Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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16/09/2018 (Nº 65) ANÁLISE MULTITEMPORAL E UTILIZAÇÃO DE MAPAS COMO FERRAMENTA PARA O MONITORAMENTO AMBIENTAL EM ESCALA DE BACIA HIDROGRÁFICA
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ANÁLISE MULTITEMPORAL E UTILIZAÇÃO DE MAPAS COMO FERRAMENTA PARA O MONITORAMENTO AMBIENTAL EM ESCALA DE BACIA HIDROGRÁFICA



Carlos Eduardo Santos de Lima1; Elisabeth Regina Alves Cavalcanti Silva2; Daniel Dantas Moreira Gomes3.



1 Mestrando pelo Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA-UFPE

2 Professora EBTT de Engenharia Ambiental do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco

3Professor Adjunto do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade de Pernambuco(UPE)



RESUMO

Num mundo cada vez mais globalizado e tecnológico, estratégias de educação ambiental devem ser formuladas para aproveitar o potencial de análise que as novas tecnologias podem oferecer. Nesse sentido, a reprodução e elaboração de produtos visuais como mapas, podem representar um avanço na propagação do conhecimento da dinâmica das paisagens e uma importante ferramenta para o monitoramento e a conservação dos ambientes naturais. Por essa razão, o objetivo deste trabalho é analisar multitemporalmente, através da produção de mapas, a Bacia hidrográfica do Inhaúma-PE/AL, demonstrando que o mapeamento ambiental é uma técnica valiosa como proposta pedagógica para a formulação de estratégias de educação ambiental que caracterizem, monitorem e conservem os ambientes naturais com vistas ao entendimento da dinâmica das bacias hidrográficas. O resultado foi a elaboração dos mapas temáticos, facilitando o diagnóstico ambiental da Bacia e identificando as áreas com impactos ambientais, bem como a atividade de campo para comprovação in loco das áreas antropizadas visualizadas nos mapas. Dessa forma, os mapas demonstraram a importância dos aspectos visuais para representação e entendimento da dinâmica ambiental na Bacia do Inhaúma PE/AL, podendo significar uma nova e útil ferramenta para elaboração de estratégias de educação ambiental.

Palavras-chave: Mapeamento ambiental, Monitoramento, Educação Ambiental.



ABSTRACT

In an increasingly globalized and technological world, environmental education strategies must be formulated to take advantage of the analytical potential that new technologies can offer. In this sense, the reproduction and elaboration of visual products as maps can represent an advance in the propagation of the knowledge of the dynamics of the landscapes and an important tool for the monitoring and the conservation of the natural environments. For this reason, the objective of this work is to analyze the Inhaúma-PE / AL hydrographic basin multitemporalily, through the production of maps, demonstrating that environmental mapping is a valuable technique as a pedagogical proposal for the formulation of environmental education strategies that characterize , monitor and conserve natural environments with a view to understanding the dynamics of river basins. The result was the elaboration of thematic maps, facilitating the environmental diagnosis of the Basin and identification of areas with environmental impacts, as well as the field activity for in situ verification of the anthropic areas identified in the maps. Thus, the maps showed the importance of the visual aspects for representation and understanding of the environmental dynamics in the Inhaúma PE / AL Basin, which could be a new and useful tool for the elaboration of environmental education strategies.

Key words: Environmental mapping, Monitoring, Environmental education.

INTRODUÇÃO

Segundo Castells (1999), uma transformação tecnológica de dimensões históricas está ocorrendo com a integração de vários modos de comunicação. Nesse sentido, uma revolução nas tecnologias de informação está criando um verdadeiro “mundo digital”, remodelando rapidamente a maneira de viver das pessoas (CHAIBEN et al., 2011). Em função disso, os profissionais da educação devem aprender e dominar essas novas tecnologias, não para que elas sejam utilizadas para simples reprodução de conhecimento técnico, mas também para promoção da integração de saberes a partir de uma visão interdisciplinar.

