Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Sementes
05/07/2021 (Nº 74) CONVERSÃO DE GRAMADO EM SÍTIO AGROECOLÓGICO URBANO: EFEITOS NA ECOLOGIA E NA PAISAGEM
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CONVERSÃO DE GRAMADO EM SÍTIO AGROECOLÓGICO URBANO: EFEITOS NA ECOLOGIA E NA PAISAGEM



José André Verneck Monteiro

educativo@live.com

Licenciado em Pedagogia na Fundação Universidade do Tocantins, Especializado em Educação Ambiental na Universidade Candido Mendes, Mestre em Práticas em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/Global MDP, Mestrando em Agricultura Orgânica PPGAO UFRRJ/EMBRAPA/PESAGRO 2019-2021. Publica no Instagram @jardim_vital



Resumo

Este relato de experiência contém a síntese dos princípios e práticas adotados no delineamento, implantação e manutenção de um sítio agroecológico, idealizado com ênfase em tecnologias de impacto socioambiental positivo e de baixo custo, destinado à provisão sustentável de alimentos, em um lote urbano com 360 m2, situado no município de Macaé/RJ, Brasil. Em sequência são detalhadas cada etapa do trabalho realizado entre janeiro/2020 a fevereiro/2021. Nos primeiros dez meses a partir da implantação, foram os mais expressivos efeitos observados na ecologia e na paisagem: a)descompactação e revitalização do solo à base de compostagem aeróbica de biomassa vegetal associada a ação de invertebrados; b) uso de galinheiro móvel para fertilização dos canteiros destinados aos policultivos; c) substituição parcial de gramíneas pela implantação de um acervo etnobotânico com aproximadamente 80 espécies vegetais; d) adubação realizada quinzenalmente, por via foliar, mediante pulverização de biofertilizante diluído (1:10 água), obtido por compostagem em baldes; e) registrada a presença de 40 diferentes invertebrados, incluindo melíponas dos gêneros Bombus, Tetragonisca e Plebeia, além denotável população de espécies atuantes no controle biológico de Aedes aegipty; f) foram observadas 12 espécies da avifauna durante pousio, forrageamento e nidificação no local; g) houve aumento da ocorrência de anfíbiose répteis (calangos e lagartixas); h) nenhum exemplar de caramujo-gigante foi observado no sítio; i) apartir do 50º dia decorrido do início da implantaçãoo sítio originou safras crescentes e sortidas de alimentos, em porções suficientes para dieta básica pessoal e partilhas com a vizinhança; j) sementes crioulas de variedades incomuns de milhos e tomateiros silvestres foram cultivadas no sítio e parte de suas descendentes foram distribuídas entre agricultores locais; k) a irrigação foi realizada manualmente, com água tratada e potável, somente nos períodos de estiagem, com média de lâmina d’água limitada a 5/l/m²/dia; l) houve perda parcial de acervo vivo de hortaliças em dezembro, por excesso de chuvas e em janeiro por altas temperaturas e estiagem prolongada que coincidiu com abastecimento inconstante de água; m) a transição agroecológica desenvolvida no sítio impulsionou outras iniciativas locais como um sistema agroflorestal linear e um bananal. Estas páginas compõe a contribuição elaborada a convite de Berenice Gehlen Adams para a Seção Sementes, na 74ª Edição da Revista Educação Ambiental em Ação, que é inspirada pelo tema Educação Ambiental para repensar sobre nossa responsabilidade, e motivada pela frase de Thomas Fuller: “Nós nunca sabemos o valor da água até que o poço esteja seco”.

Palavras-chave: sementes, agrobiodiversidade, solo degradado, educação ambiental, feijão-borboleta.



Noção de paisagem

A idealização de paisagens requer atenta percepção das características que compõem o mosaico de ambientes e estruturas, a diversidade de habitantes e culturas, condições climáticas, de solo e relevo, bem como o tipo de relações que serão favorecidas entre os seres e uma área, de qualquer dimensão, rural ou urbana.

Há inúmeras definições científicas, líricas, empresariais e populares para o termo paisagem. Neste ensaio absolutamente tudo compõe a paisagem. Tudo o que se pode perceber e assimilar por intermédio dos sentidos humanos, inclui os elementos e detalhes, visíveis ou não, que estão ao redor de quem os percebe, os interpreta e nota seus estímulos.

Cada ser é capaz de compreender a paisagem ao seu próprio modo, porém há meios de condicionar a atenção para aspectos minuciosos de cada ambiente, da mesma forma que a sinalização orienta e a publicidade direciona as pessoas a adotar sentidos e comportamentos.

Ao modo de uma lupa, a interpretação ambiental é um recurso educacional que enfatiza a observância de micro e macro cenários, favorecendo a construção de significados em múltiplas camadas da percepção cognitiva sobre espacialidade, abrangência e temporalidade da paisagem,bem como as correlações que se estabelecem a partir de suas peculiaridades e modos de uso.



Natureza ou semáforo?



Um exercício simples que permite a reflexão sobre questões de sustentabilidade urbana, qualidade e planos para a vida pessoal consiste em criar e comparar parâmetros a partir de suas convicções e preferências, para compreender suas próprias percepções sobre o meio urbano e o meio rural. E isso pode ser bem variável até mesmo entre membros de uma mesma família, que convivem juntos por toda vida, num mesmo lugar.

A história de vida e as predileções de cada pessoa influenciam seu estado de receptividade ou aversão às coisas da roça ou da metrópole. É normal constatar, no convívio, que há quem sinta o chão como extensão de seu corpo e fonte de alimentos, enquanto outras pessoas preferem azulejar o quintal. Uns agradecem pela sombra, outros reclamam por varrer as folhas caídas da árvore.

Os distintos modos de notar e manejar o ambiente são agentes construtores da cultura e ajudam a explicar a sociedade de um lugar. Civilizações primitivas declinaram e até se extinguiram a partir do esgotamento dos recursos ambientais de onde viveram.

Enquanto no meio rural se observa predominância de paisagens agrícolas, como os remanescentes florestais, áreas de uso agropecuário ou áreas de mínimo uso humano, no ecossistema urbano predominam as paisagens pavimentadas, edificadas, com alta densidade populacional de pessoas, reduzido número de formas de vida silvestre, relativamente pouca água natural, terra disponível e menos gente dedicada a plantar comida.

Viver com saúde e qualidade é uma decisão pessoal que pode ter origem na escolha de propósitos e o tipo de dieta. Em sentido amplificado a dieta não é somente aquilo que se come ou bebe. É também o que se assiste, ouve, lê, as pessoas com quem convive, os temas aos quais se condiciona o pensamento e a criatividade. Nutrir-se também significa estar conectado e consciente de tudo o que afeta ao corpo: físico, emocional e espiritual (ou religioso, para quem prefira assim designar). A paisagem também é parte da dieta.

A prática da sagrada agricultura acompanha e expandiu a evolução humana nos recentes dez mil anos. Hoje a população mundial é estimada em 7,7 bilhões de pessoas. É preciso alimentar tanta gente, e para isso é necessário que mais pessoas desenvolvam conexão, com intenso esforço mental e físico diário, sol, suor, poeira, chuva, lama, formigas, minhocas, estrume, manejo de sementes, ferramentas, equipamentos de proteção e tudo o mais que compõe o universo agrícola.

Mesmo em pequenos espaços é possível cultivar alimentos suficientes para diversificar a dieta da família e dos animais que se cria, o que na cidade tem sido cada vez menos praticado. O ato de colher requer cuidar, então comprar suprime o cultivar, por escolha ou condição, por falta de terra ou tempo.

A domesticação de animais também evoluiu junto à agricultura. Então o ato de cuidar, natural do ser humano, passa a ser dedicado à família, às plantas e aos animais. No ambiente rural tipicamente brasileiro a criação de animais é principalmente voltada à alimentação, transporte de pessoas ou força motriz para apoiar a execução de trabalhos humanos. Já no ambiente urbano os principais animais criados cumprem funções de companhia, vigilância e até de coleção em cativeiros domésticos.

No campo, a partir de tratamentos simples, os dejetos (animais e humanos) podem ser aplicados como fonte natural de fertilização para lavouras. Nas cidades a destinação de dejetos, resíduos, rejeitos e a purificação de águas sempre serão desafios para se preservar a qualidade ambiental e saúde da população, em razão do volume de detritos gerados o tempo todo. As questões jurídicas, empresariais, sociais e culturais relacionadas à água são complexas e envolvem tantos interesses que não caberiam nesse parágrafo. Água é essencial à vida.

Em ecossistemas equilibrados os animais encontram condições favoráveis para se alimentar, repousar, migrar, procriar e se desenvolver com saúde, em plenitude normal para cada espécie. Observar a fauna em seu habitat é uma experiência incrível que auxilia a compreender vários aspectos da vida. Nas cidades há muitos animais nas ruas em situação de abandono, disponíveis para quem se sentir motivado a praticar a adoção consciente. Apenas servir ração e água pelas calçadas não priva os animais da vulnerabilidade aos maus tratos, zoonoses, desconforto emocional, atropelamentos, etc. Inclusive, a ração servida pode ser aproveitada por ratazanas, estimulando sua procriação.

Várias espécies animais, nativas ou exóticas, vêm se adaptando tão bem às condições urbanas que até ocasionam infestações severas e prejuízo material. Há relatos de cupins roendo e se alimentando de fibra ótica, colônias de formigas habitando computadores, migrando por entre tomadas e eletrodutos alcançando o topo em edifícios com mais de vinte pavimentos. Há gente dando milho a milhares de pombos. Focos domésticos de criação de mosquitos que causam epidemias. Baratas, moscas e ratazanas se proliferando por falta de estrutura adequada para disposição e recolhimento de resíduos. Cada vez mais frequentes, as infestações por caramujos-gigantes têm causado prejuízos em jardins e hortas.

As infestações são indicadores de desequilíbrio ecológico, o que pode ocorrer em vários níveis, inclusive ser resultante de manejo ambiental inapropriado, prejudicando a população de espécies que realizam o controle biológico de pragas. Apenas para citar uma praga comum no Brasil e seus vários agentes biológicos de controle: marimbondos, aranhas, lagartixas, beija-flores, libélulas, sapos, pererecas e rãs são alguns dos animais devoradores de larvas e/ou mosquitos. Não é à toa que as raquetes, telas anti-inseto, redes para pesca ou repouso, até a internet são inspiradas em teias de aranha. A natureza é fonte de soluções e motivações.

Quando as pessoas eliminarem os focos de proliferação de Aedes aegipty, e as condições ambientais forem favoráveis às populações dos outros animais que atuam no controle biológico do mosquito, estarão resolvidas as medidas preventivas para dengue, febre amarela e chikungunya. Isso representa uma ação estratégica, em rede, a favor da saúde coletiva, com economia de raquetes, ventiladores e principalmente, sem venenos.

É mais frutífero optar por gastar dinheiro com saúde e qualidade ambiental, do que ser obrigado a gastar com doenças.O ser humano se considerasuperior na escala evolutiva, sendo capaz de atuar de modo inteligente, e intervir, juntamente com outros organismos, no controle biológico do mosquito, ao plantar jardins e evitando deixar superfícies com água limpa e parada, sem precisar comer diariamente tantos mosquitos nem usar qualquer spray que prometa ser terrível, só contra os insetos.

