Não podemos pensar em desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades sociais e em qualidade de vida sem discutirmos meio ambiente. - Carlos Moraes Queiros
ISSN 1678-0701 · Volume XXII, Número 88 · Setembro-Novembro/2024
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Relatos de Experiências
O DOCUMENTÁRIO “HOMEM E OS RECIFES” COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DA EDUCAÇAO AMBIENTAL
Jeniffer Reis Brasil1, Márcia Francineli da Cunha Bezerra2, Luiza Nakayama3
1 Oceanografia, Universidade Federal do Pará. Universidade Federal do Pará. Email: brasiljeniffer@yahoo.com.br.
2 Doutora em Ciência Animal pelo PPGCA, NCADR/UFPA. Integrante da Sala Verde Pororoca/CEABIO – Universidade Federal do Pará. Email: m.francinele36@gmail.com.
3 Doutora em Genética Bioquímica e Molecular. Professora titular da UFPA, coordenadora da Sala Verde Pororoca. Universidade Federal do Pará. Email: lunaka@ufpa.br.
Resumo O Programa Sala Verde Pororoca: espaço socioambiental Paulo Freire, convênio UFPA – MMA, criado em 2006, vem desenvolvendo trabalhos na esfera da Educação Ambiental (EA) e inclusão social por meio de subprojetos que utilizam o audiovisual como ferramenta de ensino. Dentre esse projeto está o EACINE. Em sua quarta edição, o projeto desenvolveu atividades com 63 crianças do ensino fundamental II de uma escola paraense.
Abstract The Green Room Pororoca Program: Paulo Freire socio-environmental space, UFPA-MMA agreement, created in 2006, has been developing work in the field of Environmental Education (EA) and social inclusion through subprojects that use audiovisual as a teaching tool. Among this project is EACINE. In its fourth edition, the project developed activities with 63 elementary school children II from a Pará school.
INTRODUÇÃO A promoção da Educação Ambiental (EA) em todos os níveis de ensino se tornou obrigatória a partir da Constituição Federal Brasileira de 1988 (Cap. VI, art. 225, parágrafo 1, inciso VI), seguida da inclusão do tema meio ambiente nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 1997), sendo consolidada como política pública com a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, regulamentada em 2002 (PEREIRA; GUERRA, 2011). De modo específico, as propostas apresentadas pelos PCNs incluem a sustentabilidade de Temas Transversais - assim denominados por serem temas que perpassam pelas diferentes áreas do conhecimento-, no volume de “Meio Ambiente” para as series do ensino fundamental (BRASIL, 1997). Nas orientações dos PCNs tema transversal Meio Ambiente e Saúde (BRASIL, 1997), a concepção de ambiente deve ser abordada em sua totalidade, considerando a interdependência sistêmica entre o meio natural e o construído (urbano), o socioeconômico e o cultural, o físico e o espiritual, sob o enfoque da sustentabilidade; além de uma abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais. Na Unidade Temática “Vida e Evolução” estão pontuados os “Objetos de Conhecimento: Diversidade de ecossistemas, Fenômenos naturais e impactos naturais e Programas e indicadores de saúde pública (BRASIL, 1997). Os sistemas coralinos, tema gerador do nosso estudo, se encontram dentro dos ecossistemas marinhos, sendo um dos assuntos que devem ser apresentados os estudantes do ensino fundamental (do sexto ao sétimo ano escolar), em vista da sua importância para a conservação do equilíbrio do planeta. No entanto, os ecossistemas marinhos deveriam ser melhor abordados, uma vez que a tendência é a valorização dos ecossistemas terrestres, conforme site indicado nas ementas para o ensino de Ciências Naturais e Geografia no ensino fundamental no site do Ministério da Educação (BRASIL, 1998). Nesse contexto, de acordo com Montenegro et al. (2018), é necessário e urgente que os professores se perguntem que concepção de relação sociedade/natureza/desenvolvimento eles pretendem desenvolver em seus alunos. O professor precisa estar atento para que as suas propostas sejam capazes de sensibilizar os seus alunos em relação à importância do equilíbrio existente entre a utilização dos recursos naturais e a sua conservação para as gerações futuras de maneira equitativa e não excludente. De acordo com Souza et al. (2014): Há consenso entre vários pesquisadores para que, no ensino de Ciências, os professores transcendam exposições teóricas, contextualizando suas práxis, inclusive ao ministrarem aulas práticas com experimentações e/ou outros recursos didáticos, visando oportunizar, de modo crítico e reflexivo, situações significativas de ensino e aprendizagens (SOUZA et al., 2014, p. 42). O momento prático se bem planejado, permite ao aluno assimilar, de forma descontraída, os conteúdos teóricos, entretanto, para que essa metodologia seja eficaz, é preciso que o educador a situe adequadamente no processo de aprendizagem e saiba estabelecer a ponte entre a teoria e a prática; além disso, que o professor esteja disposto a “aprender a aprender”. Diferentes autores (SOUZA et al., 2014; BARTZIK; ZANDER, 2016; ARAUJO; ALVES, 2017) afirmam que, sem planejamento, a aula prática torna-se o lúdico pelo lúdico. Em vista da transversalidade da temática ambiental, discute-se o uso de atividades lúdicas que auxiliem na sensibilização dos alunos. De acordo com Lima (1996), o processo educativo deve ser contínuo e permanente, utilizando, além dos recursos tradicionais, também os tecnológicos à disposição no mundo moderno, dentre eles, o vídeo o qual se tornou elemento ativo de integração em todas as atividades desenvolvidas no âmbito educacional. No entanto, Kenski (2005) chama a atenção para o fato de que o uso de meios tecnológicos, como os vídeos e a televisão, embora seja um recurso que amplia o espaço da sala de aula, a simples apresentação de um filme ou programa de televisão – sem nenhum tipo de trabalho pedagógico anterior ou posterior à ação - desloca professores e alunos para uma forma receptiva e pouco ativa de educação. Deste modo, decidimos desenvolver um conjunto de atividades para sensibilização ambiental que consistiu no uso de documentário e de momento prático, denominado como método de multimodos ou Combinação de Métodos. Na educação o método de multimodo vem sendo empregado para um ensino mais concreto e interessante, com a finalidade de melhoria da qualidade da aprendizagem (ZÔMPERO; LABURÚ, 2011). Shaw; Dybdahl (2000), Lima et al. (2016) e Santos et al. (2017) afirmam que o uso de recursos tecnológicos como o audiovisual, internet e outras mídias podem ser importantes instrumentos na aprendizagem, sendo excelentes transformadores de opiniões e de ampliação do senso crítico. Neste contexto, o objetivo deste artigo foi apresentar o documentário do Projeto Coral Vivo - “Homem e os Recifes” (VI Mostra Tela Verde do MMA), associados a momentos teórico-práticos, como forma de contribuir para a aprendizagem de EA.
