Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
27/09/2019 (Nº 69) VERMICOMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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VERMICOMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL



Camila Padovan1, Guilherme Cartolano de Castro Ribeiro1, Rafael Castelfranchi de Oliveira1, Thiago Vinicius Ribeiro Soeira2, Ana Paula Milla dos Santos Senhuk3, Ana Carolina Borella Marfil Anhê3



1 Graduandos em Engenharia Ambiental, Departamento de Engenharia Ambiental, Instituto de Ciências Tecnológicas e Exatas, Universidade Federal do Triângulo Mineiro

2 Mestrando em Ciência e Tecnologia Ambiental, Instituto de Ciências Tecnológicas e Exatas, Universidade Federal do Triângulo Mineiro

3 Docentes do Departamento de Engenharia Ambiental, Instituto de Ciências Tecnológicas e Exatas, Universidade Federal do Triângulo Mineiro



cahpadovan@hotmail.com, guicastror@hotmail.com, rafael.castelfranchi@outlook.com, tvribeiro88@hotmail.com, anapmilla@yahoo.com.br, ana.anhe@uftm.edu.br (autor para correspondência)



Resumo: No Brasil, são geradas mais de 78 toneladas de resíduos por ano, em que 58% são materiais orgânicos. Estudos indicam que a reciclagem e o tratamento adequado destes resíduos contribuem de forma direta para a redução dos impactos ambientais causados pelo seu descarte inadequado ou até mesmo em aterros sanitários. Nesse contexto, atividades de educação ambiental possibilitam a sensibilização da população, motivando-a a atuar em prol do meio ambiente, além de trabalhar assuntos como o consumismo, poluição, impacto ambiental e gerenciamento de resíduos. Este trabalho teve como objetivo implementar um sistema de compostagem na UFTM e utilizá-lo em atividades de educação ambiental. Foram realizadas oficinas, treinamentos, minicursos, consultorias, aulas práticas e visitas guiadas com foco na educação ambiental através do tratamento dos resíduos orgânicos direto na fonte geradora. Notou-se grande adesão ao projeto por parte dos funcionários e frequentadores do restaurante universitário, fonte geradora dos resíduos orgânicos. Assim, o projeto tem contribuído para a sustentabilidade da UFTM e para o prolongamento da vida útil do aterro sanitário da cidade, pela redução do volume de resíduos orgânicos a ele destinado, tornando-se exemplo para outras Instituições de Ensino Superior e gestores ambientais.

Palavras-chave: Compostagem, tratamento de resíduos orgânicos, restaurante universitário, universidades sustentáveis



Abstract: In Brazil, more than 78 tons of waste are generated per year, of which 58% are organic materials. Treatment of these wastes contribute directly to reducing environmental impacts caused by improper disposal or even landfill. In this context, environmental education activities make it possible to sensitize the population, motivating them to act in favor of the environment, in addition to working on issues such as consumerism, pollution, environmental impact and waste management. This work aimed to implement a composting system at UFTM and to use it in environmental education activities. Workshops, trainings, mini-courses, consultancies, practical classes and guided tours focused on environmental education through the treatment of organic waste directly in the generating source were carried out. There was great adherence to the project by the employees and visitors of the university restaurant, source of organic waste. Thus, the project has contributed to the sustainability of the UFTM and to the extension of the useful life of the city's landfill, by reducing the volume of organic waste destined for it, becoming an example for other Higher Education Institutions and environmental managers.

Keywords: Composting, organic waste treatment, university restaurant, sustainable universities

1. Introdução

No Brasil são gerados anualmente mais de 78,4 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos sendo, em média, 375 kg por habitante (ABRELPE, 2017). Do total de resíduos coletados, apenas 58% tem destinação final adequada, que é o aterro sanitário. Pela análise gravimétrica dos mesmos, em torno de 34% é material reciclável, 8% é rejeito e 58% é material orgânico (IPEA, 2012). Quando não separados, a fração orgânica atua como contaminante, uma vez que o material orgânico sofre decomposição microbiana e, ao entrar em contato com os demais resíduos, estes perdem ou diminuem seu potencial de serem reciclados, além de aumentar o risco de poluição do solo, ar e água (MARQUES, 2011).

