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EDITORIAL "Se
quero chegar a um lugar que não conheço, tenho que percorrer caminhos que também
desconheço" - São João
da Cruz Tenho
refletido muito nos últimos dias sobre esta frase em relação a várias situações,
contextos, pois sempre nos deparamos, em alguma fase de nossas vidas com
percursos e lugares desconhecidos. Não
conhecer o caminho envolve uma insuficiência ou até mesmo a ausência total de
referenciais sobre os possíveis trajetos. Ainda pode significar, a tomada de
rumos equivocados, mas considerados como certezas... Nestes casos, é preciso
termos a humildade de corrigir a rota, caso contrário, ficaremos perdidos e
confusos. Para muitos,
conhecer um caminho já existente, é uma simples questão de munir-se de um
mapa, de uma bússola, de um GPS, enfim, de conhecer coordenadas e meridianos,
latitudes e longitudes... Simples?!
Nem tanto... Por mais
conhecido que seja, por mais trilhado que já tenha sido, os caminhos sempre
podem apresentar surpresas agradáveis ou não, e até mesmo acidentes de
percurso... Além do mais, um mapa não basta porque nestas cartas geralmente se
representam apenas o que os olhos podem ver claramente, mas não as leituras
necessárias para a sobrevivência, indicando os pontos e lugares essenciais [e
aqui lembro do antigo aviador, Saint-Exupèry, comentando os mapas da aviação
de sua época, tão falhos em suas indicações desnecessárias, mas
consideradas importantes pelas convenções cartográficas. Onde estariam os
mapas que sinalizariam os perigos reais e os refúgios diante de um desastre?] Assim, não
bastam os referenciais visíveis e tangíveis no caminho para que possamos saber
realmente onde estamos e para onde vamos. É preciso também conhecer sinais mais sutis, mais delicados,
menos visíveis, porém, que marcam lugares, levando-nos a aprender a trilhar
caminhos de pedras, experienciar paisagens exteriores e interiores com o próprio
espírito, vivências que marcarão vidas, influenciarão novas explorações...
Mas para isto é preciso que estejamos dispostos, abertos à novidade, ao
inusitado, à descoberta... Trilhar um
caminho que desconheço significa contornar situações, confrontar outras
tantas, desfrutar de outras mais, mas é poder chegar a construir um lugar e
criar os nossos próprios referenciais mediante aprendizados constantes de vida:
riscos, desafios, sacrifícios, valores... Em relação
ao momento atual, e refletindo sobre EA, vemos que inúmeras vezes esta frase é
muito verdadeira - não conhecemos
todos os caminhos, nem todos os lugares, nem ao menos exploramos outros atalhos
ou bifurcações existentes... Na
realidade, conhecemos muito pouco, colaboramos muito pouco, porque embora
tenhamos consciência dos problemas ambientais [biosfera, tecnosfera,
psicosfera], ainda não somos conscienciosos.
Mais dividimos e fragmentamos em várias situações, do que somamos
esforços... Mais divergimos entre o emaranhado de teorias, conceitos e idéias
que nem próximos das diferentes realidades geográficas e culturais se
encontram... E deste modo, perdemo-nos em caminhos desconhecidos e desconstruímos
lugares porque nem percebemos que eles fazem parte de outras realidades vividas,
não por nós, mas pelos outros... Que no próximo
ano, 2006, tenhamos a coragem de trilhar caminhos desconhecidos para que através
das experiências de alteridade, reciprocidade e solidariedade, possamos
aprender outras lições de EA, a começar por nós... Para isto,
talvez seja importante lembrar: “Amplie
de tal forma os domínios do seu coração que ninguém fique excluído.” – N.Sri Ram, Thoughts for Aspirants Sol
Guimarães Este
texto é dedicado a minha filha Iahel Manon, na esperança de que reencontre um
caminho onde ninguém fique excluído... e
a Tania Maria Beltramini Trevilato, que tem lutado por muitos caminhos do coração,
como mãe e como profissional [USP/Ribeirão
Preto], dez/2005
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