Os Equívocos dos Indicadores de Sustentabilidade
Dra Danielle Thaís Barros de Souza Leite*
M.Sc. Lorena Xavier Conceição Santos**
M.sc. Rodrigo Galloti Lima***
M.Sc. Sara Julliane Ribeiro Assunção****
Dr. Adauto de Souza Ribeiro*****
Resumo
O presente artigo teve como objetivo elaborar uma discussão
teórica sobre os equívocos relacionados a indicadores
de sustentabilidade. Para isto foi abordado o conceito de indicadores
bem como sua abordagem sistêmica. Destaca-se que nos países
em desenvolvimento, as necessidades básicas de grande número
de pessoas não estão sendo atendidas. A
sustentabilidade ambiental originou-se da necessidade de reavaliar a
forma de se realizar o desenvolvimento, que estava mais ligado à
ideia de crescimento econômico. Nesse sentido, destaca-se a
relação entre a sociedade e o meio ambiente que passa a
ser observada de maneira mais critica e a própria concepção
do problema encaminhada para uma forma mais globalizada e menos
localizada, o que levou ao surgimento de novas alternativas de
relacionamento com intuito de reduzir os impactos da sociedade sobre
o meio. Dada à
necessidade de analisar a sustentabilidade ambiental, é
preciso definir indicadores, os quais podem ser entendidos como
ferramentas constituídas por uma ou mais variáveis que,
associados por meio de diversas formas, revelam significados mais
amplos sobre os fenômenos, visando à sustentabilidade
local. Mensurar a sustentabilidade requer a integração
de um grande número de informações advindas de
uma pluralidade de disciplinas e áreas de conhecimento. No
entanto, suas limitações não podem ser
ignoradas.
Palavras-Chaves: Ambiental; Enfoque
Sistêmico; Desenvolvimento Sustentável.
Abstract
The
present article aimed to elaborate a theoretical discussion about the
misconceptions related to sustainability indicators. For this the
concept of indicators as well as their systemic approach was
approached. It is stressed that in developing countries, the basic
needs of large numbers of people are not being met. Environmental
sustainability stemmed from the need to re-evaluate the way
development was carried out, which was more closely linked to the
idea of economic growth. In this sense, the
relationship between society and the environment that is observed in
a more critical way and the very conception of the problem addressed
to a more globalized and less localized form is highlighted, which
led to the emergence of new relationship alternatives with the aim of
reducing the impacts of society on the environment. Given the need to
analyze environmental sustainability, it is necessary to define
indicators, which can be understood as tools consisting of one or
more variables that, associated in different ways, reveal broader
meanings about the phenomena, aiming at local sustainability.
Measuring sustainability requires the integration of a large number
of information from a variety of disciplines and areas of knowledge.
However, its limitations can not be ignored.
Keywords:
Environmental;
Systemic Approach; Sustainable development.
*
Doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS. Professora Adjunta da
Universidade Tiradentes. Coordenadora de Administração
EAD/UNIT. Integrante do Grupo LEI/UFS. E-mail:
daniellethais@yahoo.com.br
**Doutoranda
em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS. E-mail:
lolyxavier@hotmail.com
***
Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS. E-mail:
sarassuncao_6@hotmail.com
****Doutor
em Desenvolvimento e Meio Ambiente/UFS. E-mail:
florafertil@yahoo.com.br
*****
Doutor e professor do Departamento de Ecologia/UFS. E-mail:
adautoead@gmail.com
Introdução
O termo desenvolvimento sustentável foi criado pensando-se em
melhorar as necessidades presentes sem comprometer a capacidade e as
necessidades das futuras gerações, ou seja, satisfazer
as necessidades e as aspirações humanas é o
principal objetivo do desenvolvimento. Nos países em
desenvolvimento, as necessidades básicas de grande número
de pessoas – alimento, roupas, habitação, emprego
– não estão sendo atendidas. Além dessas
necessidades básicas, as pessoas também aspiram
legitimamente a uma melhor qualidade de vida, de modo que, para que
haja um desenvolvimento sustentável, é preciso que
todos tenham atendido as suas necessidades básicas e lhes
sejam proporcionadas oportunidades de concretizar suas aspirações
a uma vida melhor.
