Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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13/03/2019 (Nº 67) PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA BIODIVERSIDADE DO PANTANAL E DO CERRADO NA CIDADE DE CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL
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PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA BIODIVERSIDADE DO PANTANAL E DO CERRADO NA CIDADE DE CAMPO GRANDE, MATO GROSSO DO SUL



Ma. Bruna Lucianer, Ministério Público Federal, Av. Afonso Pena, 4444, Centro, CEP: 79.020-907, Campo Grande – MS. Email: brunalucianer@gmail.com

Dr. José Sabino, Universidade Anhanguera-Uniderp, Av. Alexandre Herculano, 144, Jd. Veraneio, CEP: 79.037-280, Campo Grande – MS. Email: sabino-jose@uol.com.br

Dra. Leda Márcia Araújo Bento, Universidade Anhanguera-Uniderp, Av. Alexandre Herculano, 144, Jd. Veraneio, CEP: 79.037-280, Campo Grande – MS. Email: leda.bento@uniderp.com.br

Dra. Luciana Paes de Andrade, Universidade Anhanguera-Uniderp, Av. Alexandre Herculano, 144, Jd. Veraneio, CEP: 79.037-280, Campo Grande – MS. Email: luciana.andrade@uniderp.com.br

Resumo: O objeto de estudo é a percepção ambiental dos moradores de Campo Grande, Capital de Mato Grosso do Sul, acerca dos biomas predominantes no estado: Cerrado e Pantanal. Utilizou-se como procedimento para a coleta e ordenamento dos dados a aplicação de questionários em estudantes do Ensino Médio de uma escola de ensino particular e de uma escola de ensino público, além da população em geral, abordada aleatoriamente em locais públicos. Os resultados evidenciam que a população-alvo detém um nível satisfatório de informações a respeito dos biomas pesquisados, além de demonstrar apreço e proximidade sentimental, especialmente com o Pantanal. Destaca-se a relevância que as pessoas questionadas conferem a todos os componentes de um ecossistema, inclusive animais supostamente tidos como “perigosos” como a sucuri. A opinião acerca da necessidade de deter informações pertinentes aos dois biomas é praticamente unânime, sendo que a população se mostra bastante aberta à obtenção de conhecimento, seja por meios audiovisuais ou pelas tradicionais páginas de livros. Um resultado que merece destaque é que a escola é a principal fonte de informação da população no que se refere a assuntos ligados aos biomas pesquisados, seguido de televisão e de internet. Também é importante ressaltar que 78,7% dos entrevistados têm interesse de saber mais sobre os assuntos abordados na pesquisa, sendo que a alternativa de disseminação de informações “vídeos” foi a preferida.

Palavras-Chave: Percepção ambiental; Pantanal; Cerrado; Campo Grande; biofilia; topofilia.

Abstract: The object of study is the environmental perception of Campo Grande residents, Mato Grosso do Sul State, about the predominant biomes in the state: Cerrado and Pantanal. Was used as a procedure for the collection and management of data questionnaires on high school students of a private education school and a public education school, besides the general population, randomly approached in public places. The stated results show that the target population has a satisfactory level of information about the biomes surveyed, besides demonstrating appreciation and emotional closeness especially with the Pantanal. Highlights the relevance that the questioned people give all components of an ecosystem, including animals considered "dangerous" as the anaconda. The opinion about the need to hold information pertinent to the two biomes is practically unanimous, and the population is very open to obtaining knowledge, either by audiovisual means or by the traditional pages of books. One result worth mentioning is that the school is the population's main source of information on subjects related to the biomes surveyed, followed by television and the internet. It is also important to emphasize that 78.7% of the interviewees have an interest in knowing more about the subjects covered in the research, and the alternative of disseminating information "videos" was the preferred one.

Keywords: Environmental perception, Pantanal, Cerrado, Campo Grande; biophilia; topophilia.

Introdução

O conhecimento científico da biodiversidade é o alicerce para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a sua conservação e uso sustentável (DIAS, 2000). Diagnosticar o quanto a sociedade em geral, sem qualquer vínculo com instituições de pesquisa, discerne e percebe essa biodiversidade é um incentivo ainda maior para alcançar esse objetivo.

O livro organizado por WILSON e PETER (1998) foi um dos principais responsáveis pela popularização do termo “biodiversidade”, que acabou sendo adotado com rapidez e viu sua presença na literatura científica crescer de forma contínua. A imprensa também incorporou o termo velozmente e, a partir da preparação da Conferência Rio-92, adotou-o corriqueiramente (SABINO, 1991). Desde então, “biodiversidade” e “diversidade biológica”, expressões sinônimas, estão incorporadas ao cotidiano linguístico (LEWINSOHN, 2005).

A Convenção sobre Diversidade Biológica define diversidade biológica, em seu 2º artigo, como “a variabilidade entre organismos vivos de qualquer origem, incluindo, entre outros, ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos, e os complexos ecológicos de que fazem parte; isto inclui diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas” (DIAS, 2000).

Em suma, biodiversidade é um termo genérico para designar a variedade de formas de vida existentes na biosfera. Quando se fala em biodiversidade de determinado bioma está-se referindo à variedade de seres vivos, desde microrganismos a plantas e animais que ali ocorrem naturalmente (ALHO, 2005).

