Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
27/09/2019 (Nº 69) AS TRILHAS INTERPRETATIVAS COMO POTENCIAL METODOLOGIA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BIOMA CAATINGA
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AS TRILHAS INTERPRETATIVAS COMO POTENCIAL METODOLOGIA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BIOMA CAATINGA

João Nogueira Linhares Filho¹, Maria do Socorro da Silva Batista²,

¹ Mestre em Ensino pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Professor de Biologia e Ciências nas Escolas: Colégio Normal Francisca Mendes e E.M.E.F.Monsenhor Walfredo Gurguel, joaobiologia2013@gmail.com.

² Doutora em Educação pela Universidada Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Professora da Universidade federal Rural do Semiárido (UFERSA), msbatista-@hotmail.com



Resumo: O presente trabalho discute as trilhas interpretativas como potencial metodologia para a Educação Ambiental no Bioma Caatinga. Objetivou-se, a partir desse estudo, avaliar o potencial educativo das trilhas interpretativas como metodologia para o ensino da Educação Ambiental no Bioma Caatinga. Para tal utilizou-se de uma metodologia de natureza qualitativa e de caráter descritivo, tendo como foco principal, alunos e professores do ensino médio de escolas públicas da cidade de Catolé do Rocha-PB. Como forma de organização metodológica, as atividades referentes à pesquisa, foram divididas em quatro etapas, como se segue: apresentação do projeto a Organização Não Governamental, Projeto Xique-Xique. Apresentação do projeto as escolas públicas da cidade; agendamento das escolas interessadas através do contato telefônico; reconhecimento do local onde se realizou a trilha; aplicação do método avaliativo por meio de questionários a alunos e professores. Como forma de análise dos dados obtidos, foi utilizada a análise de conteúdo de Bardin. Com base na análise dos questionários, pode-se perceber que para alunos e professores, as trilhas interpretativas configuram-se como uma alternativa metodológica para a necessária inovação nas ações desenvolvidas pela Educação Ambiental.

Palavras-chave: Trilhas Interpretativas. Educação Ambiental. Metodologia.



Abstract: The present work discusses the interpretative trails as a potential methodology for Environmental Education in the Caatinga Biome. The objective of this study was to evaluate the educational potential of the interpretative trails as a methodology for teaching Environmental Education in the Caatinga Biome. For this purpose, a methodology of a qualitative and descriptive nature was used, focusing mainly on students and teachers of high school public schools in the city of Catolé do Rocha-PB. As a methodological organization, activities related to research , were divided into four stages, as follows: presentation of the project to the Non-Governmental Organization, Project Xique-Xique. Presentation of the project the public schools of the city; scheduling of interested schools through telephone contact; recognition of where the trail was made; application of the evaluation method through questionnaires to students and teachers. As a way of analyzing the obtained data, the Bardin content analysis was used. Based on the analysis of the questionnaires, it can be noticed that for students and teachers, the interpretive trails are configured as a methodological alternative for the necessary innovation in the actions developed by Environmental Education.

Keywords: Interpretive Tracks. Environmental education. Methodology.



Introdução

A sociedade contemporânea vive vários dilemas que colocam em cheque a sua qualidade de vida. Um desses dilemas são as questões da degradação do meio ambiente e as causas que essa degradação acarreta a vida dos habitantes da Terra. Quando tratamos dos problemas ambientais, logo nos vem à mente e as discussões, a busca de alternativas para amenizá-los.

Uma forma de amenizar tais desafios é através da implantação de ações de Educação Ambiental que venham a transformar as atitudes desenvolvidas no meio, através de práticas que permitam em longo prazo transformar a relação do homem com a natureza. Uma das maneiras mais próximas para desenvolver essas ações, é por meio da implantação de estratégias que envolvam a Educação Ambiental atrelada a metodologias que a transformem numa ação continua e proveitosa para com seus objetivos. Ou seja, reaproximar o homem do meio ambiente e aproximá-lo dos problemas causados por ele próprio.

Para terem sua efetividade garantida, as ações de Educação Ambiental, devem ter como ponto de partida o contexto socioambiental no qual o público alvo esteja inserido. Por assim compreendermos, nos propomos a discutir nesse trabalho, o Bioma Caatinga, seus problemas e alternativas de Educação Ambiental desenvolvida por meio das trilhas interpretativas, como forma de aproximar a população que nele reside dos problemas que o bioma enfrenta.

Ao tratarmos do Bioma Caatinga estamos falando de um espaço complexo, caracterizado por vários problemas que afetam direta e indiretamente o meio ambiente e a sociedade como um todo, onde já se identifica várias áreas em estágio avançado de degradação. Mas, estamos falando também de um espaço rico em diversidade, no que diz respeito à flora, à fauna e à cultura.