Áreas revestidas por vegetação têm melhor capacidade de absorver as chuvas e formar mananciais. Alguns desastres ocasionados por chuvas intensas são potencializados por urbanização excessiva, ocupação e impermeabilização desordenada do solo, supressão de vegetação nativa. Ou seja, o desastre não é causado pela chuva e sim pelas ações humanas no lugar, que o tornaram inapto a suportar a chuva intensa. Sempre choveu antes, mas a estrutura urbana não está sendo adequada para usufruir da chuva como um benefício. Para muitas populações em áreas de risco a ocorrência de uma tempestade tropical típica de verão pode significar alagamento, desmoronamento, prejuízos materiais, até óbito.

A formação de ilhas de calor é bem mais notável onde há menos vegetação e mais edificações aglomeradas. Onde as correntes de vento fluem impregnadas pela umidade liberada pelas plantas e sem tantos obstáculos como os prédios, resfriam as superfícies com melhor desempenho. Mas o vento cumpre muitas outras funções para além de velejar, gerar movimento e energia elétrica ou refrescar concreto e asfalto. A sensação térmica corporal é regulada pelas brisas. Esse fenômeno pode estimular para que mais pessoas busquem estar ao ar livre e sintam essa conexão.

O desafio proposto à ciência não é apenas de se conseguir engarrafar o vento. É mantê-lo em movimento até que a garrafa seja reaberta, o que somente será possível se em seu interior houver árvores. As vidraças absorvem parte da insolação e do calor e irradiam parte dessas energias para o que estiver próximo.

Os vidros de superfície espelhada reduzem a absorção e a ampliam a irradiação de luz e calor. Os modelos mais modernos de habitação e automóveis têm vidros espelhados e dispositivos de controle de fluxo, temperatura e umidade do ar. Nas casas e carros mais simples essa regulagem é realizada abrindo ou fechando as janelas (quando anda faz vento e refresca, parado aquece).

Fora do edifício e do automóvel, o reflexo do sol nos vidros vai migrando e aquecendo superfícies ao redor. Onde há muitos edifícios envidraçados e automóveis, esse zigue-zague de reflexos solares eleva a temperatura ambiental. Para ilustrar ludicamente essa típica cena de centros urbanos, imagine-se praticando exercícios numa sala de espelhos, tendo uma lanterna ligada em uma das mãos e na outra um secador de cabelos. A luminosidade e o vento aquecido estarão sendo dirigidos em várias direções. É quase isso o que acontece, bem menos divertido para os seres que habitam essas ilhas de calor.

Nos ambientes naturais ou pouco antropizados a composição florística é mais rica, bem como é mais notável a capacidade de regeneração espontânea da vegetação após alguma perturbação.

O repertório de espécies vegetais utilizado no paisagismo urbano é geralmente associado às espécies mais rústicas, limitando a arte em relação à diversidade florística disponível, em especial de espécies nativas.

As plantas que habitam as áreas públicas precisam mesmo ser muito resilientes. Elas sobrevivem a inúmeros outros fatores extenuantes e debilitantes, além das ilhas de calor urbano, tais como: água clorada (ou sede, se não chover), manejo e adubação deficientes, competição com plantas infestantes, pastejo, infestações por pragas e acometimento por doenças, senilidade, vento canalizado pelas quadras e vias de alto tráfego, iluminação noturna de postes, faróis e anúncios luminosos, poeira de asfalto e combustíveis, inundações, “banhos” de veículos passando em poças e respingos de óleo automotivo.

Alguma vez já observou de perto a mancha multicor que se movimenta no asfalto molhado? Os resíduos de óleos e graxas que pingam dos veículos também poluem e contaminam com metais pesados o solo, os rios e os mares.

Há condutores de veículos concentrados apenas na própria direção a seguir, sem notar as circunstâncias que afetam aos pedestres, ciclistas, outros motoristas e tudo o mais que há na paisagem que o envolve. As faixas de vegetação praianas vêm sendo suprimidas de um lado pela especulação imobiliária e pelo outro lado vem sendo atropeladas pelo hábito de trafegar com veículos em cima de restingas.

Há um limite de sensatez que permite discernir, mesmo sem placas, que praia não é lugar de carro.Há bastante coerência em usufruir das praias sem precisar de máquinas, sem poluir, suave.

Andar, nadar, remar, plantar, brincar e celebrar a vida são atos comuns na raiz cultural e no DNA do povo brasileiro. A típica expressão “programa de índio” talvez se refira a essa busca por estar no ambiente natural e trocar energias sublimes. No ambiente científico a biofilia vem sendo estudada desde 1984. Pé na areia é orgânico e gratuito!

O ajardinamento de áreas públicas é prejudicado também por vandalismo como pisoteio, extração (roubo da planta inteira), despejo de resíduos, e atos aparentemente inofensivos se esporádicos, porém danosos quando frequentes. Pisar as plantas já é um deslike na selfie com as flores. Nem sempre abraçar a estátua é demonstração de admiração à arte, respeito ao artista ou a quem se lhe dirigiu a homenagem por meio da obra artística.

Jardins não são sanitários para animais de estimação. O pisoteio frequente, a composição química dos excrementos e o ato de “ciscar ou soterrar suas obras” repetidamente, diariamente, vários animais por dia fazendo o mesmo ato, afetam negativamente o jardim. Por uma questão instintiva os animais são atraídos pelos múltiplos odores impregnados e aproveitam o passeio para delimitar seu território. Como não têm polegar opositor que lhes atribua habilidade de usar lápis, registram sua presença de outras formas e o ciclo danoso se repete. Não basta recolher no saquinho e jogar na lixeira. A conduta consciente é impedir o acesso dos animais aos jardins. Os “pets” agem por instinto animal, as pessoas podem agir com bom senso e respeito ao patrimônio alheio, o bem comum, a civilidade.

Nas cidades há conglomerados de pessoas vivendo no habitat que suas condições lhe permitem, nem sempre higiênicas, confortáveis e seguras. Áreas de risco continuam a ser edificadas para habitação humana. O tipo de ordenamento urbanístico e arquitetônico adotado nas recentes quatro décadas priorizou a verticalização das unidades habitacionais, a substituição de áreas verdes por vias de tráfego ou estacionamento de automóveis.

O estilo de vida cosmopolita disponibiliza menos tempo dedicado à fruição das fontes naturais de alimentação e lazer contemplativo. Em suma, são desafiadoras as condições de vida nas cidades grandes, não está fácil pra ninguém a qualidade do ar, da água e dos alimentos, a tendência da estrutura urbanística, inexistência ou ineficácia de políticas públicas realísticas. Esse conjunto de fatores projeta adiante: à medida que as populações crescem, piora a condição de vida nas cidades, os recursos ambientais se tornam cada vez mais escassos e aumenta a geração de resíduos.

Tal fluxo é evidente no Brasil desde a colonização, e se intensifica no século XIX com a industrialização e franca expansão urbana: a cada indústria instalada, maior demanda de trabalhadores. A cada polo de indústrias instalado, as cidades que as sediam passam a apresentar elevação populacional. Mais indústrias, menos áreas verdes, mais pessoas, mais resíduos, e o já tradicional subdimensionamento da estrutura para atender às necessidades básicas humanas.

Opostamente a esse cenário, a paisagem pode ser construída de modo a contribuir para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (PNUD, 2021).

Os parâmetros adotados neste trabalho, em comparação dos meios rural e urbano, são ilustrativos de cenas realísticas, e representam o cotidiano para milhares de pessoas que vivem no continental território brasileiro.

A busca por qualidade de vida tem inspirado o desenvolvimento de inúmeras tecnologias de impacto socioambiental positivo, as quais estão disponíveis para replicação em ambientes domiciliares e empresariais a baixo custo monetário.

Tais iniciativas com foco em promover sustentabilidade social, ambiental e financeira tiveram impulso no Brasil principalmente, a partir da realização da Rio92, e hoje são amplamente difundidas com o auxílio das tecnologias de informação e comunicação como a internet e os sistemas de educação à distância.



Agroecologia urbana

No campo há maior oferta de alimentos frescos ou minimamente processados. Na cidade os alimentos industrializados são a maioria. A expressividade e a modalidade da paisagem agrícola de cada ecossistema – rural ou urbano – têm influência direta na segurança alimentar e nutricional de suas populações.

As zonas urbanas e periurbanas dos municípios tem mais espaço dedicado aos automóveis, do que para hortas e pomares.Apaixonado por carro, como todo brasileiro é uma condição real só para quem pode optar por utilizar ou não, o transporte coletivo. Entre se alimentar ou sustentar o custo de um automóvel há quem escolha a bicicleta.

A paisagem agrícola instalada nos centros urbanos é muito mais representada pelo ajardinamento das unidades habitacionais e vias públicas, praças e parques, do que exatamente pela produção de alimentos. Significa dizer que há muito mais investimentos em aspectos cosméticos do que essenciais.

A memória do folclórico jardim da vó é repleta de flores, verduras, temperos, chás e medicinas caseiras, tudo junto e misturado, em cada canto do quintal, ou em vaso ou lata. Para quem nasceu no século passado talvez tenha recordações de que havia uma cultura de hortas nos subúrbios, que juntas compunham o que já foi denominado como cinturão verde das cidades.

Nas feiras livres era mais comum adquirir alimentos diretamente de quem os cultivava e vendia. Atualmente o mais comum é que nas feiras se encontre muito mais alimentos, contudo a predominância é de lotes fracionados, adquiridos em centrais de abastecimento, e por vezes sem qualquer conhecimento da origem nem o tipo de manejo adotado para a cultura desses alimentos. Adquirir alimentos em feiras agroecológicas é uma forma de prestigiar às famílias que vivem da terra.

Todo jardim ornamental tem potencial para ser jardim comestível e abrigo de agrobiodiversidade. O tipo de manejo adotado pode contribuir para essa expansão de conceito. Toda planta cumpre inúmeras funções ecológicas, porém algumas espécies vegetais além de possuir valor estético e colaborar para o equilíbrio ambiental, também possibilitam outros empregos em favor das pessoas.

Por essa ótica, os jardins podem conciliar senso estético com funcionalidades, e ainda oferecer utilidades como alimentos, fármacos, condimentos, fibras, pigmentos, e toda sorte de matérias primas vegetais que são usufruídas pela humanidade ao longo de sua trajetória, relação da qual tratam os estudos em etnobotânica.

Na prática, se observa que há cada vez mais gente buscando informação para cultivar alimentos em casa. Os princípios e práticas agroecológicas podem contribuir para o êxito da iniciativa e originar gratificantes colheitas. A transição do modo convencional de produção de alimentos para sistemas agroecológicos representa um salto na qualidade ambiental, potencializa a promoção da saúde humana consubstanciada com desenvolvimento econômico integrado em circuitos curtos de comercialização.

Essa transição agroecológica é favorecida por mais de três décadas de avanço no conhecimento sobre eficiência energética, irrigação, manejo do solo a partir de compostagem orgânica, cobertura dos canteiros com palha sortida, consórcios entre espécies, rotação de culturas, preparo de caldas naturais, conservação de agentes de controle biológico de infestações e pragas, intercâmbio de sementes crioulas, e a amplitude de possibilidades culinárias à base de vegetais.

