Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
11/06/2019 (Nº 68) EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SEMEANDO A IMPORTÂNCIA DA VEGETAÇÃO DURANTE UMA COLÔNIA DE FÉRIAS
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SEMEANDO A IMPORTÂNCIA DA VEGETAÇÃO DURANTE UMA COLÔNIA DE FÉRIAS



Fernanda Soares Junglos¹, Mário Soares Junglos², Julielen Zanetti Brandani¹, Francisco Tiago Alves da Silva³, Edmar Aguiar Sgamate4, Glaucia Almeida de Morais5



¹ Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil, fernandajunglos@yahoo.com.br/julielen_zanetti@hotmail.com

² Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil, mario_junglos@yahoo.com.br

³ Acadêmico do Curso de Educação Física - Licenciatura, Centro Universitário Claretiano, Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil, fer_ftiago@yahoo.com.br

4 Acadêmico do Curso de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Ivinhema, Mato Grosso do Sul, Brasil, edmarsgamate@hotmail.com

5 Doutora em Ciências Biológicas (Biologia Vegetal), Docente da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, Ivinhema, Mato Grosso do Sul, Brasil, gamorais@uems.br



Resumo: Como a Educação Ambiental é um tema que deve ser disponibilizado em todos os espaços (formal e não formal), objetivou-se sensibilizar beneficiários do PETI atendidos no Projeto Sagrado Coração, em Ivinhema - MS sobre a importância da vegetação. Durante as férias escolares foram realizados seis encontros, durante os quais os jovens tiveram a oportunidade de participar de diversas atividades lúdicas: Visita à Unidade da UEMS, com realização de diversas atividades no viveiro de mudas; montagem de história em quadrinhos sobre as experiências vividas; visita ao antigo Zoológico, onde se realizou uma trilha para conhecer características e curiosidades sobre algumas espécies nativas ali presentes; oficina de desenhos com folhas e passeio recreativo com piquenique. O evento atendeu em média 25 crianças e a qualidade das histórias elaboradas e a participação nas demais atividades foram utilizadas para avaliar a contribuição da ação. Pelas histórias em quadrinhos ficou evidente que alguns termos técnicos foram absorvidos durante a visita, já que estes foram citados nos trabalhos e mesmo as atividades propostas possuindo cunho educativo, através do lúdico, chamou-se a atenção para questões ambientais, contribuindo com o desenvolvimento criativo, crítico e responsável dos jovens atendidos, perante o ambiente em que se inserem.



Palavras chave: Educação ambiental; Espaços não formais; Atividades lúdicas; Ensino-aprendizagem. Espécies arbóreas.



ENVIRONMENTAL EDUCATION: SOWING VEGETATION IMPORTANCE DURING A VACATION COLONY



Abstrat: As environmental education is a theme that should be provided in all spaces (formal and non-formal), it aimed to sensitize PETI beneficiaries assisted at Project Sagrado Coração in Ivinhema - MS about the importance of vegetation. Six meetings were held during the school vacation, children participated in various recreational activities: Visit to the Unit UEMS, where they did various activities in the greenhouse; Creating comics about their experiences; Visit to the old Zoo, where they met characteristics and curiosities of some native species present there; Drawing workshop with leaves and recreational ride with picnic. Approximately 25 children participated of each meeting and the quality of elaborate stories and participation in other activities were used to evaluate the contribution of the action. From the comics it was evident that some technical terms were absorbed during the visit, since they were cited in all the works and although the proposed activities have had educational basis, the objectives were achieved in a fun and interesting way. This was possible because the recreational activities caught the attention of children to environmental issues, contributing to the creative development, critical and responsible, about the environment in which they live.



Key words: Environmental education; Non-formal spaces; Recreational activities Teaching-learning; Tree species.



Introdução



Falar de educação ambiental é discorrer sobre a vida, suas relações e paradigmas que incluem respeito e reverência por todos os seres do planeta Terra, é em essência um caminho de busca de novos paradigmas que pensem o bem comum, reflitam sobre a riqueza que herdamos de nossos antepassados e meios de deixarmos para as futuras gerações o mínimo de impacto durante nossa estada nesse planeta (Pádua 2002).