Nesse sentido, a educação ambiental não pode perder a oportunidade de utilização de potenciais ferramentas tecnológicas de análise que possam facilitar a produção e reprodução de conhecimentos visando à conservação de ambientes naturais. Para tanto, a análise da paisagem e a reprodução e elaboração de produtos visuais como mapas, para explicar os elementos naturais, representam um avanço na propagação do conhecimento, entendimento e reconhecimento da dinâmica das paisagens. Segundo Bacci e Santos (2013):

(Re)conhecer o lugar em que se vive por meio de metodologias que usam o mapeamento como ferramenta para esse fim, tem como objetivo promover o (re)pensar de conceitos e a construção de novos conhecimentos e valores capazes de contribuir para a transformação de práticas, bem como para o desenvolvimento de novas competências, visando à gestão de conflitos por meio de processos de coaprendizagem e participação de forma plena e eficaz na solução/tomada de decisão sobre problemas” (BACCI e SANTOS, 2013).

Para Oliveira et al. (2007), a partir do mapeamento ambiental é possível identificar problemas ambientais, bem como suas origens e consequências, permitindo a superação da fragmentação e descontextualização dos conteúdos, possibilitando dessa forma “a articulação entre teoria e prática, dentro do cotidiano e do contexto do aluno, levando-o à construção de novos conhecimentos”. Já para Meyer (1991) o mapeamento ambiental significa um inventário, um levantamento e um registro da situação ambiental do local em seus múltiplos aspectos.

[...] o mapeamento socioambiental é um instrumento didático-pedagógico de diagnóstico, planejamento e ação que promove a participação dos diferentes atores sociais locais no levantamento de variadas informações sobre o lugar. Algumas ferramentas empregadas no mapeamento incluem o uso de mapas, fotografias aéreas ou imagens de satélite e saídas a campo. Sua realização possibilita o (re)conhecimento do local e seus problemas, bem como o compartilhamento de informações, vivências e percepções sobre a realidade socioambiental. (BACCI e SANTOS, 2013, p. 20)

Tozoni-Reis et al. (2007) trata o mapeamento ambiental como uma metodologia educativa, cujo sentido pedagógico mais adequado à educação ambiental crítica e transformadora é a possibilidade de “vivenciar, coletiva e participativamente, uma leitura mais aprofundada, refletida, do ambiente em que vivem os sujeitos”. Já para Pereira (2016) o mapeamento é uma ação participativa, de natureza espacial e simbólica, vivenciado no território “que visa retratar a história local, representações e saberes locais, direcionando e mobilizando a comunidade em torno de decisões coletivas”. Nesse sentido, o trabalho de Rocha (2013) chama atenção para o papel da cartografia social como fortalecedora dos processos de politização e instrumentalização dos sujeitos sociais.

Bacia Hidrográfica como unidade de planejamento

Em uma perspectiva política, a Bacia Hidrográfica é considerada uma unidade territorial onde é possível aplicar e implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos, atuando no Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997). Para tanto há os comitês de bacias que promovem debates, planejamentos e propõem soluções para possíveis impactos ambientais decorrentes da ação antrópica nas bacias hidrográficas.

Ao entender a bacia hidrográfica numa perspectiva sistêmica, os autores Collischonn e Tassi (2011), definem a bacia hidrográfica como um sistema físico, onde há entrada e saída d’água, em que a entrada ocorre através da precipitação e a saída a partir da evaporação e escoamento.

Para os autores Machado e Torres (2013) a definição de bacia hidrográfica entra em uma perspectiva de singularidade, por apresentar um campo vasto para os pesquisadores. Os autores apontam que a análise a nível de bacia pode determinar melhores formas de planejamento e gerenciamento.

Botelho e silva (2014) salientam as possibilidades de analisar os diversos processos e interações que estão contidos dentro de uma bacia. Nesse sentido, a implantação de planos de recursos hídricos em escala de bacia hidrográfica impulsionou a incorporação de ferramentas de Sistema de Informação Geográfica (SIG) aos modelos de planejamento e gestão ambiental, fazendo com que o geoprocessamento se tornasse um importante instrumento para análise da dinâmica de uma Bacia.

Geoprocessamento

O geoprocessamento pode ser definido como uma técnica computacional, que gera e manipula dados georreferenciados, cuja utilização busca captar, manipular, transformar, espacializare referenciar dados. Destri (2008) ressalta que sempre houve produção de dados e informações, porém só a pouco tempo surgira uma ferramenta computacional que permitisse a manipulação e caracterização desses dados e informações, o que possibilita que essas técnicas computacionais caracterizem o ambiente natural. Dessa forma, o geoprocessamento pode auxiliar no monitoramento ambiental e territorial, levando em conta a localização e extensão do objeto em investigação.