Plantas podem ser chamadas de mato, até se conhecer sua nomenclatura científica, por meio da qual se pode obter bastante informação sobre cada espécie.

Hoje o conhecimento gerado e atualizado pela comunidade científica mundial está disponível a todos nos bancos de dados botânicos. Isso é um privilégio para quem busca ampliar seu repertório alimentar aproveitando os benefícios das milhares de espécies de plantas já estudadas, das quais alguma de suas partes pode servir à alimentação humana, crua ou em diferentes preparações.

Do mato ao prato, as plantas acompanham a humanidade por uma longa jornada ancestral de evolução dos sentidos. Hoje temos a oportunidade de ampliar nosso repertório alimentar e nutricional, exercitando a criatividade culinária, tendo como principal ingrediente o uso sustentável da agrobiodiversidade.

O experimento descrito a seguir detalha as etapas iniciais da conversão de um gramado em sítio agroecológico urbano, as tecnologias e os insumos aplicados no manejo dos policultivos de alimentos, e influência observada na ecologia da paisagem local. O período de realização das atividades compreendeu janeiro/2020 desde o preparo das mudas, até janeiro/2021 com a redação deste manuscrito.



Área de trabalho

Um casebre condominial em lote de 360 m2(Figura 1), situado na área periurbana do município de Macaé, na localização 41º51'26" W 22º21'58" S.

Figura 1. Área do ensaio experimental destinado à conversão de gramado em sítio agroecológico urbano, e análise de sua influência na ecologia da paisagem local. O ponto branco na porção central da imagem se refere à localização: 41º51'26" W 22º21'58" S. Imagem gentilmente elaborada pelo Professor Doutor Daniel de Albuquerque Ribeiro, a partir do arquivo de Google Earth, que ilustra a condição da área anterior ao início deste ensaio.



O imóvel estava inativo, seu uso prescindia reparos, regularização eletro-hidráulica e higienização. O contrato de aluguel, por doze meses, foi celebrado em abril/2020, tendo como principais propósitos a moradia em bairro menos populoso, para cumprimento do distanciamento social desde o início da pandemia, bem como providenciar condições para conclusão do ensino remoto, dos ensaios experimentais e a dissertação em curso no Programa de Pós-graduação em agricultura orgânica – PPGAO UFRRJ/EMBRAPA/PESAGRO (MONTEIRO et all, 2019).

A cobertura vegetal predominante no terreno era constituída por grama esmeralda e braquiárias em profusão, por séries de semeadura, ao longo do período em que a casa permaneceu sem alugar. Ambas vigorosas gramíneas, com suas raízes atingindo 15-25 cm de profundidade no solo.

Em frente à fachada frontal da casa há duas árvores antigas de sansão-do-campo (Mimosa caesalpiniifolia), e um exemplar de maracujá-doce (Passiflora edulis). Essas plantas haviam sofrido poda drástica de rebaixamento da copa antes do aluguel do imóvel, estando à ocasião desprovidas de ramos e folhas.

O solo estava visivelmente pobre em matéria orgânica, bem compactado, basicamente uma mescla de saibro e barro aplicada na terraplenagem durante o loteamento (Figura 2). A prospecção e coleta de amostras só foram possíveis com uso vigoroso de picareta e enxadão.



Figura 2. Aspecto geral do solo na seção central do terreno, antes da implantação do ensaio experimental.

O terreno é limitado para as ruas por mureta de alvenaria, revestido por chapisco, encimado por alambrado de tela metálica com 160 cm de altura total. O limite com os dois vizinhos contíguos é muro de alvenaria chapiscado, com 2 metros de altura. Na porção central do lote a insolação média é de 10h/dia.

Na área externa do lote a calçada mede 130 cm de largura, com perímetro de 60 metros lineares, perfazendo um total de 78 m2. Esta área de uso público é revestida por grama esmeralda e nela já haviam sido plantadas espécies arbóreas, que estavam em início de desenvolvimento: nêspera (Eriobotrya japonica), limão-cravo (Citrus × limonia), lichia (Litchi chinensis), tamarindo (Tamarindus indica), noni (Morinda citrifolia), graviola (Annona muricata), ipê-amarelo (Handroanthus sp.), palmeira-areca (Dypsis lutescens) e um mamoeiro (Carica papaya).

O lote é situado em esquina, foi planificado à máquina com suave declive a partir da fachada posterior do casebre, formando uma seção brejosa, no mesmo sentido do hidrômetro e da tubulação de efluentes em fluxo à rede pública de coleta. Em média, o lote é situado 30 cm acima do nível de asfaltamento das vias, as quais têm drenagem superficial por bueiros e galerias pluviais, independentes da rede de efluentes sanitários.

O croqui elaborado a partir do estudo preliminar de situação do imóvel, da fonte de águae do conjunto arbóreo é observado na Figura 3.

Figura 3. Estudo preliminar do imóvel para delineamento do sítio agroecológico urbano. Abril/2020.

O abastecimento (inconstante) de água potável e o tratamento de esgoto são realizados pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE. No imóvel há um conjunto de três caixas d’água funcionando como reservatório, com capacidade total de armazenar até 8 mil litros. Sobre a casa há um reservatório para 500 litros, para abastecê-lo e para irrigação, foi instalada uma bomba de recalque com ½ HP.

A eletricidade é fornecida pela ENEL (127V). A rede de iluminação pública é provida de postes altos e bem distribuída, com lâmpadas amarelas de iodo, favorece inclusive o trabalho ao anoitecer. O recolhimento de resíduos sólidos do bairro ocorre três vezes por semana. Não há coleta seletiva.

A quadra na qual se situa o terreno é ladeada por uma faixa de dutos subterrâneos da Transpetro, que atravessa todo o bairro. A superfície dessa faixa de dutos é coberta por vegetação espontânea com predominância de capim. A manutenção dessa área consiste em roçagem e varrição da palhada, a cada 90 dias, em média. Alguns moradores têm realizado ações pontuais de arborização e ajardinamento nas bordas dessa faixa verde.

Cena comum em diversas localidades do bairro, nessa área também se observa com frequência a presença de caramujo-gigante (Achatina fulica), além de cães e gatos deixados soltos, revirando lixo e empreendendo caça a animais silvestres que habitam esse corredor de biodiversidade.

O terreno, objeto desse estudo, é indicado pela seta branca na porção mediana à esquerda da Figura 4.

Figura 4. Panorama geral da faixa de dutos subterrâneos da Transpetroque atravessa o bairro Horto, em Macaé/RJ. O lote destinado à implantação do sítio agroecológico é indicado pela seta na porção mediana, à esquerda da imagem.



Transição



No período entre junho/2018 até setembro/2019, os experimentos em curso foram estruturados em Cabo Frio/RJ, tendo como sede um terreno que estava até então inativo, e foi alugado para implantação de um sistema agroecológico litorâneo. Com o êxito desse sistema e da rede de parceiros foi possível conciliar as atividades de pesquisa com a manutenção integral do imóvel alugado, do acervo vivo constituído e ainda custear as despesas acadêmicas através da comercialização dos alimentos produzidos, in natura e em preparações elaboradas e ofertadas pelo Autor em eventos e feiras artesanais (MONTEIRO, 2019).

Porém, em razão de embaraços imobiliários, e entre herdeiros, se dissolveu a confiança nas informações recebidas sobre o estado civil do imóvel, sendo o melhor rescindir o contrato e a fé na parceria, desconstruir a estrutura já implantada, requalificar o escopo da pesquisa junto à Universidade, arcar com os prejuízo se providenciar outro local para manutenção do acervo vivo, que começou a ser preparado para a transição desde outubro/2019.

Após avaliar propostas de parceria em distintas localidades, este imóvel em Macaé demonstrou viabilidade para nele reiniciar o sistema e prosseguir nos estudos, como sempre com recursos próprios já que no Brasil não há bolsa-pesquisa disponível para a modalidade Mestrado profissionalizante. Cada aluno (a) é responsável pela sustentabilidade de seus experimentos, pelos custos acessórios à pesquisa, pelo cumprimento de módulos e disciplinas, além da própria sobrevivência durante o curso.

As tratativas de rescisão do contrato em Cabo Frio e a celebração do contrato em Macaé foram concluídas simultaneamente no início de março/2020, poucos dias antes de ser oficialmente anunciadas no Brasil as primeiras medidas mitigatórias voltadas à contenção do coronavírus.

Conjuntamente, a mudança de área, a pesquisa em curso e as condições do imóvel à época representavam uma valiosa oportunidade de vivenciar um estado de quarentena agroecológica, repleto de aprendizagens sobre saúde integral, gestão do tempo e sustentabilidade na prática.



Instalação

O frete para Macaé ocorreu no início de abril/2020. Foi planejado de acordo com as normas das barreiras sanitárias montadas nos limites dos municípios, mas por razões inimagináveis ao planejamento, o tempo gasto para percorrer apenas 80 km foi bem maior que o estimado.

Em razão da temperatura elevada à ocasião e das longas retenções de tráfego, houve perda de acervo vivo, porém com chances de recuperação de espécies em hortas de parceiros, quando fosse possível novamente o deslocamento.

A primeira quinzena no imóvel foi dedicada à higienização, reparo e regularização de abastecimento por água e eletricidade, levantamento planialtimétrico do terreno e construção de mobília artesanal para organização de pertences, ferramentas e instrumentos.

As memórias e catarses registradas no diário de campo e as fotografias feitas com a câmera do telefone celular antigo são o substrato principal desse relato.



Prospecção

Em condições suficientes de habitabilidade foi possível prospectar melhor as aptidões da área e elaborar um rudimentar plano para seu ordenamento e manejo agroecológico, pautado pelos seguintes fatores: ponto de acesso à água; tipo de solo e vegetação existente; formato e relevo do terreno; disposição da casa e das tubulações; circuito desejável de pessoas;projeção de sombras e canalização de vento pelos muros vizinhos; o acervo de sementes e mudas em cultivo; a sequência de operações destinadas aos experimentos do PPGAO, e principalmente,as ferramentas, insumos, materiais e mão-de-obra disponíveis.

Sendo nítido que simplificar a irrigação com economia de água seja um fator decisivo para o êxito da agroecologia urbana, neste sítio se priorizou iniciar os policultivos na seção próxima às caixas d’água e expandir o trabalho em dinâmica espiral pelas bordas,em direção ao centro do terreno, em fluxo assemelhado ao percurso descrito na Sequência de Fibonacci (Figura 5).



Figura 5. Sequência de Fibonacci. Imagem: Google.



Atuação

Práticas agroecológicas representam um conjunto infindável de soluções sustentáveis e integradas, resultantes da fusão do conhecimento popular com a pesquisa científica, o que possibilita adequá-las às diferentes regiões, aos materiais disponíveis em cada lugar, à experiência das pessoas dedicadas às tarefas e o tamanho da equipe.

As intervenções feitas no sítio, apresentadas a seguir, representam o empenho dedicado aos policultivos, simultaneamente aos exercícios físicos regulares, banhos de sol e chuva prescritos pela medicina popular e pela ciência médica para fortalecimento do sistema imunológico.