Ainda segundo ALHO (2005), o conceito técnico de biodiversidade é preciso e apoia-se no seguinte tripé: (1) diversidade de espécies, (2) diversidade de ecossistemas e (3) diversidade genética e tem duas características: (1) é naturalmente complexa; (2) está sempre em mudança (WILSON e PETER, 1998).

A compreensão da relação que o ser humano estabelece com a biodiversidade e com todo e qualquer aspecto do ambiente que o cerca atrai os mais variados tipos de profissionais: arquitetos, engenheiros, terapeutas, comunicólogos, educadores; todos buscando empreender em sua atividade 10 aspectos que levem alegria e bem-estar a quem recebe o serviço. Esta atração do ser humano aos aspectos físicos e paisagísticos de um determinado ambiente denomina-se “topofilia”. O termo foi bastante utilizado por TUAN, principalmente em sua obra homônoma de 1980, onde é empregado exatamente como atração do ser humano aos aspectos físicos e paisagísticos de um ambiente.

O termo também foi citado por BACHELARD (1993) na primeira edição de sua obra “A poética do espaço”, e significava o “espaço de nossa felicidade”.

Outro termo importante quando se discute a relação do ser humano com a natureza é “biofilia”, criado pelo biólogo Edward Wilson, em livro homônimo de 1988 (WILSON, 1988). Ele põe em questão a hipótese biofílica, para a qual, durante sua evolução, o ser humano interagiu intimamente com a natureza, fator que culminou por lhe incutir a necessidade de contato com as outras formas de vida. É justamente esta necessidade de se relacionar com outras espécies, e os sentimentos advindos desta necessidade, que definem o conceito utilizado neste trabalho.

O Pantanal é uma planície de inundação periódica reconhecida nacional e internacionalmente pela exuberância de sua biodiversidade como uma das áreas úmidas de maior importância do globo (KRAUSE e SABINO, 2014). O reconhecimento da importância do Pantanal está no Artigo 225 da Constituição Brasileira, promulgada em 1988, que o considera como patrimônio natural. Recebeu ainda o crédito da UNESCO (Programa nas Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) como Reserva da Biosfera, desde o ano 2000 (ALHO, 2005).

O pulso de inundação do Pantanal, lento ciclo das cheias e vazantes, cria um variado mosaico de paisagens. As baías são os elementos mais peculiares da região, compondo a paisagem com rios tortuosos, campos alagáveis, matas ciliares, capões de matas, salinas e corixos. Toda essa variedade de ambientes dominada pela água sustenta uma diversa fauna de peixes de pequeno a grande porte, aves e mamíferos. O Pantanal também é importante ponto de parada de espécies de aves migratórias como marrecos e maçaricos (ALHO, 2005; KRAUSE e SABINO, 2014).

Estudos faunísticos realizados no Pantanal destacam que alguns dos mamíferos de médio e grande porte encontrados no bioma são: tamanduá bandeira (Myrmecophaga tridactyla), tatu-canastra (Priodontes maximus), bugio-preto (Alouatta caraya), macaco-prego (Cebus apella), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), ariranha (Pteronura brasiliensis), onça-parda (Puma concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis), onça-pintada (Panthera onca), anta (Tapirus terrestris), cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus), capivara (Hydrochaeris hydrochaeris) e paca (Agouti paca) (EMBRAPA, 2002; ALHO e GONÇALVES, 2005).

O “Guia Aves do Brasil: Pantanal & Cerrado” (GWYNNE et al., 2010) destaca que algumas das aves mais emblemáticas encontradas nos biomas são: arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus), arara-canindé (Ara ararauna), arara-vermelha-grande (Ara chloropterus), tuiuiú (Jabiru mycteria) e papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Britskiet et al. (2007) listam cerca de 270 espécies de peixes no Pantanal, com destaque para: piraputanga (Brycon hilarii), piranhas (Catoprion mento, Pygocentrus nattererie, Serrasalmus maculatus), tuvira (Gymnotus carapo), pacu-peva (Mylossoma paraguayensis ou Mylossoma orbignyanum), dourado (Salminus brasiliensis) e pintado (Pseudoplatystoma corruscans).

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro com uma área original de aproximadamente dois milhões de quilômetros quadrados, cerca de 20% do território brasileiro. O Cerrado abriga um grande número de espécies endêmicas e torna-se verdejante por seis meses devido às frequentes chuvas que vão de outubro a abril. Nos meses restantes, torna-se pronunciadamente seco e susceptível a queimadas (KLINK e MACHADO, 2005; BRASIL, 2012).

2. Metodologia

A população-alvo desta pesquisa, caracterizada como descritiva, são os moradores do município de Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul.

Para avaliar o conhecimento da população campo-grandense a respeito da biodiversidade do Pantanal e do Cerrado, estabeleceu-se uma amostra de 625 entrevistados. Para coletar os dados, foi elaborado um formulário qualiquantitativo aplicado ao público-alvo.