A sustentabilidade ambiental, segundo Camargo (2002), originou-se da
necessidade de reavaliar a forma de se realizar o desenvolvimento,
que estava mais ligado à ideia de crescimento econômico.
Nesse sentido, Van Bellen (2002) destaca que a relação
entre sociedade e meio ambiente passou a ser observada de maneira
mais critica e a própria concepção do problema
foi encaminhada para uma forma mais globalizada e menos localizada, o
que levou ao surgimento de novas alternativas de relacionamento com
intuito de reduzir os impactos da sociedade sobre o
meio.
Dada à necessidade de analisar a sustentabilidade ambiental, é
preciso definir indicadores, os quais podem ser entendidos como
ferramentas constituídas por uma ou mais variáveis que,
associados por meio de diversas formas, revelam significados mais
amplos sobre os fenômenos, visando à sustentabilidade
local.
Mensurar a sustentabilidade requer a integração de um
grande número de informações advindas de uma
pluralidade de disciplinas e áreas de conhecimento. Comunicar
tal riqueza de informações de forma coerente ao público
não especialista torna-se um grande desafio, o qual se
converte em expectativa pela produção de sistema de
indicadores enxutos ou índices sintéticos, capazes de
comunicar realidades complexas de forma
resumida.
Enfoque Sistêmico e Indicadores de Sustentabilidade
A recente abordagem sobre o enfoque sistêmico tem levado a
reavaliação na forma de atuação de
diversos profissionais. Os termos “sistemas” e
“pensamento sistêmico” eram utilizados por
cientistas de diversas áreas. Porém foram as concepções
de Bertalanffy de sistema aberto e de uma teoria geral dos sistemas,
que estabeleceram o pensamento sistêmico como um movimento
científico de primeira grandeza (CAPRA, 1996).
De acordo com Schlindwein e D’ Agostini (2003) o conceito de
sistema vem sendo utilizado desde o século XIX,
porem foi nas décadas de 20 e 30, com o surgimento da
Teoria Geral dos Sistemas, que o conceito de sistema alcançou
um estatuto mais formal (SILVA et al,
2007).
Por meio da Teoria Geral dos Sistemas houve uma possibilidade de
mudança da visão disciplinar e reducionista para a
holística (as propriedades de um sistema são
propriedades do todo, que surgem das interações e das
relações entre as partes) e multidisciplinar (PINHEIRO,
2000).
Já o reconhecimento da importância dos sistemas abertos,
representados pelos sistemas biológicos, sustentados pelo
fluxo de trocas de energias e matérias através das
suas superfícies limítrofes, é mais
recente.
A noção de sistema é aplicável a quase
tudo o que existe e é complexo e organizado. Camargo (1995)
entende por sistema um conjunto de elementos quaisquer ligados entre
si por cadeias de forma a constituir um todo organizado. O autor
ressalta ainda a importância para a Teoria Geral dos Sistemas
em compreender o todo e não as partes. O objetivo é
projetar uma análise visando compreender as dinâmicas
sistêmicas, assim como, atuar em qualquer natureza de elementos
que compõe uma relação de forças entre
eles, o que inclui qualquer disciplina científica
(BERTALANFLY, 1968).
Para Camargo (1995), a Ciência dos Sistemas trata-se de uma
ciência multidisciplinar que estuda a relação dos
sistemas e seus elementos, bem como das combinações
entre os mesmos, respectivamente em super e subsistemas, suas ações
e comportamentos. Os Sistemas são constituídos por
componentes, interações entre componentes, entradas,
saídas e limites. Os limites desses sistemas se confundem e se
modificam a depender da intencionalidade do pesquisador, ao passo que
os sistemas naturais são abertos, resultando em entradas e
saídas dessas unidades (OLIVEIRA et
al, 2007).
Entender as coisas sistemicamente significa literalmente colocá-las
dentro de um contexto, estabelecer a natureza de suas relações
e não apenas identificar algumas possíveis
relações
como acontece
na maioria
das vezes
(CAPRA, 1997).