CAMINHOS METODOLÓGICOS No intuito de oportunizar uma reflexão sobre temas relacionados à EA, para alunos do ensino fundamental de escolas públicas e privadas, por meio de exibições de vídeos, provenientes da Mostra Nacional de Produção Audiovisual Independente (Ministério do Meio Ambiente - MMA) e de canais da internet é que foi criado o Projeto EACINE, um subprojeto do Programa Sala Verde Pororoca: espaço socioambiental Paulo Freire, convênio UFPA – MMA. Dentre os projetos desenvolvidos no Programa está o “EACINE como instrumento de aprendizagem” o qual busca promover e oportunizar o desenvolvimento de uma reflexão crítica a respeito das problemáticas ambientais por meio do uso do audiovisual associado com o momento prático, partindo da hipótese de que o uso do documentário somado a experimentação, permitirá a compreensão do assunto recifes de corais, de forma holística. O trabalho de sensibilização foi desenvolvido no Colégio Dom Mário, localizado no município de Belém, no bairro da Cidade Velha, com turmas de sexto ao oitavo ano do ensino fundamental. As atividades foram planejadas pelos integrantes do Projeto EACINE e realizadas no mês de setembro de 2018. Apresentamos nossa proposta de ação à gestora e à responsável pela disciplina Ciências Naturais, a fim de que as atividades teórico-práticas pudessem ser desenvolvidas no período de aula, uma vez que o método multimodos, de acordo com Laburú et al. (2011), potencializam o ensino e aprendizagem. À guisa de informação o documentário “Homem e os recifes” tem a seguinte sinopse (folder do MMA): Apresenta a história do projeto Coral Vivo, iniciada com a trajetória dos pesquisadores do Museu Nacional, destacando a contribuição na criação de Unidades de Conservação marinhas brasileiras e resume claramente os problemas ambientais e o impacto socioambiental referente ao mau uso dos recursos naturais. O vídeo apresenta depoimentos de personagens, que construíram a história do Projeto, como pesquisadores, pescadores, educadores e professores das redes públicas de ensino, abordando questões como: socioambientais, impactos ambientais e políticas públicas. Desenvolvemos as atividades em momentos: 1. Diálogo com os estudantes e verificação dos conhecimentos prévios (questionário); 2. Exibição do documentário; 3. Aula prática e 4. Roda de conversa e aplicação do questionário. Realizamos análises qualitativas, em todos os momentos com destaque às falas nos momentos 2 e 3. Este tipo de análise, de acordo com os autores Freitas e Jabbour (2011) possui as seguintes características: o pesquisador é o instrumento-chave, o ambiente é a fonte direta dos dados, têm caráter descritivo e o resultado não é o foco da abordagem, mas sim o processo e seu significado. Para comparar os conhecimentos prévios que os estudantes possuíam sobre o tema do documentário (momento 1), com os adquiridos após os momentos teórico-práticos, no momento 4 aplicamos novamente o mesmo questionário. Além disso, introduzimos mais uma questão objetiva após as atividades, a qual permitiu o aluno escolher a atividade que mais contribuiu com seu aprendizado. Por serem as análises bastante extensas, preferimos apresentá-las no próximo item. No final das atividades, solicitamos aos alunos que levantassem as mãos, a fim de classificar os parâmetros: som, imagem e conteúdo do documentário, nas categorias: ruim, regular, bom ou excelente. Registramos em um diário de campo e em fotografias os dados do presente estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO No primeiro momento, nós explanamos sobre o Projeto EACINE, dentro da extensão da UFPA (PROEX-UFPA), explicando todas as fases de desenvolvimento das atividades do “Homem e os Recifes”. Também fizemos uma pequena conversa “quebra-gelo” a respeito do tema do documentário “Homem e os Recifes” a fim de que os alunos prestassem atenção em determinados momentos da exibição, possibilitando uma análise crítica do audiovisual. Também pontuamos conceitos como “Meio ambiente”; “Nativos”; “Comunidade tradicional/nativa”, dentre outros. Conceituamos o que eram comunidades nativas, embasados no conceito de Povos e Comunidades tradicionais encontrado no Decreto Nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, Art. 3º, I como: Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição (BRASIL, 2007). Na oportunidade, aplicamos aos alunos um questionário semiestruturado contendo quatro questões abertas sobre os corais, abordando a definição, preservação, causa da morte e a importância da comunidade nativa. Estas perguntas foram aplicadas a fim de verificar o conhecimento prévio da turma antes da exibição do vídeo e da aula prática (Figura 1).