A aplicação dos questionários subdividiu-se da seguinte maneira: 200 unidades em alunos do Ensino Médio da escola de ensino privado que obteve a maior nota no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) do ano de 2011; 200 unidades em alunos do Ensino Médio da escola de ensino público que obteve a maior nota, da categoria, no ENEM do ano de 2011; e 225 unidades em moradores de Campo Grande que foram abordados aleatoriamente nas ruas do município.

O dimensionamento da amostra levou em consideração uma população infinita, com 4% de margem de erro, um intervalo de confiança de 96% e valor de Z = 4%. Assim chegou-se ao número de 625 indivíduos. A fórmula utilizada para cálculo de amostras foi o referente a populações infinitas (FONSECA, 1996).

Elaborou-se um formulário qualiquantitativo, com 22 questões dissertativas e de múltipla escolha, que visou detectar o nível de conhecimento dos entrevistados acerca de determinadas características dos biomas pesquisados através de uma análise quantitativa.

Importante ressaltar que se optou pela utilização de imagens dos animais citados em questões que envolviam fauna e de escalas retangulares com 10 opções, em tons de cinza degradê, nas três questões que questionavam o nível do conhecimento que o entrevistado pensava deter sobre determinado bioma. O primeiro quadrado à esquerda, mais claro, indicava conhecimento “baixo”, e o último quadrado à direita, mais escuro, indicava conhecimento “alto”.

Os 625 questionários foram subdivididos em três amostras. A primeira foi composta por 200 questionários, que foram aplicados em alunos do Ensino Médio da escola de ensino privado do município de Campo Grande, que obteve a melhor nota no ranking municipal do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano de 2011. Esta será tratada como “Amostra A”. A segunda foi composta por outros 200 questionários, aplicados em alunos do Ensino Médio da escola de ensino público de Campo Grande, que obteve a melhor nota do ranking municipal, da categoria, do Enem no ano de 2011. Esta será tratada como “Amostra B”. A terceira foi composta por 225 questionários, aplicados na população em geral, residente em Campo Grande. Esta será tratada como “Amostra C”.

Amostra A

As médias do Enem do ano de 2011 foram divulgadas no dia 22 de novembro de 2012, e serviram de base para a escolha das escolas onde os 22 questionários foram aplicados.

Os 200 questionários referentes à "Amostra A" foram aplicados nos períodos matutino e vespertino do dia 3 de outubro de 2013. Foram avaliados todos os alunos do 3º ano do Ensino Médio presentes na data supracitada, totalizando 129 indivíduos; mais 35 alunos do 2º ano do Ensino Médio e 36 alunos do 1º ano do Ensino Médio. A aplicação deu-se por meio da distribuição dos questionários, individualmente.

Tanto a distribuição, quanto o intervalo de resposta e o recolhimento dos questionários foram supervisionados, a fim de garantir a fidedignidade dos resultados.

Amostra B

Os 200 questionários referentes à "Amostra B" foram aplicados nas manhãs dos dias 18 e 19 de outubro de 2013. Foram avaliados todos os alunos do 3º ano do Ensino Médio presentes no dia 18 de outubro, totalizando 102 indivíduos; mais 93 alunos do 2º ano do Ensino Médio e cinco alunos do 1º ano do Ensino Médio, presentes no dia 19 de outubro.

A aplicação deu-se por meio da distribuição dos questionários, individualmente. Tanto a distribuição, quanto o intervalo de resposta e o recolhimento dos questionários foram supervisionados, a fim de garantir a fidedignidade dos resultados.

Amostra C

A “Amostra C” é formada por 225 pessoas, com idades que variam de 18 a 68 anos, de variadas formações, que foram abordadas aleatoriamente nas ruas da região central de Campo Grande, entre a segunda e a terceira semanas de outubro de 2013.

Para atingir este universo, foram utilizados questionários impressos e digitais, em versões idênticas. Para a versão digital, utilizou-se a plataforma on-line gratuita “Polldaddy”. Com o auxílio de um tablet, com conexão 3G, foram aplicados os questionários narrando as perguntas e as alternativas, sem qualquer tipo de interferência na resposta do entrevistado.

Uma vez completado, o questionário era submetido, via internet, para uma central que auxiliou na tabulação dos dados. A versão on-line do questionário pode ser visualizada por meio do endereço eletrônico http://brunalucianer.polldaddy.com/s/percepção-de-biodiversidade.

Ao final da aplicação, chegou-se ao número de 168 questionários digitais e 57 questionários impressos. 23 A população entrevistada, que compõe a “Amostra C”, é formada por pessoas que moram em Campo Grande e afirmaram possuir 73 ocupações distintas.

