Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
13/03/2019 (Nº 67) “UM PULO NO ZOO!” - EXPOSIÇÃO DE ANFÍBIOS ANUROS, UMA EXPERIÊNCIA EDUCATIVA NO ZOOLÓGICO DO PARQUE ESTADUAL DOIS IRMÃOS, RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL
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UM PULO NO ZOO!” - EXPOSIÇÃO DE ANFÍBIOS ANUROS, UMA EXPERIÊNCIA EDUCATIVA NO ZOOLÓGICO DO PARQUE ESTADUAL DOIS IRMÃOS, RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL

Edivania do Nascimento Pereira1, Marina Falcão Rodrigues2; Paula Costa Rego Falbo2; Luana Veiga Lira2; Leonardo Cesar de Oliveira Melo2; Luciana Rameh Albuquerque2; Alexandre Pinheiro Zanotti2; Jozelia Maria de Sousa Correia3 & Ednilza Maranhão dos Santos3



1 Aluna do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE. E-mail: edivania_nascimento@hotmail.com

2 Funcionários do Parque Estadual de Dois Irmãos, Recife, PE. E-mail: doce_falcao@yahoo.com.br, luanaveigalira@gmail.com, lmelo609@gmail.com, lu.rameh@yahoo.com.br, cobra_znt@yahoo.com.br

3 Professores do Departamento de Biologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, PE. E-mail: ednilzamaranhao@gmail.com, jozeliac@hotmail.com

Resumo

O objetivo do trabalho foi promover atividades educativas voltada para a conservação de anfíbios. A ação foi realizada no Museu de História Natural do Parque Estadual de Dois Irmãos, no período de junho a novembro/2013. Cerca de 50.000 pessoas tiveram acesso e participaram dessa ação, destacando as crianças.

Abstract

The objective of this work was to promote educational activities aimed at the conservation of amphibians. The action was carried out in the Museum of Natural History of Dois Irmãos State Park, from June to November / 2013. About 50,000 people had access and participated in this action, highlighting the children.

INTRODUÇÃO

Os anfíbios anuros se configuram como um grupo de extrema importância para a conservação e estudos sobre os ambientes naturais, sendo importantes bioindicadores (Pough et al. 2008). Apesar de o Brasil ser considerado um país megadiverso, em se tratando de anfíbios, com cerca de 1080 espécies (Segalla et al. 2016), os esforços de ações conservacionistas voltadas ao grupo ainda são incipientes, principalmente no que diz respeito a educação ambiental, podendo ser encontrado, contribuições valiosas em Pereira et al (2013). Stahnke et al. 2009, comenta que esses animais são vistos, pela maioria das populações humanas, com algo negativo, envolvendo sentimento de medo e consequentemente, são negligenciados e muitas vezes mortos (Stahnke et al., 2009), ficando assim notório medidas que visem informar e desmistificar algumas informações errôneas sobre os anfíbios anuros.

Instituições como os zoológicos, que além de constituir um local que possuem animais, precisa ser mantido, de forma continua, ações educativas que possam auxiliar nas atividades de conservação. Essas ações são fundamentais e devem constar no plano de manejo, a exemplo da educação ambiental (Costa, 2004). Visitas da comunidade, principalmente das escolas, ao zoológico pode ser uma atividade educativa que aguça a imaginação da população, permitindo que elas conheçam espécies que não são encontradas comumente em seu dia a dia, mas que são importantes na manutenção dos serviços ambientais (Barreto et al. 2009). Espaços como os zoológicos são extraordinários locais de aprendizado, um importante espaço para educação não formal. Segundo Gohn (2006) os espaços para educação não formal é aquele que se aprende fora do espaço escolar, onde há processos de interação e intencionalidade na ação. Nesse espaço há vivencia e os sentidos são estimulados através das trocas de saberes. As questões ambientais fazem parte da vida das pessoas e é necessário promover essa possibilidade de interação, de questionamentos e de sensibilização através de uma exposição. As exposições em espaços fora da escola possibilita uma formação complementar e contribuem para o desenvolvimento de uma cultura científica, ou popularização da ciência, mas devem ser ampliadas, reforçadas, modernizadas, recicladas e atualizadas (Abreu, 2001).

Utilizando o pressuposto que o entendimento da população é fundamental para a conservação da fauna, o zoológico do Parque Estadual de Dois Irmãos (PEDI), Recife-PE e professores do Departamento de Biologia da área de ensino e zoologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, e com base nos estudos de Pereira (2013). Espaço que visou aproximar a população visitante dos animais, quebrando o preconceito existente em relação aos sapos, rãs e pererecas.

MATERIAL E MÉTODO

O Parque Estadual Dois Irmãos

O Parque Estadual Dois Irmãos (PEDI) está localizado no bairro de mesmo nome, a noroeste da cidade do Recife, com área de aproximadamente de 4,0 km2, paralela a rodovia BR-101 norte, km 69 (Machado et al. 1998). Possui uma altitude aproximada de 19 m acima do nível do mar, entre as coordenadas geográficas 08° 00’48.0” de latitude sul e 034° 56’ 42.9” de longitude oeste. Possui uma área de 1.158 hectares, do qual 14 hectares estão destinados ao Zoológico do Recife (Figura 1).