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro que durante muito tempo ficou esquecido pelas autoridades políticas e científicas, gerando pouquíssimo conhecimento sobre tal. No entanto, a partir de 2000, esse cenário começou a ser alterado, devido à expansão do ensino superior para o interior do Nordeste e o desenvolvimento de vários projetos de pesquisa, que mostraram a riqueza que este bioma tem em termos de biodiversidade. Como por exemplo, citamos os trabalhos elaborados por Pereira (2008), que evidenciam a grande biodiversidade existente nesse ambiente natural, como também nos alertam sobre os problemas ambientais que o aflige.

Contudo, a população do semiárido ainda conhece pouco sobre suas espécies e os problemas que o mesmo enfrenta, com respeito a sua degradação, sendo hoje o quarto bioma mais degradado no Brasil, ficando atrás somente da Amazônia, Mata Atlântica e Cerrada. Diante de tal fato, a introdução de ações que visem à conservação do bioma se apresenta de suma importância para se tentar amenizar os problemas ambientais que a Caatinga enfrenta, pois acreditamos que só é possível se plantar uma consciência preservacionista quando se conhece o problema e onde o mesmo reside.

Consideramos a escola e o ensino o espaço ideal de intervenção das ações ambientais voltadas para a sensibilização da população, por ser um local de formação de valores e construção da identidade social. É no espaço escolar que se encontram as ferramentas didáticas e metodológicas necessárias para a prática da Educação Ambiental, que pode se desenvolver, por exemplo, por meio das trilhas interpretativas, formando cidadãos conhecedores e conscientes dos problemas ambientais que o seu lugar enfrenta.

Portanto, a Educação Ambiental por meio das trilhas interpretativas pode ser o caminho para consolidar ações de conscientização na sociedade, pois por trabalhar com o ambiente natural e seus elementos originais, consegue conciliar o ato de conhecer com o ato de preservar, exatamente o que o Bioma Caatinga necessita para mudar mais um aspecto de sua história, marcada conforme já explicitado, pelo pouco conhecimento de sua população e deficiência de ações efetivas para amenizar os problemas que o assolam.

A pesquisa foi desenvolvida tendo como objetivo, avaliar o potencial educativo das trilhas interpretativas como metodologia para o ensino da Educação Ambiental do Bioma Caatinga.



Bioma Caatinga: Diversidade e Resistência no Semiárido

A problemática ambiental surge como manifestação de uma crise estrutural tecida ao longo dos últimos séculos, assumindo hoje os contornos de uma crise da modernidade, de espectro mais abrangente, que pode ser percebida na política, na economia, na sociedade, na cultura e na ciência (PELAGRINI e VLACH, 2011).

Nessa perspectiva, percebemos que embora os problemas ambientais sejam tratados em nível global, suas raízes e efeitos são identificados localmente. Como exemplos, citamos os processos de degradação do semiárido Nordestino, uma extensa área climática localizada no Nordeste do Brasil, que por conta das suas condições naturais de clima, solo, precipitação e exploração, se coloca hoje como uma das áreas mais degradadas do Brasil e do mundo.

O Bioma Caatinga tem sido considerado um espaço de baixas ou ausência de taxas de endemismo, formado por um conjunto de formações geológicas frágeis e solos pobres e pedregosos. Isso levou a um descaso quanto a ações específicas que desenvolvessem estratégias para estudos científicos, como também no desenvolvimento de estratégias para sua proteção, já que esse ambiente natural se apresenta como o quarto bioma mais degradado do Brasil e o menos protegido através de áreas de preservação.

De acordo com Vasconcelos Sobrinho, (1983), as áreas submetidas a processos de degradação no semiárido brasileiro apresentam-se facilmente perceptíveis. Nas áreas afetadas, a vegetação se apresenta de porte reduzido, algumas espécies com sintomas de nanismo e concentração diminuída, geralmente coincidindo com a presença da Caatinga hiperxerofila. Nesse tipo de Caatinga a desertificação pode surgir espontaneamente, havendo a possibilidade de sua preexistência no Nordeste antes do aparecimento da ocupação humana.

Devido às condições de clima e tempo, como também as condições de solo e precipitação e principalmente o uso irracional do solo e da vegetação, houve uma intensificação nos processos de degradação de forma que até certo ponto eram inimagináveis para essa região, devido principalmente o pouco conhecimento cientifico que se tinha até os anos 2000 sobre o referido bioma.

No Nordeste, de acordo com dados do INSA, cerca de 50% do território nordestino está em estágio avançado de desertificação, sendo mais intenso nos estados do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, causando um prejuízo imensurável para a população que aí reside.

Mediante a realidade exposta, é fundamental a compreensão do complexo de interações entre os processos geológicos e geomorfológicos, as condições morfopedológicas e as próprias condições relacionadas à cobertura vegetal, suas características hidroclimáticas e as alterações intensificadas nesses elementos pela forma de uso e ocupação da terra, possibilitando a avaliação do grau de vulnerabilidade das regiões afetadas (CRISPIM et al, 2014).

