Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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11/06/2019 (Nº 68) PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL DE CURITIBA/PARANÁ: UM DESAFIO NO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS PRODUZIDOS
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PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLAS DE TEMPO INTEGRAL DE CURITIBA/PARANÁ: UM DESAFIO NO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS PRODUZIDOS



Marcia Regina Rodrigues da Silva Zago1, Susimara Gomes de Oliveira2, Nívia Gomes Nascimento de Oliveira3, Lígia Marcelino Krelling4, Daniele Maria Borges5, Ana Aparecida Souza dos Santos6, Maclovia Corrêa da Silva7, Eloy Fassi Casagrande Junior8, Alexandre Hüller9



Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Mestra em Educação em Ciências e Matemática (PPGECM) marciazagoz@gmail.com

2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) susimara.go@gmail.com

3Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) niveagomes@ufpi.edu.br

4 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade (PPGTE) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) ligiak.supremo@gmail.com

5 Mestranda do Programa de Pós- Graduação em Formação Cientifica Educacional e Tecnológica (PPGFCET) Universidade Tecnológica do Paraná danielebraives@gmail.com

6 Professora da Rede Estadual do Paraná - Pedagoga – Especialista em Psicopedagogia- Educação Especial com especificidade em Altas Habilidades anaapsantos@hotmail.com

7 Ph.D. em Educação Ambiental e Patrimonial e em Política Científica e Tecnológica. Professora da UTFPR. e-mail: macloviasilva@utfpr.edu.br

8 Ph.D. Engenharia de Recursos Minerais e Meio Ambiente. Professor da UTFPR. e-mail: eloycasagrande@gmail.com

9 Biólogo, Mestre em Ciências, Analista Ambiental da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul. e-mail: alexandre-huller@sema.rs.gov.br



Resumo:

As práticas de Educação Ambiental, por meio da gestão do gerenciamento e tratamento de resíduos, no âmbito escolar, podem possibilitar estratégias de aprendizagem significativas no processo de sensibilização da educação formal. Nesse sentido, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar a relevância da integração dos conteúdos relacionados às disciplinas constantes no currículo e os conteúdos pertinentes à Educação Ambiental das Escolas de Ensino Fundamental do Município de Curitiba/PR. A pesquisa justifica-se pela importância em trabalhar os assuntos relacionados à Educação Ambiental de forma interdisciplinar e transversal nas escolas, buscando uma melhor conscientização relacionada a questões ambientais da comunidade escolar. Esta pesquisa foi desenvolvida por meio de uma Pesquisa-ação de natureza aplicada, sendo que a obtenção do referencial teórico do estudo deu-se com dados de pesquisas bibliográficas realizadas entre o período de maio de 2018 a fevereiro de 2019. As práticas de gerenciamento de resíduos foram realizadas em seis Escolas Municipais de Tempo Integral de Ensino Fundamental do Município de Curitiba/PR, sendo realizadas em cada escola, três campanhas de coletas de alguns resíduos selecionados nas datas de 20, 21 e 26 de junho de 2018. Verificou-se que, de um modo em geral, há pouca reflexão acerca do desperdício de materiais nos ambientes escolares, especialmente com relação aos grandes volumes de resíduos orgânicos gerados. Dessa forma, a implantação de composteiras pode minimizar uma parte destes impactos na natureza. Por meio deste estudo foi possível perceber que ainda existe carência de informação a respeito das consequências dos resíduos descartados na natureza e sobre a importância da minimização da geração destes resíduos, bem como sua reciclagem e aproveitamento.

Palavras chaves: Resíduos; Escolar; Educação Ambiental.