Figura1. Mapa de localização do PEDI e vista aérea. Fonte: PPBio - Mata Atlântica, Sítio PEDI.

O PEDI possui o Centro de Educação Ambiental Vasconcelos Sobrinhos (CEA) que consta com uma equipe de técnicos (4 biólogos, 3 veterinários, 1 zootecnista e um engenheiro florestal) e estagiários (graduandos e estudantes de cursos técnicos) capacitados para receber e promover a educação ambiental diariamente com o publico/visitante em geral, a comunidade acadêmica e instituições diversas. As atividades educativas desenvolvidas no CEA, são: visitas monitoradas, trilhas ecológicas interpretativas, intervenções educativas em datas comemorativas, colônia de férias (zoo férias), zoo vai a escola. Para as atividades educativas descritas todos os grupos devem fazer um agendamento prévio e obtém orientações a cerca de comportamentos e vestimentas necessárias de acordo com as atividades, além de projetos sociais, como Artesãs do Parque (Figura 2).

Procedimento metodológico

A exposição foi composta por: 10 aquaterrários de 1x50m de comprimento e com uma altura de 70cm, devidamente ambientados, contendo espécies da Floresta Atlântica Nordestina (licença IBAMA n. 71/13), com indivíduos adultos, em sua maioria (Tabela 1), coletados no próprio PEDI. Os aquários foram ambientados, similar ao ambiente natural da espécie selecionada, com elementos naturais como: água, terra, bromélias, pequenos troncos de árvores e vegetação nativa da Mata Atlântica. Para alimentação dos animais foram oferecidos neonatos, grilos, baratas e tenébrios, a depender da espécie e tamanho dos animais. Também foi inserida em cada aquaterrário uma placa informativa, contento: foto, nome da espécie (vulgar e científico), distribuição geográfica, hábito e habitat. Os táxons selecionados foram escolhidos por serem mais abundante e generalista.

Figura 2. Imagens da exposição no Parque Estadual de Dois Irmãos, entre junho a novembro/2013. A- Centro de Educação Ambiental Vasconcelos Sobrinho – (CEA). B, C e D- Exposição e E- Cartaz da exposição.

Tabela 1. Nome e quantidade dos indivíduos mantidos nos aquaterrários durante a exposição. Parque Estadual Dois Irmãos, Recife-PE, realizada entre junho a novembro/2013.

N° Aquaterrários

Espécies

Quantidades de individuo/ aquaterrário

1

Rinella jimi (Stevaux, 2002)

1

2

Leptodactylus vastus A. Lutz, 1930

2

3

Rinella crucifer (Wied-Neuwied, 1821)

2

4

Boana semilineata (Spix, 1824)

4

5

Leptodactylus troglodytes A. Lutz, 1926

7

5

Pithecopus nordestinus Caramaschi, 2006

4

6

Leptodactylus natalensis A. Lutz, 1930

7

7

Sphaenorhynchus prasinus Bokermann, 1973

1

8

Pritismantis ramagii (Boulenger, 1888)

1

9

Scinax x-signatus (Spix, 1824)

3

10

Boana albomarginata (Spix, 1824)

3



Um total de 10 painéis de PVC, informativos e interativos, com 2 m², contendo informações sobre a biologia e ecologia dos anfíbios, riqueza de espécies, importância e curiosidades, sobre esses animais foram montados nos espaços. Jogos educativos (quebra-cabeça e jogo da memória com imagens dos anuros do PEDI), desenhos de anfíbios anuros para pintar e cartilhas (Figura 3, cartilhas apenas para crianças até 12 anos) com atividades para crianças, além de uma exposição fotográfica sobre os olhares da mata atlântica, com imagens de fauna e flora foram instrumentos pedagógicos utilizados. Para viabilizar as ações propostas, graduandos foram recrutados e treinados para realizar o atendimento ao público (n=32 voluntários estudantes do curso de licenciatura e bacharelado em ciências biológicas), o treinamento ocorreu através de palestras promovida por pesquisadores herpetológos do Departamento de Biologia da UFRPE e biólogos do PEDI. As informações relacionadas a exposição foram registradas através de observação direta, imagens e livro ata.

Figura 3. Cartilha com desenhos e exercícios. Lado esquerdo, última página, capa e duas páginas para dar exemplo dos desenhos e exercícios.

Resultado & Discussão

A exposição foi realizada no Museu de História Natural do zoo, no período de junho a novembro/2013, intitulada “Um pulo no Zoo”, atendeu um público de aproximadamente 50 mil pessoas, entre crianças, jovens e adultos de diversas faixas etárias de idade (entre três anos a 80 anos). Um total de 95% das pessoas registraram a importância dessa exposição, exibindo entusiasmo e curiosidades sobre os anfíbios e deixando o seu registro no livro.