Para Câmara et al., (1996), o Geoprocessamento possibilita aplicabilidades variadas. Nesse sentido os autores salientam que:

Primeiro, tais sistemas possibilitam a integração, numa única base de dados, de informações geográficas provenientes de fontes diversas tais como dados cartográficos, dados de censo e cadastro urbano e rural, imagens de satélite e modelos numéricos de terreno. Segundo, SIG’s oferecem mecanismos para recuperar, manipular e visualizar estes dados, através de algoritmos de manipulação e análise”.

Lacerda (2010) e Câmara, Davis e Monteiro (2015) afirmam que o geoprocessamento utiliza-se das técnicas matemáticas e computacionais e vem ganhando importância em vários campos do conhecimento, como no auxílio de tomada de decisão, auxiliando de forma robusta as análises ambientais, planejamento urbano e regional, planejamento agrícola, análise dos Recursos Naturais, entre outros.

Albuquerque (2015) salienta que, em virtude do avanço tecnológico, a utilização do geoprocessamento como ferramenta de análise, comparação e cruzamento de dados e informações georreferenciadas, é de suma importância, pois permite uma visão completa dos recursos ambientais, dando ênfase ao gerenciamento integrado de bacias hidrográficas.

Nesse sentido, a utilização do geoprocessamento para a elaboração de mapas temáticos e multitemporais é uma ferramenta importante para o monitoramento ambiental por caracterizar a área estudada e fornecer dados para análise visual, o que abre uma gama de possibilidades para a gestão e monitoramento ambiental, bem como auxiliar nas estratégias de aprendizado para a educação ambiental.

Por essa razão, o objetivo deste trabalho é analisar multitemporalmente, através da produção de mapas da Bacia hidrográfica do Inhaúma - PE/AL, o panorama ambiental da Bacia. O estudo pretende demonstrar como essa análise pode ser valiosa para a caracterização geográfica, o monitoramento ambiental e a conservação dos ambientes naturais, consequentemente, sendo útil como proposta pedagógica para a formulação de estratégias de educação ambiental que possam utilizar os mapas como importantes produtos para o entendimento da dinâmica das bacias hidrográficas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização da presente pesquisa, foi seguida uma metodologia que está presente em 7 etapas. A primeira etapa, consiste na escolha do objeto de estudo. A segunda etapa concerne no levantamento cartográfico, obtendo desse modo todos os dados pertinentes à cartografia da bacia em análise. A terceira etapa refere-se ao reconhecimento da bacia, desta forma foi possível a realização do mapeamento, quantificação de sua extensão, e identificação da sua real localização e caracterização físico-geográfica. A quarta etapa, consiste na atividade de campo, levantamento bibliográfico e a delimitação da área pesquisada. Na quinta etapa, foi fomentado o BD – banco de dados. A sexta etapa, refere-se à padronização do banco de dados da pesquisa, sendo possível desta forma, minimizar os erros cartográficos. A sétima etapa da metodologia, é consistida no PDI – Processamento Digital de Imagens de satélite para elaboração dos mapas.

A partir dos dados levantados, foram elaborados mapas temáticos mostrando a localização geográfica da Bacia Hidrográfica do Inhaúma, mapa das cotas altimétricas, mapa geológico, mapa e classes de solos da Bacia, mapa do bioma da Bacia Hidrográfica do Inhaúma - PE/AL e o Mapa Pluviométrico da área. Além disso, foi realizada uma Atividade de Campo com várias paradas, para o diagnóstico da área através de uma câmera, bem como a marcação de alguns pontos considerados como relevantes para a demonstração de áreas impactadas pela ação antrópica, sendo também elaborado um mapa da trajetória percorrida no campo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Primordialmente o trabalho procurou localizar e caracterizar físico-geograficamente a área de estudo, de forma a representar uma leitura inicial do ambiente, criando, dessa forma, possibilidades concretas para a construção de um processo educativo coletivo, dinâmico e interdisciplinar, articulando teoria e prática.