Nesse contexto, a Lei nº 12305/10 estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que contém prerrogativas e ferramentas importantes para facilitar o desenvolvimento e a evolução do País em resposta ao manejo inadequado dos resíduos sólidos urbanos (BRASIL, 2010). Nela está previsto o gerenciamento dos resíduos sólidos, entendido como o conjunto de ações exercidas nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento, destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Com relação aos resíduos orgânicos, sua decomposição anaeróbica produz chorume, contaminando água, ar e solos. A PNRS estabelece a compostagem como destinação e tratamento adequado dos resíduos orgânicos por diminuir o risco de degradação ambiental, resultando em um condicionador de solo balanceado e estabilizado (EMBRAPA, 2004).

Os campi das Universidades podem ser comparados aos pequenos núcleos urbanos, visto que exercem atividades de ensino, pesquisa e extensão, além de ser necessária a organização de administração própria dos recursos, infraestrutura quanto à energia, abastecimento de água, tratamento de efluentes, drenagem de águas pluviais, vias de acesso e também com relação à geração de resíduos (TAUCHEN; BRANDLI, 2006). Assim, podem ser considerados importantes espaços para conscientização e educação ambiental, além de se oportunizar a implementação de estratégias e exemplos de práticas melhores direcionadas a uma gestão ambiental eficiente (JULIATTO; CALVO; CARDOSO, 2011).

Atualmente algumas universidades têm práticas de acordo com a PNRS, como USP, UNICAMP, UFV, Mackenzie e UFMG, que implementaram programas de coleta seletiva em seus campi (AMARAL et al., 2011; MIKHAILOVITCH, 2008; PAES, 2011). UNICAMP e o IFAL também realizam a destinação adequada de seus resíduos orgânicos de poda e do restaurante universitário por meio da compostagem (OLIVEIRA, GONÇALVES JR.; ZILLER, 2012; PAULA; CEZAR, 2011).

Estas iniciativas são importantes por destinar a fração orgânica dos resíduos adequadamente, além de colaborar para a melhoria de políticas sustentáveis adotadas pelas Universidades. A Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), por exemplo foi classificada na oitava posição entre as Universidades brasileiras no UI Green Metric World University Rankig 2018, o qual utiliza critérios como infraestrutura, consumo de energia, de água, gerenciamento de resíduos, dentre outros (UI GREEN METRIC, 2018).

Segundo Santos e Fehr (2007), a educação ambiental ocorre por meio de mudanças comportamentais e a implementação do processo de compostagem em escolas é uma ferramenta eficaz na difusão desta conscientização. A compostagem vai além da reutilização dos resíduos, pois contribui de forma direta e indireta para o melhoramento da relação homem-meio ambiente e preservação ambiental (BOTH; SENNA, 2009). Esta vivência possibilita um aumento da consciência sobre os problemas ambientais, motivando a população a atuar em prol do meio ambiente além de trabalhar problemas como o consumismo, poluição, impacto ambiental e gerenciamento de resíduos (SOUZA et al., 2013; NOGUERA, 2011).

Diante do exposto, o objetivo desse projeto foi implementar um sistema de compostagem na UFTM e utilizá-lo em atividades de educação ambiental.



2. Metodologia

2.1 Local de estudo

A UFTM tem sede na cidade de Uberaba-MG, com um campus no município de Iturama-MG. Em Uberaba, sua estrutura é composta por: Centro Educacional, Centro Educacional e Administrativo, Campus I Manoel Terra, Unidade Univerdecidade Hospital de Clínicas (Hospital Escola), Centro Científico e Cultural do bairro de Peirópolis e unidade educacional no Shopping Center Urbano Salomão, entre outras estruturas externas aos campi.

A unidade Univerdecidade abriga doze cursos de graduação. Os seus três complexos prediais contam com salas de aulas, laboratórios, biblioteca setorial, anfiteatro, lanchonete e restaurante universitário (RU), inaugurado em 2014, que fornece, atualmente, uma média de 500 refeições diárias.

Devido à localização e à logística de coleta de lixo na cidade, os resíduos gerados pelo RU não eram coletados diariamente, ocasionando assim um acúmulo nas lixeiras, que possibilitava a atração de vetores e propagação de mau cheiro.