Foi documentado o interesse da população pelos animais, a euforia das crianças em encontrar os indivíduos expostos e a aceitação dos visitantes que antes possuíam ojeriza aos animais. A desmistificação de crenças populares infundadas, a transmissão da importância ecológica dos anuros, a diversidade de formas e cores, o ciclo de vida e o potencial para bioprospecção de algumas espécies, foram alvo de comentários e curiosidade. No geral a exposição foi visitada com maior número de pessoas vindas de instituições de ensino, principalmente escolas do ensino fundamental, sendo as crianças o publico maior (Figura 4). Isso evidencia que o publico maior do PEDI, especificamente no zoológico é composto por escolas, ou seja, que esse espaço constitui um local relevante para as atividades fora da escola, constando no roteiro da rede de ensino como espaço para educação não formal. Evidentemente que nos finais de semana o publico era bem maior que durante a semana, porém as crianças tiveram uma frequência maior, possivelmente devido as diversas atividades disponibilizadas e trabalhadas com elas

Figura 4. Frequência absoluta do publico registrado durante as atividades da exposição entre junho e novembro de 2013.

Segundo Mezzomo & Nascimento-Schulze (2004) a promoção científica para a população é importante para o próprio desenvolvimento do país, o que tem levado muitos países a investirem na cultura científica de sua popularização, através do ensino formal e não formal nas atividades de divulgação científica, tais como exposições de ciência. Esse investimento múltiplo tem como base a compreensão de que a educação formal não é capaz, sozinha, de formar cidadãos cientificamente alfabetizados, um saber aberto e dinâmico deve ser contemplado (Bachelard, 1996).

Conclusão

Ações como essa devem ser contínuas em zoológicos e Parques e são eficientes para estimular a valorização dos elementos naturais, sobretudo em grupos que sofrem forte ameaça de extinção, principalmente pela sua vulnerabilidade a ação antrópica. Zoológicos podem e devem contribuir diretamente com a conservação dessas espécies e o Zoológico de Dois Irmãos vem através de suas parcerias com pesquisadores, contribuindo e sendo pioneiro com essa ação no Nordeste do Brasil.

Referências bibliográficas

Abreu, A. 2001. Estratégias de desenvolvimento científico e tecnológico e a difusão da ciência no Brasil. In: Bueno, W. 1985, Jornalismo cientifico, Ciência e Cultura, 37(9):1420–1427.

Barreto, K. F. B., Guimarães, C. R. P., Oliveira, I. S. S. O zoológico como recurso didático para a prática de Educação Ambiental. Revista FACED. n.15. p. 79-91. 2009.

Bachelard, G. 1996. A Formação do espírito científico (Abreu, E., trad.). Rio de Janeiro, Contraponto.

Costa, G.O. Educação Ambiental – Experiências dos Zoológicos Brasileiros. Rev. eletrônica Mestrado Educação Ambiental. v. 13. p. 140-150. 2004.

Gohn, M.G. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio - Avaliação e Políticas Públicas em Educação Rio de Janeiro, v. 14, n. 50, p. 27-38, 2006.

Machado I.C., Lopes A.V., Porto K.C., Coutinho, R.Q. Reserva Ecológica de Dois Irmãos: estudos em um remanescente de Mata Atlântica em área urbana (Recife-Pernambuco-Brasil). Recife: Ed. Universitária da UFPE, p. 21, 1998.



Mezzomo, J. & Nascimento-Schulze, C.M.N. 2004. O impacto de uma exposição científica nas representações sociais sobre meio ambiente: um estudo com alunos do ensino médio. Comunicação e Sociedade, 6: 151-170. 2004

Pough, F. H., Janis, C.M. & Heiser, J.B. A vida dos Vertebrados. 4 Ed. São Paulo. p.684. 2008.

Segalla, M. V.,Caramaschi, U., Cruz, C.A.G., Garcia, P.C.A., Grant, T., Haddad, C.F.B & Langone, J. 2012. Brazilian amphibians – List of species. Disponível em: http://www.sbherpetologia.org.br. Acesso em: 13 de julho de 2016.

Stahnke, L.F., Demenighi, J.S., Saul, P. F. A. Educação Relacionada aos Anfíbios e Répteis: A Percepção e Sensibilização no Município de São Leopoldo (RS). OLAM – Ciência & Tecnologia – Rio Claro / SP, Brasil – Ano IX, Vol. 9, n. 2, p. 31, 2009.

Pereira, E.N. Anfíbios anuros do Parque Estadual Dois Irmãos (Recife-pe) – aspectos ecológicos, representação humana e proposta pedagógica para educação ambiental. Monografia. Universidade Federal Rural de Pernambuco. p. 160. 2013.

Pereira, E. N., Santana, M. M. S., Teles, M. J. L., Santos, E. M. Atividades lúdicas como ferramenta para educação ambiental sobre Anfíbios e Répteis em Unidade de Conservação no sertão de Pernambuco. Revista de educação ambiental e ação. n. 44.Ano XII.2013



Ilustrações: Silvana Santos