Tabela 1. Ocupações das pessoas que integram a "amostra C", composta pela população em geral, na cidade de Campo Grande

Ocupação

Quantidade de indivíduos

Ocupação

Quantidade de indivíduos

Administrador(a)

2

Estudante universitário

32

Advogado(a)

9

Executivo de contas

1

Aeroportuário

1

Farmacêutico(a)

2

Agente de atendimento

1

Fotógrafo

1

Analista de informática

1

Funcionário(a) público(a)

8

Analista de marketing

3

Garçom

1

Analista de sistemas

1

Gerente administrativo

3

Arquiteto(a) e urbanista

3

Gerente de marketing

1

Assessor financeiro

1

Gerente de vendas

1

Assistente Social

2

Gestor

1

Auxiliar administrativo

10

Jornalista

22

Auxiliar odontológico

1

Mecânico

1

Auxiliar de serviços gerais

2

Médico

1

Biólogo

1

Motorista

4

Bombeiro

1

Pedagoga

1

Caixa de farmácia

1

Pintor residencial

1

Comerciante

1

Policial militar

2

Consultor

1

Professor(a)

14

Consultora de beleza

1

Profissional liberal

2

Consultor de vendas

1

Promotor de justiça

1

Contador

3

Psicólogo(a)

3

Coordenador

1

Publicitário(a)

9

Dentista

3

Recepcionista

2

Desempregado

1

Secretário(a)

2

Designer

3

Secretária executiva

2

Diarista

2

Supervisor(a)

2

Dona de casa/do lar

5

Taxista

1

Empregado

1

Técnico agrícola

1

Engenheiro agrônomo

4

Técnico em manutenção

1

Engenheiro ambiental

1

Técnico em radiologia

1

Engenheiro civil

1

Téc. em seg. do trabalho

4

Engenheiro de computação

2

Terapeuta

1

Engenheiro mecânico

1

Terceiro setor

1

Eng. segurança do trabalho

1

Vendedor(a)

8

Empresário(a)

7

Zootecnista

1

Encarregada de setor

1





3. Resultados e Discussão

Os dados obtidos nas três amostras foram descritos e analisados comparativamente.

3.1 Caracterização das amostras

Foram entrevistadas 334 pessoas do sexo masculino e 291 pessoas do sexo masculino. Das 625 pessoas entrevistadas, 367 (58,72%) tinham entre 14 e 17 anos de idade; 99 pessoas (15,84%) tinham entre 18 e 25 anos de idade; 106 pessoas (16,96%) tinham entre 26 e 35 anos de idade e 53 pessoas (8,48%) tinham mais de 36 anos de idade, sendo que a pessoa mais velha a participar da pesquisa tinha 68 anos (Figura 1);

Figura 1. Idade das pessoas entrevistas na "amostra A", composta por alunos do Ensino Médio de uma escola particular, na "amostra B", composta por alunos do Ensino Médio de uma escola pública, e na "amostra C", composta pela população em geral, na cidade de Campo Grande.

Entre as 625 pessoas que compõem as três amostras, 344 (55%) afirmaram já ter visitado o Pantanal, enquanto 281 (45%) afirmaram nunca ter visitado o bioma (Figura 2).

Figura 2. Porcentagem das pessoas entrevistadas da "amostra A", composta por alunos do Ensino Médio de uma escola particular, da "amostra B composta por alunos do Ensino Médio de uma escola pública, e da "amostra C", composta pela população em geral, na cidade de Campo Grande que visitaram, ou não, o Pantanal.

Entre as pessoas que afirmaram já ter visitado o Pantanal, 159 apontaram ter visitado o Pantanal de Miranda; 144 apontaram o Pantanal de Aquidauana; 65 apontaram o Pantanal do Paraguai; 60 apontaram o Pantanal de Porto Murtinho; 41 apontaram o Pantanal da Nhecolândia; 21 apontaram o Pantanal de Nabileque; 15 apontaram o Pantanal de Cáceres; nove apontaram o Pantanal do Abobral; nove apontaram o Pantanal do Paiaguás; oito apontaram o Pantanal de Poconé e quatro apontaram o Pantanal de Barão de Melgaço, lembrando que a mesma pessoa pode ter apontado mais de uma opção. Um número considerável de entrevistados, 71, afirmou não lembrar o nome da região que visitou.

3.2 Aspectos relacionados ao conhecimento

Das 22 questões que compunham o formulário, 13 tinham o objetivo de detectar se os entrevistados possuíam um nível básico de conhecimento em relação à fauna e à flora dos biomas pesquisados. A primeira delas indagava quais grandes ambientes naturais (biomas) podem ser encontrados em Mato Grosso do Sul.

Abaixo do enunciado eram oferecidas as seguintes alternativas: Cerrado; Pantanal; Mata Atlântica; Caatinga; Pampas e Amazônia. A maior parte dos entrevistados (67,3%), nas três amostras, respondeu que os biomas que podem ser encontrados em Mato Grosso do Sul se restringem a Cerrado e Pantanal (Figura 3). Apenas 4,48% dos entrevistados responderam corretamente que os biomas que podem ser encontrados em Mato Grosso do Sul são: Cerrado, que ocupa 61% do território do estado; Pantanal, que ocupa outros 25% do território estadual; e Mata Atlântica, que ocupa os restantes 14% (IBGE, 2004).

Uma parte considerável dos entrevistados, 18,6%, marcou somente a opção Pantanal; e 7,2% deles marcaram somente a opção “Cerrado”. Os 2,42% restantes apontaram, entre as alternativas, opções improcedentes, como Caatinga e Pampas. Com os resultados expostos, conclui-se que a maior parte da população campo-grandense sabe que Mato Grosso do Sul abriga os biomas Pantanal e Cerrado, mas desconhece a existência de uma parcela do bioma Mata Atlântica em seu território.

