Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
03/09/2020 (Nº 72) RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA ECOLÓGICA: UM OLHAR SOBRE O PROJETO TRILHAS ECOLÓGICAS NO CAMPUS DA UFPA - ANANINDEUA
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RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA ECOLÓGICA: UM OLHAR SOBRE O PROJETO TRILHAS ECOLÓGICAS NO CAMPUS DA UFPA - ANANINDEUA

Marcos Willian Fagundes Farias¹, Rodrigo da Silva Soares²

1Graduando em Licenciatura em Geografia, Universidade Federal do Pará – Ananindeua. E-mail: fagundesmarcos86@gmail.com

2Graduando em Licenciatura em Geografia, Universidade Federal do Pará – Ananindeua. E-mail: genesis.ananindeua@gmail.com



Resumo

Na atualidade os debates sobre os impactos ambientais tornaram-se recorrentes e é indiscutível negar que a participação humana sobre o meio tem contribuído para o agravamento destes impactos.Sendo assim, é fundamental que haja o exercício da educação ambiental na busca pelo desenvolvimento da consciência ecológica dos indivíduos, que a partir de uma escala local, poderá atingir o nível global. Com isso, este trabalho tem como objetivo apresentar um relato das experiências vivenciadas durante a participação no Projeto Trilhas Ecológicas no Campus da UFPA em Ananindeua: educação ambiental e convivência, vinculado a Universidade Federal do Pará – Campus Ananindeua, ressaltando que somente a partir da ação é que a aplicação da educação ambiental poderá transformar os indivíduos em seres mais responsáveis ecologicamente.



Palavras-chave: Impactos ambientais; Educação ambiental; Consciência ecológica.



Abstract

Nowadays, debates about environmental impacts become recurrent and it is indisputable to deny that human participation in the environment has contributed to the aggravation of these impacts. Thus, it is fundamental that there is the practice of environmental education looking for the development of ecological conscience of individuals, which from a local scale, will be able to reach the global level. This papper aims to present an experience report witnessed during the participation in the Ecological Trails Project at UFPA Campus in Ananindeua: environmental education and coexistence (harmony) linked to the Universidade Federal do Pará - Campus Ananindeua, emphasizing that it is just through the action that the application of environmental education will be able to turn into individuals ecologically responsible.



Keywords: Environmental impacts; Environmental education; Ecological conscience.



INTRODUÇÃO

Atualmente, discutir sobre os impactos ambientais tornou-se imprescindível. Fortes chuvas, enchentes, deslizamentos de terra, entre outros, são atribuídos por algumas pessoas como meros fenômenos da natureza, entretanto, é indiscutível negar que a participação humana sobre o meio tem contribuído significativamente para a intensificação desses fatores.

Tais motivos são elementos para que o sinal de “alerta” seja ligado, cabendo a humanidade refletir sobre princípios que visem estabelecer uma convivência harmoniosa com a natureza. Sendo assim, é de fundamental relevância o engajamento ecológico dos indivíduos ressaltando-se o trabalho de educar ambientalmente os mesmos.

Por outro lado, apenas “pensar” em educar ambientalmente já não é uma alternativa para se manter uma boa convivência com a natureza, mas sim, uma realidade que precisa urgentemente ser levada a sério e colocada em prática, pois, cuidamos da Terra e mantemos uma boa relação com mesma, ou a situação se tornará insustentável. Todavia, para que esse cenário não ocorra, faz-se necessário desde já a participação de todos conforme descrito no preâmbulo da Carta da Terra (inspirada por Mikhail Gorbachev e aprovada em 2003 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO):

Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.”

No entanto, fazer com que todos passem a cooperar conjuntamente em prol de uma visão e prática sustentável ainda é um grande desafio. Dado isso, é primordial o exercício da educação ambiental, buscando desenvolver a consciência ecológica dos indivíduos, que a partir de uma escala local, nas comunidades, poderá atingir o nível global, promovendo desta maneira “a grande transformação” (BOFF, 2014).

Sendo assim, este trabalho tem como finalidade apresentar um relato das experiências vivenciadas durante a participação no Projeto Trilhas Ecológicas no Campus da UFPA em Ananindeua: educação ambiental e convivência, vinculado a Universidade Federal do Pará – Campus Ananindeua.

Projeto Trilhas Ecológicas no Campus da UFPA em Ananindeua: educação ambiental e convivência

O Projeto está situado no espaço da Universidade Federal do Pará – Campus Ananindeua, localizado na estrada do Icuí, bairro Icuí-Guajará em Ananindeua, Pará. O mesmo faz parte do Programa Institucional de Bolsas de Extensão (PIBEX) e foi criado no ano de 2016 por dois técnicos administrativos da referida instituição.