Abstract:

The Environmental Education practices, through the management of waste management and treatment, in the school environment, can make possible meaningful learning strategies in the process of sensitization of formal education. In this sense, the objective of the present research was to evaluate the relevance of the integration of the contents related to the disciplines contained in the curriculum and the contents pertinent to the Environmental Education of the Elementary Schools of the Municipality of Curitiba / PR. The research is justified by the importance of working on issues related to Environmental Education in an interdisciplinary and transversal way in schools, seeking a better awareness related to environmental issues of the school community. This research was developed through an action research of an applied nature, and the theoretical reference of the study was obtained with data from bibliographic research carried out between May 2018 and February 2019. The management practices of were carried out in six Municipal Schools of Elementary School in the Municipality of Curitiba, Paraná, and three campaigns were carried out in each school to collect selected residues on the dates of June 20, 21 and 26, 2018. It was verified that, in general, there is little reflection on the waste of materials in school settings, especially in relation to the large volumes of organic waste generated. In this way, the implantation of composts can minimize a part of these impacts in nature. Through this study it was possible to perceive that there is still a lack of information about the consequences of waste disposed of in nature and about the importance of minimizing the generation of this waste, as well as its recycling and recovery.

Keywords: Waste; School; Environmental education.





1 INTRODUÇÃO



As práticas de Educação Ambiental, por meio do gerenciamento da gestão e tratamento de resíduos, no âmbito escolar, podem possibilitar estratégias de aprendizagem significativa no processo de sensibilização da educação formal. Segundo a UNESCO (2005, p. 44), “Educação Ambiental é uma disciplina bem estabelecida que enfatiza a relação do ser humano com o ambiente natural, as formas de conservá-lo, preservá-lo e de administrar seus recursos adequadamente”.

Nesse sentido, a Política Nacional do Meio Ambiente está em consonância com a Política Nacional de Recursos Sólidos - PNRS (BRASIL, 2010), possibilitando que as atividades de ensino aprendizagem estejam imbricadas às questões de Educação Ambiental (EA), com propósitos de reflexão. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (1998, p. 181), observa-se que:



A preocupação em relacionar a educação com a vida do aluno – em seu meio, sua comunidade – não é novidade. Ela vem crescendo especialmente desde a década de 60 no Brasil. (...) Porém, a partir da década de 70, com o crescimento dos movimentos ambientalistas, passou-se a adotar explicitamente a expressão “Educação Ambiental‟ para qualificar iniciativas de universidades, escolas, instituições governamentais e não governamentais por meio das quais se busca conscientizar setores da sociedade para as questões ambientais. Um importante passo foi dado com a Constituição de 1988, quando a Educação Ambiental se tornou exigência a ser garantida pelos governos federal, estaduais e municipais (artigo 225, § 1º, VI).



Para tanto, as mudanças de hábitos constituem-se no desenvolvimento de atitudes mais conscientes dos diferentes atores do contexto escolar, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente. Essa prática vem delineando aspectos mais sustentáveis de cunho social, econômico e ambiental, ou seja, traçando caminhos para uma sociedade justa e equânime para as gerações futuras.

Diante destes aspectos que envolvem o desenvolvimento voltado para a sustentabilidade, não somente da sociedade, mas também dos recursos naturais e do ambiente, foram propostas as políticas públicas que buscam orientar a sociedade, estabelecendo-se assim, planos de ação. Uma destas políticas é a Lei nº. 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (2012), a qual aborda a problemática dos diversos tipos de resíduos gerados. Este plano sugere alternativas para a implementação de gestão e gerenciamento, estratégias, metas e diretrizes, de modo a incorporar ações de Educação Ambiental e de comunicação social com a finalidade de envolver toda a sociedade brasileira.

Para as Escolas Municipais de Educação de Tempo Integral (CEI) no Município de Curitiba, estes conteúdos estão vinculados ao princípio “Educação para o Desenvolvimento Sustentável”, regidos pelas Diretrizes Curriculares Municipais de Curitiba, e em sintonia com as normas previstas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (CURITIBA, 2012, p. 77).

De acordo com Curitiba (2016, p. 9) a “Educação de Tempo Integral compreende a ampliação do tempo de permanência dos estudantes na escola, com a realização de práticas educativas que possam favorecer sua aprendizagem, bem como desenvolver as competências inerentes ao exercício da cidadania”.