Figura 1. Diálogo com os alunos do Colégio Dom Mário, Belém – PA e verificação dos seus conhecimentos prévios (momento 1).
No segundo momento, exibimos o documentário “Homem e os recifes”, para crianças do sexto ao oitavo ano, separadamente. Como Bartzik; Zander (2016) afirmam que o uso da prática favorece um melhor aprendizado do conteúdo teórico recebido em sala de aula tornando-se indispensável na construção do pensamento científico, por meio de estímulos que são ocasionados pela experimentação, após a exibição do audiovisual organizamos aula prática com a apresentação da biodiversidade marinha. Também pensamos neste momento com o objetivo de: 1) despertar nas crianças a curiosidade; 2) trazer a realidade do documentário para a sala de aula e 3) despertar o trabalho em grupo e o interesse pela ciência.
Figura 2. Exibição do documentário “Homem e os recifes”, da VI Mostra Tela Verde do Ministério do Meio Ambiente, para alunos do Colégio Dom Mário, Belém – PA.
Pedimos às crianças que formassem duas filas, para organizar o acesso à exposição de organismos aquáticos. Na primeira fila, apresentamos organismos marinhos e estuarinos macroscópicos, como Cnidários, Corais, Poríferos, Crustáceos, larvas de peixes e peixes em estágio adulto (Figura 3), sob a responsabilidade da primeira autora deste artigo. Na outra fila apresentamos organismos zooplanctônicos, que os alunos puderam observar ao microscópio (Figura 4), sob a responsabilidade da orientadora deste artigo.
Figura 3. Alunos do Colégio Dom Mário, Belém – PA, visualizando os organismos zooplanctônicos no microscópio (momento 3).
Figura 4. Alunos do Colégio Dom Mário, Belém – PA, visualizando organismos marinhos macroscópicos (momento 3).
Após assistir o documentário e durante a mostra da biodiversidade marinha, explicamos o conceito de plâncton e a sua importância na cadeia trófica. A primeira dúvida foi: “Este bicho está vivo?”, detalhamos a técnica de coleta e de conservação dos organismos planctônicos. Os alunos ficaram surpresos ao visualizarem o estágio larval do camarão, aliás, nem sabiam que eles tinham um ciclo de vida. Na segunda exposição referente aos macrovertebrados, todos os alunos se impressionaram com as medusas, porque não imaginavam que os corais possuíam estágio planctônico. Fizeram comparação com os organismos vistos em praias paraenses. Ficaram muito surpresos também com a consistência dos corais e comentaram: "parece uma pedra mesmo” lembrando que no audiovisual as pessoas também confundiam os corais com pedras. No quarto momento, a roda de conversa estimulou a formulação de debates e conversas que orientaram a reflexão e análise do que foi proposto. Este momento oportunizou aos alunos recordarem de um fato ocorrido recentemente e que teve uma ampla repercussão na mídia televisiva, proporcionando uma discussão em sala. O primeiro, relacionado ao incêndio que ocorreu no Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 02/09/2018, expresso na seguinte indagação: "Esse coral vivo também tinha no museu que pegou fogo, né?". Com nossa afirmação de que corais poderiam ter sido destruídos com o incêndio, deixou muitos alunos consternados. A segunda indagação foi relacionada aos corais da Amazônia. Consideramos este assunto importante, para trazermos a realidade dos recifes de coral da Bahia para o Pará. Os alunos ficaram bastante interessados, a ponto de um aluno do sétimo ano comentar: "Professora, não sabia que tinha coral aqui! Vou pesquisar mais".
ANÁLISE QUALITATIVA DOS QUESTIONÁRIOS A atividade de sensibilização ambiental abordando a temática “Recifes de coral” ocorreu nas turmas do sexto ao oitavo ano no Colégio Dom Mário, em Belém-PA. Um total de 63 alunos participaram das atividades: 15 alunos do sexto ano escolar, 35 do sétimo e 13 alunos do oitavo e oito (2 do sexto, 5 do sétimo e 1 do oitavo ano) não responderam o questionário. Cabe destacar que as perguntas empregadas no presente artigo foram as mesmas de Santos et al. (2017), apenas com o acréscimo da quinta questão.