É importante destacar que a execução do projeto é referente a um dos pilares do ensino superior no país, a saber, extensão. Dessa maneira, de acordo com Deslandes e Arantes (2017), tal prática é utilizada para fomentar a formação profissional e humana dos indivíduos dentro das universidades além de contribuir como instrumento de transformação social.

Por outro lado, para Rodrigues et al. (2013) um dos principais objetivos da extensão é promover melhorias na qualidade de vida das pessoas assistenciadas. Além disso, também atua como uma ponte que facilita a passagem dos saberes na comunidade, ou seja, entre as universidades e a sociedade ao seu entorno e vice-versa.

ASPECTO METODOLÓGICO

Este documento trata-se de um estudo descritivo, tipo relato de experiência, elaborado no contexto da participação ao referido projeto durante os meses de agosto a dezembro do ano de 2019.

Todavia, quanto ao desenvolvimento dos relatos, para um melhor entendimento os mesmos serão caracterizados da seguinte maneira:

a) Cuidados com a área de realização da trilha;

b) Evento de conscientização nas escolas;

c) Caminhada na trilha.

RESULTADOS

As atividades realizadas contribuíram significativamente para o processo de inter-relação entre homem/natureza, tendo a educação ambiental como eixo central com enfoque nas ações educativas.

As atividades práticas realizadas pelos membros, no espaço do projeto, possibilitaram a interação física com a natureza, o foco nesta etapa foram os trabalhos de manutenção do local e das espécies de plantas cultivadas além do plantio de mudas. Neste processo pode-se conhecer um pouco mais sobre os cuidados que devemos ter com a vegetação bem como seus benefícios à humanidade.

Entre as espécies cultivadas (Figura 1) foi possível exercer uma relação de cuidado com grumixama Eugenia brasiliensis; pitanga ginja Eugenia Uniflora; rambutã Nephelium lappaceum; lichia Litchi chinensis sonn; tamarindo – Tamarindus indica; açaí – Euterpe oleracea e castanha-do-pará - Bertholletia excelsa. Tal relacionamento com as plantas perpassaram desde o cuidado com a limpeza ao redor das mesmas até o acréscimo de insumos como, por exemplo, substratos da compostagem, sendo este confeccionado no local pelos membros do projeto. Durante este processo pode-se compreender que não há limites para se educar ambientalmente, pois, neste sentido, o processo de preparação da compostagem transformou-se em um mecanismo de propagação da educação ambiental (este evento ocorreu por parte dos coordenadores do projeto aos demais membros).

Em relação a outros aspectos educativos, estes aconteceram por meio das práticas de conscientizam realizadas com estudantes de escolas municipais e estaduais do município. O público-alvo alcançado durante a realização dessa etapa foram os alunos do 6º ano, contabilizando um total de 133 estudantes de escolas distintas (Escola Municipal de Ensino Fundamental Profª Raimunda Pinto e Escola Estadual de Ensino Fundamental Nair Zaluth). A faixa etária deste público variou entre 10 a 13 anos, período da vida comumente denominado como adolescência. Em relação a essa fase da vida Bock et al. (1999, p.105) destaca o seguinte:

Neste período, ocorre a passagem do pensamento concreto para o pensamento formal, abstrato, isto é, o adolescente realiza as operações no plano das ideias, sem necessitar de manipulação ou referências concretas como no período anterior. É capaz de lidar com conceitos como liberdade, justiça etc. o adolescente domina, progressivamente, a capacidade de abstrair e generalizar, criar teorias sobre o mundo, principalmente sobre aspectos que gostaria de formular.”

Perante o exposto, cabe ressaltar que é nesta fase em que ocorre a formação identitária dos indivíduos, por isso é um momento oportuno para despertá-los a consciência ecológica, haja visto que neste estágio do processo de maturação há a sensibilização e compreensão sobre diversos assuntos. Desta maneira, o trabalho desenvolvido é voltado ao público infantojuvenil, que em sua maioria encontram-se predispostos a desenvolverem a sensibilidade e o amor pela natureza, através da conscientização ambiental (MARTINS e SANTOS, 2018).

Em contrapartida, nas escolas, foram realizados diálogos com a finalidade de estimular a consciência ecológica dos indivíduos (Figura 2). Para isso, abordou-se temas concernentes ao lixo e a água, tais como: importância de se depositar os resíduos em local correto; a necessidade de separação dos resíduos e suas consequências, a exemplo, a modificação da paisagem, obstrução de bueiros que consequentemente promovem alagamentos no período chuvoso da região; impactos à saúde tal como a proliferação de vetores; relevância da água para a vida; demonstração quantitativa da água na superfície terrestre, fazendo a equiparação entre água doce e água salgada; desperdício; poluição da água subterrânea pela ação do descarte irregular do lixo e o exacerbado consumo de água utilizado durante o processo produtivo.

Além das palestras também houve realização de atividade lúdica a cargo do Quiz ecológico – jogo com 18 perguntas sobre reciclagem, destino do lixo, dia do meio ambiente, entre outros temas.