A educação ambiental é uma das ferramentas existentes para a sensibilização e capacitação da população em geral sobre os problemas ambientais. Com ela, busca-se desenvolver técnicas e métodos que facilitem o processo de tomada de consciência sobre a gravidade dos problemas ambientais e a necessidade urgente de nos debruçarmos seriamente sobre eles (Marcatto 2002).

Porém nos espaços formais de educação, devido a organização atual das instituições de ensino, o docente não tem tempo disponível para se dedicar ao planejamento de suas aulas, mesmo com a facilidade atual de adquirir diferentes recursos para as aulas (Alves 1998; Alves 2008). Desta forma fica difícil trabalhar os ditos temas transversais presentes nos PCNs, dentre eles a educação ambiental (Brasil, 1999), pois o professor não tem como fugir do método tradicional e ao manual didático criado por Comenius.

Já os espaços não formais funcionam oferecendo atividades educativas fora do ambiente escolar, sem a obrigatoriedade legislativa, nas quais o indivíduo experimenta a livre escolha em torno de assuntos potencialmente significativos (Bevilaqua 2012; Langhi e Nardi 2010), e desta forma possibilita o despertar da curiosidade para o tema e a participação dos jovens em outras atividades educativas posteriores à visita, como estágios de iniciação científica, projetos de inclusão social e fóruns, contribuindo assim para a formação de significados mais amplos (Bevilaqua 2012; Rocha et al. 2010).

Mas não devemos nos esquecer de que nos ambientes não formais, a aprendizagem é prejudicada pelo tempo reduzido que os visitantes interagem com os aparatos científicos (Rocha et al. 2010; Bevilaqua 2012), sendo assim a aproximação entre os ambientes formal e não formal só tem a contribuir no processo de ensino e aprendizagem.

O Projeto Sagrado Coração, mantido pela Associação Missionária Catequista do Sagrado Coração, atende beneficiários do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), retirando crianças e adolescentes da rua e do trabalho. Os jovens atendidos por este programa têm suas famílias acompanhadas pela assistência social e devem frequentar a escola e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) onde terão atividades lúdicas, esportivas, culturais e de lazer, como formas de expressão, interação, aprendizagem, sociabilidade e proteção social; já nos períodos de férias escolares, deve-se prever a realização de atividades coletivas, como passeios culturais, colônias de férias, entre outros (MDS 2010).

Colônia de Férias ocorrem necessariamente no período de férias de seus participantes, e sua organização pode ser feita em dias consecutivos, ou alternados, com duração superior a três dias contando com um grupo fixo de participantes e sem previsão de pernoite, podendo acontecer em diferentes espaços e com um conjunto diversificado de atividades e experiências culturais propostas por animadores socioculturais (Silva 2008; Silva e Marcellino 2011).

Diante deste quadro, cabe aos profissionais que se colocam em posição comprometida com uma ação pedagógica transformadora, garantirem no tempo-espaço da Colônia de Férias a difusão dos valores do lazer, levando em conta seu duplo aspecto educativo e enfocando o divertimento e o descanso tanto quanto o desenvolvimento (social e individual), para que, então, novos valores se consolidem e levem à reformulação dos objetivos primeiros das programações de manter os participantes ocupados o tempo todo, evitando que o entusiasmo diminua e a desordem se estabeleça (Silva 2008).

Como tema transversal, a Educação Ambiental deve estar presente em todos os espaços e modalidades do processo educativo (Brasil 1999). Assim diante do exposto, objetivou-se oferecer uma atividade diferenciada para os beneficiários do PETI atendidos no Projeto Sagrado Coração, em Ivinhema - MS e sensibilizá-los sobre a importância da vegetação, por meio de uma Colônia de Férias Ecológica.



Material e métodos



O Projeto Sagrado Coração localiza-se no município de Ivinhema-MS, e trata-se de uma entidade filantrópica, de caráter cultural, assistencial e educacional, sem fins lucrativos, que visa apoiar o desenvolvimento físico e intelectual das crianças e adolescentes de 07 a 16 anos, sem distinção de cor, raça e religião.