Com isso Albuquerque et al (2010), enfatizam que para amenizar tais problemas, devemos avaliar o desequilíbrio gerado pela relação homem-natureza, que veio como forma de configurar a crise ambiental a qual pode ser minimizada pela transformação da maneira como o indivíduo percebe, analisa e age sobre o ambiente.

Além dos problemas que envolvem o ambiente natural da Caatinga, temos que lembrar também dos vários desafios que se colocam para a população que aí vive, apresentando-se como uma das mais pobres do Brasil, com altos índices de analfabetismo, problemas de falta de alimento e ineficientes investimentos por parte do Estado brasileiro. Soma-se a isto o fato de que significativa parcela da população que vive no Nordeste, particularmente na região do Sertão nordestino, detém pouco conhecimento sobre os aspectos naturais do Bioma Caatinga, como também a respeito dos problemas que o mesmo enfrenta.

Portanto, entender e resgatar as relações harmônicas entre o homem e o meio ambiente do qual ele faz parte, são princípios fundamentais na busca por uma amortização dos problemas ambientais, sejam eles no mundo sejam eles a nível regional, como o problema da desertificação no Nordeste brasileiro.



A Educação Ambiental no Bioma Caatinga

Os problemas ambientais sempre estiveram presentes na relação entre homem e natureza, a partir do momento que ele se coloca como um dominador do ambiente e desfaz os laços que o colocam como apenas mais um fio da grande teia ecológica que gere e faz funcionar os ecossistemas.

As relações homem-natureza têm passado por transformações, seguindo a uma velocidade estabelecida entre evolução humana, tecnologia e interesses econômicos, provocando mudanças que se intensificam, principalmente, a partir da primeira revolução industrial e o surgimento e fortalecimento das bases capitalistas de produção e obtenção de lucro e poder a todo custo.

A intensificação dos problemas ambientais ganha rapidamente consequências globais que se refletem diretamente nas condições locais, como é o caso do Semiárido Nordestino e sua vulnerabilidade a tais mudanças climáticas temporais. A história nos mostra que à medida que o homem evolui, passa a transformar o meio em que vive para, inicialmente suprir suas necessidades e posteriormente para acumular riqueza, poder e dominação.

Isto porque se no passado dependia totalmente das forças da natureza para a manutenção produtiva dos seus meios de sustento, a partir do momento que ele domina novas fontes de energia, produz junto com isso algum tipo de desequilíbrio ecológico.

Com isso, se tem um aumento na escala de produção de bens de consumo que vem estimulando a exploração dos recursos naturais e elevando a quantidade de resíduos, reforçando a concepção de ser humano separado dos outros elementos da natureza, se estabelecendo como um fator relevante para o aumento dos problemas ambientais (BARBIERI, 2004). Tal realidade é resultante da busca pelo lucro e o poder, desenvolvida pelo sistema capitalista de desenvolvimento e é intrínseca às relações econômicas estabelecidas por essa forma de ver o mundo e sua relação com os ambientes naturais.

Para que possamos construir a possibilidade de resolver os problemas ambientais mais graves, como por exemplo, o desmatamento, a erosão dos solos e o aquecimento global, se deve considerar os padrões de desenvolvimento das diferentes nações e também dos vários grupos sociais existentes, uma vez que há visível diferença entre as condições de vida dos países do chamado primeiro mundo e os países em desenvolvimento ou considerados subdesenvolvidos.

Tais diferenças se apresentam, principalmente porque via de regra os primeiros apropriam-se de forma desigual dos recursos naturais dos segundos que produzem não para a sobrevivência igualitária da sociedade, mas para satisfazer os interesses da sociedade de consumo.

Para tanto se tem que busca uma educação que aborde a dimensão ambiental contextualizada, que considere a realidade numa visão interdisciplinar, vinculada aos temas ambientais globais e locais, buscando como enfoque a construção de uma sensibilização crítica que permita o entendimento e a intervenção de todos os setores da sociedade, encorajando o surgimento de um novo modelo de sociedade (GUERRA; ABÌLIO, 2006).

Encorajamento esse que só surge com o resgate e reintegração do ser humano com a rede complexa que forma os ecossistemas ao qual está inserido. Pensando dessa maneira, as mudanças na forma de agir individual e coletivamente sobre qual tipo de sociedade querem para as gerações futuras é de suma importância (AMÂNCIO, 2005).

Tais mudanças são essenciais para o desenvolvimento de ações de Educação Ambiental eficientes no Bioma Caatinga, que por ter características bem peculiares, necessitam de novas estratégias para o desenvolvimento dessas atividades, com aproximação da realidade vivida e dos problemas e desafios que a sua população enfrenta.

Deste modo, compreendemos que as atividades desenvolvidas no âmbito desse estudo inserem-se nessa necessidade de adaptação que a Educação Ambiental para o Bioma Caatinga exige, pois entre outras características utiliza os elementos originais do meio para desenvolver suas ações.