Pergunta 1: O que são corais? Dos alunos do Sexto ano (14 alunos), seis responderam que os corais são plantas que vivem nos oceanos, e podemos destacar algumas respostas neste sentido: “São tipos de plantações aquáticas”; “São plantas aquáticas que vivem no fundo do mar” e “Plantas duras e coloridas que vivem no oceano”. Dois alunos expuseram que os corais são algum tipo de organismo vivo, mas não souberam definir os tipos de organismos. Quatro alunos disseram que “Corais são pedras do oceano” e “Corais são pedras coloridas que têm animais marinhos morando nelas” e dois alunos não souberam definir os corais. Ao analisar as respostas dos 30 expectadores do sétimo ano escolar, foi possível dividir a turma em quatro grupos: O primeiro grupo e o mais representativo (11 alunos) foi o dos alunos que responderam que os corais são plantas aquáticas, como apresentado nas seguintes falas “São plantas marinhas”, “Conjunto de plantas aquáticas” e “Os corais são plantas aquáticas, a maioria é de água salgada e poucas são de água doce”. Apenas uma das alunas associou os corais a cnidários: “Plantas presentes no fundo do mar entre eles: Equinodermos e cnidários”. O segundo, com oito alunos, respondeu que os corais são organismos vivos; destacamos quatro respostas que demonstraram conhecimento um pouco mais profundo, expressos nas respostas: “Corais são seres vivos que vivem no fundo do mar, de cores muito diversificadas. Alguns peixes se escondem de predadores nos corais, pois há peixes da mesma cor que os corais, uma adaptação”, “São seres vivos que vivem no fundo do mar e possuem formas diversificadas”, “São seres marinhos que comem pequenos microrganismos” e “São seres vivos que vivem no fundo do mar e tem reprodução assexuada através de brotamento”. Terceiro grupo constituído por dois alunos, responderam que os corais são rochas marinhas e o quarto (10 alunos) não responderam antes das atividades teórico-práticas. Dentre os alunos do oitavo ano escolar, nove responderam que os corais são plantas marinhas ou aquáticas, um aluno que “os corais são rochas” e outro “os corais são seres vivos” mas não justificou sua resposta. Neste contexto, consideramos que no momento 1 há semelhanças entre as respostas dos alunos, independente do ano escolar. De modo geral, oito alunos destacaram aspectos geológicos em suas respostas, 37 optaram pelos aspectos biológicos e 12 não conseguiram responder. As respostas dos alunos se assemelharam as expostas por Chagas; Sovierzoski (2014) e por Santos et al. (2017), nos quais questionaram alunos de escolas públicas e particulares sobre a definição de corais e obtiveram respostas como: plantas marinhas/aquáticas, seres vivos ou pedras que ficam nos oceanos. Vale informar que o trabalho de Santos et al. (2017), com todos os autores do artigo integrantes do Programa Sala Verde Pororoca: espaço socioambiental Paulo Freire, nos fez repensar nossa prática pedagógica, com a introdução da mostra da biodiversidade marinha/estuarina e também reforçando, no momento da roda de conversa, a teoria nos aspectos que detectamos deficiência de conteúdo, pois no mesmo colégio e usando o mesmo documentário, na turma do oitavo ano de 2016, foi constatado (p. 11) “após a sessão, a pergunta foi refeita e verificamos que os alunos tinham mudado sua visão sobre o coral, mas ainda assim não souberam dizer ao certo o que era”. Neste sentido, embasados em diferentes autores (STORER et al., 1979; LEÃO et al., 2003; CASTRO; HUBER, 2008) após os momentos 2 e 3, reforçamos os aspectos biológicos, como: definição biológica, interações ecológicas que ocorrem e os impactos da falta de preservação dos recifes de coral para o homem; também lembramos o ponto de vista geomorfológico dos recifes de coral, como uma estrutura enorme, rochosa, rígida, resistente às ações mecânicas das ondas e das correntes marinhas. Para o momento 4, resolvemos analisar as respostas do questionário em anos escolar. Foi possível notar a mudança nas respostas dos alunos do sexto ano: “São organismos que vivem de baixo da água”, “São seres vivos que moram na água e são a forma final da água viva” e “São animais”; três discentes mantiveram as respostas. Dividimos os estudantes do sétimo ano em dois grupos de respostas. O primeiro grupo foi o dos alunos nos quais notamos mudanças em suas falas: “os corais são seres vivos” e sua função ecológica, sendo que das 19 respostas, quatro não haviam respondido na primeira rodada (momento 1), os demais, acrescentaram novas informações ou tinham dito, anteriormente, que os corais eram plantas aquáticas ou rochas. Destacamos a fala de uma aluna que antes da ação havia dito que os corais eram “Conjunto de plantas marítimas” e posteriormente: “Os corais são os maiores seres vivos do planeta”. O segundo grupo com 11 respostas, não mudou sua fala ou acrescentou: “São plantas aquáticas”, “São tubos do mar” e “São frutas do mar”; consideramos que estes alunos precisam de um novo olhar, a fim de verificarmos se ocorreu algum problema metodológico, haja vista que o número de alunos com erros conceituais é preocupante. Nítidas mudanças puderam ser constatadas nas falas dos alunos do oitavo ano, permitindo classificar dois grupos de respostas. O primeiro grupo englobou oito alunos que compreenderam o conceito de corais: “são seres vivos”, “são seres vivos e é a fase final da água viva” e “são seres vivos que se reproduzem”. O segundo (com três respostas) foi dos alunos que permaneceram com o pensamento de que corais são plantas; novamente manifestamos nossa preocupação com os alunos com problemas conceituais e tentando imaginar formas alternativas para sanar as dúvidas, como a possibilidade de uso de jogos didáticos e ou de pesquisas e práticas de campo, dentre outras metodologias pedagógicas.
