![]()
EDUCAÇÃO AMBIENTAL É PARTE DO CURRÍCULO ESCOLAR HÁ 19 ANOS EM GAROPABA Divulgado como paraíso ecológico nos anos e 1970 e berço do surfe no Brasil, município do Sul de Santa Catarina aposta nos alunos para preservação dos recursos naturais Por Ângela Bastos angela.bastos@somosnsc.com.br
Garopaba, nome que na língua indígena quer dizer enseada ou lugar de barcos, é uma cidade litorânea que fica cerca de 90 quilômetros ao Sul de Florianópolis. Com estimados 22 mil moradores, o município tem 3 mil alunos da rede pública. Há 19 anos, a questão ambiental está presente no cotidiano deles integrada em várias disciplinas. A lição que ganha destaque neste Dia do Meio Ambiente parece simples. Quanto mais cedo o tema for abordado com as crianças, maiores as chances de despertar nelas a consciência pela preservação dos recursos naturais. Este envolvimento vale para alunos dos sete Centros de Educação Infantil (CEIs) e dos 12 colégios do Ensino Fundamental. O tema desembarcou na cidade no ano 2000 como proposta do Projeto Gaia, liderado pela fundação de mesmo nome, ligada ao ecologista e professor José Lutzenberger, falecido em 2002. A ideia se tornou política pública permanente e desenvolvida ao longo do ano letivo. São conteúdos centrados em questões ambientais, como preservação e recuperação de ecossistemas, produção rural sustentável, tecnologias responsáveis e desenvolvimento humano. – Não importa o partido que administre o município, pois a preservação das nossas lagoas, dunas, praias e cuidado com o lixo é uma questão de toda a comunidade. Esse é o foco do trabalho dos nossos educadores junto aos alunos, o que envolve também as famílias das crianças – explica Maria Nadir Araújo de Souza, secretária de Educação e Cultura. O trabalho ultrapassa a área da educação e envolve diferentes setores, como agricultura e pesca, Epagri, empresas privadas e organizações da sociedade civil. No exercício da terceira gestão, Maria Nadir reconhece que as parcerias ajudaram a fortalecer a consciência sobre a importância de cuidar do meio ambiente. Cada um dentro de sua especificidade ajuda com treinamentos, capacitações, especialistas, técnicos e doação de material. – O tempo nos permitiu reavaliar equívocos. Nossos professores desenvolveram maior entendimento e interagem melhor com a criança, a qual se mostra mais madura acerca do tema. Como consequência, diz, as famílias também participam de forma ativa nas atividades propostas – observa a secretária. Quando todos se unem ao redor de uma ideia, diz Maria Nadir, o ganho é maior. Melhores notas no Ideb Em 2017, a Escola de Ensino Fundamental Paula Martins teve a melhor avaliação no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), com nota 7.9. A cidade alcançou pontuação 7.2, a melhor entre as 22 que fazem parte da Grande Florianópolis, na frente inclusive da Capital (6.2). A média do Estado foi de 6.0, e a nacional de 5.5. Divulgado a cada dois anos, o Ideb é o principal indicador de qualidade da Educação Básica no Brasil. – Esta conquista é resultado de um trabalho consciente, comprometido e que envolve a todos – diz a secretária. Apesar de o foco ser as escolas da rede municipal, a questão ambiental também está presente nas instituições particulares e da rede pública estadual. Recursos naturais são herança cultural A estudante Layla Pedro Silveira, 11 anos, frequenta o 5o ano da Escola Fundamental Paula Martins, no bairro Areias da Palhocinha. A aluna mostra que o conceito de educação ambiental é mais abrangente, está na mesa das famílias e se relaciona com herança cultural. O desafio está na preservação dos recursos que ofertam os alimentos: – Fizemos uma pesquisa com algumas alternativas e descobrimos que pirão d’água e peixe frito é o prato preferido por nossas famílias. A nutricionista explicou que o peixe tem ômega três, o que é muito bom para a saúde. A estudante contou, ainda, que o prato tem origem na gastronomia açoriana e está ligado aos colonizadores do município. Ao lado, o colega Davi Santana Rodrigues, 11 anos, conta que já sabe muitas coisas sobre a “urgência” de preservar o meio ambiente. A horta escolar, onde plantam e colhem