Para entendimento dos sistemas é necessário perceber
que estes podem ser abertos (sofrem a ação ou
intervenção do homem), ou fechados (a sua manutenção
não tem relação com ação humana).
Segundo Oliveira et al (2007), um sistema aberto se caracteriza pelos
seguintes aspectos: O todo é superior à soma das suas
partes e tem características próprias; As partes
integrantes do sistema são interdependentes; Sistemas e
subsistemas relacionam- se e estão integrados numa cadeia
hierárquica; Exercem auto regulação e
controle, visando a manutenção do seu equilíbrio.
Sua auto regulação implica na capacidade de mudar, como
forma de adaptação a alteração do meio
exterior; Influenciam o meio exterior e
vice-versa (por
meio da
troca de
energia).
A Teoria dos Sistemas é base teórica para a utilização
de indicadores, pois para o entendimento global dos fenômenos é
imprescindível à análise interligada das
dimensões sociais, políticas, ambientais, culturais e
econômicas de determinado ecossistema. De acordo o autor,
indicador é o instrumento que permite mensurar as modificações
nas características de um sistema, ou seja, os indicadores
deverão estabelecer, para um dado período de tempo, uma
medida de certa característica.
Para a escolha de uma característica como indicador, alguns
aspectos importantes devem ser
considerados, tais como ser significativo para a avaliação
do sistema; ter validade, objetividade e consistência; ter
coerência e ser sensível a mudanças no tempo e
no sistema; ser centrado em aspectos práticos e claros,
facilidade de entendimento e que contribua para a participação
da população local no processo de mensuração;
permitir enfoque integrador, ser de fácil mensuração,
baseado em informações facilmente disponíveis e
de baixo custo; permitir ampla participação dos atores
envolvidos na sua definição; permitir a relação
com outros indicadores,
facilitando a interação entre eles.
Outro aspecto a ser levando em consideração, é a
coerência entre os propósitos da avaliação,
e o indicador escolhido. Deponti et al (2002) ressaltam a necessidade
de ter clareza em relação a avaliação
sobre a forma, o tempo, o motivo e elementos imprescindíveis a
avaliação, bem como, de que maneira serão
expostos, integrados e aplicados os resultados para o melhoramento do
perfil dos sistemas analisados. A clareza em
relação aos
aspectos supracitados
é fundamental,
pois eles
deverão orientar
a definição
quanto ao tipo de indicador recomendado para o monitoramento do
objeto proposto. Não são raros os casos em que
atividades de monitoramento geram informações que,
posteriormente, são pouco utilizadas, o que pode ser explicado
pelo fato do indicador utilizado para o monitoramento não
retratar os anseios do grupo diretamente relacionado com o
objeto.
Os indicadores têm sido utilizados, de forma conjunta, na
administração, seja ela pública ou privada de
vários sistemas, agregando uma série de informações,
buscando uma visão integrada do objeto de estudo. Na
construção de um sistema de indicadores é
importante que se estabeleçam os critérios e os métodos
de forma coerente com os objetivos pretendidos e também com
os recursos humanos, materiais e financeiros disponíveis em um
dado contexto (MIRANDA;
TEIXEIRA, 2004).
Existem vários indicadores para cada ramo ou segmento que se
queira analisar: indicadores de desempenho, para avaliar pessoas e
projetos; indicadores econômico- financeiros, para a comparação
de empresas e países; indicadores sócio-econômicos,
para a análise da sociedade, indicadores de sustentabilidade
para análise variadas, entre outros, resumindo uma série
de informações que permitirão a tomada de
decisão pelo administrador (BOSSEL,
1999).