Durante as palestras foi possível perceber que o público-alvo tem a compreensão das práticas necessárias a serem tomadas para evitar o desperdício de água bem como o descarte irregular de lixo. Entretanto, o que se pode também constatar é que estes não se veem como parte importante deste processo, se acham incapazes de efetuarem algo para transformar o meio em que vivem.

Posteriormente as palestras, foi feito o convite para que os grupos participassem da trilha, contudo, apenas um dos grupos realizou a mesma (27 estudantes da Escola Municipal Profª Raimunda Pinto) (Figura 3). Sobre a trilha, esta tem extensão aproximada de 1 Km (um quilômetro) e ocorre sempre pelo horário da manhã devido a sensação térmica ser mais agradável, provocando menor desconforto ao público. Além disso, o percurso tem uma duração aproximada de 65 minutos. É caracterizada pelo baixo impacto físico (pouca declividade, obstáculos e rápida exposição ao sol) e ambiental (proibição da entrada de alimentos, percurso estreito sem degradação da vegetação, uso esporádico ocorrendo apenas após agendamento). Esse momento teve como propósito aproximar o contato do público-alvo com a natureza contribuindo com inter-relação entre o homem e o meio ambiente.

Segundo Câmara e Lima (2017) a utilização destes cenários (trilhas) e dos recursos dispostos neles, são propícios para a produção do conhecimento e das emoções positivas no público-alvo, facilitando o desenvolvimento da admiração e do respeito destes para com o meio ambiente, desta forma despertando-os para a preservação. Sendo assim, busca-se utilizar todos os arcabouços possíveis para que sejam formadas a consciência ecológica dos indivíduos a partir da educação ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tarefa de instigar a consciência ecológica por meio da educação ambiental não é fácil, haja visto que ainda são encontradas múltiplas barreiras em relação às ações que almejam “educar ambientalmente”. Sobre isso, destacam-se algumas das dificuldades enfrentadas pelo projeto que desde sua criação luta contra a carência de recursos humano e financeiros, fatores que limitam a abrangência do mesmo no município.

Por outro lado, é importante destacar que a missão de despertar a consciência ecológica dos indivíduos através da educação ambiental não é uma ferramenta de transformação rápida, como muitos assim a querem, pois, seus resultados só poderão ser significativos em médio e longo prazos já que seus efeitos partem da individualidade à coletividade.

Portanto, na aplicação da conscientização ambiental a partir da educação, a ação faz-se imprescindível, sem esta, tão pouco conseguiremos alcançar a tangibilidade desejada: a convivência harmônica entre a sociedade e a natureza.



AGRADECIMENTOS

À Escola Municipal de Ensino Fundamental Profª Raimunda Pinto e Escola Estadual de Ensino Fundamental Nair Zaluth. Aos coordenadores do Projeto Trilhas Ecológicas no Campus da UFPA em Ananindeua: educação ambiental e convivência, pelo acolhimento e ensinamento transferidos.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOCK, Ana Mercês Bahia et al. (1999). Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo, SP: Saraiva, 1999. 368 p.

BOFF, Leonardo. A Grande Transformação: na economia, política e na ecologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. 221 p.

CÂMARA, Joseleide Texeira; LIMA, Andressa Ramos. O USO DE TRILHAS ECOLÓGICAS PARA TRABALHAR EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Educação ambiental em ação. n. 59, 2017. Disponível em:<http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2679>. Acesso em: 10 de jan. de 2020.

CARTA DA TERRA. 1992. Disponível em: <encurtador.com.br/pyKOV>. Acesso em: 10 de jan. 2020.

DESLANDES, Maria Sônia; ARANTES, Álisson Rabelo. A extensão universitária como meio de transformação social e profissional. Sinapse Múltipla. v. 6, ed. 2, p. 179-183, 2017. Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/index.php/sinapsemultipla/article/view/16489>. Acesso em: 13 de jan. de 2020.

MARTINS, Paulo Nazaré Coutinho; SANTOS, Alexandre Figueiredo. Projeto trilhas ecológicas no campus da UFPA em Ananindeua: educação ambiental e convivência. In: NUNES, Francivaldo et al, (org.). CIÊNCIA E MEIO AMBIENTE: Ensino, pesquisa e extensão no Campus Universitário de Ananindeua - UFPA. Limeira, SP: Segunda Leitura, 2018. p. 59-66.

RODRIGUES, Andréia Lilian Lima et al. Contribuições da extensão universitária na sociedade. Caderno de graduação: Ciências Humanas e Sociais, Aracaju - SE, v. 1, ed. 2, p. 141-148, 2013. Disponível em: <https://periodicos.set.edu.br/index.php/cadernohumanas/article/view/494/254>. Acesso em : 13 de jan. 2020.



Ilustrações: Silvana Santos