Educação Ambiental por meio das Trilhas Interpretativas

As ações de Educação Ambiental no contexto dos problemas ambientais precisam evoluir quanto as suas formas de atuação. A maioria das atividades que tratam desse tema, muitas concentra-se em ações pontuais e descontextualizadas, que se resumem a apresentação de problemas globais, fora do contexto regional do público envolvido e de forma meramente teórica.

Uma forma de amenizar tais dificuldades é estabelecer novas metodologias para a prática da Educação Ambiental de uma forma que possa reunir em atividades específicas, porém contextualizadas, a elucidação dos problemas ambientais, como a desertificação, a erosão do solo e as queimadas, no seu contexto local, discutindo ao mesmo tempo sobre o ambiente onde o problema se encontra e como amenizá-lo, tornando a aprendizagem mais significativa.

Apresentamos as trilhas interpretativas como possibilidade de realização de uma Educação Ambiental inovadora, pois tem como uma das suas características principais, utilizar os elementos originais do ambiente para envolver o público participante nas discussões que envolvem os problemas ambientais ali presentes, de uma forma objetiva e real, despertando o surgimento de vários sentimentos nas pessoas envolvidas no processo, fugindo da forma teórica como muitas vezes o tema é abordado.

As trilhas se constituíram historicamente como um elemento cultural presente nas sociedades humanas desde os tempos remotos, servindo durante muito tempo como via de comunicação entre os diversos lugares habitados ou visitados pelo homem, suprindo as necessidades de deslocamento para novos territórios e busca por alimento e água. Com as mudanças socioculturais, as trilhas passaram a ser utilizadas para outras finalidades, tais como viagens, comércio e peregrinações religiosas (CARVALHO e BÓCON, 2004).

Mesmo com a mudança em sua utilização os seus aspectos principais não foram perdidos, aspectos relacionados à promoção de interação do homem com o homem e com a natureza, de uma forma direta e promovendo inúmeras possibilidades de interação.

Na sociedade contemporânea, as trilhas deixaram de ser um simples meio de deslocamento, para se tornar um novo recurso de contato com a natureza, justificado pelo fato de possibilitar o contato do público participante com os ambientes naturais, sendo uma alternativa para mostrar à importância dos fatores bióticos e abióticos, por meio da Educação Ambiental, com a possibilidade de estimular à sensibilização humana, através da compreensão do ambiente e suas inter-relações, levando os indivíduos a aquisição de valores relacionados à conservação do meio ambiente (COSTA, 2006).

Portanto, as trilhas por serem considerados caminhos de contato e reencontro do homem com a natureza, precisam ser pensadas e planejadas de uma forma que coloque a frente desse planejamento as condições naturais do ambiente e a capacidade de interação do púbico envolvido de uma forma equilibrada.



Os Desafios e as Perspectivas das Trilhas como Metodologia de Ensino: relatos e reflexões sobre a realização da pesquisa

A pesquisa desenvolvida se caracteriza como de natureza aplicativa, objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidas à solução de problemas específicos.

Tem caráter qualitativo e descritivo, pois de acordo com Oliveira, (2007) revela um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para a compreensão detalhada do objeto de estudo, em seu contexto histórico através de observações, aplicação de questionários, entrevistas e análise de dados, que devem ser apresentados de forma descritiva, tendo o ambiente natural como fonte direta de coleta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental, que analisa o significado que as pessoas dão as coisas e a vida.

Analisa fatos ou fenômenos através de uma descrição detalhada da forma como se apresentaram. É uma análise em profundidade da realidade pesquisada, analisando o problema em relação aos aspectos sociais, econômicos e políticos, na perspectiva de diferentes grupos e comunidades, com a finalidade de mensurar como eles veem e se colocam diante de situações vivenciadas.

O referido estudo tem como foco principal alunos e professores do Ensino Médio de escolas públicas da cidade de Catolé do Rocha-PB. Como forma de melhor organizar a execução das atividades propostas o desenvolvimento das mesmas foi dividido em quatro etapas, como se segue:



1ª etapa: Apresentação oral da proposta de trabalho aos representantes da Organização Não Governamental Projeto Xique-Xique, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, sem fins lucrativos, com sede no Sítio das Pedras – Cajueiro, estando situado em uma área rural de 34 hectares, no alto sertão da Paraíba, situada no município de Catolé do Rocha – Paraíba. A ONG tem como principal objetivo desenvolver atividades socioeducativas e intercâmbio de informações junto à zona rural e urbana de Catolé do Rocha – PB relacionado à cidadania, a cultura e o meio ambiente (Figura 1).

Após a apresentação da proposta a ONG, Projeto Xique-Xique a mesma foi apresentada ao corpo administrativo de três estabelecimentos públicos de ensino, a Escola Cidadã Integral: Obdulia Dantas, Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio João Suassuna e ao Instituto Federal da Paraíba da referida cidade.