Existe uma grande discussão em torno da sustentabilidade rumo
à construção de instrumentos que permitam
mensurar as modificações nas características de
um sistema bem como avaliar a sustentabilidade dos diferentes
sistemas (DEPONTI et al, 2002). As dificuldades de estabelecer
indicadores de sustentabilidade ocorrem por falta de um consenso no
conceito de desenvolvimento sustentável e dos objetivos a
serem atingidos para se chegar à sustentabilidade, pois para
realidades diferentes, existem respostas diferentes. A aplicação
ou não de um indicador deve-se ao seu potencial de elucidar,
de maneira abrangente, o resultado exato da interação
de variantes sistêmicas (SOBRAL et al, 2007).
A construção de indicadores para avaliação
da sustentabilidade exige uma equipe interdisciplinar; são
importantes ferramentas de avaliação, desde que seja
possível relacioná-los aos conceitos e princípios
de sustentabilidade, sendo capazes de avaliar e monitorar as
tendências de desenvolvimento sustentável, definindo
metas de melhoria dos sistemas; descrevem um processo específico
e são particulares aos mesmos, por isso não há
um conjunto de indicadores globais adaptáveis a qualquer
realidade; e devem refletir o objetivo de seus propositores
garantindo a identificação dos propositores com
os indicadores
selecionados (MIRANDA; TEIXEIRA, 2004).
Os indicadores fornecem informações essenciais e
confiáveis sobre a viabilidade de cada um dos componentes do
sistema. A gestão de atividades e o processo decisório
necessitam de novas maneiras de medir e os indicadores são
importantes como ferramenta neste processo. Medições
são imprescindíveis para que o conceito de
desenvolvimento sustentável se torne operacional. Elas podem
ajudar os tomadores de decisão a definir os objetivos e as
metas (BELLEN, 2005).
As medidas
fornecem uma
base empírica
e quantitativa
de avaliação
da performance
e permitem comparações no tempo e no espaço
proporcionando oportunidades
para descobrir novas
correlações. O objetivo da mensuração é
auxiliar os tomadores de
decisão na
avaliação de
seu desempenho
em relação
aos objetivos
estabelecidos e
fornecedores de
bases para
o planejamento
de futuras
ações.
Para
isso eles
necessitam de
ferramentas que conectem atividades passadas e presentes com as metas
futuras, e
os indicadores é
o seu
elemento central
auxiliando os
tomadores a
compreender melhor,
em termos operacionais o que o conceito de
desenvolvimento sustentável significa
funcionando como
ferramenta de
explicação
pedagógica e
educacional (BELLEN,
2005).
Sob o enfoque sistêmico, o objetivo dos sistemas de
indicadores é a construção
de um conjunto
de indicadores
que mostrem
tendências
vinculantes e/ou
sinérgicas,
variáveis que
analisadas em
seu conjunto
possam dar
conta das
principais tendências,
tensões e
causas subjacentes aos
problemas de
sustentabilidade. As
vantagens de
tal enfoque
decorrem de certo
consenso internacional
que vigora
em torno
de tal
modelo, por
não requer
comensurabilidade ou valoração (uma dificuldade sempre
presente nos
indicadores monetários, por exemplo). Como uma
desvantagem, eles não conseguem
revelar imediata ou
sinteticamente os
fenômenos. A
sua construção
é estimulada
a partir
de governos
e organismos internacionais, o que tem lhes conferido uma
grande aceitação mundial.
O mais popular dos sistemas de indicadores ambientais de acordo com
Soares et al., (2011), preocupados em representar as relações
de causa-efeito existentes entre as diversas dimensões
ambientais, é o PSR (Pressão, Estado, Resposta) adotado
pela Organisation for Economic Cooperation and Development (OECD). O
modelo foi desenvolvido e recomendado originalmente pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE, 1993) e é também utilizado, com algumas
alterações, por outras agências internacionais
como Unstat (Divisão de Estatísticas das Nações
Unidas) e Eurostat (Divisão de Estatísticas da
Comunidade Européia).
De maneira geral, o modelo busca descrever a dinâmica de um
problema ambiental; por exemplo, a pressão ambiental
decorrente da deposição de esgotos em um rio ou a
diminuição de área disponível para a vida
selvagem. Tais pressões alteram o estado do sistema ambiental,
reduzindo a qualidade da água ou a diversidade de espécies.