Desta forma, foi fundamental buscar maneiras e ferramentas para a redução e destinação adequada dos resíduos gerados pelo RU. De acordo com Lemos (2013), a compostagem e a vermicompostagem são excelentes ferramentas para tratamento destes resíduos.



2.2 Implantação do sistema de compostagem

A área para compostagem dos resíduos orgânicos do RU da UFTM foi construída em 2014, consistindo em 46 m², sendo 16 m² de área fechada para armazenamento do triturador, balança, peneiras e ferramentas e de 30 m² de área externa coberta (Figura 1A). O laboratório foi construído em alvenaria próximo ao RU, em um local sombreado por árvores, arejado e fresco.

O projeto utilizou o sistema vermicompostagem, com minhocas californianas (Eisenia andrei) que transformam os resíduos orgânicos em adubo sólido e líquido de excelente qualidade. Este tipo de sistema possibilita tratar uma quantidade maior de resíduos com espaço reduzido, além de ser um processo mais rápido quando comparado à compostagem convencional (AQUINO; OLIVEIRA; LOUREIRO, 2005). Segundo Dores-Silva; Landgraf; Rezende (2013), a vermicompostagem apresenta maior taxa de degradação da matéria orgânica, devido à contribuição das minhocas que usam o resíduo como alimento. Em um sistema tradicional, os resíduos são acondicionados em pilhas que variam de tamanho de acordo com a disponibilidade de área e de resíduos e a degradação é feita apenas por microrganismos (TEIXEIRA et al., 2004).

Assim, foram utilizadas caixas modulares empilhadas em torres com cinco caixas cada, em que as quatro caixas superiores atuam como digestoras, ou seja, são o local de estabilização dos resíduos e material orgânico seco, em composto orgânico sólido. A caixa inferior é utilizada como coletora do excesso de umidade que desce das superiores, denominado composto orgânico líquido.

Na área coberta foram dispostas as cinco torres de compostagem, tambor armazenador para o composto orgânico líquido e tanque para higienização das caixas após recolhimento dos produtos finais (Figura 1B). O processo utiliza duas fontes de material orgânico, obtidos na Unidade Univerdecidade: restos de fruta, legumes e verduras do RU e resíduo da poda das áreas verdes (Figura 1 D). A equipe do RU disponibiliza dois recipientes de coleta: um para resíduos orgânicos e outro para os descartáveis (Figura 1C). Os resíduos da produção são separados na própria cozinha e colocados próximos ao laboratório de compostagem. Diariamente, os resíduos são coletados e dispostos nas caixas digestoras.

Para a disposição dos resíduos nas caixas são realizadas as seguintes atividades:

  • coleta, separação e trituração dos resíduos (estes devem possuir dimensões de 2 a 5 cm, a fim de diminuir os riscos de compactação e de falta de oxigênio, além de facilitar a alimentação das minhocas, acelerando o processo);

  • disposição, em camadas alternadas de aproximadamente 7 cm de altura, de resíduos frescos (alimentos) e de matéria seca (restos de poda);

  • repetição desse procedimento até 3 vezes;

  • cobertura completa da última camada com matéria seca;

  • repetição dessa sequência até que a caixa esteja cheia, e em seguida partir para a próxima caixa. As caixas são preenchidas de uma vez ou à medida em que os materiais estejam disponíveis.

Figura 1 - Implementação do Sistema de Vermicompostagem



A) Área do Laboratório de Compostagem. B) Armazenamento dos compostos. C) Lixeiras para coleta no RU. D) Resíduo do RU em processo de armazenamento.



2.3 Atividades de Educação Ambiental

Para que o projeto ocorresse de forma adequada, foi necessária a educação ambiental das funcionárias do RU. Desta forma, foi realizado um treinamento com a equipe responsável pelos resíduos gerados na cozinha, com foco nos impactos ambientais e nos benefícios da vermicompostagem.

Posteriormente, foi realizada a divulgação do projeto na UFTM, por meio de redes sociais nos grupos da universidade e cartazes estrategicamente posicionados para sensibilização dos frequentadores do RU, na busca de uma segregação adequada dos resíduos na fonte, juntamente com a colaboração das funcionárias.