Os tópicos seguintes tratam de algumas das tecnologias de impactos socioambiental positivo, de baixo custo e alta simplicidade para aplicação em agroecologia urbana. As imagens foram selecionadas buscando-se evidenciar o reaproveitamento de materiais originados no próprio terreno, o fluxo de insumos, a geração de forças por cada uma das estações de trabalho e o uso criativo de recursos obtidos por doação da vizinhança.



Berçário de plantas

O acervo vivo foi preparado e acondicionado em Cabo Frio, com antecedência, de modo a suportar o transporte e alguns dias até se organizar espaços, parcialmente sombreados e próximos às caixas d’água, para acomodar e irrigar os vasos.

Nesse intervalo as plantas foram cuidadas no interior da casa a fim de reduzir a desidratação já ocasionada pelo tempo de frete estendido pelas barreiras sanitárias.

Outra providência foi aproveitar os dias chuvosos e nublados para semeadura em vasos e bandejas, das variedades hortícolas disponíveis no comércio local. Enquanto as mudas cresciam e se adaptavam ao clima local os canteiros estavam sendo preparados para receber as jovens habitantes (Figura 6).

Figura 6. Berçário das plantas pioneiras a integrar o acervo etnobotânico do sítio agroecológico urbano em formação no município de Macaé/RJ. Maio/2020.



Irrigação

A irrigação do sítio, durante o primeiro semestre, foi realizada com uso de regador de crivo fino, com capacidade para até 5 litros. A água é captada de um tanque para uso geral na área de serviços externa.

Em seguida a frequência de chuvas reduziu, as temperaturas se elevaram e se passou a utilizar mangueira e esguicho regulado para névoa fina. A rega é sempre reduzida, pela frequência e volume nas épocas chuvosas, e também pela disponibilidade limitada de água tratada.

Sempre que possível a água é reaproveitada após seu uso no tanque. As primeiras águas de enxágue de roupas são usadas para descarga sanitária e higienização do banheiro. A partir dos próximos enxágues, quando não mais se formam bolhas ao torcer a roupa, essa água tem sido aproveitada para limpeza geral, para irrigação das árvores frutíferas e da grama no passeio público.



Compostagem

As gramíneas do quintal foram aparadas por roçadeira com lâmina rasa, poucas semanas antes do recebimento das chaves do imóvel (Figura 7A). Para iniciar a compostagem no local, toda a palha foi varrida, se procedeu à remoção de touceiras de capim, retirada e destinação de detritos e obtenção de amostras de solo em diferentes seções do sítio. Em seguida toda a palha foi amontoada e empilhada rente ao muro (Figura 7B).

Figura 7. (A)varrição das gramíneas aparadas; (B) empilhamento da palhada varrida na extensão do muro para a inoculação com invertebrados e microrganismos benéficos à compostagem. Abril/2020.

A essa palhada se procedeu à inoculação de 60 kg do substrato vivo trazido de Cabo Frio, contendo milhares de indivíduos de animais invertebrados que atuam como decompositores de matéria orgânica, tais como minhocas, tatuzinhos e gongolos, de diferentes idades. Essa pilha foi irrigada semanalmente nos períodos de estiagem e revirada quinzenalmente para aeração, que agiliza os efeitos da compostagem. Após aproximadamente 70 dias o material já estava bem fragmentado e foi então utilizado para aplicação nos canteiros de policultivos.

Desde então, é um ato contínuo adicionar matéria orgânica vegetal ao sítio, com biomassa que estiver disponível gratuitamente, como aparas de grama, poda de arbustos, folhas varridas, sobras de cozinha. São distribuídos baldes com tampa, retornáveis, entre vizinhos parceiros da compostagem. Os baldes foram obtidos por doação em panificadoras. Geralmente continham margarina (maiores) e mistura para pão de queijo (menores).

A cobertura contínua por palha sortida preserva umidade por mais tempo no solo, reduzindo a necessidade e a frequência de irrigação. Manter o solo coberto por palha também atenua os impactos da chuva na terra, melhorando a fixação de nutrientes próximos à superfície e na zona das raízes alimentadoras das plantas.

Os solos mais argilosos e degradados tendem a rachar nos períodos de seca. Essas rachaduras do solo causam danos às raízes. Coberto sempre por palha o solo tem menos tendência a rachar. E nos períodos chuvosos os solos argilosos apresentam drenagem insatisfatória. A adição de matéria orgânica melhora também a permeabilidade. Já os solos arenosos têm pouca retenção de umidade e nutrientes. A palha não falha. É leve para carregar e espalhar.

A inserção de biomassa nos sistemas agroecológicos tropicais impulsiona seu desenvolvimento, sobretudo em seu início. É uma reprodução assistida do que acontece no ambiente, as plantas extraem nutrientes no solo a convertem em biomassa que volta pro solo e nesse ciclo contínuo a vida se renova. Espalhar palha não atrapalha, só ajuda.

As aparas de grama que chegam ao sítio acondicionadas em sacos recebem porções de substrato mais antigo, então os sacos são deixados fechados para repousar ao ar livre por uns 60 dias. Nesse ínterim a palha fermenta e aquece. Quando resfria já pode ser espalhada sobre os canteiros de policultivos.

Para tratamento de resíduos provenientes da cozinha (do sítio e de vizinhos doadores) foi construída uma série de composteiras, a partir de baldes reaproveitados de margarina, obtidos na padaria do bairro (Figura 8). Cada composteira é provida de reservatório e torneira para obtenção do biofertilizante líquido, o qual é diluído (1:10 água) e pulverizado quinzenalmente nos policultivos para adubação por via foliar.



Figura 8. Série de composteiras artesanais para tratamento de resíduos provenientes da cozinha, confeccionadas a partir do reaproveitamento de baldes usados para margarina. Cada composteira é provida de reservatório e torneira para dreno do biofertilizante líquido. A superfície externa dos baldes foi levemente lixada e recebeu pintura à látex PVA.



A combinação de tratamentos palha no solo + biofertilizante nas folhas tem apresentado resultados satisfatórios. A depender da quantidade de habitantes de uma residência, e da quantidade de sobras da cozinha, pode-se ir aumentando a série de composteiras em ação.

A compostagem é uma solução segura, eficaz e definitiva para o tratamento ideal de resíduos vegetais e o excedente de adubo que não for utilizado em seu local de elaboração pode ser comercializado, o que contribui para geração de renda para a agricultura familiar (MONTEIRO, 2016).



Remoção de gramíneas

Para facilitar a substituição parcial de áreas gramadas por canteiros destinados aos policultivos, se adotou a técnica conhecida por abafamento, que na prática consiste em privar as plantas de luminosidade, assim enfraquecendo-as e facilitando sua retirada e o preparo do solo para a cultura que se preferir implantar.

Tanto a grama esmeralda quanto as braquiárias predominantes na áreasão gramíneas providas de estruturas de propagação vigorosas, seu sistema de raízes se aprofunda e ramifica profusamente, suportam bem a herbivoria e sobrevivem aos períodos de seca, voltando a rebrotar com força assim que melhorem as condições ambientais.

As gramíneas são plantas monocotiledôneas que apresentam alto metabolismo e desenvolvimento acelerado. Enquanto atingem porte adulto e maturidade reprodutiva para se espalhar com milhares de sementes, são hábeis transformadoras de energia solar em biomassa. Muitas espécies também usam de seu vigor para se propagar rastejando pelo solo, como a grama esmeralda. Então é possível, por meio da compostagem, aproveitar boa parte dessa matéria orgânica vegetal repleta de energia para nutrir outras plantas de modo sustentável.

As gramíneas são plantas de alto sucesso ecológico e econômico. Atualmente as mais importantes fontes de energia na forma de amido e açúcares que nutrem o sistema agroalimentar global provêm de quatro espécies de gramíneas: milho, trigo, arroz e cana. O bambu é um outro recurso natural renovável, com uma multiplicidade incrível de usos, há milênios por povos tradicionais, principalmente da Ásia.

Todos os bambus também são da família das gramíneas (POACEAE). A grama esmeralda é como um bambuzal em miniatura. Observe de perto como ambas as plantas apresentam estruturas semelhantes e se expandem em várias direções formando uma densa rede, subterrânea e acima do solo.

A grama esmeralda é capaz de atravessar as bordas de asfalto e fendas na alvenaria e em concreto. Em canteiros férteis e irrigados se alastra rapidamente e prejudica o cultivo de hortaliças (sufocamento). A razão de se proceder ao coroamento da grama ao redor de outras plantas não é apenas estético. Há inclusive cintas plásticas delimitadoras de grama que minimizam a mão-de-obra para contenção do gramado em direção aos canteiros e edificações, porém a qualidade do material é proporcional ao seu custo. Se for frágil não resistirá às intempéries e vai se fragmentar logo, causando poluição.

Claro, o trabalho é parte do gramado. Em estádios esportivos “padrão FIFA” alguns gramados são irrigados diariamente, aparados em dias alternados e fertilizados quinzenalmente. Consegue orçar o custo disso tudo? Sem problemas, o futebol movimenta bilhões, de torcedores, marcas esportivas e cervejarias. Juntos, têm dinheiro bastante para manter o tapete verde e explodir rojões no clímax da modalidade: gol.

Canteiros centrais de avenidas revestidos por grama requerem frequentes operações de roçagem, varrição, ensacamento, transporte de aparas ensacadas e sua destinação adequada mobiliza equipes gigantes, queima combustível nas roçadeiras e veículos em operação e tudo isso ainda tumultua o trânsito local.

Nesses locais a intervenção paisagística poderia privilegiar outros grupos de plantas herbáceas rasteiras ou arbustos, de espécies rústicas, floríferas, capazes de sombrear o solo e dessa forma se economizaria muito trabalho (e dinheiro) dedicado a aparar gramados. Não faltam opções botânicas.

O Brasil é o habitat da maior biodiversidade vegetal do mundo, com mais de 50 mil espécies de plantas conhecidas pela ciência, das quais mais de 2 mil espécies vegetais são classificadas como ameaçadas de extinção. Enquanto a prospecção botânica continua revelando espécies novas a população brasileira vê cada vez menos espécies nativas no paisagismo público, o qual deveria ser exemplar para valorização da biodiversidade local.

Para se ter noção da força vital das gramíneas e de sua importância ecológica basta imaginar as savanas africanas sendo devoradas e pisoteadas por rebanhos sucessivos de milhares de herbívoros, e se recuperando plenamente após cada temporada de migração e pastejo desses animais. Atualmente algumas das principais gramíneas cultivadas em regiões tropicais para pasto do gado são variedades melhoradas a partir de material genético de vários capins nativos da África.

Por esse conjunto de fatores pode se dizer que as gramíneas competem em condições de superioridade e vantagem em relação às plantas menos providas de tantos mecanismos de sobrevivência e geração de descendentes. Equivale afirmar que a presença de gramíneas muito próximas pode prejudicar severamente o cultivo de alimentos das variedades mais frágeis e vulneráveis à competição por água, nutrientes, insolação e espaço físico para seu desenvolvimento. Sendo assim para o sucesso dos policultivos era imprescindível o enfraquecimento das gramíneas e suas raízes, sem remover junto com elas a fina camada fértil disponível apenas na superfície do solo do sítio.

