Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Dicas e Curiosidades
13/03/2019 (Nº 67) BRINCAR DE FAZER COMIDINHA (COM A NATUREZA) É RITUAL SAGRADO NA INFÂNCIA
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BRINCAR DE FAZER COMIDINHA (COM A NATUREZA) É RITUAL SAGRADO NA INFÂNCIA

Ana Carol Thomé

Brincar de fazer comidinha é uma prática comum em diferentes infâncias ao redor do mundo, se não todas. É também um dos primeiros caminhos pelos quais a criança entra no mundo da brincadeira simbólica.  E onde há natureza acessível, essas comidinhas acontecem de maneira ainda mais especial.

Nos ambientes naturais, as crianças têm à disposição um repertório infinito de ingredientes. Diferentes tipos de folhas, sementes, gravetos, terra, pedrinhas. Em um dos meus primeiros dias nas escolas da floresta, por exemplo, recebi de boas vindas um pedaço de torta feito com uma lasca de tronco, com cobertura de folhas, lama e sementes. E amei!

Eu, “criança adulta”, também me encanto ao ver as crianças preparando suas comidas com terra ou areia, buscando folhas, gravetos e sementes pelo ambiente para dar um sabor especial e um toque de beleza à decoração do prato. Me encanto também ao brincar de comidinha junto com os pequenos. E quantas coisas aprendo enquanto brincamos! Enquanto escolhemos os melhores ingredientes, conversamos, experimentamos receitas. E o menu de uma boa brincadeira de comidinha costuma ser bastante variado: ensopados, bolos, massas e o que mais a imaginação criar.

Apaixonada por essa brincadeira, quando vou aos parques com crianças, levo uma mochila preparada pra essa brincadeira: com panelas, potinhos, colheres, conchas. Nada da loja de brinquedos! Pego tudo que encontrei na minha cozinha e não uso. Também tento, ao máximo, evitar plástico, ampliando o repertório de materiais que a criança conhece. Levo também uma garrafa com água – fundamental para muitas receitas já que, em alguns parques, não existem tantos pontos à disposição. Com essa mochila, a brincadeira pode acontecer em qualquer canto e não necessariamente no “espaço para crianças”, até porque partimos do pressuposto de que o parque todo é para as crianças. Vez ou outra também coletamos elementos ao longo da semana e guardamos em um saquinho para usarmos na próxima sessão gastronômica. E o resultado, claro, não poderia ser diferente: muitas horas de brincadeira.

Comer não é apenas nutrir-se com o alimento, mas sim um ritual sagrado. Prepará-lo, decorá-lo, servir, comer junto. E isso acontece também nas brincadeiras que nunca têm data nem horário pra começar ou terminar, nem idade pra acontecer. Inconscientemente, passam de geração em geração.

Existe um livro lindo para inspirar estas brincadeiras chamado Cozinhando no Quintal, lançado há dois anos pela educadora Renata Meirelles. Ele é fruto do projeto Território do Brincar criado por ela e seu marido, o documentarista David Reeks, e apoiado pelo Instituto Alana. Nesse livro, estão registros de diferentes comidinhas que Renata encontrou pelo Brasil durante a viagem que os dois fizeram com os filhos ao pesquisar o jeito de brincar das crianças brasileiras. Ele é repleto de imagens de dar água na boca! E mostra que criar, pesquisar e conviver são provas de que brincadeira se põe à mesa, sim!

Ana Carol Thomé

É pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação lúdica. Participa de diversas formações sobre primeira infância, brincar e arte para crianças e coordena o programa Ser Criança é Natural (que dá nome a este blog), do Instituto Romã, que incentiva o contato das crianças com a natureza. Organiza a ação Doe Sentimentos e acredita no poder da infância e que o mundo pode ser melhor.

Fonte: encurtador.com.br/bis39



Ilustrações: Silvana Santos