Figura 1: Imagens da sede da ONG Projeto Xique-Xique.

2ª etapa: após ter firmado a parceria com a ONG para utilizar seu espaço para a execução das atividades das trilhas, se iniciou o agendamento das escolas interessadas em participar das atividades. Apenas uma das escolas apresentou interesse na execução das atividades do projeto, sendo este feito por meio de contato telefônico, no qual se colocava as informações sobre o horário da trilha, a série que iria participar e a quantidade de alunos que iriam participar da atividade. Diante dessas informações os objetivos principais da trilha foram elaborados.

3ª etapa: após o agendamento da escola e sua respectiva turma, foi realizado o reconhecimento do local da trilha, com a finalidade de observar se o público a ser atendido formado por alunos e professores, teriam as condições de realizar a atividade conforme o planejamento por nós elaborado. Tais atividades foram divididas em três momentos diferentes:

  • Primeiro momento: acolhida do público na ONG e apresentação da proposta de trabalho. Após o momento do primeiro contado, uma breve conversa, onde indagamos os alunos acerca de participação anterior ou conhecimentos das trilhas interpretativas. Em seguida, um breve questionamento sobre algumas informações relativas ao Bioma Caatinga, sua fauna e flora e seus problemas socioambientais. (Figura 2). Sequenciamos a etapa com o convite para participar da trilha interpretativa por uma área de preservação ambiental localizado próximo à sede da ONG.

Figura 2: Acolhida dos alunos na sede da ONG, um primeiro bate-papo com os alunos.



  • Segundo momento: Realização da trilha interpretativa por uma área de preservação natural onde a ONG é instalada, sendo a mesma organizada em sete paradas pré-definidas e duração média de 40 mim (Figura 3), com o objetivo de: abordar os aspectos geográficos do local (Solo e as formações rochosas); a visualização de espécies vegetais nativas, bem como sua importância para o ecossistema caatinga, para a população que ali vive; evidência das ameaças de extinção de espécies representantes da fauna local, por meio de imagens colocadas na forma de placas durante o percurso, abordando informações gerais sobre os mesmos, como também alertando para os que estão em perigo de extinção e os ameaçados; Abordagem de problemas ambientais presentes durante o percurso, como por exemplo, a introdução de espécies exóticas e a erosão do solo (Figura 4).

Figura 3: Imagem de satélite da sede da ONG e da trilha utilizada para a atividade, onde a seta azul indica o início da trilha e a seta vermelha o fim.



Figura 4: imagens da Trilha Interpretativa pela área de preservação da ONG, com paradas programadas.



  • Terceiro momento: finalização da trilha na sede da ONG, com um resumo sobre qual a opinião dos participantes após a atividade a respeito da metodologia utilizada para o desenvolvimento da atividade (Trilha interpretativa), como também sobre o Bioma e seus problemas (Figura 4), finalizando com a entrega de uma cartilha informativa sobre o Bioma Caatinga confeccionada pelo autor da pesquisa, aos professores que acompanharam a turma (Figura 5).



Figura 5: Foto da finalização da Trilha com um levantamento da atividade realizada.

Figura 6: Capa da Cartilha Informativa.



  • 4º etapa: entrega de questionário semiestruturado, (uma técnica utilizada para a obtenção de informações sobre sentimentos, crenças, expectativas, situações vivenciadas e sobre todo e qualquer dado que o pesquisador deseje registrar para atender os objetivos de seu estudo (OLIVEIRA, 2007)). O questionário foi direcionado aos 50 discentes e 2 docentes participantes. O instrumento teve como principal objetivo avaliar as resultadas obtidas com a aplicação da metodologia das trilhas interpretativas, sendo recolhido posteriormente pelo pesquisador.

Os dados obtidos foram avaliados a partir da análise do conteúdo de Bardin, (1977), uma gama de ferramentas metodológicas cada vez mais sutis, em constante aperfeiçoamento que se aplicam a conteúdos e contingentes extremamente diversificados, desde o cálculo de frequências que fornecem dados cifrados, até a extração de estruturas traduzíveis, transitando entre o rigor da objetividade e a fecundidade da subjetividade, onde o investigador se utiliza de sua atração pelo escondido, o latente, o potencial do inédito retido por qualquer mensagem, que vão além das suas funções heurísticas e verificativas.



As Contribuições da Pesquisa para o Avanço nas Ações de Educação Ambiental no Bioma Caatinga

A partir de uma análise dos questionários aplicados a 50 alunos e 2 professores, participantes da trilha, como também a conversa desenvolvida no primeiro contato com os estudantes e durante o desenvolvimento das trilhas e sua finalização, alguns aspectos ficaram bem evidentes em relação ao tema proposto para a atividade.