Figura 3. Biomas que podem ser encontrados em Mato Grosso do Sul, de acordo com os entrevistados da "amostra A", composta por alunos do Ensino Médio de uma escola particular, da "amostra B", composta por alunos do Ensino Médio de uma escola pública, e da "amostra C", composta pela população em geral, na cidade de Campo Grande.

Em seguida, o formulário pedia para que a pessoa avaliasse o nível de conhecimento que pensava deter sobre o Pantanal e sobre o Cerrado, separadamente. A maioria dos entrevistados considera mediano o conhecimento que detém sobre o bioma Pantanal, pois 65% das respostas, nas três amostras, ficaram entre as alternativas 4 e 7, numa escala de 1 a 10.

Vinte e dois por cento consideram baixo o conhecimento que detém sobre o Pantanal, pois optaram por alternativas que variam de 1 a 3. Os 13% restantes avaliam como alto o conhecimento que detém sobre o bioma, pois optaram por alternativas que variam de 8 a 10.

Em relação ao Cerrado, a maioria dos entrevistados, 60%, considera mediano o conhecimento que detém sobre o bioma Cerrado, pois assinalou alternativas que variam entre 4 e 7. Outros 24% consideram baixo o conhecimento que detém sobre o bioma, pois optaram por alternativas que variam de 1 a 3. Os 16% restantes avaliam como alto o conhecimento que detém sobre o Cerrado, pois optaram por alternativas que variam de 8 a 10 (Figura 4).

Figura 4. Nível de conhecimento que os entrevistados da "amostra A", composta por alunos do Ensino Médio de uma escola particular, da "amostra B", composta por alunos do Ensino Médio de uma escola pública, e da "amostra C", composta pela população em geral, na cidade de Campo Grande, afirmam deter sobre o bioma Cerrado.

O formulário também indagava “de onde vem o conhecimento que você tem em relação ao Pantanal e ao Cerrado”. Abaixo do enunciado, ofereciam-se as seguintes alternativas: escola, televisão, internet, revistas, filmes e “outros”, com espaço para especificar.

Os entrevistados podiam assinalar quantas alternativas quisessem. A opção com o maior número de apontamentos nas três amostras foi “escola”, com 504 apontamentos (Figura 5). A alternativa “televisão” obteve 345 apontamentos; a alternativa “internet” obteve 255 apontamentos; a alternativa “revistas” obteve 105 apontamentos e a alternativa “filmes” obteve 40 apontamentos nas três amostras. Cento e dez pessoas usaram o espaço disponível para especificar “outras” fontes de informação. “Experiência própria”, “fazenda”, “turismo”, “viagens”, “visitas”, “documentários”, “trabalhos em Centros de Pesquisa”, “conversas entre parentes e amigos”, “biólogos”, “palestras”, “vídeos”, “cartazes educativos” e “cursos para concursos”, foram as mais recorrentes.

Com os resultados expostos, conclui-se que a escola desempenha um papel fundamental na disseminação de conhecimentos acerca da biodiversidade local e regional, e que programas televisivos também podem ser ótimos aliados nesse sentido. Para Schroeder (2013), é competência da escola levar o conhecimento científico à população na sua forma mais sistematizada e aprofundada.

É inquestionável e urgente que as populações tenham acesso aos conhecimentos científicos e suas tecnologias relacionadas à biodiversidade, uma vez que, de modo recorrente, amplia-se demandas que remetem à participação popular, o que implica na capacidade das pessoas envolvidas em reconhecer, analisar, enfim, compreender mais sobre nosso patrimônio natural, seus fenômenos, características e fragilidades e, para que isso ocorra, faz-se necessário uma sólida educação científica. Urge uma percepção mais abrangente sobre nossa biodiversidade, bem como as problemáticas ambientais a ela associadas, de forma que, cada cidadão, esteja comprometido e responsável pela busca de mudanças ou tentativa de diminuição dos impactos causados pelas ações humanas inconsequentes sobre o ambiente natural” (SEVEGNANI e SCHROEDER, 2013).

Figura 5. Fontes de conhecimento acerca dos biomas Pantanal e Cerrado indicadas pelos entrevistados da "amostra A", composta por alunos do Ensino Médio de uma escola particular, da "amostra B", composta por alunos do Ensino Médio de uma escola pública, e da "amostra C", composta pela população em geral, na cidade de Campo Grande.

Uma vez questionada a fonte do conhecimento dos entrevistados, indagou-se se eles consideram importante adquirir este tipo de conhecimento. Ofereciam-se as alternativas “sim” e “não” e, abaixo do enunciado, questionava-se “por que”. Nas três amostras, a alternativa “sim” obteve 585 apontamentos (93,6%) contra apenas 34 (5,4%) da alternativa “não”. Seis pessoas (1%) não marcaram qualquer opção.

As 34 pessoas que assinalaram a alternativa “não” justificaram sua opinião utilizando argumentos como “já tenho conhecimento ecológico”; “não é importante para a minha profissão”; “acho interessante, porém não acredito ser necessário”; “não faz diferença na minha vida”; “não me leva a nada” e “não tenho motivo especifico, apenas acho que não é importante”. Das 585 pessoas que assinalaram a alternativa “sim”, 35 não apresentaram justificativa.