Colônias de férias com cunho ecológico realizadas no Projeto Sagrado Coração é uma parceria entre a entidade e a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul - Unidade Universitária de Ivinhema, na sua terceira edição a colônia apresentou como tema central a importância da vegetação.

Em janeiro, realizaram-se 6 encontros, duas vezes na semana (terça e quinta-feira), no período matutino (das 7:30 as 10:30 h), onde receberam-se em média 25 crianças por encontro, todas estas frequentam regularmente em contra turno o Projeto Sagrado Coração e de forma espontânea durante o período férias escolares.

A programação da Colônia de férias contou com diferentes atividades lúdicas que abordaram a importância da vegetação. Inicialmente os estudantes realizaram uma visita à Unidade da UEMS de Ivinhema, onde conheceram e participaram de todo o processo de produção de mudas, passando pelas atividades de quebra de dormência de sementes, semeadura, preparo de substrato, transplante de mudas, viveiro de mudas, plantio e cuidados. No final conheceram o arboreto da unidade e experimentaram um fruto nativo, conhecido popularmente como Araçá. Todo este processo foi fotografado com câmeras digitais pelos participantes, para o desenvolvimento da atividade posterior.

Os dois encontros posteriores foram destinados à construção de histórias em quadrinhos sobre as experiências da visita à Unidade da UEMS de Ivinhema. Para isto foi disponibilizado uma sala de informática onde os estudantes, divididos em 4 grupos, utilizaram computadores que continham as fotos tiradas e prepararam a história no programa Power Point. Para cada grupo foi cedido um tutor que não interferiu na produção intelectual, mas ficou responsável por esclarecer dúvidas sobre a montagem dos slides e o uso do computador.

No quarto encontro foi realizada uma trilha no antigo Zoológico da cidade, hoje um bosque, onde as crianças e adolescentes conheceram características e curiosidades sobre algumas espécies nativas ali presentes. Ao final os alunos foram incentivados a coletarem no entorno de suas casas folhas de vários tamanhos, formatos e cores, bem como flores e outras partes florais para a próxima atividade.

No encontro seguinte, com o material vegetal que os alunos trouxeram de suas casas, realizou-se uma oficina de desenhos, que consistiu na colagem de folhas verdes e secas e outras partes vegetais para montar vários desenhos. Foram disponibilizadas folhas sulfite A4, cola branca, tesouras e alguns modelos pré-definidos para inspirar novas ideias. As crianças que não participaram da trilha e que estavam presentes neste encontro, coletaram o material ao redor da entidade.

O encerramento ocorreu com um passeio recreativo e piquenique na Associação dos Servidores Públicos Municipais de Ivinhema (ASSEMI), este espaço conta com um campo de futebol, quiosque, parquinho, bosque e um salão de eventos. A manhã foi reservada para o lazer, no final foi realizado o piquenique e neste momento os participantes reuniram-se para uma roda de discussão sobre a importância da vegetação que foi observada no período da Colônia de férias.

Para avaliar a contribuição da ação verificou-se a qualidade das histórias elaboradas e a participação efetiva de todos nas demais atividades.



Resultados



Durante o primeiro encontro os estudantes estavam entusiasmados com a aquisição de novos conhecimentos e pela participação em diferentes atividades na Universidade (Figura 1). Nos dois encontros posteriores foi possível observar pelas histórias em quadrinhos que alguns termos técnicos foram absorvidos durante a visita, já que estes foram citados em todos os trabalhos, entre eles destacam-se: sementes dormentes, sementes quiescentes, escarificação, embrião, transplante e substrato.



Figura 1. Estudantes durante as atividades desenvolvidas na UEMS, Unidade Universitária de Ivinhema, 2012.

Fonte: Imagens captadas pela turma participante do trabalho.

No entanto, o objetivo desta atividade não se reduz a repetição e memorização de termos técnicos, muito mais que dominar os termos e compreender os conceitos é preciso saber aplica-los com bom senso, e segundo Oliveira (2010) a quantidade de conhecimento não garante um indivíduo criativo. Sob esta óptica fica evidente que apesar da atividade proporcionada ter efeito conceitual não garante mudanças de hábitos no período pós-colônia. Mas condições motivadoras e facilitadoras quebram paradigmas da educação tradicional (Oliveira 2010) e podem contribuir para a formação de significados mais amplos, extrapolando as barreiras físicas do presente trabalho.