Nesta lógica, a pesquisa que norteou o presente estudo procurou contemplar uma integração dos conteúdos relacionados às disciplinas constantes no currículo das Escolas de Ensino Fundamental do Município de Curitiba/PR, de forma a proporcionar que os (as) estudantes experienciassem os conteúdos pertinentes à Educação Ambiental, por meio da interação em atividades práticas nas oficinas de separação de resíduos, bem como na integração dos diferentes atores do grupo de vivência.

O objetivo do presente trabalho, portanto, foi avaliar a importância da integração dos conteúdos relacionados às disciplinas constantes no currículo e os conteúdos pertinentes à Educação Ambiental das Escolas de Ensino Fundamental do Município de Curitiba/PR.

A pesquisa justifica-se pela importância em trabalhar os assuntos sobre o gerenciamento de resíduos voltados ao tema ciclo do alimento com à Educação Ambiental de forma interdisciplinar e transversal nas escolas, buscando uma melhor conscientização ambiental de toda a comunidade escolar.

Nesse sentido, a pesquisa previu uma análise quantitativa e qualitativa dos resíduos produzidos como: orgânicos não cozidos, descartáveis, guardanapos e aparas de lápis, o que demonstrou, o descarte incorreto, sem critério estabelecido para a separação em todo o território escolar. Propomos com a atividade ´proposta sugestões de ações que viessem reverter, não somente o desperdício, mas reaproveitamento e reciclagem. Com isso, esperou-se integrar conteúdos dos diferentes componentes curriculares no tema ciclo do alimento na natureza, tornando o ensino aprendizagem interdisciplinar, transversal e com significação para EA. Com isso, pretende-se também despertar a conscientização dos estudantes sobre a importância de ações de separação de resíduos diariamente, que possam melhorar a qualidade territorial ambiental, em sua totalidade e com geração de menos resíduos, minimizando-se, desta maneira, o consumo sem limite de vários artefatos como também o desperdício de alimentos.



2. METODOLOGIA



Esta pesquisa foi desenvolvida por meio de uma Pesquisa-ação de natureza aplicada, tendo em vista a resolução de problemas no campo de vivência dos pesquisadores (GIL, 2017, p. 25). A Pesquisa-ação, partindo de uma situação/problema da realidade, visa a resultados práticos, a fim de contribuir tanto para o desenvolvimento como para a mudança no contexto em que é inserida. (GIL, 2017, p. 38). Nesse sentido, a obtenção do referencial teórico do estudo deu-se por meio de pesquisa bibliográfica.

Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem por objetivo proporcionar respostas aos problemas propostos (HÜLLER; HÜLLER; FORIGO, 2017). “[...] A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então, quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema” (GIL, 2017, p.1).

A constituição dos dados e o estudo de caso delinearam a pesquisa exploratória. Para a avaliação quali-quantitativa dos resíduos, participaram os pesquisadores, funcionários, educadores e estudantes das unidades escolares convidadas para a pesquisa, sendo os atores, os envolvidos diretamente com a segregação e pesagem dos resíduos produzidos.

Como instrumento para a constituição dos dados para esta pesquisa, utilizou-se a apresentação, pelos pesquisadores, sobre a proposta de implementação e decidiu-se em consenso, entre os participantes, quais resíduos seriam separados e pesados. Estabeleceu-se ainda que as escolas participantes se organizariam em relação à escolha do período do dia em que realizariam a atividade. Optou-se por realizar três campanhas de: coletas, separação e pesagens, nas datas de 20, 21 e 26 de junho de 2018.