O abafamento foi realizado recobrindo-setrechos do relvado com camadas de papelão poliondas, recolhido gratuitamente em caixas descartadas por estabelecimentos comerciais do bairro. Sobre as camadas de papelão são apoiados objetos mais pesados (tijolo, tábua, rochas ou equivalente) de modo a evitar que o vento desloque a “tampa” (Figura 9A).

Em uma seção do terreno se recobriu o solo com um pedaço de lona plástica, que foi doada por um pintor de paredes, após a realização de um serviço na vizinhança (Figura 9B). Nessa área especialmente o processo de abafamento foi mais rápido pois além de privar as gramíneas de insolação, a lona aquece mais ao sol e cumpriu também função impermeabilizante, reduzindo a umidade e agilizando o enfraquecimento das gramíneas sob o plástico. A ressalva sobre o uso de lona plástica é a possibilidade de fragmentação e poluição ambiental, além do custo financeiro.

O papelão é mais fácil de se obter gratuitamente e por ser de origem vegetal, quando se fragmenta rapidamente é incorporado ao solo. Antes de espalhar o papelão sobre o solo é recomendado retirar as fitas adesivas e eventualmente os grampos metálicos. Esse material incrível e versátil faz por merecer o título de porcelanato agroecológico. É útil para abafar plantas infestantes, atenuar a textura lamacenta em solos argilosos úmidos, reduzir a temperatura superficial em solos arenosos, auxilia a estruturar e arejar pilhas de compostagem (intercalando-se camadas de papelão entre as camadas de palha).

Figura 9. (A) técnica de abafamento de gramíneas com uso de papelão poliondas; (B) técnica de abafamento de gramíneas com uso de lona plástica e papelão poliondas. Ambas são modalidades destinadas a privar de luminosidade as gramíneas de modo a enfraquecê-las e facilitar sua substituição por canteiros de alimentos.

A cobertura do solo cria condições favoráveis para miríades de organismos, em especial invertebrados, fungos e bactérias seletivas por ambientes sombreados e úmidos. Durante sua jornada esses seres realizam um trabalho incrível em prol da revitalização do solo.

O tempo necessário para o abafamento das gramíneas é variável em cada ambiente, sendo interessante observar semanalmente sob a camada “tampa” o progresso da iniciativa. As gramíneas começam a ter as folhas amarelecidas pela ausência de luz, depois tornam-se marrons. Neste ensaio, em média após 45 dias da cobertura, o solo recoberto por papelão já apresentava condições mais amenas para as etapas seguintes de preparação dos canteiros destinados aos policultivos alimentícios.



Aviários

A criação de algumas galinhas colabora de várias formas para o sucesso dos sistemas agroecológicos, quer seja pelo gentil convívio com as aves e os aprendizados sobre comportamento e bem estar animal; o aporte à nutrição proporcionado pelos ovos caipiras; o apoio natural que as aves oferecem à fertilização e descompactação do solo; o aproveitamento de resíduos de cozinha para dieta delas reduz o desperdício, e também pelo controle biológico que as aves realizam quando passeiam pela área antes da implantação dos policultivos.Neste sítio a adoção de apenas três galinhas jovens foi suficiente para cumprir satisfatoriamente a essas funções.

Para seu manejo integrado foram implantados dois tipos de recintos: um estático e um móvel.

O recinto estático tem estrutura simples e leve, que permite sua fácil remoção e eventual reinstalação em outro local, caso seja necessário. Foi erguido utilizando-se o apoio de ripas de madeira fincadas no solo para esticar um retalho de rede de proteção de janelas (obtido por doação). O portão de acesso é um estrado de ripas atado a uma estaca. Uma seção de tela metálica (sobra de construção) completa a vedação afixada ao muro por pregos (Figura 10).

Esse ambiente foi criado junto às caixas d’água para que as galinhas mantenham a área “capinada”, facilitando o acesso aos registros e também para aproveitar as sombras que são projetadas, em diferentes horários, pelas caixas d’água em conjunto com o encontro dos muros vizinhos.

Figura 10. Recinto implantado com materiais reaproveitados para criação de galinhas caipiras, aproveitando-se o sombreamento das caixas d’água e muros adjacentes ao sítio agroecológico urbano em Macaé/RJ.

O solo deste ambiente recebe palha seca, parcialmente substituída a cada mês. A palha anterior, já enriquecida e misturada com o esterco das aves é então adicionada às novas pilhas de compostagem.

Neste recinto as galinhas pastejam as plantas espontâneas, ciscam o chão em busca de insetos e larvas, ingerem os pedriscos que lhes auxiliam na digestão, tomam sol e chuva quando têm vontade, recebem vento e vez em quando promovem um curioso banho de terra. Ambas juntas cavam um buraco raso, deitam-se nele e com os pés ficam jogando terra nas outras sincronizadamente, enquanto eriçam a plumagem. Permanecem nesse folguedo coletivo por vários minutos e depois repousam.

A água é servida em uma bacia na qual elas bebem, e nos dias mais quentes se banham. Essa bacia é lavada diariamente ao amanhecer, sendo a água reposta duas vezes por dia. A água restante do bebedouro é usada para irrigar policultivos próximos ao recinto.

A dieta energética básica dessas aves é constituída por ração balanceada de cereais servida ao amanhecer, aproximadamente 70g/dia/ave. O complemento vitamínico, mineral e proteico é servido no decorrer do dia com a oferta de um mix que varia com a disponibilidade, podendo incluir: as ervas infestantes retiradas dos policultivos, sobras de cozinha do sítio e de vizinhos, aparas frescas de grama, folhas de sansão-do-campo, do mamoeiro, do maracujá, de crotalária e batata-doce, além da xepa vegetal dos restos de hortifruti, que são lavados e selecionados, pois as galinhas não apreciam alface, batata crua, cebola, pimentão nem pimenta. A xepa que não é ofertada às galinhas enriquece a compostagem.

As cascas de seus ovos são secas ao sol e trituradas. Parte desse farelo é servidão às galinhas, misturado à ração de cereais, e a outra parte é adicionada à compostagem como fonte de cálcio e redutor de acidez.

Um recinto móvel foi construído para aproveitar o potencial das galinhas na escarificação e fertilização dos canteiros destinados aos policultivos de alimentos. Trata-se de uma estrutura leve e fácil de movimentar pelo terreno, feito com tubos e conexões de PVC colados, ao redor da qual foi esticada uma tela plástica, costurada à estrutura com barbante fino de uso náutico.

A cobertura é uma telha plástica opaca, e sobre esta são colocados objetos que impedem que o conjunto seja carregado pelo vento. No interior desse recinto se coloca um poleiro elevado a 30 cm do chão e balde com água para hidratação das aves. As dimensões desse recinto são: 170 cm de comprimento, 80 cm de largura e 80 cm de altura (Figura 11A).

Figura 11. (A) Recinto móvel (170 x 80 x 80 cm) ainda sem a telha de cobertura, montado para a criação das galinhas caipiras (B), que colaboram para fertilização de canteiros destinados ao policultivo de alimentos e para o controle populacional de cupinsno sítio agroecológico urbano, em Macaé/RJ. Maio/2020.

Essas medidas permitem fácil transporte do recinto para os canteiros e são adequadas para a convivência pacífica de até quatro aves adultas durante o turno de apoio ao tratamento do solo, além de facilitar a coleta de ovos e substituição da água apenas deslocando a telha para um dos lados, sem precisar adentrar o recinto.

Este recinto móvel é colocado sobre a área que se deseja tratar e preparar para o plantio. As galinhas ciscam revirando o solo e o fertilizam por meio de seus excrementos por aproximadamente 20 dias em cada canteiro. Para diversificar a nutrição (e diversão) das aves, esse recinto também foi instalado próximo a cupinzeiros, colaborando no controle populacional desses invertebrados, sem o uso de venenos.

A permanência das galinhas é alternada entre o recinto fixo, a colaboração nos canteiros e passeios pelo gramado. Com orientação paciente e gentil, aprenderam a não adentrar os canteiros durante os passeios.

A produtividade média nesse sistema de criação é de 5 ovos caipiras/semana/ave.

Logo que chegaram ao sítio, as galinhas apresentavam sintoma de piolho o que foi resolvido com uma aplicação diária, durante três dias, de polvilho antisséptico tradicional, entre a plumagem.

As aves silvestres são sempre bem-vindas ao sítio, a presença visual e sonora dessas criaturas é apaziguadora. Suas visitas também contribuem para o controle biológico, fertilização do solo nas imediações dos poleiros e trazem muitas sementes em seu trato digestório, que são liberadas durante o pousio e favorecem ao aumento da população de plantas nativas no sítio.

Para criar atratividade à avifauna foram plantadas espécies vegetais ricas em néctar, frutos e grãos e também foram instalados poleiros, bebedouros e comedouros, com oferta matinal de água e xerém de milho.



Policultivos

À medida que as gramíneas foram sendo enfraquecidas pelo abafamento e a compostagem avançava, teve sequência o preparo dos primeiros quinze canteiros para policultivos de alimentos. Esta série foi preparada em aproximadamente 50 dias, decorridos até o plantio das mudas.

A área delineada para os canteiros foi capinada e a palha que estava sob os papelões foi levada à compostagem (Figura 12A).

Em seguida o solo foi escavado com picareta, a uma profundidade média de 30 cm (Figura 12B).

Posteriormente se procedeu à etapa de destorroamento, feito com a lâmina e o verso da enxada, de modo a fragmentar os blocos maiores de terra formados na escavação (Figura 12C).

A fertilização dos canteiros foi realizada revirando o solo, simultaneamente com o equivalente a 10 litros /m²de uma mistura nutricional e biológica, constituída por parte do substrato vivo trazido de Cabo Frio, cinzas de fogão a lenha, húmus de minhoca, silte de varrição de calçada com algas e musgos, casca de ovos trituradas e esterco (bovino e equino) compostado com palha, que foi adquirido a baixo custo em uma fazenda do bairro (Figura 12D).

Cada canteiro tem como dimensões médias: 150 cm de comprimento x 50 cm de largura x 20 cm de elevação. Entre os canteiros há um passeio, com 40 cm de largura média. Os canteiros foram nivelados com bordas sensivelmente mais altas e um sutil afundamento em seu centro, de modo a reter e infiltrar melhor a irrigação e a chuva (Figura 12E). Dessa forma se criam diferentes linhas de plantio das espécies a compor o consórcio em cada canteiro.

Após o nivelamento os canteiros foram recobertos com a palha (Figura 12F), que estava em compostagem e se procedeu à rega em dias alternados, aguardando até a próxima chuva para então realizar o plantio das sementes e das mudas em desenvolvimento no berçário.

A Figura 12G reúne em si as características de uma seção do sítio que bem representa a dinâmica integrada pelo uso do recinto móvel, através da comparação entre áreas que já foram fertilizadas pelas galinhas, os canteiros durante sua preparação e policultivos em desenvolvimento. Essa imagem também demonstra um dos bebedouros instalados para atratividade de avifauna, bem como o uso do papelão na borda dos canteiros em formação, de modo a inibir o avanço da grama-esmeralda em direção às raízes dos policultivos.