Sem ser solicitado, três grupos relataram nas histórias em quadrinhos o que mais gostaram de fazer individualmente, com este relato foi possível perceber que há diferentes preferências, que vão desde o preparo das mudas até o preparo dos slides (Tabela 1). Demonstrando que cada pessoa tem um potencial a desenvolver, e o educador tem papel primordial neste desenvolvimento (Oliveira 2010).

É interessante salientar que a atividade de construção das histórias em quadrinhos foi muito mais do que uma forma avaliativa, ela ofereceu uma oportunidade para o desenvolvimento da criatividade inerente a todas as pessoas, não só a individual, mas a de equipe. Tornando possível também a construção de um conhecimento mais amplo e rico, englobando o espaço como fator diferenciado no processo da aprendizagem (Scremin e Junqueira 2012). Porém, esta capacidade está sendo pouco estimulada no contexto educacional, muitas vezes pela quantidade de conteúdos exigidos no currículo e os procedimentos que não promovem autonomia de pensar e agir, apesar da escola ser o lugar ideal para potencializar a criatividade dos estudantes (Oliveira 2010).

Tabela 1. Preferência de atividades desenvolvidas nos três primeiros encontros da Colônia de férias ecológica pelas crianças e adolescentes atendidos.

Atividades que os estudantes mais gostaram de fazer

Quantidade

%

Plantar mudas

4

19,0

Tirar fotos

4

19,0

Comer Araçá

3

14,3

Fazer balainho

3

14,3

Lixar as sementes

2

9,5

Preparar o substrato

2

9,5

Saber sobre a importância das árvores

1

4,7

Preparar slides

1

4,7

Tudo

1

4,7

Total

21


Fonte: Elaborado pelos autores.

A trilha realizada no antigo zoológico despertou interesse e curiosidade dos participantes, que se mostraram atentos durante todo o percurso. Além de poder apresentar informações curiosas sobre as espécies nativas da área, o ambiente foi propício para discussões acerca da importância das espécies para a manutenção de outros tipos de vidas, e os motivos pelo qual a área apesar de bem arborizada não ter capacidade física para a manutenção de um zoológico. Durante a trilha os visitantes foram ainda surpreendidos pela presença de macacos que vivem na área (Figura 2).

Figura 2. Alguns estudantes durante a trilha no antigo Zoológico. Ivinhema -MS, 2012.

Fonte: Fernanda Soares Junglos.

Acredita-se que neste curto espaço de tempo as possibilidades de aprendizagem significativa sejam prejudicadas, mesmo assim este tipo de atividade lúdica na Educação ambiental é eficaz, pois desperta a curiosidade, essa característica espontânea da criança, manifestada pelo comportamento de busca e de descoberta, pode se transformar em curiosidade epistemológica. E é justamente o diálogo entre educando e educador, que deve estar presente nas situações de aprendizagem, que permite esta transformação (Saul e Silva 2011) podendo motivar a participação e colaboração dos jovens em atividades posteriores a trilha.

Para o pedagogo Celéstin Freinet, que a partir de sua observação desenvolveu práticas educativas para que ocorresse uma melhora na aprendizagem dos alunos, as crianças devem fazer descobertas interessantes a partir de suas próprias vivências, envolvendo o espaço como incentivador da aprendizagem (Scremin e Junqueira 2012).

O resultado da oficina de desenho com folhas foi surpreendente, as crianças não ficaram presas aos modelos pré-definidos e criaram lindas figuras (Figura 3), mostrando que mesmo os tutores apresentando exemplos, foram criadas condições motivadoras e facilitadoras que encorajaram o trabalho criativo e a elaboração de produtos originais.

Figura 3. Algumas das figuras elaboradas pelos participantes durante a oficina de desenho com folhas. Ivinhema –MS, 2012.

Fonte: Fernanda Soares Junglos.