Em todas as unidades escolares foram explanados os procedimentos de pesquisa e a forma de divulgação dos resultados, e estas decidiram, a convite e voluntariamente, pela participação na pesquisa. Para tanto, foi assinando um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido no qual se garantiu os anonimatos, assim como a instituição em que trabalham. Diante do exposto, as escolas foram identificadas com as iniciais A, B, C, D, E e F, todas pertencentes à Rede Municipal de Ensino de Curitiba/ Pr. O estudo foi desenvolvido no período de junho de 2018 a fevereiro de 2019.



3. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR



Em agosto de 2015 foram concluídas as negociações da Agenda 2030, um conjunto de diretrizes que orientam o dia a dia da Organização das Nações Unidas e seus países signatários. O documento propõe 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), Apelo universal da Organização das Nações Unidas à ação para acabar com a pobreza, proteger o planeta e assegurar que todas as pessoas tenham paz e prosperidade e 169 metas correspondentes, com implementação prevista até 2030. Em vista disso, no dia 31 de outubro de 2017 foi assinada a adesão do município de Curitiba-PR ao movimento nacional ODS (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS, 2017).

De um modo em geral, a Educação Ambiental no Brasil deve ser atrelada ao conceito de desenvolvimento sustentável, prevendo ações que convirjam para a preservação e recuperação da qualidade ambiental, favorecendo a vida e assegurando ao país o desenvolvimento socioeconômico, os interesses da segurança nacional e a proteção da dignidade da vida humana (DAHLEM; BRAGA, 2009; RODRIGUES et al., 2018).

Ainda, a Educação Ambiental é extremamente importante para que os educadores desenvolvam nas escolas, projetos direcionados ao meio ambiente, pois, além de possibilitar ao estudante a participação e envolvimento nos temas inerentes ao meio, contribui para que mudanças de atitudes ocorram, estimulando a cidadania por intermédio da participação social. A Educação Ambiental apresenta ainda caminhos para que os (as) discentes adquiram uma postura mais consciente, crítica e reflexiva com relação aos problemas ambientais enfrentados (FERREIRA; WODEWOTZI, 2007; RODRIGUES et al., 2018).

Nesse sentido, as ciências e a Educação Ambiental relacionam-se diretamente com o equilíbrio do meio ambiente, possibilitando ao alunado a constituição do sentimento relativo à ética, a partir de uma educação crítica, num cenário real vivenciado por todos em que os cálculos realizados auxiliem no diagnóstico e resolução de problemas que envolvam o bem-estar e a qualidade de vida (SILVA; GROENWALD, 2012; RODRIGUES et al., 2018).

Torna-se coerente que os assuntos e/ou temáticas relacionados à sustentabilidade ambiental devam ser abordados de forma transdisciplinar e sempre que possível, colocando os (as) estudantes como atores no cenário em que estão inseridos (RODRIGUES et al., 2018).

No âmbito da educação formal, as orientações não foram delineadas por meio de planos, mas sim, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1998), os quais fortalecem a importância de abordar a EA como estratégia para transformar e conscientizar os indivíduos em relação à problemática ambiental.

Portanto, nesta análise de pesquisa educacional, o gerenciamento de resíduos no âmbito do território escolar, tem a intenção de articular a integração curricular com práticas, estimulando questões da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade (TRISTÃO, 2004). Desse modo, estimulam-se os diferentes atores do território escolar, a mudanças de comportamentos.

Destaca-se ainda, o desafio de tornar as atitudes mais reflexivas e atuantes, e por consequência, colaborativas de responsabilidade, de cuidado com o comprometimento na construção do processo, implicando na proteção dos recursos naturais às gerações futuras. O gerenciamento de resíduos produzidos em espaços escolares é essencialmente necessário.

Nesse sentido, a escola precisa organizar seu espaço e delinear diretrizes que focalizem a Educação Ambiental. Faz-se necessário, por todos os atores do espaço, conhecer seus resíduos produzidos e a complexidade que os envolve, bem como os desafios do Meio ambiente, emergentes em todas as esferas. Para a classificação dos tipos de resíduos a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) trata da seguinte forma:

(...) resíduos nos estados sólidos e semissólidos, que resultam de atividades de origem industrial doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles instalados em equipamentos e instalação de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (NBR 10004, 2004, p. 211).