Assim, com o sistema de vermicompostagem em funcionamento, tem sido desenvolvidas outras atividades de educação ambiental, tais como minicursos, oficinas, aulas práticas e visitas guiadas, visando a formação de agentes multiplicadores com relação à destinação final adequada dos resíduos orgânicos e à minimização de impactos ambientais.



3. Resultados e discussão



3.1 Sistema de vermicompostagem

Atualmente, o projeto trata os 80 litros diários de resíduos orgânicos gerados no RU, além dos resíduos das podas das áreas verdes, contribuindo para a redução do material destinado ao aterro sanitário da cidade, visto que a matéria orgânica corresponde a mais de 50% dos resíduos gerados pelo RU

A elevada concentração de resíduos orgânicos em aterros sanitários contribui para um aumento na concentração dos gases CH4 e CO2 (ALCÂNTARA; JUCÁ, 2007). O aterro sanitário de Uberaba foi projetado para atender exclusivamente a demanda urbana. Entretanto, devido ao crescimento urbano acelerado e ao aumento da geração de resíduos per capita, tem sido necessária a implementação de programas para tratamento dos resíduos. Dentre os tipos de tratamento, destaca-se o sistema de compostagem direto na fonte geradora, que além de promover a reciclagem dos nutrientes, contribui para a diminuição do custo operacional destinado à coleta publica de resíduos (MONTEIRO, 2016).

Conforme ocorre o processo de decomposição, há a formação dos compostos orgânicos sólido e líquido (Figura 2A e B).



Figura 2 - Compostos sólidos e líquidos finais

A) Composto sólido final. B) Composto líquido final.

O composto sólido é recolhido e peneirado em peneira de 5 mm, para garantir um produto final homogêneo. O composto líquido é recolhido mensalmente e colocado no tambor armazenador. Até o momento, foram produzidos, em média, cerca de 300 litros de composto sólido e 400 litros de composto líquido, anualmente. Vale destacar que, em análises preliminares, estes compostos apresentaram alta capacidade de adubação e devem ser diluídos para aplicação, contribuindo para o aumento da sua rentabilidade. De acordo com Zandonadi e Souza (2012), estes compostos produzidos podem ser utilizados como adubo em plantações, hortas e pomares.

Todo o adubo produzido tem sido utilizado no projeto de arborização da Unidade Univerdecidade, desde 2015. Segundo Oliveira, Lima e Cajazeira (2004), o uso de compostos orgânicos para adubação contribui para a recuperação e conservação do solo. Ao se comparar a rentabilidade econômica de produção utilizando adubos químicos e orgânicos, a compostagem reduz em até quatro vezes os custos de aplicação, sendo então uma prática rentável além de sustentável (DINIZ FILHO; MESQUITA; OLIVEIRA, 2007).



3.2 Atividades de Educação Ambiental

Logo no início, notou-se uma adesão da equipe que trabalha no RU, pelo fato de se esforçarem diariamente para realizar a separação adequada dos resíduos gerados dentro e fora da cozinha, instruindo de forma efetiva os usuários do RU para que realizassem o descarte adequado.

Aulas práticas foram realizadas com os alunos do curso de Engenharia Ambiental em diferentes disciplinas (Figura 3), possibilitando que os discentes compreendessem o sistema de vermicompostagem, ressaltando a importância do tratamento dos resíduos. A implementação de Programas de Gerenciamento de Resíduos nas instituições de ensino incentiva futuros profissionais a trabalharem de forma ambientalmente correta, despertando neles a consciência de preservação ambiental e cidadania (NOLASCO; TAVARES; BENTASSOLLI, 2006).



Figura 1 – Aula prática no Laboratório de Compostagem



Minicursos sobre o tratamento de resíduos orgânicos por meio da vermicompostagem foram ofertados nas Semanas Acadêmicas da Engenharia Ambiental de 2014 a 2018. Nestes, foram abordados os temas referentes a destinação final dos resíduos, impacto ambiental, geração e tratamento de resíduos com foco na vermicompostagem, como uma alternativa eficiente para redução dos resíduos destinados ao aterro, visto que o material orgânico corresponde a mais da metade dos resíduos sólidos urbanos (IPEA, 2012).