A partir do momento que o profissional da educação passa ser facilitador do processo criativo de seus alunos ele pode contribuir com a viabilização do desenvolvimento sustentável, já que é preciso ter ideias criativas para alcançar crescimento sem agressão ao planeta (Oliveira 2010). E essa é uma estratégia da Educação ambiental crítica, transformadora e emancipatória, pois procura formar sujeitos pensantes e superar a alienação proposta pela sociedade capitalista que valoriza formas de reprodução de conhecimento (Pagel 2008).

Durante o encerramento a maior parte do encontro foi destinada a brincadeiras livres e os participantes pareciam entusiasmados (Figura 4). Silva (2008) ressalta que o lazer é um direito social da criança e em colônias de férias temáticas é preciso valorizar a produção cultural lúdica delas, garantindo a participação no lazer de forma autônoma e emancipada.

Ao final, durante a roda de discussão sobre a contribuição da vegetação as crianças e adolescentes relataram que foi prazeroso participar das atividades propostas e concluíram que a qualidade do passeio foi proporcionada pela diversidade de espécies vegetais presentes no ambiente e a sombra que elas disponibilizam.

O lazer é uma das dimensões da vida humana que permite uma reflexão profunda sobre si mesmo, bem como sua relação com o meio em que habita. Assim, o ser humano consegue perceber o ambiente a sua volta de outra perspectiva e abrem-se novas possibilidades de reflexão sobre seu próprio viver (Tahara et al. 2006).

Figura 4. Passeio recreativo durante o encerramento das atividades da colônia de férias. Ivinhema, 2012.

Fonte: Fernanda Soares Junglos.



Apesar de o senso comum desvalorizar o lazer, a sua prática é inerente ao ser humano e trata-se de um direito conquistado. Assim, o desenvolvimento de projetos de colônias de férias pode ser uma alternativa de ensinar/aprender a usufruir um tempo de lazer criado, conduzido, inventado, imaginado, fruto do próprio sujeito, de forma espontânea, em detrimento a uma necessidade imposta de consumi-lo como mercadoria (Werle et al. 2010).

De uma forma geral, os participantes mostraram-se sempre interessados nas propostas apresentadas e foi possível perceber que a realização de atividades ao ar livre, eliminando-se as barreiras físicas inerentes ao ambiente escolar e demais espaços formais, favoreceu a interação e o processo de comunicação entre eles e com os educadores. Estes resultados corroboram os relatos de Souza e Silva (2013), mostrando que atividades em espaços não formais contribuem para uma ampla participação e interação entre os sujeitos no ensino aprendizagem.

Conforme também constatado por Santos et al. (2011), houve uma “identificação do sentido de pertinência em relação ao próprio grupo de trabalho de forma cooperativa, integradora e inclusiva”, além da possibilidade de que cada um se sentisse parte importante do ambiente natural e bastante responsável pela sua conservação/recuperação.

Os resultados favoráveis quanto à compreensão mais eficiente dos conhecimentos disponibilizados também concordam com as reflexões apresentadas por Oliveira e Gastal (2000), segundo os quais, o uso de ambientes não formais reduziria as exigências de abstração do aprendiz porque possibilitaria a contextualização e associação de conceitos e conhecimentos já aprendidos com as informações novas, do ambiente.

Apesar destes aspectos positivos atribuídos aos trabalhos de campo e às excursões, raramente os professores realizam estas atividades, havendo ainda o risco destas atividades superestimarem o potencial de lazer e entretenimento, ficando com pouco ou nenhum propósito ligado a aprendizados científicos e tecnológicos (Oliveira e Gastal 2000).

Este problema não prevaleceu durante as ações realizadas e acredita-se que tenha contribuído para a formação de multiplicadores e de cidadãos conscientes e responsáveis, engajados para a formação de uma sociedade realmente democrática, conforme preconizam Reis et al. (2012), especialmente quanto a educação ambiental.