Tais alterações, por seu turno, conduzem, em alguns
casos, a respostas dos governos, ou das instituições
(entre os quais, o próprio mercado). Medidas da condição
do sistema podem ser enquadradas nestes três níveis;
alguns argumentos têm sido apresentados para a necessidade de
focalização nos indicadores de pressão, dado que
eles permitem um alerta, gerando definição de
políticas; mas, na prática, a maior parte dos
indicadores se restringe ao nível de descrição
de estado (Azar et al., 1996).
Destacam-se ainda dentre os sistemas de indicadores ambientais, de
acordo com Soares et al., (2011), o DSR (Força Motriz, Estado,
Resposta) da United Nations Commission on Sustainable Development
(UNCDS) e, mais recentemente, o DPSIR (Driving Force, Pressure,
State, Impact and Response), considerado uma versão mais
sofisticada do modelo de PSR, em aplicação pela
European Environmental Agency (EEA) (Giupponi, 2002), que vem sendo
utilizada pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente) na elaboração da série GEO
(Global Environment Outlook). O projeto GEO, iniciado em 1995, busca
avaliar o estado do meio ambiente nos níveis global, regional
e nacional. A variável impacto busca mensurar o impacto ou o
efeito produzido pelo estado do meio ambiente sobre diferentes
aspectos, como os ecossistemas, qualidade de vida humana, economia
urbana local, entre outros.
Os equívocos dos indicadores de sustentabilidade
Desde o final da década de 80, surgiram as primeiras propostas
de construção de indicadores ambientais. Porém
foi a partir da Conferência Internacional da Organização
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, que surgiu a
necessidades de desenvolver indicadores de desenvolvimento
sustentável, expressas na Agenda 21 em seus capítulos 8
e 40, onde a CSD (Comissão de Desenvolvimento Sustentável),
adotou um programa de cinco anos para desenvolvimento de instrumentos
apropriados para os tomadores de decisão no nível
nacional no que se refere ao desenvolvimento sustentável
(Bellen, 2002). O objetivo era de fornecer subsídios à
formulação de políticas nacionais e acordos
internacionais, bem como que servissem
de referência para medir o progresso da sociedade em
direção ao que se convencionou chamar de um futuro
sustentável (Moldan e Billharz,1997), à tomada de
decisão por atores públicos e privados, além de
buscam descrever a interação entre a atividade
antrópica e o meio ambiente.
O indicador é um parâmetro associado com um fenômeno
ambiental que pode fornecer informações específicas,
a fim de representar de forma concisa os problemas estudados
(SCHMIDT, 1986). Deve este associado com um sistema de indicadores,
capaz de fornecer informações sistemáticas com a
finalidade de avaliação, pois sozinho, fornece poucas
informações. Um sistema de indicadores é
composto de diversos indicadores correlacionados a partir de uma
lógica e do ponto de vista funcional, capaz de descrever e
fornecer informações sobre vários fenômenos
associados uns com os outros, ou que têm de ser interpretados
de forma coordenada (BELLEN, 2005).
Observa-se que existem várias justificativas para que se
desenvolvam sistemas de avaliação de sustentabilidade,
porém segundo Meadows (1998), existem várias limitações
na utilização de indicadores, e um dos principais
problemas relacionados aos indicadores é a sua seleção.
Um processo que leve à seleção de indicadores
inadequados conduz a um sistema com problemas. Segundo Bossel (1999)
a maioria dos indicadores relacionados à sustentabilidade não
possui um sistema teórico conceitual que reflita a viabilidade
e a operação do sistema total; eles normalmente
refletem a experiência e os interesses de pesquisa dos
especialistas. Desta maneira, os indicadores têm um aspecto
ambíguo, são importantes e perigosos ao mesmo tempo, na
medida em que estão no centro do processo decisório
(BELLEN, 2002).