Entre as 550 justificativas apresentadas, 265 referem-se à importância de conhecer o local/região onde se vive. Entre elas, termos como “belezas naturais”, “fauna e flora”, “conhecimento importante/fundamental” e “vegetação” são recorrentes. Outras 106 pessoas utilizaram majoritariamente argumentos como “conhecimento é sempre importante” para justificar suas respostas. Nas amostras “A” e “B”, 30 alunos argumentaram que as informações são importantes principalmente para provas e vestibulares. Outros termos recorrentes nas três amostras foram: “importância ecológica”; “riquezas naturais”; “patrimônio natural” e “é preciso conhecer para preservar/valorizar”.

Entre todas as justificativas elaboradas, destaca-se a seguinte resposta: “é muito comum os sul-mato-grossenses não conhecerem o Pantanal ou mesmo o Cerrado, acredito que puxado por um desinteresse do próprio poder público em poder explorar de forma consciente o ecoturismo. O conhecimento básico da região onde se vive é muito importante. Há também poucas oficinas, filmes e palestras com especialistas da região para que se possa difundir o conhecimento sobre o meio ambiente. Muito do que há é colocado para um público restrito, acadêmico. Não existem publicações direcionadas à sociedade com uma linguagem acessível a populações mais carentes”.

Entre os autores que tratam do tema “educação ambiental”, destaca-se a interpretação de TAMAIO (2002), que pode ser associada ao pensamento de TUAN (1980) no que se refere às individualidades e à percepção ambiental.

Para TAMAIO (2002), a educação ambiental é “mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas, comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a construção das transformações desejadas”. PÁDUA e TABANEZ (1998) reforçam a interpretação e defendem que a educação ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudanças de valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular maior integração e harmonia dos indivíduos com o meio ambiente.

A título de representação, elaborou-se uma “nuvem de tags” por meio do site Wordle (www.wordle.net), que é caracterizada por destacar os termos mais citados em um referido texto. Todas as respostas, das três amostras, foram transcritas e o texto foi indexado no site (Figura 6).

Figura 6. Nuvem de tags correspondente às respostas da “amostra C”, composta pela população em geral da cidade de Campo Grande, para a questão “por que você acha importante adquirir este tipo de conhecimento?”.

Questionou-se também se os entrevistados acreditam existirem relações de dependência (direta ou indireta) entre as várias espécies animais e vegetais que compõem um ecossistema. Ofereciam-se as alternativas “sim”, que obteve 599 apontamentos, e "não", que obteve 23 apontamentos. Três pessoas não marcaram qualquer alternativa.

Figura 7. Porcentagem de entrevistados que acreditam que existe, ou não, relações de dependência entre as espécies que compõem um ecossistema. A "amostra A" é formada por alunos do Ensino Médio de uma escola de ensino particular, a "amostra B" é formada por alunos do Ensino Médio de uma escola de ensino público e a "amostra C" é formada pela população em geral da cidade de Campo Grande.

Abaixo do enunciado, questionou-se “por que”. Das 23 pessoas que assinalaram a alternativa “não”, 18 não apresentaram justificativa. Entre as justificativas apresentadas, quatro restringiam-se a “não sei” e uma pessoa argumentou equivocadamente que "cada espécie tem seu ambiente, não tem relação". Das 599 pessoas que assinalaram a alternativa “sim”, 71 não apresentaram justificativa. Entre as 528 justificativas apresentadas, 184 consideram que a relação de dependência entre as espécies restringe-se à cadeia alimentar, na qual uma depende de outra apenas para se alimentar.

Outras 105 pessoas formularam suas respostas com base no termo “relações de dependência”, sem especificar exatamente que tipo de dependência é essa. Outras 22 pessoas também focaram seus argumentos em “relações” mas, desta vez, em “relações ecológicas”. Citaram inclusive relações como mutualismo, parasitismo, cooperação e inquilinismo.

As demais justificativas utilizaram argumentos que vão desde “tudo está interligado na natureza” até termos como “equilíbrio”, “harmonia” e “dependência”, “ciclo natural da vida”, “vivem num ecossistema”, “uma complementa a outra”, “elas estão interligadas” e “cada espécie tem sua importância”, sempre de maneira genérica.

Também por meio do site Wordle (www.wordle.net), elaborou-se uma “nuvem de tags”, que destaca os termos mais citados em um referido texto. Todas as respostas, das três amostras, foram transcritas e o texto foi indexado no site (Figura 8).

Figura 8. Nuvem de tags correspondente às justificativas da “amostra C”, formada pela população em geral da cidade de Campo Grande, para quem respondeu que existem relações entre as espécies que compõem um ecossistema.

O formulário que serviu como base para esta pesquisa também levantou questões para avaliar o conhecimento dos entrevistados em relação à fauna dos ambientes pesquisados. Uma delas indagava “quais destes animais podem ser encontrados no Cerrado e/ou no Pantanal”.