Localização e caracterização físico-geográfica da área de estudo

A primeira figura elaborada para reconhecimento do território é referente à localização da Bacia estudada. A Bacia hidrográfica do Inhaúma está inserida em dois estados, Pernambuco e Alagoas, como pode ser visto na (Figura 1), entre as coordenadas, 36°26’0’’/ 36°4’30’’ de Longitude Oeste, e entre as coordenadas 9°4’0’’/ 8°53’0’’ de Latitude Sul. A referida bacia hidrográfica abarca cerca de 8 municípios brasileiros. A sudeste do estado de Pernambuco, com 6 municípios, que são eles: Angelim, Canhotinho, Correntes, Garanhuns, Palmeirina e São João. Já a nordeste do estado de Alagoas, há apenas dois municípios, que compreende a bacia, são eles: Santana do Mundaú e São José da Laje, totalizando uma extensão territorial de aproximadamente 452,41 Km ².

Figura 1 - Localização da Bacia Hidrográfica do Inhaúma - PE/AL

Fonte: Elaborado pelos autores, 2018.

A elaboração do mapa de localização é útil para entender o espaço de trabalho e planejar diversos tipos de análise desde mudanças naturais quanto aquelas acarretadas por ação humana. Segundo Pereira (2016) o fato de o ambiente estar em processo contínuo de mudanças, causadas tanto por causas naturais como por ações antrópicas, uma proposta pedagógica de educação ambiental teria que contemplar essas mudanças.

Posteriormente, foram formulados os mapas referentes à cota altimétrica, mapa geológico, o mapa das classes de solos da Bacia, mapa dos biomas onde a Bacia se insere e os Dados Pluviométricos para diagnosticar a situação ambiental da Bacia hidrográfica do Inhaúma.

Cotas Altimétricas

A bacia hidrográfica em análise, possui uma altimetria que varia de 210 a 930 metros de altitude, a região mais alta da bacia, está localizada nos municípios de Garanhuns e São João. Já as regiões mais baixas altimetricamente, refere-se aos municípios de São José da Laje e Santana do Mundaú, no estado de Alagoas, como pode ser visualizado na (Figura 2).

Figura 2 - Mapa Altimétrico da Bacia Hidrográfica do Rio Inhaúma - PE/AL

Fonte: Adaptado pelos autores.

Mapa Geológico da Bacia

A bacia em questão, possui cerca de quatro classes geológicas. São elas: Belém do São Francisco, Complexo de Cabrobró – Unidade 2, Complexo de Cabrobró – Unidade 4, Granitóides Indiscriminados e uma Falha Geológica, como pode ser observado com mais detalhes na (Figura 3).

Figura 3 - Mapa Geológico da Bacia do Inhaúma - PE/AL

Fonte: Adaptado pelos autores.

Mapa de Classes de Solos da Bacia

A bacia em análise, possui pouca variabilidade de tipos de solos. Com apenas duas classes de solos, que são elas: 1- Latossolos: esta classe de solos, apresenta uma profundidade considerável (em torno de 3 metros de profundidade) este tipo de solo é considerado como maduro, pois apresenta um alto nível de evolução, variando de tons de amarelo ao laranja. 2- Solos Podzólicos: este tipo de solos apresenta um baixo grau de evolução, com bastante regolito e pouca profundidade (cerca de 1,5 metros de profundidade), tem como uma das suas características sua cor escura e sua pouca profundidade em relação ao Latossolo (Figura 4).





Figura 4 - Mapa de Tipos de Solos da Bacia Hidrográfica do Inhaúma - PE/AL

Fonte: Adaptado pelos autores.

Bioma da Bacia Hidrográfica do Inhaúma - PE

A bacia hidrográfica estudada apresenta um bioma característico do litoral Brasileiro: a Mata Atlântica. Este bioma proporciona uma imensa riqueza para a Bacia, tanto em espécies nativas como em recursos naturais, e está diretamente relacionado ao considerável volume de precipitação nesta Região. Podemos observar com maior riqueza de detalhes a inserção da Bacia Hidrográfica em relação ao Bioma Mata Atlântica, que preenche todo o espaço da bacia hidrográfica em análise (Figura 5).



Figura 5 - Mapa do Bioma da Bacia Hidrográfica do Inhaúma - PE/AL

Fonte: Adaptado pelos autores.