Um dos pontos que chamou mais atenção foi observado no primeiro contato com o público envolvido na atividade, onde após a apresentação do que seria realizada naquele momento uma pergunta feita aos participantes por meio dos questionários nos deu a comprovação de que a prática das trilhas interpretativas para fins didáticos era desconhecida por 95% dos alunos envolvidos na atividade.

Ao contrário dos alunos, ao responderem o questionário, os professores participantes afirmaram terem conhecimento acerca das trilhas como ferramenta didática para o desenvolvimento de aulas ao ar livre, conhecimento este adquirido durante a formação acadêmica. Este descompasso demonstra que mesmo sendo detentores do conhecimento, nem sempre os docentes fazem uso do mesmo para tornar o ensino mais prazeroso e efetivo.

Este processo nos permite chegar a várias conclusões, o que passamos a relatar. Oliveira et al, (2009), evidencia que um dos principais obstáculos para o desenvolvimento das trilhas interpretativas é o de convencer que a atividade não é uma simples caminhada por um ambiente natural, mas sim uma forma de aprendizagem onde os sentidos se misturam com o conhecimento na busca de novas informações, de uma forma direta e objetiva.

Esse pressuposto pode ajudar a entender o porquê do não uso das trilhas como uma ferramenta didática pelos professores que participaram da atividade, uma vez que indagados anteriormente acerca de perceberem ou não o potencial das trilhas interpretativas como uma ferramenta metodológica para o desenvolvimento de ações de educação, estes responderam que sim. Dessa contradição podemos inferir a ausência de uma percepção do viés educativo das trilhas interpretativas, sendo sua compreensão restrita a uma atividade de lazer.

Outra questão que ficou bem evidente foi o pouco conhecimento por parte dos alunos sobre o Bioma Caatinga, sua fauna, flora e os problemas ambientais que o mesmo enfrenta. No primeiro contato e antes da realização das trilhas, uma conversa sobre a atividade e o Bioma Caatinga foi desenvolvida entre o guia/pesquisador e os participantes, com a finalidade de diagnosticar o conhecimento deles sobre a atividade proposta, como também sobre o que eles conheciam sobre o Bioma Caatinga.

Em relação ao segundo ponto, mais uma vez nossas projeções ficaram evidentes. Após algumas perguntas simples sobre o bioma, seus aspectos naturais e problemas socioambientais em análise constatou-se que as informações sobre o referido ecossistema ainda estavam ancoradas nas representações midiáticas que tratam o bioma como um local seco, pobre em biodiversidade, sendo composto apenas por espécies espinhosas como o xique-xique e o mandacaru. Essas foram às características apresentadas pelos alunos quando indagados sobre o tema, revelando serem detentores de um conhecimento muito reduzido sobre o bioma tratado neste trabalho e que já foi evidenciado em outras pesquisas como as desenvolvidas por Pereira (2008).

Tais evidências são reforçadas pelo fato de o tema Caatinga ser tratado de forma reduzida e porque não dizer, preconceituosa, nos materiais didáticos trabalhados em alguns locais do Nordeste, fazendo com que os estudantes não tenham acesso a informações que venham a modificar essa visão e contribuir para construção de novos conhecimentos sobre a Caatinga.

Uma nova visão, certamente auxilia assim na formação de uma população detentora dos conhecimentos necessários para a tomada de decisão em relação à preservação desse bioma exclusivamente brasileiro e o menos protegido entre os biomas do Brasil. Essa nossa compreensão pode ser comprovada pela pesquisa realizada por Linhares Filho, (2016), onde através da análise de uma coleção de livros didáticos de geografia evidenciou que o referido bioma era tratado de forma resumida e longe da sua verdadeira realidade.

Outro aspecto que nos chamou a atenção ao compararmos as respostas de docentes e discentes refere-se à abordagem dos temas ambientais nas disciplinas curriculares. Ao indagarmos os dois docentes participantes da pesquisa, os mesmos foram enfáticos em declararem que abordavam a temática ambiental, realçando em suas palavras a importância de discussão do tema, por apresentar um viés transversal, tendo espaço em todos os campos do conhecimento discutido na escola. Tais temas, segundo os professores, eram apresentados por meio de vídeos, imagens e discussões a partir de várias abordagens nas disciplinas de geografia e biologia.

No entanto, quando analisamos as respostas dadas no questionário pelos alunos se a escola trabalhava a Educação Ambiental durante as aulas, um contingente de 92% dos pesquisados responderam que não, indo a desencontro a resposta dada pelos docentes dos referidos alunos, que como anteriormente relatado afirmaram a abordagem do tema dentro de suas disciplinas.

Tal evidência nos coloca diante de alguns fatos que nos conduzem a um dos problemas da abordagem da Educação Ambiental nas escolas brasileiras. Referimo-nos a abordagem da temática ambiental de forma transversal a outros campos do conhecimento, o que pode descaracterizar a sua especificidade, não possibilitando ao alunado a percepção de que naquela abordagem está a Educação Ambiental.