Abaixo do enunciado, ofereciam-se as seguintes alternativas: onça-pintada, capivara, tigre, tartaruga-marinha, elefante, hipopótamo, jacaré e arara-canindé. “Jacaré” foi o animal mais assinalado pelos entrevistados, totalizando 604 apontamentos. “Capivara” foi apontada por 596 entrevistados; “onça pintada” foi apontada por 594 entrevistados e “arara-canindé” foi apontada por 547 entrevistados. As opções “tigre”, “hipopótamo”, “elefante” e “tartaruga marinha”, que não fazem parte da fauna dos ambientes pesquisados, foram apontados nove, oito, cinco e três vezes, respectivamente (Figura 9).

Figura 9. Quantidade de entrevistados, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, que assinalaram que referido animal pode ser encontrado no Pantanal e/ou no Cerrado.

Também se procurou avaliar o conhecimento geral acerca da avifauna do Pantanal, questionando: “algumas aves podem ser vistas com abundância no Pantanal e, por sua beleza e singularidade, poderiam ser consideradas “representantes” do bioma. Quais são elas?”.

Abaixo do enunciado, ofereciam-se as seguintes alternativas: joão-de-barro, arara-azul, tuiuiú e pardal, todas elas acompanhadas de uma figura dos respectivos animais. O tuiuiú foi a ave mais lembrada pelos entrevistados, com 609 apontamentos, enquanto a arara-azul obteve 513 apontamentos (Figura 10).

Já as aves joão-de-barro e pardal, que podem ser encontradas no referido bioma, mas que não possuem características de beleza e singularidade que possam conferir o status de “representantes” dele, foram apontadas 241 e 89 vezes, respectivamente.

Figura 10. Aves que podem ser consideradas “representantes” do Pantanal, de acordo com os entrevistados em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

A respeito da ictiofauna, questionou-se: “alguns peixes encontrados nos rios do Pantanal têm significativo valor comercial, tornando-se importantes fontes de renda para parte dos moradores da região. Quais são eles?”.

Abaixo do enunciado, ofereciam-se as seguintes alternativas: pintado, tucunaré, dourado, jaú, pirarucu e piraputanga, todas elas acompanhadas de uma figura dos respectivos animais. Grande parte dos entrevistados assinalou as alternativas “pintado” e “dourado”, que receberam 564 apontamentos cada (Figura 11).

A alternativa “piraputanga” recebeu 351 apontamentos e a alternativa “jaú” obteve apenas 187 apontamentos. Os quatro peixes fazem jus ao enunciado. Já as alternativas “tucunaré” e “pirarucu”, espécies originárias da bacia amazônica que não fazem jus ao enunciado, receberam 215 e 137 apontamentos, respectivamente.

Figura 11. Peixes do Pantanal que têm significativo valor comercial para os moradores da região, de acordo com os entrevistados em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Também foram abordadas características da vegetação do Cerrado no formulário. Questionou-se: “a vegetação do Cerrado possui algumas características muito peculiares. Entre elas estão:”. E, abaixo, ofereciam-se quatro alternativas, que podiam ser escolhidas em conjunto pelos alunos. Eram elas: “sujeita a queimadas, mas alta capacidade de regeneração”, “troncos de árvores tortuosos com casca espessa”; ambas procedentes; “capacidade de permanecer verdejante o ano todo” e “predominância de árvores muito altas com grandes copas, formando vegetação florestal”; ambas improcedentes.

A alternativa “troncos de árvores tortuosos com casca espessa” foi apontada por 442 entrevistados; a alternativa “sujeita a queimadas, mas alta capacidade de regeneração” foi apontada por 387 entrevistados; a alternativa “capacidade de permanecer verdejante o ano todo” foi apontada por 50 entrevistados, e a alternativa “predominância de árvores muito altas com grandes copas, formando vegetação florestal” foi apontada por 44 entrevistados. Vinte e três pessoas não apontaram qualquer uma das alternativas oferecidas (Figura 12).



Figura 12. Características da vegetação do Cerrado, de acordo com os entrevistados em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Também se buscou avaliar a capacidade dos entrevistados de identificar espécies animais dos biomas pesquisados por meio de imagens. Uma das questões trazia figuras dos seguintes animais: onça-parda (Puma concolor), papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), arara-vermelha (Ara chloropterus), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e anta (Tapirus terrestris), e questionava: “Você saberia identificar o nome popular destes animais apenas pela aparência?”.

Nas três amostras, 36,48% dos entrevistados nomearam corretamente a primeira figura como “onça-parda”, “suçuarana” ou “puma”. “Onça” foi outra denominação recorrente, sendo registrada em 24,48% das respostas, e 12,64% dos entrevistados deixaram a figura sem qualquer denominação. “Jaguatirica” e “leopardo” foram as denominações equivocadas mais recorrentes, sendo registradas em 7,84% e 4,48% das respostas, respectivamente (Figura 13).

As denominações equivocadas “lince”, “tigre” e “gato-do-mato” foram utilizadas por 5,44% dos entrevistados. Os demais 8,64% dos entrevistados, nas três amostras, utilizaram as mais diversas denominações, como “leoa”, “leão”, “guepardo”, “felino” e “jaguar”.

Figura 13. Denominações conferidas à figura da onça-parda nas amostras “A”, composta por alunos de uma escola da rede privada; “B”, composta por alunos de uma escola da rede pública; e “C”, composta pela população em geral da cidade de Campo Grande.