Para ampliar a área de policultivos se optou por aproveitar o alambrado de tela metálica rente ao muro, para tutoria de espécies com hábito de crescimento escandente, volúvel ou trepador. Estruturas complementares foram erguidas reutilizando-se madeiramento de obras, retalhos de cabos elétricos e de fibra ótica, descartados por empresas após manutenções na rede aérea.

De modo geral, os canteiros foram delineados para o cultivo bem sortido, mas com poucos indivíduos de cada variedade, constituindo consórcios, buscando alternar porte da planta adulta, hábito de crescimento, volume e seu ciclo de vida, para obter melhor aproveitamento do espaço disponível, da irrigação, dessa forma criando microclimas e repelência natural às pragas. A disponibilidade de espécies e a prática permitem criar essas condições e ir aprimorando os consórcios.

O adensamento adotado teve a intenção de rapidamente promover uma aglomeração vegetal, de modo a sombrear o solo em regeneração com um tapete de plantas alimentícias, aromáticas, medicinais, condimentares, pigmentares, atrativas para agentes de controle biológico, provedoras de biomassa e adubos verdes, musgos, detalhes ornamentais e plantas aquáticas nos bebedouros para aves.

Figura 12. Etapas da preparação dos canteiros para policultivos (A) capina e remoção da palha para compostagem; (B) escavação a 30 cm de profundidade; (C) destorroamento; (D) fertilização organomineral; (E) nivelamento dos canteiros; (F) cobertura dos canteiros por palha compostada; (G) uso integrado do recinto móvel com galinhas na fertilização do solo, preparação dos canteiros e policultivos em desenvolvimento.



Acervo etnobotânico

Desde abril/2020 até janeiro/2021 o sítio recebeu o plantio de 73 variedades vegetais, representantes de 17 famílias botânicas, classificadas em ordem alfabética por seu nome popular, listadas na Tabela 1. A nomenclatura científica e familiaridade foram consultadas no Catálogo brasileiro de hortaliças (EMBRAPA, 2010) e na página do Missouri Botanical Garden (TROPICOS, 2021).

Tabela 1. Acervo etnobotânico constituído por 70 táxon, de 17 famílias botânicas, implantado no sítio agroecológico urbano, em Macaé/RJ, no período compreendido entre abril/2020 até janeiro/2021. Lista classificada em ordem alfabética pelo nome popular de cada táxon.

Táxon

Nome popular

Nome científico

Família botânica

Abóbora

Cucurbita moschata

Cucurbitaceae

Acerola

Malpighia punicifolia

Malpighiaceae

Agrião-da-terra

Barbarea verna

Brassicaceae

Aguapé

Eichhornia crassipes

Pontederiaceae

Alecrim

Salvia rosmarinus

Lamiaceae

Alfavaca-cravo

Ocimum gratissimum

Lamiaceae

Alho-poró

Allium porrum

Amaryllidaceae

Amora

Morus nigra

Moraceae

Aranto

Kalanchoe daigremontiana

Crassulaceae

Aroeira

Schinus terebinthifolia

Anacardiaceae

Babosa

Aloe vera

Asphodelaceae

Batata-doce

Ipomoea batatas

Convolvulaceae

Beldroega

Portulaca oleracea

Portulacaceae

Beldroegão

Talinum triangulare

Talinaceae

Bertalha

Basella alba

Basellaceae

Birí

Canna x generalis

Cannaceae

Camarão-amarelo

Pachystachys lutea

Acanthaceae

Cambará

Lantana camara

Verbenaceae

Cana-de-macaco

Costus spiralis

Costaceae

Capim-cidreira

Cymbopogon citratus

Poaceae

Cará-do-ar

Dioscorea bulbifera

Dioscoreaceae

Cebolinha

Allium schoenoprasum

Amaryllidaceae

Cenoura

Daucus carota subsp. sativus

Apiaceae

Coambi

Bidens pilosa

Asteraceae

Coentro

Coriandrum sativum

Apiaceae

Coentro-bravo

Eryngium foetidum

Apiaceae

Cosmos

Cosmos bipinnatus

Asteraceae

Couve

Brassica oleracea var. acephala

Brassicaceae

Cravo-de-defunto

Tagetes patula

Asteraceae

Crista-de-galo

Celosia argentea

Amaranthaceae

Crotalária

Crotalaria spectabilis

Fabaceae

Cróton

Codiaeum variegatum

Euphorbiaceae

Erva-moura

Solanum nigrum

Solanaceae

Ervilha

Pisum sativum

Fabaceae

Feijão-borboleta

Clitoria ternatea

Fabaceae

Girassol

Helianthus annuus

Asteraceae

Gliricídia

Gliricidia sepium

Fabaceae

Hibisco

Hibiscus rosa-sinensis

Malvaceae

Hortelã

Mentha spicata

Lamiaceae

Lavanda

Lavandula angustifolia

Lamiaceae

Lírio-do-brejo

Hedychium coronarium

Zingiberaceae

Frangipani

Plumeria rubra

Apocynaceae

Jurubeba

Solanum paniculatum

Solanaceae

Malva

Malva sylvestris

Malvaceae

Mamão

Carica papaya

Caricaceae

Manjericão

Ocimum basilicum

Lamiaceae

Maracujá

Passiflora edulis

Passifloraceae

Menta

Mentha arvensis

Lamiaceae

Milhocrioulo

Zea mays

Poaceae

Murta

Murraya paniculata

Rutaceae

Ora-pro-nobis

Pereskia aculeata

Cactaceae

Onze-horas

Portulaca grandiflora

Portulacaceae

Orégano

Origanum vulgare

Lamiaceae

Orquídea-bambu

Arundina bambusifolia

Orchidaceae

Peixinho-da-horta

Stachys byzantina

Lamiaceae

Pimenta-dedo-de-moça

Capsicum baccatum

Solanaceae

Pimenta-malagueta

Capsicum frutescens

Solanaceae

Pimentão

Capsicum annuum

Solanaceae

Poejo

Mentha pulegium

Lamiaceae

Quiabo “Santa Cruz”

Hibiscus esculentus

Malvaceae

Quiabo-estrela

Abelmoschus manihot

Malvaceae

Quirquinha

Porophyllum ruderale

Asteraceae

Rosa-branca

Rosa wichuraiana

Rosaceae

Rosa-damascena

Rosa × damascena

Rosaceae

Rúcula

Eruca vesicaria var. sativa

Brassicaceae

Ruélia

Ruellia coerulea

Acanthaceae

Salsa

Petroselinum crispum

Apiaceae

Sálvia

Salvia officinalis

Lamiaceae

Serralha

Sonchus oleraceus

Asteraceae

Taioba

Xanthosoma taioba

Araceae

Tomate

Solanum lycopersicum

Solanaceae

Trevo-roxo

Oxalis regnellii

Oxalidaceae

Unxia

Unxia kubitzkii

Asteraceae



Tratos culturais

O manejo dedicado a uma área verde é proporcional ao nível de prioridade que essa área representa, à disponibilidade de pessoas e de recursos que subsidiem a realização das tarefas. Independentemente do tamanho e das características da área verde, sempre há o que fazer, que contribua para seu desenvolvimento e vitalidade, a cada estação do ano.

No sítio as atividades realizadas com maior regularidade foram o trato diário das galinhas, a irrigação dos canteiros nos períodos de estiagem, retirada das plantas infestantes capazes de prejudicar os policultivos, adição de palha e arejamento das pilhas de compostagem, colheitas, replantios, inspeção visual do desenvolvimento das plantas e suas condições fitossanitárias, além da pulverização com caldas naturais.

Sistemas agroecológicos urbanos iniciados em condições ambientais desfavoráveis demandam um maior esforço concentrado em sua implantação, porém à medida que o ambiente atinge algum equilíbrio o trabalho mais pesado se atenua, permitindo dirigir a atuação para as colheitas e novos plantios.

Exemplo simples e ilustrativo desse progresso é a retirada de plantas infestantes. No início, o solo estava seco, compactado, exigindo mais vigor físico no uso das ferramentas. Em seguida a cobertura por palha, a irrigação e microbiologia que passa a habitar o solo tornam a tarefa mais fácil de se realizar.

Da mesma forma, após implantados os canteiros não mais se interviu tão profundamente no solo, sendo a adubação feita por cobertura, na zona de raízes alimentadoras, e por via foliar pulverizando a calda biofertilizante gerada pela compostagem em baldes, quinzenalmente em diluição 1:10 água.

Quinzenalmente também foi realizada a pulverização de uma calda que têm se mostrado ativa na repelência de pragas e atratividade para polinizadores. É elaborada artesanalmente com extrato alcoólico de ingredientes vegetais providas de odores intensos. Diluída em água, essa calda é pulverizada em todo o ambiente, não diretamente sobre as plantas (MONTEIRO, 2020b).

A única infestação foi registrada em agosto/2020, causada por milhares de lagartas comendo as folhas do maracujazeiro. No início da herbivoria se procedeu ao controle biológico de conservação mediante aplicação de calda com Bacillus thuringiensis (DimyPel®).

Como suplementação mineral às plantas e para repelir os caramujos-africanos comuns no bairro,foi feita pulverização quinzenal com calda de sulfato de cobre (2g/litro d’água), nas plantas e na superfície externa do muro, em todo o perímetro do sítio. No período do experimento não foi observado nenhum caramujo-africano na área interna do sítio.

Válido reiterar que as galinhas e aves silvestres resolveram a presença superficial dos cupins e das espécies “mansas” de formiga. Outras formigas, “valentes” como saúva, lava-pés e taxi apresentam populações menores com a adição de matéria orgânica em toda a área, com maior acúmulo sobre o olho dos formigueiros e espalhamentode sementes de gergelim (branco, cru) próximo às trilhas de formigas.

A agroecologia promove a vida em abundância, com intuito de privilegiar o bem estar humano em equilíbrio com os demais seres vivos. Dar combate a cupins significa agir para que o madeiramento das residências dure por mais tempo, por exemplo e que menos plantas em cultivo terão enfermidades causadas por esses invertebrados.

Buscar meios de reduzir a população de formigas permite trabalhar descalço, da mesma forma que diminui a incidência de pulgões nos policultivos, já que muitas espécies são levadas às plantas por formigas, que se beneficiam se alimentando das fezes adocicadas dos pulgões. Adicionalmente, os resíduos dos excrementos dos pulgões que não sejam ingeridos pelas formigas irão favorecer a proliferação de um fungo de cor escura (fumagina), impedindo que asfolhas realizem fotossíntese. Então nesse caso há correlação entre formiga, pulgão, fumagina desfavorecendo a planta que se deseja cultivar e colher.

Enfim, no caso em tela a solução adotada equivocadamente por agricultores convencionais seria aplicar veneno contra formigas, quando na verdade se faz necessária uma pesquisa contínua sobre espécies, interações, técnicas e receitas, pautadas pela compreensão da complexa rede de conexões ambientais e entre organismos, para tomada de decisão e intervenção orgânica, a fim de solucionar as adversidades que se interpõem à produção sustentável de alimentos.