Conforme considera Segura (2001), não há dúvida que a difusão da temática ambiental é positiva, contudo, a forma como isso acontece pode determinar o potencial de mudança nas práticas cotidianas. Sendo esse o foco da abordagem nas escolas, uma relação bem equilibrada entre discurso e prática, evitando com isso a contextualização exagerada dos temas ambientais nas disciplinas curriculares.

Prosseguindo com a análise, verificamos que ao indagarmos alunos e professores sobre a validade das trilhas interpretativas para o ensino da Educação Ambiental, ambos os grupos pesquisados evidenciaram a eficácia da metodologia, pois em seus relatos “a interação com o meio e o tema proposto facilita a aprendizagem”, “prende a atenção”, “elucida novos conhecimentos” “e permite uma maior relação entre teoria e pratica, ajudando na compreensão de aspectos que evidenciam a importância de se preservar o Bioma Caatinga”.

Observamos, assim, que as trilhas interpretativas são eficazes, quando usadas em atividades de Educação Ambiental, principalmente com alunos da educação básica, pois oferece a possibilidade de contextualização dos conteúdos teóricos com a vivencia pratica, por meio da compreensão da dinâmica da inter-relação dos componentes naturais e ambientais (LIMA e SILVA, 2015).

Tais validações são comprovadas pelas respostas dadas por professores e alunos pesquisados, conforme expomos a seguir:



- Considero como de fundamental importância para perceber características marcantes e entendê-las com facilidade, além de despertar um pouco mais a curiosidade sobre o assunto. (Aluno A)

- É uma forma gratificante, conhecer de perto a fauna e flora, traz informações muito produtivas, quando se acompanha de perto (Aluno B).

- É bastante eficiente, estimula todos os sentidos e promove a comprovação dos temas trabalhados em sala (Professor A).

- São de suma importância, pois na prática os alunos têm facilidade de aprender (Professor B).

As posições dos grupos pesquisados corroboram com os escritos de Andrade (2008) ao considerar que uma trilha não pode ser considerada apenas um caminho e sim o ambiente onde a caminhada se desenvolve com os objetivos de aproximar o visitante do meio natural, possibilitando estimular o interesse por visitar áreas naturais e locais, sendo considerado um meio para o desenvolvimento da interpretação dos ambientes de forma direta.

Do mesmo modo, Vasconcellos, (2006) descreve a trilha interpretativa como uma ferramenta que pode ser considerada como uma possibilidade de proporcionar ao público envolvido um ambiente para discussão de ideias que os coloque como parte responsável pela preservação e conservação da natureza, além de visar à transmissão de conhecimentos que objetive propiciar atividades por meio do uso dos elementos originais, através da experimentação direta e de meios ilustrativos.

Com foco nos objetivos de nossa pesquisa e dos resultados até então apresentados, reafirmamos o potencial das trilhas interpretativas como uma metodologia eficaz na busca por novas formas de se trabalhar a Educação Ambiental, principalmente no Bioma Caatinga, de uma maneira que venha a fugir das práticas corriqueiras. Mais sim em uma atividade essencial para a vida das pessoas e para a construção de metodologias que se afastem das ações pontuais que até aqui hegemonizam a maioria das atividades ambientais no ambiente escolar e não escolar.

Quando avaliamos as vantagens e desvantagens das trilhas interpretativas na ótica dos docentes, se pode mais uma vez evidenciar as potencialidades, pois ambos os professores relataram como vantagens dessa metodologia, a utilização do meio ambiente natural como local de interação com os elementos originais. Pode-se, assim, estabelecer uma relação de proximidade entre o que foi tratado em sala, ou seja, na teoria, sendo representado na prática, confirmando o que Vasconcellos (2006) relata em seus escritos sobre as trilhas interpretativas, já abordadas neste trabalho.

Outro relato docente que nos chamou a atenção foi em relação às dificuldades de utilização das trilhas interpretativas. O grupo pesquisado relata a falta de transporte para o deslocamento até áreas naturais, as turmas numerosas que exigem mais pessoas envolvidas nessas atividades, pessoas essas que na maioria das vezes não estão disponíveis e a dificuldade de manter uma frequência de visitação. Tais dificuldades residem em um dos maiores desafios enfrentados por práticas ao ar livre, como as trilhas interpretativas. O convencimento e a afirmação aos órgãos gestores da educação, de que tais atividades não são apenas uma forma de lazer, mais sim uma metodologia de trabalho pedagógico que se revela como importantíssima na busca por uma formação balizada nos conhecimentos do meio ambiente de forma objetiva, prazerosa e eficiente, como trata Cornell (1997), em seus escritos, é o grande desafio a ser enfrentado.