Bossel (1999) argumenta ainda que um dos sérios limitantes de
indicadores de sustentabilidade é a perda de informação
vital, já que é inerente ao mesmo ser o mais simples
possível, criticando a abordagem que procura agregar toda a
informação em apenas um índice, deixando na
maioria das vezes de considerar todas as possibilidades, todas as
vertentes e todas as influenciam que o indicador pode sofrer de
agentes diversos (Bellen, 2002). Na vida real, segundo ele, é
necessário mais do que um indicador para capturar os aspectos
mais importantes de uma situação, e um indicador
simples não é capaz de mostrar toda a realidade. Em
contrapartida Meadows (1998) relata que alguns dos principais
problemas referentes à escolha e utilização de
indicadores é a superagregação que ocorre quando
muitos dados são condensados num único índice,
podendo levar a mensagens não interpretáveis.
Bossel (1999) afirma ainda que o fascínio contemporâneo
acerca de indicadores únicos é decorrente da
prevalência atual dos sistemas econômicos e suas relações
com o desenvolvimento. A ação que os indicadores
impulsionam está relacionada à discrepância entre
os objetivos desejados e o estado percebido sobre o sistema. O estado
percebido se refere ao indicador ou índice. Ele não
pode ser medido precisamente, o indicador não mede o sistema
atual, mas faz uma aproximação ou associação
do mesmo. O indicador é uma medida do sistema no passado e
possui ruídos, portanto é difícil de apurar sua
tendência. Em vista disto, eles são, por vezes,
extremamente densos em algumas áreas e esparsos ou
inexistentes em outras áreas igualmente importantes. Os
indicadores deste tipo não são sistemáticos e
não refletem as interações entre sociedade e
meio ambiente no sistema total (BELLEN,
2002).
A utilização de indicadores de desenvolvimento
sustentável, segundo Jesinghaus (1999), envolve alguns
desafios conceituais. Existem numerosos problemas de mensuração
que a ciência não conseguiu resolver adequadamente. Isto
abrange o desenvolvimento sustentável e sua avaliação,
quando se depara com as questões metodológicas
referentes ao que medir e como medir. Uma das questões
principais da mensuração está em saber se um
indicador deve ser quantitativo ou qualitativo para que se permita
comparações. Este é um problema que tem
demandado a atenção dos principais esforços
internacionais para estabelecer (BELLEN,
2002).
Para Jesinghaus (1999) grande parte das dificuldades dos projetos de
avaliação não se refere apenas a como medir,
mas, sim, a como interpretar esta série de medidas e julgar
sua significância para o sistema como um todo. Algumas
metodologias de avaliação apenas fornecem uma série
de indicadores sem utilizá-los para ligá-los à
ação política. A interpretação dos
dados é afetada tanto pelo sistema como pelo método,
mas o resultado final depende do modo como o processo de medição
é aplicado ao processo decisório mecanismos de
mensuração (Bellen,
2002).
Outro problema é a mensuração do que é
mensurável mais do que a medição do que é
realmente importante, como exemplo, receitas ao invés de
qualidade de vida. Também a dependência de falsos
modelos que levam a resultados ambíguos como o problema da
valoração monetária de recursos naturais não
renováveis. Pode existir também a falsificação
deliberada que ocorre quando um índice traz notícias
negativas e pode-se deliberadamente alterar algumas definições
metodológicas da coleta de dados. Bellen (2002), cita o
exemplo do desemprego nos Estados Unidos da América que é
baseado nas pessoas que, apesar de estarem desempregadas, estão
procurando emprego “ativamente”. Outra questão
importante é relativa ao desvio de atenção, com
ferramentas e dados que deslocam
o foco da observação dos atores envolvidos. Os
indicadores também podem levar a sociedade a uma percepção
falsamente positiva da realidade quando mal formulados ou baseados em
modelos não confiáveis. Os indicadores não são
a realidade, não são completos, e não contêm
todos os elementos da realidade, com toda sua diversidade e
possibilidades.
Bellen, (2002) considera as abordagens atuais são inadequadas
uma vez que não analisam a totalidade dos problemas complexos,
mais sim apenas partes de um todo. Para que a análise seja
eficiente o autor propõem um modelo formal de análise
deste sistema e de seus componentes, onde deve conter: a) A
identificação de sistemas gerais relevantes ao
desenvolvimento sustentável; b) A identificação
dos indicadores e a viabilidade destes sistemas, através de
uma abordagem adequada e ; c) a Reflexão de como utilizar as
informações na avaliação da viabilidade e
a sustentabilidade do desenvolvimento humano nos diferentes níveis
da sociedade.