É natural que os seres estejam continuamente buscando meios de obter sucesso na vida. A qualidade do ambiente condiciona a existência, sobrevivência, adaptação e evolução dos seres vivos.

Toda ação gera reações e o desequilíbrio pode ser corrigido, ou seus danos podem ser mitigados com práticas agroecológicas. Vivemos a era da comunicação e da informação. Há disponíveis na internetinúmeros relatos de experiências positivas no manejo ambiental, de modo que a busca por qualquer termo aqui apresentado resultará em um rico acervo de dados para apreciação, seleção e aplicação nas diferentes realidades agroecológicas.



Fenômenos extremos

Foram notados poucos eventos de adversidades ambientais extremas, sendo os mais relevantes descritos a seguir:

Um temporal em setembro ocasionou alagamento na área contígua à fachada posterior da casa, chegando à cozinha, por dois dias até a drenagem, mas com perda mínima de acervo.

As tempestades ocorridas nas três primeiras semanas de dezembro ocasionaram requeima dos tomateiros.

A combinação de temperaturas máximas diárias acima de 30°C, ventanias intensas e estiagem por mais de 40 dias foram as condições constantes desde o solstício de verão até o dia 06 de fevereiro/2021.

Simultaneamente nesse período houve instabilidade de fornecimento de água no bairro, não sendo racional tentar compensar o regime de irrigação com água tratada e escassa à ocasião. Por conseguinte, houve redução na diversidade de hortaliças. Pela primeira vez estive em algum lugar do Rio de Janeiro onde não choveu nenhum dia de janeiro.

O dia 07/02/2021 clareou com chuva intensa e uma inédita correição de formigas lava-pés que se espalhou por todo o sítio. Por precaução, foi necessário improvisar gaiolas com caixotes para instalar as galinhas dentro de casa e tentar vedar com panos molhados as frestas sob as portas. As formigas brotavam em milhares, por mais de 50 formigueiros que emergiram no sítio e no passeio público em seu redor. A correição foi diminuindo ao fim da tarde e na manhã seguinte já se podia andar no sítio com menos chances de ferroadas.

A cada ventania ocorrida foi necessário efetuar podas em galhos quebrados das árvores de sansão-do-campo. A quebra frequente de galhos não é comum para a espécie, pelo contrário, é bem utilizada como cerca-viva e quebra-vento em fazendas, exatamente por sua rusticidade e dureza de seu lenho. Suas florações abundantes também representam importantes fontes de nutrição para abelhas. Entretanto, a forma como foi efetuada a poda de rebaixamento da copa anteriormente à locação do imóvel ocasionou brotações múltiplas e frágeis. A poda frequente dos brotos foi útil para alimentação das galinhas, porém insuficiente para conter o avanço da ramagem, nas imediações de acesso à casa. Seus caules, galhos e folíolos possuem espinhos vigorosos que atravessam as luvas, inviabilizando seu uso na compostagem local. Não havendo no sítio um espaço disponível para amontoar os galhos com espinhos até sua decomposição, a cada operação de podas foi necessário destinar a ramagem atada em feixes ao serviço público de coleta de resíduos.

Em alusão ao fato de se haver plantado duas árvores espinhentas, de grande porte, distantes a apenas três metros da casa, se destaca a importância de considerar, antes do plantio, todas as características da espécie que se pretende cultivar (MONTEIRO, 2017).



Safras

A colheita das culturas de ciclo curto teve início em média, 50 dias após a semeadura/plantio, disponibilizando a cada semana melhor sortimento de ingredientes para dieta básica, em safras suficientes para consumo próprio e partilhas, contribuindo para segurança alimentar e nutricional de muitas pessoas em meio à pandemia (Figura 13).

Figura 13. Refeições preparadas com os ingredientes colhidos a partir de 50 dias após o início da implantação do sítio agroecológico urbano em Macaé/RJ.

Ênfase especial foi dada à propagação e distribuição de mudas de agrião e poejo, por sua tradicional prescrição na medicina caseira como fortalecedoras do sistema respiratório.

A venda de pães artesanais elaborados com ingredientes colhidos no sítio também permitiu a obtenção de renda complementar para custeio e avanço da dissertação que trata do potencial agroecológico e gastronômico do feijão-borboleta, em curso no PPGAO.

Dentre os policultivos implantados no sítio,alguns foram consorciados com o plantio de sementes crioulas, como também são honrosamente denominadas as sementes ancestrais. São grãos de variedades que evoluíram naturalmente e se adaptaram às diferentes condições de cada ambiente por intermédio do plantio sucessivo, ao longo das gerações de povos tradicionais. As sementes crioulas não sofreram modificações genéticas intencionalmente, em ambiente laboratorial.

As sementes crioulas plantadas no sítio vêm sendo obtidas a partir de 2015 em feiras de trocas, órgãos de pesquisa, assentamentos da reforma agrária, reservas indígenas, quilombolas e ribeirinhos, e vêm desde então sendo propagadas em pequenos cultivos realizados em diferentes espaços agroecológicos urbanos.

As sementes de milho crioulo do acervo à época desta Edição totalizavam vinte variedades, com distintas características como o porte da planta, cor e forma dos grãos, tamanho da espiga, bem como preferências por tipo de solo e regime de chuvas nas diferentes etapas do desenvolvimento do milharal (Figura 14).

Figura 14. Acervo de sementes crioulas das diferentes variedades ancestrais de milho cultivadas e propagadas entre julho/2020 até dezembro/2021, no sítio agroecológico urbano em Macaé/RJ.

Se procedeu então à semeadura, em diferentes épocas e canteiros, para se reduzir as chances de hibridização. Mesmo com o solo do sítio ainda em processo de revitalização, as condições climáticas foram favoráveis para o ciclo de algumas das variedades, com temperaturas amenas e precipitação suficiente na fase de enchimento de grãos.

Destarte, foi possível revigorar a viabilidade germinativa e um pouco da variabilidade genética das sementes. Nos primeiros dias de janeiro/2021 as sementes foram selecionadas e acondicionadas para sua conservação, intercâmbio com outros (as) guardiões de sementes e plantios futuros. As sementes mais antigas têm prioridade no plantio, para que o acervo se mantenha rejuvenescido.

Um acervo com cinco variedades silvestres e incomuns de tomateiros (Figura 15) foi cultivado no sítio a partir das sementes propagadas pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que mantém em pesquisas dezenas de diferentes tomates silvestres resgatados em localidades distantes.

Parte das sementes crioulas originadas no sítio foi doada para agricultores locais e dos municípios próximos. Ser guardião de sementes ancestrais é um ofício relativamente simples, porém de fundamental importância para conservação da agrobiodiversidade. O acervo global de sementes crioulas se fortalece a cada sucessivo plantio e intercâmbio.

Desde aproximadamente dez mil anos atrás a humanidade vem aprendendo a praticar a agricultura orgânica e conservar as sementes crioulas, evoluindo juntamente com os atos contínuos de plantar, cuidar, colher, comer uma parte, guardar sementes para replantar e doar.

Figura 15. Tomates de variedades silvestres cultivados no sítio agroecológico urbano em Macaé/RJ, a partir de sementes propagadas pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Sementes originadas desse cultivo foram distribuídas entre agricultores locais e de municípios próximos.

O hábito de comprar sementes e usar venenos é moderno, inventado pela indústria e anunciado nos veículos de comunicação como “a salvação da lavoura”, mas o tempo têm demonstrado os verdadeiros efeitos da transgenia e da poluição por agrotóxicos, no ambiente e na saúde humana.

Parte da sustentabilidade e saúde dos agricultores familiares se reduz a cada vez que dependem de ter dinheiro para comprar sementes transgênicas e agrotóxicos, mais ou menos assim: cem sementes custam cem dinheiros; sem dinheiro o agricultor fica sem semente; sem dinheiro, sem semente e sem plantar; sem dinheiro, sem semente, sem plantar e sem comer; é mais difícil ser saudável e feliz com fome.

Em latifúndios e monoculturas industriais se privilegia a agricultura convencional, de alto impacto ambiental, à base de combustíveis fósseis, insumos de síntese petroquímica, agrotóxicos, drones que orientam o maquinário sofisticado que compacta o solo, trabalhando no lugar de pessoas, relações trabalhistas frágeis.

Isso tudo se justifica como investimentos de poderosos grupos econômicos, com financiamento cedido por bancos e contratos com cifras que não estão acessíveis à população. Esses consórcios do agronegócio convencional não estão praticando agricultura para ter o que comer, e nem são esses os principais responsáveis pelo abastecimento de alimentos para o país. É grão, que vira ração, pra engordar gado, pra exportação.

As safras brasileiras enviadas para o exterior, seja em grão, ração ou carne, levam consigo a água, a fertilidade do solo, deixando aqui o desflorestamento para expansão da fronteira agrícola, o desregulamento climático regional, os resíduos de agrotóxicos, as dívidas trabalhistas e ausência de linhas de crédito com juros e termos contratuais equânimes para impulsionar a agroecologia no Brasil.

Não faz sentido adotar na agroecologia doméstica as mesmas estratégias, mecanismos, processos, insumos e o nível de consciência que regem a agricultura convencional.

Quem verdadeiramente põe comida na mesa dos brasileiros é a agricultura familiar. Uma das formas de contribuir para a sustentabilidade das famílias que vivem da agricultura é adquirir alimentos nas feiras locais de pequenos produtores. É gratificante conhecer a pessoa que cultiva seu alimento e ter o privilégio de remunerá-la pessoalmente, sem intermediários, sem comissionamentos a terceiros, sem excesso de embalagens. Adquirir o essencial, em circuitos curtos de comercialização (MONTEIRO, 2020).

Evolução da paisagem



Em dez meses de manejo integrado foi possível atuar na paisagem, diversificando seus elementos e habitantes, por intermédio dos policultivos e de tecnologias socioambientais de baixo custo. A conversão parcial do gramado em sítio agroecológico urbano teve início na seção próxima às caixas d’água e a partir daí foi expandida, em fluxo espiral, para as bordas do terreno e ao redor da casa, até a porção central do terreno, conforme ilustrado pelas imagens fotográficas de cada período e respectivos pictogramas, ilustrados na Figura 16.

Figura 16. Três fases da paisagem e respectivos croquis, registrados nos dez primeiros meses de atuação para conversão parcial do gramado em sítio agroecológico urbano, em Macaé/RJ.

Ciente de que há ampla sorte de instrumentos e técnicas,especialmente desenvolvidos para aferição e aperfeiçoamento de desempenho, no que se refere à eficácia de irrigação e adubação, produtividade das culturas, tempo de produção, geração de biomassa, nitrificação do solo, controle fitossanitário, agentes de polinização e de controle biológico de conservação, dentre outros fatores diretamente influentes para análise quantitativa dos sistemas agrícolas, neste capítulo serão enfatizados mais os aspectos qualitativos da evolução da paisagem decorrentes da implantação deste ensaio experimental.

Embora previamente ao ensaio tenha sido realizada coleta de amostras de solo, em razão da pandemia não foi possível enviá-las ao laboratório para análise de suas características físico-químicas a fim de se obter prescrição de correção.