Pergunta 2: Por que preservar os corais? E como? No momento 1, identificamos três grupos de resposta para os alunos do sexto ano. O primeiro grupo (4 alunos) associou, em geral, a preservação dos corais com a importância dos mesmos para moradia e alimento dos peixes: “Porque os peixes precisam deles”, “Pois os peixes moram neles e se alimentam lá”, “Por causa dos peixes” e “Porque eles são muito importantes para alimentação e esconderijo para várias espécies de peixes”. Quando questionados “E como?”, três alunos responderam: “Não poluindo o mar”, “Não acabando com mar” e “Não retirando os corais”. O segundo grupo (2 alunos) trouxe a importância da preservação dos corais para que não entrem em extinção; quando indagados em como preservar, os alunos disseram “Não arrancando”. O terceiro grupo foi dos seis alunos que não souberam responder às duas questões, mas um aluno respondeu ao primeiro questionamento: “Os corais devem ser preservados porque são plantas aquáticas” e outra ao segundo, os corais devem ser preservados: “Não poluindo os rios e mares”. Dentre os 30 alunos do sétimo ano, que responderam o questionário, 11 relataram a importância ecológica dos recifes de corais, a exemplo “Porque eles servem de moradia para os peixes”, “Servem para os peixes se reproduzirem”, “Para preservar a beleza do mar e para alguns animais que moram neles (corais)”. Já quando questionados em como preservar, os alunos associaram à poluição por lixo, ao esgoto e ao petróleo. Quatro alunos não souberam responder a primeira questão, mas responderam as três formas de preservação por poluição antrópica, mas dois responderam que os corais poderiam entrar em extinção caso não fossem preservados, mas não citaram as formas de preservação. Um aluno respondeu que os corais são produtores de oxigênio e, como proposta de preservação, disse: “Não destruindo ou machucando os corais”. No entanto, nove alunos não souberam não responderam aos dois questionamentos. Dividimos os 11 alunos participantes do oitavo ano em quatro grupos de respostas. O primeiro grupo (3 alunos) citou que os corais são importantes na preservação do meio ambiente, moradia de peixes, alimentação de organismos e até mesmo na atenuação do efeito estufa; como resposta ao segundo questionamento, em geral, disseram: “Não tirando eles do lugar” ou “Não matando eles”. O segundo grupo (2 alunos) relacionou os corais com a qualidade do ar no planeta e quanto à segunda questão, um deles respondeu: “Não poluindo os corais e não arrancando eles”. O terceiro grupo (três alunos) englobou os que não souberam responder ou deixaram a questão em branco, mas que responderam no momento 4. No quarto, um aluno abordou a questão estética: “Para deixar nosso ambiente mais bonito”, outro disse que os corais são plantas e que as pessoas não sabiam da importância dessas plantas, mas nenhum dos alunos soube responder como preservá-los. O documentário exibido abordou estratégias simples que podem ser aplicadas por qualquer cidadão, para preservar os recifes de corais: Não pisar e não retirar os corais, evitar o descarte inadequado de resíduos, eliminar a rede de pesca por arrastão, além do papel da comunidade nativa, auxiliando na proteção desses recifes. É sabido que os corais crescem na região fótica de mares tropicais e que são organismos que dependem de um ambiente de água rasa, limpas, mornas e pobres em nutrientes para crescer (CASTELLO; KRUG, 2015), portanto, o despejo de esgoto sem tratamento na costa, outro problema levantado no documentário, torna as águas mais ricas em nutriente e mais turvas ocasionando um ambiente estressante para os recifes de coral. Na roda de conversa, embasado em diferentes autores (CASTELLO; KRUG, 2015; ZILBERBERG et al., 2016) informamos que os recifes de coral protegem as regiões costeiras da ação de ondas e tempestades. Além disso, que muitos organismos utilizam esses locais para desova ou para alimentação, assim, nos recifes de coral há uma grande biodiversidade e abundância de organismos, entre eles os predadores os quais incluem peixes utilizados para alimentação humana, funcionando como verdadeiros criadouros de peixes, renovando estoques e, principalmente, no caso de áreas protegidas, favorecendo a reposição de populações de áreas densamente exploradas. Apesar da grande representação de ecossistemas recifais em unidades de conservação no Brasil, os recifes ainda sofrem com a ausência de planos de manejo, ordenação da visitação, fiscalização de atividades ilegais (como a pesca em unidades de proteção integral) e conflitos com atividades industriais em seu entorno (ZILBERBERG et al., 2016). Informamos também que a criação de áreas marinhas protegidas, de acordo com Zilberberg et al. (2016), foi importante para o gerenciamento dos recifes de corais e que o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza regula os diversos tipos de áreas protegidas, indicando os possíveis usos humanos nas Unidades de Conservação. Para instigar os alunos, dizemos, embasados em Welle (2018), que havia saído na grande mídia (https://g1.globo.com/natureza/noticia/pesquisadores-encontram-corais-em-area-da-amazonia-que-pode-ser-liberada-para-exploracao-de-petroleo.ghtml) do dia 16/04/2018, a descoberta de recifes de corais na Amazônia, cobrindo uma área de aproximadamente 55 mil quilômetros quadrados, portanto, o maior recife do Brasil e um dos maiores do mundo. Além disso, que nesses recifes habitam mais de 40 espécies de corais, 60 de esponjas – metade provavelmente ainda desconhecida –, 70 espécies de peixes, lagostas, estrelas-do-mar