As diferentes metodologias utilizadas, bem como a escala aplicada pra
mensuração apresenta-se como outro problema. Os dados
referentes à sustentabilidade de um sistema apresentam-se de
forma irregular entre diferentes programas e instituições.
A maior parte dos dados e estatísticas colecionados durante o
tempo foi desenvolvida em épocas anteriores ao surgimento do
conceito de desenvolvimento sustentável. As técnicas
analíticas, em sua quase totalidade, estão longe de
serem adequadas, especialmente quando se lida com impactos
cumulativos sobre o meio natural.
Outro aspecto refere-se à comparabilidade dos dados, mesmo que
a maioria das questões relativas à sustentabilidade
possa ser quantificada, elas não podem ser diretamente
comparadas, como, por exemplo, as perdas na biodiversidade não
podem ser comparadas aos ganhos econômicos. Sem dimensões
compatíveis, a agregação e as comparações
gerais continuarão sendo um problema para a avaliação
de sustentabilidade (BELLEN, 2002).
O autor também evidencia que a análise comparativa no
âmbito ambiental pode identificar sucesso ou falhas de
intervenções políticas e chama a atenção
para a carência de informações ambientais de
qualidade no âmbito mundial. A dificuldade na obtenção
de dados é problema recorrente, tanto no que se refere à
mera disponibilidade dos mesmos, quanto à sua qualidade. A
este respeito, Esty e Porter (2002) afirmam ser necessária a
construção de mecanismos que assegurem o controle de
qualidade dos dados e proporcionem algum grau de padronização,
eliminando o risco de produção extensiva de dados com
baixa capacidade de informação.
Uma dificuldade adicional deve ser ressaltada e se refere aos limites
de recursos. Existem diversas limitações reais
de recursos humanos, financeiros e de tempo para mensuração
dentro de projetos de avaliação de sustentabilidade.
Apesar disso, já é possível observar o
estabelecimento de alguns critérios para a constituição
do que venha a ser considerado um bom indicador. A OECD (1998)
estabeleceu alguns critérios de seleção de
indicadores de meio ambiente, sob três aspectos principais:
relevância política, clareza analítica e
mensurabilidade. Em todo o mundo, há um claro processo de
desenvolvimento conceitual, metodológico e instrumental
(BELLEN, 2002).
Considerações finais
Após análise de alguns métodos que pretendem
“capturar” a sustentabilidade, é que a maioria
destes se mostra inadequada para alcançar os propósitos
fundamentais na avaliação de sustentabilidade. Ao
analisar diversas propostas de índices e indicadores de
sustentabilidade, observou-se problemas comuns aos indicadores até
então construídos, tais como: ausência ou
fragilidade da concepção conceitual, fragilidade dos
critérios de escolha das variáveis representativas,
falta de critérios claros de integração dos
dados, baixa relevância dos dados utilizados.
Devido à falta de precisão em relação aos
conceitos de sustentabilidade e qualidade ambiental, o processo de
escolha dos dados e variáveis a serem utilizadas na mensuração
dos referidos fenômenos é por muitas vezes obscuro,
assim como o são as relações de causalidade que
dão suporte aos sistemas de indicadores construídos.
Muitos dos assim denominados sistemas de indicadores são
muitas vezes meras listas de dados e variáveis. Por se
tratarem de iniciativas isoladas, em geral restritas a um contexto
local, a comparatibilidade dos indicadores e índices é
geralmente baixa. A construção dos índices
envolve ainda a complicação adicional de tornar
comparáveis dados de diferentes fontes, produzidos a partir de
escalas distintas, com cobertura e distribuição
espacial e temporal diversas, levando à busca de formas
alternativas e aproximadas para imputar dados faltantes e construir
proxys adequadas e representativas de informações
inexistentes.
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