O desenvolvimento do projeto possibilitou a prestação de consultorias para a Secretaria Municipal de Educação de Uberaba e para a Empresa Júnior do curso de Engenharia Ambiental (Esamb). Tais consultorias permitiram a construção de sistemas similares em duas escolas municipais e em uma empresa da região. A partir deste treinamento, a Esamb ofertou uma oficina para construção de composteiras domésticas e educação ambiental, contribuindo para propagar a importância do tratamento dos resíduos na região utilizando a vermicompostagem.

Visitas guiadas foram realizadas no Laboratório de Compostagem, durante eventos com alunos do Ensino Fundamental. Destaca-se a I Mostra de Trabalhos em Ciência e Tecnologia Ambiental (Figura 4), realizada em maio de 2019, na qual participaram em torno de 450 alunos de 12 a 14 anos, de escolas municipais de Uberaba.



Figura 2 - Visita guiada ao Laboratório de Compostagem



Nestas visitas, foram discutidos com os alunos temas como a quantidade de resíduos produzidos no Brasil, quais tipos de resíduos são recicláveis e qual a melhor forma de contribuir com o meio ambiente por meio do descarte adequado dos resíduos produzidos, dentre outros. Eles puderam observar os resíduos em diferentes estágios de decomposição e aprenderam a importância de manter o sistema em equilíbrio, qual a forma adequada de armazená-los e como manusear os compostos finais para a adubação orgânica. Notou-se, ainda, que os alunos demonstraram grande interesse sobre o tema abordado, realizando uma série de perguntas, tais como: quais os tipos de resíduos tratados neste sistema, como a minhoca contribui, qual a sua fisiologia, onde encontrar este tipo de minhoca ou até mesmo como construir um sistema doméstico similar.

A Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9795/99 (BRASIL, 1999), destaca entre os seus objetivos, a sustentabilidade ambiental, a qual não é possível de ser alcançada na ausência de educação ambiental (SILVA; LEITE, 2008). A compostagem se mostrou uma importante fonte de descoberta para crianças, jovens e adultos, podendo contribuir para a formação de sociedades mais conscientes e sustentáveis, por meio de ações de educação ambiental (BATISTA et al., 2016; (RODRIGUES et al., 2018).

De forma geral, a implementação da vermicompostagem possibilitou que a UFTM impactasse de forma significava a comunidade, propagando a educação ambiental além das barreiras do campus. Segundo Gomide et al. (2018), a função das universidades, além de educação profissional e acadêmica, é a educação para cidadania e convivência social para o meio ambiente, contribuindo para modificar atitudes e, formando profissionais que atuem de forma a expandir os conhecimentos teóricos e práticos, atuando em diferentes setores da comunidade.

4. Considerações finais



A criação do Laboratório de Compostagem contribui para a sustentabilidade da UFTM e para o prolongamento da vida útil do aterro sanitário da cidade, pela redução do volume de resíduos orgânicos a ele destinado, tornando-se exemplo para outras Instituições de Ensino Superior e gestores ambientais.

O sistema de vermicompostagem se mostrou uma ferramenta eficiente para o desenvolvimento de atividades de educação ambiental, nas diferentes faixas etárias, tanto no âmbito formal (pelo processo educativo institucionalizado), como informal (veiculada por meios de comunicação de massa).

A divulgação do projeto tem sensibilizado também toda a comunidade universitária, incluindo técnicos, docentes e discentes, revelando o seu potencial de ampliação e disseminação da cultura de tratamento dos resíduos orgânicos na fonte de geração. Os cursos e visitas realizadas no Laboratório de Compostagem possibilitaram a discussão sobre a problemática da geração de resíduos sólidos urbanos e de medidas para a minimização dos impactos ambientais causados. Com isso, foi possível a aproximação dos alunos com diferentes conteúdos abordados em sala de aula, tanto na Educação Básica como na Graduação.

Assim, o projeto tem atuado como estratégia de divulgação e popularização da Ciência, aproximando alunos da rede municipal de ensino, Instituições de Ensino Superior e comunidade, possibilitando a troca de experiência e conhecimentos sobre temas relacionados ao meio ambiente e criando um ambiente favorável à formação de profissionais conscientes de seu papel na sociedade.



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Ilustrações: Silvana Santos