e que a região também é refúgio de peixes, alguns já desaparecidos na costa brasileira. Também dissemos que uma empresa francesa aguarda licença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para extrair petróleo, na área. Os alunos manifestaram indignação pela possível perda dos organismos vivos, causada pela extração do petróleo, mas a maioria dos alunos das turmas não sabia que existia recife de coral na Amazônia o que os deixou curiosos a respeito do tema, o que é um bom sinal, pois Herman et al. (1992) afirmaram que a curiosidade é o ponto de partida para a aprendizagem. No momento 4, oito alunos do sexto ano conseguiram associar a importância dos corais na preservação da biodiversidade, como exposto nas seguintes respostas: “Porque lá é onde os seres vivos vivem”, “São animais marinhos que fazem parte do ecossistema” e “Porque os peixes moram nelas”; destes oito, dois não deram propostas de como preservar os corais. De modo geral, as respostas permaneceram as mesmas do momento 1, exceto um aluno que acrescentou a pesca por arrastão como sendo um dos fatores que podem ocasionar a destruição dos corais e seis alunos permaneceram com as mesmas respostas do momento 1. Dos 30 participantes do sétimo ano, no momento 4, 24 passaram a interligar a conservação dos corais com a preservação da vida marinha. Um aluno relacionou a importância da preservação para estudos e futuras propostas de conservação. Outro aluno respondeu “Porque sem eles não haverá mais comida” e como resposta a segunda questão este falou: “Não jogando lixo, garrafas e etc.” Relacionando a falta de preservação à extinção dos corais um aluno respondeu “Porque eles podem ir desaparecendo”. Por fim, apenas dois alunos não conseguiram responder as questões. Em geral, como resposta a segunda questão, os alunos disseram “evitar a extração de petróleo”, “Não tirando os corais do mar”, “Podemos preservar os corais não poluindo os rios com esgoto” e “Não jogar lixo e não jogar redes de arrastão”. Observamos a presença de distintos grupos de respostas dos discentes do oitavo ano, no momento 4, abordando a importância biológica dos corais para a conservação da vida marinha: “É importante para a vida de vários animais” e “Pois é a casa de animais marinhos, porque dentro deles são onde colocam seus ovos como uma espécie de tubarão” e abordando a sua importância socioambiental: “Pois é onde as pessoas que moram nas redondezas pescam e se alimentam, os peixes acabam morrendo com essa destruição”. Dois alunos, não conseguiram responder mesmo após as atividades teórico-práticas. Um discente permaneceu com o conceito que os corais são produtores de oxigênio e “melhoram a qualidade do ar” e outro só respondeu como preservar os corais. Quanto ao segundo questionamento, os alunos acrescentaram em suas respostas “Não pisando ou arrancando eles (corais)” e “Proibir o uso de redes de pesca nos locais e não poluindo os rios” termos estes que não haviam sido citados em respostas anteriores. As respostas dadas após as ações de sensibilização, por todos os anos escolares, estiveram de acordo com o que foi apresentado no documentário “Homem e os recifes”.
Pergunta 3: O que causa a morte dos corais? No momento 1, na turma do sexto ano escolar, o primeiro grupo (3 alunos) de respostas identificadas, relacionou a morte dos corais à poluição dos rios e dos recifes, sem detalhar que tipo de poluição poderiam ser essas. O segundo grupo (2 alunos) disse que a morte dos corais seria “culpa das empresas Petrolíferas”, associando aos grandes vazamentos de petróleos que marcaram a história. O terceiro grupo englobou todos os alunos que não responderam. Um aluno afirmou que a morte dos corais estava associada à ação antrópica direta: “As pessoas quando enxergam um coral arrancam”. Aos alunos do sétimo ano, três grupos bem definidos de respostas foram identificados no momento 1. No primeiro grupo (15 respostas), todas as respostas envolviam algum tipo de poluição, sendo as mais frequentes: “Poluição pelo petróleo”, “Poluição do mar e a busca pelo petróleo”, “É o lixo que jogam na praia” e “Despejo de esgoto”. No segundo grupo (quatro respostas) foi representado por alunos que responderam “ser culpa da construção das plataformas de extração de petróleo”. No terceiro corresponde a 11 alunos que não responderam as causas da morte dos corais. Na turma do oitavo ano, também distinguimos três grupos de respostas. No primeiro grupo (nove respostas) foram citados alguns tipos de poluição que poderiam ser os causadores da morte dos corais: “Substâncias tóxicas e a poluição dos rios com os lixos” e “A poluição pelo lixo nas águas”. No segundo grupo (uma resposta) atribuiu a morte dos corais “à ação dos pescadores e turistas que poderiam pegar e levar como lembrança. “No grupo 3 (uma resposta) não respondeu no momento 1. De modo geral, os alunos deram respostas comuns aos problemas ambientais, não especificando as principais causas da morte dos corais. De acordo com Zilberberg et al. (2016), numerosos são os fatores que são ameaças para os recifes de coral, na grande maioria de origem antrópica, entre os quais podemos destacar: 1) destruição física de recifes em razão do tráfego marítimo, turismo ou retirada para artesanato; 2) comércio de peixes (pesca de arrastão citado no audiovisual apresentados para as turmas); 3) mudança no clima global, água acima da temperatura média em razão de fenômenos climáticos; 4) acidificação do oceano e 5) impacto de sedimentos e poluentes oriundos dos continentes. Uma das principais preocupações