querido Velho Professor Antenor Pasqual: é preciso prestar muita atenção nos pequenos sinais...Tikun Olam!
Sol Guimarães

BUNIM, I. A Ética do Sinai – ensinamentos dos
sábios do Talmud. São Paulo: Sêfer, 2001.
CAPRA, F. A Teia da Vida.
São Paulo: Cultrix, 2000.
MORAIS, Regis de. Ecologia
da Mente. Campinas: Editorial Psy, 1993.
Nota:
*Tikun Olam,
no Judaísmo, o preceito envolve “uma missão moral de aperfeiçoar o mundo, de
reparar, consertar, onde D-us e os homens são ‘parceiros no trabalho da
criação’”.[Tzedaka e Tikun Olam, Federação Israelita do Estado de São
Paulo, 2004]
Agradecimento
Especial: Grasias, kerida Ana Villaça, kon grande amistad i de
todo mi korason!