Em uma concepção de transversalidade, conforme sugerida pelos PCN como uma das estratégias da EA, insere-se o conceito da interdisciplinaridade e alinhavam-se questões socioambientais nos conteúdos curriculares apresentados nas disciplinas, o que permitiu o desenvolvimento desta atividade nos espaços escolares.

Sendo assim, apresenta-se a experiência da aplicação da Educação Ambiental interdisciplinar de Escolas Municipais de Tempo Integral de Curitiba-PR.

3.1 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL INTERDISCIPLINAR DE ESCOLAS MUNICIPAIS DE TEMPO INTEGRAL DE CURITIBA-PR



Os conteúdos correlatos ao Ensino de Ciências Naturais, no currículo do Ensino Fundamental do Município de Curitiba, estão dispostos em quatro (4) eixos principais norteadores de ensino: Vida e Ambiente; Ser Humano e Saúde; Matéria e Energia e; Terra e Universo. Neste contexto, os eixos estão inter-relacionados e articulam os conhecimentos das diferentes Ciências que constituem esse componente curricular, para que, a partir de seus desdobramentos, seja garantida a abordagem dos objetos de estudo desta área em sua complexidade (CURITIBA, 2016).

O eixo Vida e Ambiente apresenta os conteúdos referentes aos ecossistemas terrestres. Neste, são apresentados os seguintes conteúdos:

Referentes à biodiversidade, à origem e evolução dos seres vivos e à dinâmica da natureza em espaços e tempos diversos. Aborda, também, os critérios adotados pela Ciência para classificação e agrupamento dos seres vivos, utilizando, para isso, a análise de caracteres morfofisiológicos sob o ponto de vista evolutivo. Considera, ainda, o conhecimento do conjunto das relações entre os seres vivos, os ambientes e suas substâncias, de forma a requerer a frequente construção e reconstrução de conceitos, métodos e comportamentos, envolvendo questões contemporâneas, como a utilização de recursos naturais, impactos ambientais, sustentabilidade, transformações, manutenção, conservação dos ambientes e da diversidade de vida que os constitui (CURITIBA, 2016, p. 6).

No currículo do Ensino Fundamental do Município de Curitiba, os conteúdos de meio ambiente devem ser abordados de maneira interdisciplinar e transversal, ficando a critério de cada professor (a) a forma e tipos de atividades ligadas à área de Educação Ambiental a serem inseridas em suas respectivas disciplinas (CURITIBA, 2016).

Consoante com os pressupostos teóricos do autor Jacobi (2009)

A preocupação em consolidar uma dinâmica de ensino e pesquisa a partir de uma perspectiva interdisciplinar enfatiza a importância dos processos sociais que determinam as formas de apropriação da natureza e suas transformações por meio da participação social na gestão dos recursos ambientais, levando em conta a dimensão evolutiva no sentido mais amplo, incluindo as conexões entre as diversidades biológicas e cultural, as práticas dos diversos atores sociais e o impacto da sua relação com o meio ambiente.

Nestes casos, os conteúdos de Educação Ambiental são abordados de forma interdisciplinar, isto é, todas as disciplinas têm responsabilidade para a sua efetivação, cabendo aos(as) professores(as) dosar o momento certo e os temas que serão inseridos em seus conteúdos específicos (RODRIGUES et al., 2018).

Nesse sentido, os objetivos da Educação Ambiental, tanto para o Ciclo I quanto para o Ciclo II das escolas municipais de tempo integral, estão ligados ao princípio “Educação para o Desenvolvimento Sustentável”, contido nas Diretrizes Curriculares Municipais de Curitiba, e em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais (CURITIBA, 2012, p. 77; RODRIGUES et al., 2018, p. 1).