A maioria dos entrevistados mostrou familiaridade com a figura do papagaio, pois ela foi nomeada corretamente como “papagaio-verdadeiro”, “papagaio” ou “louro” por 75,84% dos entrevistados, nas três amostras (Figura 14). “Periquito” foi a denominação equivocada mais recorrente, registrada em 16,16% das respostas, e 6% dos entrevistados deixaram a figura sem qualquer denominação. Os demais 2% dos entrevistados, nas três amostras, utilizaram denominações como “arara”, “canário” e “maritaca”.

Figura 14. Denominações conferidas à figura do papagaio-verdadeiro nas amostras “A”, composta por alunos de uma escola da rede privada; “B”, composta por alunos de uma escola da rede pública; e “C”, composta pela população em geral da cidade de Campo Grande.

A imagem referente à arara-vermelha também foi reconhecida pela maioria dos entrevistados, tendo sido denominada como “arara” por 77,2% dos entrevistados, nas três amostras, mas apenas 13% dos entrevistados especificaram corretamente o nome popular da espécie, “arara-vermelha”. Outros 4,8% dos entrevistados deixaram a figura sem qualquer denominação. Entre os 5% restantes, denominações como “papagaio”, “arara-azul” e “arara canindé” merecem ser citadas (Figura 15).

Figura 15. Denominações conferidas à figura da arara-vermelha nas amostras “A”, composta por alunos de uma escola da rede privada; “B”, composta por alunos de uma escola da rede pública; e “C”, composta pela população em geral da cidade de Campo Grande.

A figura referente ao lobo-guará foi corretamente denominada por 62,8% dos entrevistados, nas três amostras. Outros 13,4% dos entrevistados deixaram a figura sem qualquer denominação e 11,9% a denominaram apenas como “lobo” (Figura 16). Os demais 12,7% dos entrevistados utilizaram diversas denominações equivocadas, entre elas: “raposa”, “lobinho”, “hiena”, “lobo-do-mato”, “cachorro-do-mato” e “coiote”.

Figura 16. Denominações conferidas à figura do lobo-guará nas amostras “A”, composta por alunos de uma escola da rede privada; “B”, composta por alunos de uma escola da rede pública; e “C”, composta pela população em geral da cidade de Campo Grande.

A imagem da anta também se mostrou familiar para os entrevistados, pois 82,8% deles a nomearam corretamente, nas três amostras. Outros 11,8% deixaram a figura sem qualquer denominação. A denominação equivocada mais recorrente foi “tamanduá”, registrada em 3% das amostras. Entre os demais 2,4%, destacam-se as denominações “javali”, “capivara” e “cupim”. Um entrevistado da “amostra C” denominou a figura como “elefante” (Figura 17).

Figura 17. Denominações conferidas à figura da anta nas amostras “A”, composta por alunos de uma escola da rede privada; “B”, composta por alunos de uma escola da rede pública; e “C”, composta pela população em geral da cidade de Campo Grande.

Outra questão do formulário oferecia 16 termos relacionáveis ao Pantanal, e pedia para o entrevistado assinalar os que ele efetivamente relacionava ao bioma. Os cinco termos mais assinalados nas três amostras foram “animais”, com 557 marcações; “água”, com 555 marcações; “plantas”, com 495 marcações; “ecologia”, com 492 marcações e “ecoturismo”, com 490 marcações Figura 18).

Além disso, os entrevistados utilizaram o espaço disponível para escrever termos como “Mato Grosso do Sul”; “tereré”; “Porto Murtinho”; “minha fazenda”; "planície", "turismo ecológico", "pequenas centrais hidrelétricas", "mato", "Bolívia" e "patrimônio nacional".

Figura 18. Gráfico com as palavras sugeridas na 20ª pergunta no formulário e que os entrevistados relacionam com o Pantanal.

4. Considerações Finais

Por meio de um instrumento de coleta de dados sobre biodiversidade, esta pesquisa avaliou a percepção da população de Campo Grande-MS acerca dos dois biomas mais representativos do estado: Pantanal e Cerrado, especificamente aspectos relacionados ao nível de conhecimento de determinadas características dos biomas. O nível de conhecimento da população campo-grandense acerca dos biomas predominantes no estado de Mato Grosso do Sul, Cerrado e Pantanal, pode ser considerado satisfatório.

O público-alvo confere grande importância aos biomas pesquisados, principalmente no tocante à proximidade geográfica e à biodiversidade que abriga.

A opinião acerca da necessidade de deter informações pertinentes aos dois biomas é praticamente unânime, sendo que a população se mostra bastante aberta à obtenção de conhecimento, seja por meios audiovisuais ou pelas tradicionais páginas de livros. Um resultado que merece destaque é que a escola é a principal fonte de informação da população no que se refere a assuntos ligados aos biomas pesquisados, seguido de televisão e de internet.

Também é importante ressaltar que 78,7% dos entrevistados têm interesse de saber mais sobre os assuntos abordados na pesquisa, sendo que a alternativa de disseminação de informações “vídeos” foi a preferida. A surpresa é em relação à boa receptividade com plataformas tradicionais, como palestras e livros.

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Ilustrações: Silvana Santos