Outra evidencia constatada na análise dos questionários, que vai de encontro ao exposto pelos docentes, é retratado nas respostas dadas pelos alunos. Quando questionados sobre as trilhas interpretativas ter possibilitado novos conhecimentos sobre o Bioma Caatinga, 100% dos participantes responderam que sim, o que modifica o dito antes da atividade, onde uma porcentagem significativa dos estudantes participantes da trilha relata não conhecer aspectos mais detalhados da vegetação da caatinga, como o nome popular das espécies e sua importância para o ecossistema em questão. Quando indagados se as trilhas interpretativas tinham possibilitado novos conhecimentos, afirmaram os discentes que:



- Uma parte das plantas é natural da Caatinga do sertão nordestino e outras foram trazidas de vários outros locais mais que se adaptaram e se tornaram mais presentes do que os que já existem (Aluno A).

- Que várias espécies estão em extinção e devemos preservar (Aluno B).

- Eu aprendi que existe uma enorme variedade de plantas e animais no Bioma Caatinga (Aluno C).

- De que a nossa Caatinga é pouco conhecida e muito destruída. Devemos conhecer mais e destruir menos porque dela vem a nossa sobrevivência (Aluno D).



As afirmações comprovam que as trilhas têm a potencialidade de fazer conhecer os ambientes naturais na sua essência, deixando livres os envolvidos, para que os mesmos possam construir seu próprio conhecimento em relação ao assunto apresentado, tornando a aprendizagem uma atividade prazerosa e eficaz nos seus objetivos de aprendizagem significativa. Afirma também a importância de tal metodologia como parceira fundamental na execução de ações ambientais que visem transformar a visão de quem está participando, acender e aumentar o campo de visão para os problemas que o meio natural enfrenta e como ele afeta a nossa qualidade de vida.

Tais afirmações seguem o mesmo que Silva et al, (2012) relata, as trilhas interpretativas conduzem os envolvidos na atividade a despertarem a consciência ambiental, contribuindo assim com a sustentabilidade ambiental, como também se torna uma atividade atrativa para os estudantes, conduzindo a uma maior compreensão dos problemas socioambientais.



Considerações Finais

O trabalho que concluímos fortalece em nós a convicção que as trilhas interpretativas se constituem em uma metodologia essencial para a Educação Ambiental, principalmente quando esta se desenvolve no contexto de Bioma Caatinga. Por suas características próprias de utilizar os elementos do ambiente para o desenvolvimento das atividades, aproxima o público envolvido dos conteúdos sobre o ambiente natural de uma forma prazerosa e produtiva, buscando esse fortalecimento, principalmente em relação às competências necessárias para a formação de uma base sólida de conhecimento a respeito do bioma, para só assim se tentar uma sensibilização sobre a importância de preservá-lo.

Com base nos dados descritos acreditamos que a nossa iniciativa alcançou os objetivos propostos, pois apresentou uma metodologia eficaz para inovação na abordagem dos conteúdos, sejam eles envolvendo o ambiente ou não, como também fortaleceu e modificou em parte, o entendimento sobre o Bioma Caatinga, através da apresentação de informações reais e mais completas, possibilitando a alunos e professores envolvidos, formarem suas próprias opiniões sobre a importância do bioma para cada um e para a coletividade.

Serve-nos também como comprovação das trilhas interpretativas como um grande aliado das ações de Educação Ambiental, pois permite envolver os participantes no tema que está sendo discutido de forma direta e objetiva, permitindo que os mesmos se envolvam nas discussões de forma autônoma, apresentando suas percepções sobre o que se está tratando, como também os seus conhecimentos e seu ponto de vista sobre o tema.

O trabalho também nos possibilitou compreender que para ser uma metodologia comprometida com a formação da consciência ambiental, as trilhas interpretativas devem estar alicerçadas em referenciais teóricos críticos, reflexivos sob pena de se tornar mais uma ação pontual, deslocada da realidade, embora esta seja o seu campo de praticar natural.

Ao mesmo tempo ao tomar a trilha interpretativa como uma das metodologias integrantes de sua ação pedagógica, o docente deve ter clareza de seu caráter interdisciplinar por comportar em sua abordagem todas as áreas de conhecimento e não apenas o aspecto ecológico.

Outro aspecto que merece destacarmos ao concluir este trabalho, diz respeito à importância do bom planejamento de metodologias como as trilhas interpretativas. Conhecer o ambiente a ser trabalhado, ter clareza do perfil do público envolvido, buscar parcerias em sua execução são alguns elementos que necessariamente integram o processo de planejamento, sem o qual a prática pedagógica corre riscos de não atender os objetivos esperados.

Por fim, afirmamos que conseguimos com êxito alcançar o objetivo deste trabalho, qual seja, o de “avaliar o potencial educativo das trilhas interpretativas como metodologia para o ensino da Educação Ambiental do Bioma Caatinga”. Realçamos que a percepção do valor pedagógico e metodológico das trilhas interpretativas e seu potencial metodológico não se centram apenas na prática da Educação Ambiental, mas também se mostra adequada a outras temáticas abordadas a partir da perspectiva interdisciplinar.





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Ilustrações: Silvana Santos