Como a educação integral permite a adequação do tempo aos conteúdos trabalhados, possibilita um trabalho mais aprofundado com a Educação Ambiental. Isso permite ao professor (a) explorar o histórico, a vivência e as técnicas de adequação dos diversos conteúdos relacionados interdisciplinarmente, e a construção de atividades alternativas, visando a oportunidade de aquisição de novos hábitos e reflexões sobre a tomada de decisão de cada cidadão na sua prática de vida cotidiana. (CURITIBA, 2012, p. 77; RODRIGUES et al., 2018, p. 1).

Portanto, com base nos Parâmetros Curriculares, abordam-se os respectivos temas relacionados à Educação Ambiental e ao meio ambiente, tais como a questão que envolve a problemática da geração de resíduos em ambiente escolar, objeto deste estudo.

4. GERAÇÃO DE RESÍDUOS EM AMBIENTE ESCOLAR



A questão dos resíduos devem necessariamente constituir os conteúdos curriculares das escolas brasileiras, em diferentes disciplinas, de forma a construir uma consciência mais ecológica nos estudantes. Neste cenário, os conteúdos referentes a sua geração, seu destino, sua ação danosa, sua redução e até mesmo a sua não geração (MELO; KONRATH, 2010).

Para isso, é preciso que os estudantes sejam instigados a pensar e dialogar sobre o assunto, especialmente por se tratar de um tema atual, importante para o meio ambiente e à sociedade em geral (PIACITELLI; BIAGOLINI, 2015).

Espera-se que a escola seja realmente um local de aprendizado e construção de conhecimento, assim não é diferente quanto às questões que envolvem o meio ambiente e sustentabilidade (FADINI; FADINI, 2001). Porém, observa-se em muitas escolas certo descuido sobre o tema da geração de resíduos, o que se comprova pela falta de coletores seletivos de resíduos, lixos descartados em locais inapropriados e procedimentos não condizentes com esta premissa ambiental (MELO; KONRATH, 2010).

O desperdício de materiais também deve ser levado em consideração nos ambientes escolares, especialmente com relação aos grandes volumes de resíduos de papel, e muitos com impressão de tinta, jogados fora todos os dias nas escolas. Dessa forma, o uso de material digital ao invés do papel impresso tem ganho adeptos a cada dia que passa (PIACITELLI; BIAGOLINI, 2015).

Com relação aos resíduos orgânicos as escolas geram, com certeza, grandes volumes diários e, na maioria das vezes, além de ocorrer desperdícios, são literalmente descartados em lugares não apropriados (QUERINO; PEREIRA, 2016). Com este potencial de produção de resíduos, urge a adoção de medidas a fim de viabilizar o seu reaproveitamento, em grande parte, na própria escola, o que se torna um desafio.

Nesse sentido, a união destas duas alternativas (horta escolar + composteira) apresenta-se como uma alternativa interessante para a destinação mais consciente e correta dos resíduos sólidos orgânicos gerados nas escolas, além de proporcionar um aprendizado a ser levado para fora dos muros das escolas, de forma a difundir a proposta nos domicílios dos estudantes e adoção da prática pelos familiares e comunidade.



4.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES SOBRE A GERAÇÃO DE RESÍDUOS EM ESCOLAS MUNICIPAIS DE TEMPO INTEGRAL DE CURITIBA-PR

De um modo em geral, apesar da ciência da importância desse assunto para as escolas, para o ambiente e para os alunos, ainda o investimento tecnológico para estes recursos nas escolas brasileiras revela-se baixo Muitas escolas, sejam públicas ou privadas, ainda resistem em implementar novos sistemas de ensino mais sustentáveis, mesmo cientes de que haveria ganhos com a implementação destas soluções ambientais nos espaços escolares. (PIACITELLI; BIAGOLINI, 2015).

Nesse sentido, com a realização do presente estudo foi possível verificar as quantidades médias de geração de resíduos nestas seis Escolas Municipais de Tempo Integral que participaram do estudo.