Dados Pluviométricos da Bacia Hidrográfica do Inhaúma – PE/AL

Em razão da Bacia Hidrográfica estar inserida no bioma Mata Atlântica, a mesma é favorecida pelos altos índices pluviométricos. A Região Leste do Nordeste Brasileiro tem uma variação pluviométrica de 2.000 a 3.000 mm por ano, favorecendo então em níveis de precipitação a área correspondente à Bacia em análise.

Como pode ser observado no mapa de precipitação (Figura 6), a bacia hidrográfica, tem uma variação de 1.300 a 1.358 mm de pluviosidade por ano, dados do Zoneamento Agroecológico do Nordeste Brasileiro – ZANE.



Figura 6 - Mapa Pluviométrico da Bacia Hidrográfica do Inhaúma - PE/AL

Fonte: Adaptado pelos autores.



Atividade de Campo



Na etapa de campo é onde torna-se possível identificar a veracidade da classificação supervisionada realizada no Software ArcGis 10.3.1. Em campo, foram realizadas várias paradas, para a captura de imagens através de uma câmera fotográfica e marcação de alguns pontos considerados como relevantes para demonstração (Figura 7).



Figura 7 - Mapa da Trajetória percorrida em Campo, na Bacia do Inhaúma PE/AL

Fonte: Adaptado pelos autores.



Imagens das Atividades de Campo, representação da Ausência de Vegetação (Solo Exposto)

Em campo, pudemos constatar os fenômenos de erosão, e principalmente a diminuição da cobertura vegetal densa, que foi classificada como resquício de Mata Atlântica. No campo, é clara a substituição da cobertura vegetal densa pelos loteamentos, que são vendidos nos municípios que fazem parte da bacia hidrográfica (o maior grau de desmatamento para a divisão em loteamentos, estavam localizados nos municípios de Garanhuns e São João). Há ainda uma grande área destinada às plantações, que são as lavouras e pastagens para a alimentação dos gados das fazendas que estão inseridos nos municípios que compõe a referida bacia hidrográfica. Esta ação de pastagem está presente em todos os municípios visitados em campo, sendo a agricultura e a pecuária muito forte nestes municípios (Figura 8).



Figura 8 - Imagens da atividade de Campo, representando o Solo Exposto, Município de Garanhuns

Fonte: os autores, 2015.

Outros autores, também utilizando técnicas de mapeamento ambiental, notaram o potencial dessa técnica. Em pesquisa sobre educação ambiental realizada por Reigada e Tozoni-Reis (2004) envolvendo crianças de 6 a 11 anos de idade de um bairro de classe popular na cidade de Botucatu-SP, o mapeamento foi usado como ferramenta para um levantamento e um registro da situação ambiental do bairro, subsidiando e identificando temas e problemas ambientais, bem como propor ações para a melhoria da vida do bairro. Já para Castro et al. (2009), a proposta do mapeamento ambiental, inserida na prática escolar para alunos do 2º ano do ensino médio em aulas de biologia, foi benéfica para aproximação dos alunos com a diversidade biológica do entorno da escola, levando-os a compreenderem e analisarem os vários aspectos que envolvem essa diversidade, assim como as principais razões que justificam a preocupação com a conservação da biodiversidade.

Os resultados demonstraram que o diagnóstico da situação ambiental da Bacia, a partir do mapeamento ambiental, facilitou a análise da paisagem em áreas susceptíveis à ação antrópica. Resultados semelhantes também foram encontrados recentemente por Melo et al (2017), Melo (2018), Silva et al (2017) e Silva et al (2018) em Pernambuco, utilizando técnicas de mapeamento e processamento digital de imagens de satélite. Com base nisso, foi possível observar que o mapeamento pode facilitar enormemente as estratégias de educação ambiental que possam prestar auxílio à preservação do ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho realizado procurou elaborar uma proposta pedagógica de educação ambiental utilizando o mapeamento como ferramenta e instrumento para subsidiar a criticidade, problemáticas e embasamentos conceituais na construção de uma educação ambiental crítica. Os mapas elaborados demonstraram a importância dos aspectos visuais para representação e entendimento da dinâmica ambiental na Bacia do Inhaúma PE/AL e esse estudo pode servir como ferramenta para análise espacial de Bacias Hidrográficas e para planejamento de atividades de campo, com intuito de auxiliar no monitoramento ambiental.



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Ilustrações: Silvana Santos