da comunidade científica é quando ao branqueamento dos corais que é a despigmentação no coral causada pela diminuição da densidade de zooxantelas (PORTER, 1976; CONNELL, 1978), fenômeno esse desencadeado, principalmente, pelos aumentos da temperatura da água e do pH nas águas (acidificação do oceano), que afetam de maneira significativa a estrutura dos recifes de coral. Por serem sistemas altamente especializados, os recifes de coral são extremamente sensíveis a distúrbios ambientais, estimando que 19% dos recifes ao redor do mundo já tenham sido efetivamente perdidos, 75% dos corais do planeta estão passando por níveis críticos de ameaças e que até 2050 todos estarão ameaçados e que 35% estarão em situação crítica de declínio nos próximos 10 a 40 anos (ARAÚJO; AMARAL, 2016; ZILBERBERG et al., 2016). No momento 4, pudemos observar mudanças nas falas de 14 discentes do sexto ano: “O despejo dos esgotos”, “A poluição dos rios e mares” e “O excesso de lixo nos mares e oceanos”. Outro grupo (4 alunos) atribuiu à retirada dos corais para artesanato, atividades turísticas mal gerenciadas, o que ocasionava o pisoteamento dos corais e a pesca por redes de arrastro. Cabe destacar que abordamos todas essas causas, nos momentos 2 e 3, no entanto ainda três alunos não conseguiram responder, embora no momento 1 foram sete. Os estudantes do sétimo ano demonstraram ter assimilado as informações passadas nos momentos anteriores, uma vez que todos responderam dando sugestões das possíveis causas da morte dos corais, embasados nos momentos 2 e 3. Oito alunos conseguiram acrescentar informações a suas respostas (não apenas aquelas citadas no audiovisual). Dos 11 alunos que não haviam respondido no momento 1, no momento 4 conseguiram responder. Uma resposta englobou as causas da morte dos corais citadas no documentário: “O aquecimento global que esquenta a água dos oceanos, mar e rio. A rede de pesca vai arrastando os corais e destruindo tudo, a busca dos corais para o uso de artesanato e o lixo que vai poluindo a água causando a morte dos corais”. No oitavo ano, houve um acréscimo de informações nas respostas dos alunos, com exceção de um aluno, que não havia respondido no momento 1 mas conseguiu no momento 4: “Os rios poluídos por esgotos, turistas que arrancam, pesca e a retirada dos corais para artesanato”; um aluno não quis ou não soube responder, uma vez que já havia respondido corretamente no momento1.
Pergunta 4: Qual a importância das comunidades nativas para a preservação dos corais? No sexto ano, distinguimos dois grupos, no momento 1. No primeiro grupo (sete respostas), os alunos abordaram a importância da comunidade no cuidado e preservação dos recifes de coral: “Para cuidar e preservar os corais”, “Porque eles podem preservar os corais sem poluí-los” e “Não deixar as pessoas tirarem os corais”. Os discentes denotaram, em sua maioria, domínio quanto à importância das comunidades nativas, mas alguns não responderam. Três grupos distintos foram identificados na turma do sétimo ano. O primeiro grupo foi composto por alunos que citaram a importância das comunidades nativas na preservação dos corais: “Eles (da comunidade) podem evitar que os corais sejam retirados do mar”, “Eles preservam os corais”, “Eles têm importância porque preservam e não exploram o petróleo” e “Eles preservam os corais e não jogam lixo no mar”. O segundo grupo ressaltou a importância dos corais na economia dos moradores nativos: “Porque eles precisam dos corais para viver, por isso cuidam” e “Eles vivem disso” e o terceiro (15 alunos) não responderam à questão. No oitavo ano, tivemos um grupo de 7 alunos que associaram a conservação dos corais às comunidades nativas e o outro foram de alunos que não conseguiram ou não quiseram responder, no momento 1. As turmas, principalmente, do sétimo e do oitavo ano escolar, demonstraram conhecimento prévio sobre o significado de comunidade nativa/tradicional. Este fato pode estar relacionado à presença do grupo EACINE já ter abordado questões sobre as comunidades nativas/tradicionais, com o documentário “Terra do meio”, em turmas do mesmo colégio em 2017 (SANTOS et al., 2017). No momento 4, sete alunos do sexto ano ressaltaram a importância da comunidade nativa para a preservação dos ambientes coralíneos e destes alunos, a maioria acrescentou pelo menos uma nova informação a sua resposta e dois não haviam respondido no momento 1, mas 7 alunos não conseguiram responder à questão mesmo após as atividades teórico-práticas. Da turma do sétimo ano, dos 30 alunos participantes, 25 disseram que as comunidades nativas são fundamentais na preservação desses ambientes, por possuir maior sensibilidade e conhecimento tudo sobre os corais, porque “as informações sobre os corais foram adquiridas por gerações de saberes passados de pai para filho”. Dos 25 alunos, 14 não haviam conseguido responder a quarta questão no momento 1 e 11 alunos responderam, acrescentando novas informações, no momento 4: “Através do Projeto Coral Vivo as comunidades conseguem ajudar na preservação dos corais” e “A comunidade vive e precisa dos corais, por isso ajudam a preservar”. Dos 11 participantes do oitavo ano, seis conseguiram em suas respostas demonstrar conhecimentos adquiridos nos momentos anteriores: “As comunidades nativas ajudam a preservar os corais e fiscalizam a poluição de lixos na praia” e “Pois alguns nativos trabalham no projeto e tem técnicas (conhecimento) diferenciado a dos cientistas que trabalham na área”. Cinco alunos não responderam à pergunta. Em vista aos dados