A pesquisa foi realizada em seis Escolas Municipais de Tempo Integral, denominadas de Escolas A, B, C, D, E, F com a finalidade de preservar suas identificações. Foram realizadas três campanhas de coletas nas datas de 20, 21 e 26 de junho de 2018.

Na figura 1 apresentam-se os dados referentes à geração de resíduos totais por escola.

Figura 1: Geração de resíduos por escola selecionada.

Fonte: Autoria própria (2019).



Conforme revela o gráfico acima, as escolas com menos geração de resíduos foram as escolas E e D, respectivamente, nas três coletas. Já a escola A apresentou significativo aumento na coleta do dia 20/06, dado que pode ser verificado na análise estratificada (figura 2), seguida pelas escolas C e B, na coleta de 26/06.

Na figura 2 apresentam-se os dados referentes à geração de resíduos totais por escola.



Figura 2: Geração de resíduos por escola selecionada estratificada por dia de coleta.

Fonte: Autoria própria (2019).



Na figura 3 apresentam-se os dados referentes à geração de resíduos em média, por estudante, das respectivas escolas selecionadas para o presente estudo.

Neste caso, verifica-se que da mesma forma, os estudantes da escola A foram os que mais geraram resíduos na coleta do dia 20/06, e ainda, nas outras duas coletas apresentaram valores maiores em comparação com as demais escolas.

Figura 3: Geração de resíduos por estudante.

Fonte: Autoria própria (2019).



Da mesma forma, constata-se que as escolas com menos geração de resíduos foram as escolas E, D e F. Ressalta-se ainda que, na coleta realizada na data de 26/06 na escola F não houve registro de geração.

Na figura 4 apresenta-se uma tabela com a estratificação dos resíduos gerados em cada escola e data.

Figura 4: Estratificação dos resíduos gerados em cada escola e data.

Fonte: Autoria própria (2019).



De modo geral, os dados revelam que a geração de resíduos é considerada alta na maioria das escolas. Pode-se afirmar ainda que, grande parte dos resíduos coletados possui potencial de reciclagem, ou de decomposição em composteiras para posterior utilização como adubo orgânico, nas hortas das respectivas escolas. A instalação de composteiras concretiza, para o estudante, como acontece o ciclo do alimento na natureza.



5. CONSIDERAÇÕES FINAIS



A pesquisa discutiu as implicações que perpassam e matizam o desperdício de materiais e como é possível reaproveitar os resíduos orgânicos em espaços escolares. Assume-se que pouco se tem discutido nos ambientes escolares, o gerenciamento de resíduos, especialmente com relação ao grande volume de resíduos gerados nestes espaços e o que fazer com eles.

Foi possível perceber também que existe uma carência de informações relacionada às consequências do descarte incorreto na natureza, bem como da importância em se diminuir o consumo para gerar menos resíduos. Há que se discutir e implementar ações que envolvam sua reciclagem e aproveitamento, por meio da EA, com foco na interdisciplinaridade e transversalidade acerca de como acontece o ciclo do alimento na natureza. A não compreensão sobre o gerenciamento dos resíduos produzidos pode ser um dos fatores que venham a impactar negativamente no processo de sustentabilidade concernente ao ambiente escolar.

O estudo revelou a importância de práticas diárias e de continuidade, em que a escola atue como difusora de conhecimento, com intuito de formar um cidadão crítico, atuante quanto a sua responsabilidade ambiental, preocupado coletivamente com questões sociais, econômicas e ambientais, além de pensar o problema como algo a ser resolvido em longo prazo, por meio da conscientização e do incentivo ao descarte e tratamento correto de resíduos.

Por fim, de acordo com miríade de perspectivas e com a complexidade e importância deste tema, especialmente por tratar da preservação ambiental em espaços escolares, sugere-se a continuidade e aprofundamento dos estudos nesta área.



AGRADECIMENTOS



Esta pesquisa foi realizada com apoio da Capes.



REFERÊNCIAS

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Ilustrações: Silvana Santos