Duarte et al. (2014) discutem que projetos desta natureza para o público-alvo infantil, oportuniza a vivência de diferentes conteúdos lúdicos; acesso ao conhecimento produzido no âmbito da Universidade e interações interpessoais. Estes autores discutem ainda que projetos de Colônia de Férias quando organizadas pelas universidades, como é o caso do presente trabalho, oportuniza aos acadêmicos participantes do processo de organização a articulação entre teoria e prática; pesquisa, ensino e extensão; além de desenvolver um processo educativo coletivo, articulado com a vida social.

O diálogo entre teoria e prática vai além da obtenção de bons resultados, constituindo num momento propício de diálogo entre os diferentes níveis de gestão, acarretando maior integração entre os mesmos (Almeida e Silva 2012), o processo coletivo contribui de forma significativa para a qualificação profissional e o fato de todos os organizadores terem conhecimento das atividades e dos pressupostos teóricos estabelecidos para as mesmas favorece a construção de sentidos e significados por todos os sujeitos envolvidos, na medida em que a troca de experiências permite a (re) apropriação das brincadeiras, dos espaços e das vivências culturais programadas (Silva et al. 2012).

Apesar das atividades desenvolvidas apresentarem amplos benefícios para a educação ambiental e a formação acadêmica, existem muitos fatores que dificultam a implantação desta sequência didática no espaço formal, tais como: a atual organização do trabalho didático, onde o professor tem uma carga horária de trabalho excessiva, e poucas aulas destinadas ao planejamento de suas atividades; a dificuldade de trabalhar de forma transversal em conjunto com outros profissionais da educação devido a permanência da organização do currículo de forma disciplinar, que conserva e privilegia a fragmentação das áreas; além da superlotação das salas de aulas.

Além destas dificuldades apontadas para a inserção da educação ambiental na escola formal, professores destacam também: Poucos momentos pedagógicos; acúmulo de conteúdo curricular; preocupação em preparar os alunos para avaliações externas e o déficit na formação docente para a pesquisa. De forma geral, observa-se que a inserção da educação ambiental na escola revela-se um processo moroso, que precisa de motivação para uma participação mais ativa e política diante dos problemas ambientais que envolvem a comunidade local (Couto et al., 2017).

Mesmo com as dificuldades apontadas, professores reconhecem a importância da educação ambiental e sua avaliação, afinal a avaliação das ações favorece a obtenção de informações para a criação de estratégias que superem limitações identificadas no processo de ensino-aprendizagem, no entanto, resultados indicam que o trabalho avaliativo é, predominantemente, desenvolvido com baixo grau de planejamento (Aguiar e Farias 2017).

Em Ivinhema, trabalhos anteriores constam que existe uma carência significativa do uso de atividades práticas de educação ambiental em sala de aula, verificou-se ainda que os professores identificaram apenas problemas ambientais mais comentados de forma global (lixo e queimadas), questões regionais, mas que não são “visíveis”, não foram mencionadas, além destes aspectos os professores reconheceram a educação ambiental como um tema importante, mas não como tema transversal, sendo comum atribuir apenas ao professor de Ciências a responsabilidade de dar mais ênfase ao tema (Tavares et al. 2014).

Assim, para que fosse possível realizar este trabalho diferenciado e produtivo contamos com um grupo grande de educadores envolvidos de diferentes áreas do conhecimento (Acadêmicos e docentes de Biologia, Horticultura, Educação Física, Pedagogia e Letras), planejamento antecipado com reuniões antes e depois de cada atividade e apoio institucional que vai além da cedência de espaço físico e materiais didáticos, mas participação efetiva nas discussões e preparação das atividades, perspectivas estas que se diferenciam da abordagem clássica disciplinar de conteúdos descontextualizados que ainda está impregnada nos “moldes” da educação formal.



Conclusão



Evidenciou-se que, mesmo as atividades propostas possuindo cunho educativo, os objetivos foram alcançados de forma divertida e interessante, pois, através do lúdico, chamou-se a atenção das crianças para questões de caráter ambiental, contribuindo com o desenvolvimento criativo, crítico e responsável dos estudantes, perante o ambiente em que se inserem.



Agradecimentos



Aos integrantes do grupo PET Verde Legal da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) e ao Projeto Sagrado Coração e seus funcionários pela colaboração na execução das atividades.



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Ilustrações: Silvana Santos