qualitativos obtidos, nos momentos 1 e 4, percebemos uma nítida mudança nas falas dos participantes das ações de sensibilização ambiental, desenvolvida pelo Projeto EACINE. Portanto, a utilização de questionário mostrou-se eficaz para a análise dos conhecimentos prévios e para a avaliação de novas concepções absorvidas, durante toda a atividade de sensibilização de EA, como constatou Gil (1999) sobre o uso do questionário, como uma técnica capaz de analisar o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc. Dos 63 alunos, 84,1% apresentaram mudanças em suas percepções, pelo menos em um dos questionamentos, considerando aqueles alunos que mudaram ou acresceram informações em suas falas e também aqueles que não responderam no momento 1, mas no momento 4 responderam corretamente. Consideramos que os alunos passaram a ter uma visão mais holística da importância dos recifes de coral, partindo de respostas como: pedras, plantas e seres vivos, para uma compreensão da importância ecológica dos recifes de coral e as consequências futuras, caso o ecossistema recifal não for preservado. Destes alunos participantes, 15,9% mostraram que as informações repassadas nos quatro momentos tiveram pequena contribuição, para a preservação dos ecossistemas coralíneos, mas resultados semelhantes foram obtidos por Farinon et al. (2014) e por Santos et al. (2017), com ações de sensibilização de alunos, que não acrescentaram novos saberes mesmo após a aplicação de seus métodos de ensino em EA. Cabe enfatizar que, para nós, causou um certo desapontamento, uma vez que Santos et al. (2017) exibiram o mesmo filme, na mesma instituição, mas acreditávamos que com a introdução de aula prática, mostrando os organismos marinhos planctônicos e macroscópicos, a aprendizagem seria significativa. Evidentemente, constatamos a participação ativa de todos os alunos, durante a exposição de organismos planctônicos e macroscópicos. Farinon et al. (2014) atribuíram esses resultados não satisfatórios a etapa de desenvolvimento cognitivo em que se encontram os alunos (10 a 11 anos). Neste contexto, sugerimos que a melhor atividade para esta faixa etária, que no nosso caso, foi o sexto ano, seria o teatro de fantoches, porque de acordo com Baía; Nakayama (2013, p. 109-120) de todas as atividades pedagógicas utilizadas como instrumento de ensino e aprendizagem em EA, o teatro de fantoches foi “o mais eficiente em vista de ter despertado o interesse e a participação de todos, resultando em um bom nível de compreensão dos alunos de diferentes séries”. Para os alunos de sétimo e oitavo ano, nos quais a aprendizagem foi mais significativa, sugerimos, embasados em Oliveira et al. (2014) que sejam introduzidas também aula de campo, pois no ecossistema recifal foi possível observar “além das características dos recifes e dos seres vivos estudados [...], as condições de conservação e os impactos ambientais encontrados nos locais visitados”. Embora destacamos que os recifes de corais amazônicos se localizam no delta Amazônico, portanto, muito distante das instituições de ensino belenenses. Para análise da eficácia dos momentos 3 e 4, aplicamos a quinta questão objetiva. Como esperado, a maioria dos estudantes que participaram das atividades opinaram pela alternativa que continha “Vídeo e atividade prática” (Figura 5), como a melhor forma de ensinar e aprender sobre a vida dos corais e interações ecológicas e socioambientais. Figura 5. Resposta à questão: Qual o momento que você considerou mais interessante? manifestada pelos alunos do sexto ao oitavo ano do Colégio Dom Mário, Belém-PA.
Após a análise destes dados, refletimos que se a pergunta: “Qual o momento que você considerou mais interessante? fosse substituída por: Qual a metodologia de trabalho que você mais gostou?, talvez a opção prática associada ao vídeo tivesse alcançado uma frequência maior. Apesar dos alunos comentarem que o parâmetro de qualidade “som” ficou prejudicado, o conteúdo e a imagem foram considerados excelentes, sugerindo que quando estes dois parâmetros são essenciais, para despertar o interesse do alunado.
Consideramos a metodologia em momentos e a oportunidade de trocas de saberes e de fazeres permeando todos os momentos, essenciais para o processo de aprendizagem significativo. Além disso, os mesmos questionamentos antes e depois foram eficazes para avaliação de conceitos e para percepções mais holísticas dos alunos participantes das sessões. O uso do documentário somado ao momento prático mostrou ser uma ferramenta eficaz no estímulo ao pensamento crítico e ao trabalho em equipe, envolvendo os alunos do Colégio Dom Mário, permitindo abordar e ensinar temas relevantes, como situações ambientais adversas, relações ecológicas, socioambientais e socioeconômicas, e, desta forma, lançando a sementinha para se tornarem cidadãos em busca do próprio conhecimento e agentes multiplicadores ambientais. O cuidado em apresentar exemplos da biodiversidade Amazônica, como corais e plâncton foi fundamental para despertar o interesse dos alunos, tornando o aprendizado mais significativo. Neste contexto, concluímos que o uso do multimodo, audiovisual e momento prático, foi eficaz e demonstrou ter um grande poder transformador de opinião e de aumento do senso crítico.
AGRADECIMENTOS Á Prof. Drª Sury de Moura Monteiro e Prof. Dr. José Eduardo Martinelli Filho pelo apoio logístico. Á Pró Reitoria de Extensão (PROEX-UFPA) pela concessão da bolsa Navega Saberes/INFOCENTRO para a primeira autora deste artigo.
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