alimentos que servem à merenda, é um dos espaços preferidos do estudante. – A gente usa maracujá para o suco e os legumes na tortinha – conta Davi. As hortas estão presentes em todas as escolas e servem para introdução do tema alternativa para uma alimentação saudável. Outros conteúdos também fazem parte das atividades curriculares, como destino do lixo, preservação das lagoas e praias, cuidados com dunas e solos, proteção das espécies marinhas, das plantas e animais. Filhos ajudam pais a ampliar conceitos Giane Santana Rodrigues tem dois filhos na rede pública municipal de Garopaba, um de cinco e outro de 11 anos. Além da educação das crianças, ela acompanha de perto as transformações na cidade, especialmente, a partir do final dos anos 1960 e começo dos 1970. Na época, o território ainda sem ligação asfáltica e só com nativos se tornou palco precursor do movimento hippie e do surfe no Brasil. Com as condições ideais para a prática do esporte e cheia de belezas naturais, Garopaba virou atrativo para pessoas de outros Estados, como gaúchos e paulistas, que desejavam uma vida mais saudável. O “paraíso ecológico” foi descoberto e com isso mais construções, mais esgotos, mais lixo. – Desde a infância, nós tínhamos uma visão ecológica das lagoas, das dunas e do mar. Mas reconheço que o aprendizado dos meus filhos ajuda muito ampliar esta perspectiva, que é preciso cuidar, se não acaba. Eles já sabem o que fazer com o lixo, por exemplo, e se por acaso eu misturo ou coloco um pet fora, são os primeiros a me chamar a atenção – relata Giane. Narrativas assim animam Andréa Maria de Araújo. A ex-alfabetizadora dava as primeiras aulas quando a educação ambiental era introduzida nas escolas de Garopaba. Hoje diretora da Escola Municipal de Educação Fundamental Paula Martins, onde estuda o filho mais velho de Giane, Andréa recorda dos tempos em que compartilhava as primeiras noções sobre como cuidar do lixo nos entornos da escola e das casas. Com o passar do tempo, as lições foram ampliadas e o planeta foi parar dentro da sala de aula. O lixo, um dos maiores vilões do meio ambiente, continua em pauta. Mas são discutidos outros temas, como alimentação saudável, a prática de atividades físicas, a agricultura orgânica, o aquecimento global, o acúmulo de plástico nos mares. Tudo isso ajuda a transformar a vida das crianças e o cotidiano dentro da escola. – Hoje, tudo acontece de uma forma mais natural, e nossos pensares são voltados ao coletivo. Anos atrás, só eu dava a informação. Hoje, o saber se dá muito mais pela troca. Os alunos estão mais cientes do que acontece em outras partes do mundo, eles usam a internet para mostrar o que pode acontecer se não se cuidar devidamente do meio ambiente. Conexão com a vida das pessoas que moram na cidade A bióloga Sandra Severo explica que a Fundação Gaia deu as bases para o programa de educação ambiental se tornar uma política pública permanente em Garopaba. A parceria permitiu que a continuidade e a sistematização dos processos envolvendo educadores e alunos registrem avanços significativos. – No começo era uma educação ambiental mais “ecologizante”, mas caminhamos para um formato transformador e crítico, que tenha conexão entre os valores trabalhados na escola e a realidade do município – analisa. Para a bióloga, as crianças de hoje já refletem sobre o que querem para o futuro de Garopaba quando dizem: se queremos um município sustentável, como vamos fazer para que isso aconteça? – O papel da Fundação Gaia é continuar oferecendo aos educadores e crianças subsídios, pois são eles os protagonistas dessas mudanças que levem a um ambiente mais saudável e equilibrado na cidade onde vivem – finaliza a bióloga. Data comemorativa Em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu 5 de junho como o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data foi escolhida para coincidir com a realização da conferência, e tem como objetivo principal chamar a atenção da população para os problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais que, até então, eram considerados, por muitos, inesgotáveis. Fonte: encurtador.com.br/oGHOQ www.nsctotal.com.br/ |