Nem calagem foi aplicada (única iniciativa similar foi adicionar a farinha de cascas de ovos à compostagem, sem justa medida ou periodicidade).

Como também não havia lojas para aquisição de insumos certificados o experimento já se iniciou parcialmente invalidado sob a ótica do rigor acadêmico, sem, contudo, perder seu valor funcional e prático a que se destinou desde seu delineamento.

Quase tudo foi feito no improviso, guiado pela prática em experiências anteriores, pela necessidade e prazo exíguo. É assim em muitos sítios agroecológicos de sucesso. A receita vem com o sentimento e a intuição guia o caminho para se fazer o melhor possível, com os recursos disponíveis.

A ciência demonstra que nos estudos de campo as variáveis são imprevisíveis e que a certeza é uma questão dos parâmetros que se adota para relacionar causa e efeito, nas diferentes localidades, tipos de solo, condições climáticas e manejo adotado.

Por este viés, admite-se que tanto a replicabilidade deste ensaio quanto seu aperfeiçoamento são parcialmente prejudicados pela ausência de parâmetros aritméticos mais precisos. Entretanto, o conjunto de resultados observados no desenvolvimento do sítio evidencia o valor do manejo agroecológico como instrumento para atuação humana harmônica, na paisagem e nos aspectos ecológicos a ambos relacionados, que se expandem para além dos benefícios gerados pelas safras generosas de alimentos frescos e sem venenos.

Se faz necessário então, considerar preliminarmentea dimensão da área tratada pelo trabalho individual, para se estimar que em escalas maiores e com mais gente trabalhando os resultados também podem ser expandidos em progressão geométrica, beneficiando mais pessoas, mais ambientes e mais espécies.

Pois isoladamente, um lote urbano padrão é uma fração diminuta da área total de um município, porém em cada lote há um universo de possibilidades e potenciais, para estabelecimento de refúgios da agrobiodiversidade, conectados entre si e com as áreas naturais de seu entorno.

Cada metro quadrado que deixa de ser impermeabilizado para dar lugar à biodiversidade faz muita diferença.Cada metro cúbico onde houver uma planta ao invés de um carro significa ganhos coletivos. Vida gera vidas. Abundância gera abundância e opulência nos diversos níveis da biosfera. A seguir são concatenados alguns tópicos especiais sobre a importância representada pelo aumento da biota no local.

Antes do ensaio o terreno tinha vegetação constituída por aproximadamente 10 espécies predominantes. Em dez meses de manejo a flora local recebeu incremento de mais 70 espécies de plantas. Em consequência, à medida que os policultivos se desenvolviam também crescia a diversidade de animais habitantes do sistema.

As populações mais expressivas de artrópodes eram representadas por formigas lava-pés (Solenopsis sp.), saúva (Atta sp.), e taxi (Pseudomyrmex sp.) e também por cupins de montículo (Syntermes sp.) que se criaram ao longo do período do imóvel em inatividade.

A presença de baratas de jardim (Pycnoscelus sp.) minhocas (Eisenia sp.) gongolos (Trigoniulus sp.) e tatuzinhos (Oniscidea sp.) era expressiva apenas próximo à casa, onde estavam em decomposição os folíolos e ramos amontoados após a poda das árvores.

A partir da compostagem e adição contínua de palha aos canteiros foi observado um ganho populacional de invertebrados, por toda a área. Em registro fotográfico amador, realizado durante os dez primeiros meses de manejo do sítio, foi detectada a presença de mais de 40 diferentes invertebrados, inclusive de três abelhas nativas: mangangava, mirim e jataí (Bombus sp., Tetragonisca sp., Plebeia sp.). Aumentou consideravelmente a população de joaninhas predadoras de pulgões, e de minhocas-vermelhas (Lumbricus rubellus). Com o celular não foi possível fotografar nitidamente toda a sorte de lepidópteros ocorrentes.

Possivelmente, atraídos pela abundância de alimento também foi observado aumento da população de calangos, lagartixas e anfíbios.A presença de formigas vem diminuindo à medida que mais palha e composto orgânico vem sendo adicionados ao solo. Os cupins da superfície foram devorados pelas galinhas e talvez boa parte da população de lacraias e aranhas também.

Durante o período do experimento não foi constatada no interior do sítio a presença de mosquito Aedes aegyptiem quaisquer de suas fases de vida. Os bebedouros não funcionam como criatórios para mosquitos, já que as aves, anfíbios e calangos que os utilizam também se alimentam de larvas. Além disso, a água é substituída e o recipiente é higienizado com frequência. O sobrevoo constante das dezenas de marimbondo-caboclo (Polistescanadensis) também contribui para reduzir a população de qualquer mosquito.

A observação, registro e identificação dos organismos que habitam os sistemas agroecológicos é de fundamental importância para seu correto manejo. Nesse sentido especial ênfase deve ser dedicada à análise da entomofauna local, considerando a relevância desse grupo de invertebrados nas condições de fitossanidade e o potencial de algumas espécies capazes de realizar controle biológico de conservação.O Guia InNat é um aplicativo gratuito, com imagens e informações sobre as características de vários agentes naturais de controle de pragas (EMBRAPA, 2018).Em ocasião futura se procederá à comparação da fauna de invertebrados registrada no sítio com as espécies listadas no Guia InNat.

O bairro é habitado por diversidade interessante de aves, e parte delas vêm frequentando o sítio para pousio, forrageioe nidificação. As principais espéciesouvidas ou observadas no local são: pardal (Passer domesticus), rolinha (Columbina sp.), bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), sabiá (Turdus sp.), canário-da-terra (Sicalis flaveola), coleiro (Sporophila caerulescens), corruíra (Troglodytesmusculus), cambacica (Coereba flaveola), sanhaço (Thraupis sp.), anu-branco (Guira), gavião-carrapateiro (Milvago chimachima), além de revoadas com milhares de andorinhas (Pygochelidon cyanoleuca), especialmente quando repousam na rede elétrica de alta tensão que atravessa o bairro. Eventualmente aparecem bandos reduzidos de bico-de-lacre (Estrilda astrild). A identificação das espécies foi auxiliada por acesso à plataforma WIKIAVES (2021).

O manejo agroecológico também surtiu resultados satisfatórios na vegetação do passeio público. A grama-esmeralda e as árvores rebrotaram vigorosas após o tratamento de inverno, inclusive frutificaram a nespereira e a gravioleira.



Efeitos socioambientais

O imóvel saiu do estado de desuso para o cumprimento de suas funções sociais de proporcionar moradia e bem estar, individual e coletivo. A casa voltou a receber manutenção, retardando sua deterioração pelo tempo e pelas intempéries. A manutenção de um bem imóvel e sua regularização jurídico-tributária são ações em prol de se evitar seu arruinamento físico e legal, reduzindo prejuízos para usufruentes e herdeiros.

O simples ato de se manter um quintal cercado/murado, com a vegetação aparada já contribui muito para o bem estar coletivo. Terrenos abandonados são sementes de vários problemas socioambientais.

O gramado sem manutenção foi parcialmente transformado em um mosaico de policultivos e tapetes alimentícios. Extrapolando as dimensões do sítio para a realidade atual de imóveis em estado de abandono, somada à quantidade de pessoas vivenciando insegurança alimentar e nutricional, deduz-se que há soluções viáveis e pacíficas de solver simultaneamente questões da paisagem urbana e da perspectiva social, mediante parcerias e contratos sustentáveis que favoreçam o aproveitamento agroecológico de terrenos urbanos inativos.

Embora seja senso comum que a alimentação é uma necessidade vital diária a campanha eleitoral recente, durante a pandemia, não trouxe proposta alguma, nem falácia de incentivo à agricultura doméstica.

Em politiquês, bastante se fala em povo ter dinheiro para comprar comida e pouco se faz para estimular que cada pessoa cultive ao menos parte da dieta básica familiar.

Bolsa-sementes com orientações de plantio representam um auxílio mais que emergencial, de baixo custo, capaz de gerar colheitas de alimentos, autoestima, soberania alimentar e consciência cidadã.

Em 2019, a fome afetou 690 milhões de pessoas, assevera o relatório Estado da Insegurança Alimentar e Nutricional no Mundo(FAO, 2021). A pandemia agrava a fome no mundo e a desnutrição enfraquece o sistema imunológico.

No sentido inverso de resolver a fome e a escassez de alimentos a pessoas menos favorecidas, atualmente mais que 30% de todo o alimento produzido no mundo vai pro lixo! Parte do desperdício é causado pela distância entre a lavoura e a mesa, e parte é causada dentro de casa, por falta de cuidado e respeito ao alimento adquirido.

Cultivar alimentos em casa e aprender formas de preparo que possibilitem seu aproveitamento integral são algumas estratégias individuais para combater o desperdício alimentar. O interesse pela etnobotânica e a prática da agroecologia favorecem a ampliação do repertório alimentar e o exercício da criatividade culinária.

Em simples exemplo, alface é bem fácil de comprar, crocante, refrescante, sedativa. É considerada uma cultura sensível. Seu cultivo requer aproximadamente 40 dias de manejo intensivo para a colheita. Em seguida, se não for ingerido, estraga rápido, mesmo em geladeira. No Brasil há pelo menos cem outras hortaliças além da alface, bem mais ricas nutricionalmente, que ainda são negligenciadas, arrancadas e desperdiçadas, tratadas como mato, mas poderiam estar no prato. Conhecer as plantas alimentícias não convencionais (PANC) abre um universo de possibilidades culinárias com ingredientes de fácil cultivo.

Difusão

Contar histórias é tão antigo quanto a civilização humana. Ajuda a inspirar, motivar, construir empatia e compartilhar problemas para que possamos encontrar e compartilhar soluções juntos". Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor Geral da Organização Mundial de Saúde (ONU, 2021).

Em outra época, com menor risco de contágio pelo coronavírus, o sítio seria excelente para vivências coletivas em agroecologia. Mas no momento desta edição o mais prudente é respeitar o distanciamento social e aguardar a vacinação antes de promover novas ações educacionais coletivas e presenciais, mesmo ao ar livre.

A espiral descrita na Sequência de Fibonacci se expandiu além do passeio público e serviu de estímulo a outras iniciativas agroecológicas como trocas de mudas, sementes, e sugestões entre a vizinhança, além da diversificação de itens nas lojas agropecuárias do bairro.

Em frente ao sítio, às margens da faixa de dutos alguns moradores do entorno estão implantando um bananal e um sistema agroflorestal linear, com possibilidade de expansão no perímetro integral dessa faixa non aedificandi gerida pela Transpetro.

A expressão “sítio agroecológico urbano” e as estações de trabalho aqui descritas são frutos de pesquisa, vivências, oficinas e cursos da série paradidática Do mato ao Prato, facilitada pelo Autor desde 2014.

Em tempos de ensino emergencial remoto, com o auxílio valioso e providencial das tecnologias de informação e comunicação foi possível difundir,mesmo com internet à lenha, as sementes de cada etapa de desenvolvimento do sítio, por diferentes meios eletrônicos:

05/06/2020 - Do Mato ao Prato no Dia Mundial do Meio Ambiente, transmissão ao vivo sobre as relações entre agroecologia, consumo consciente e economia solidária pós-pandemia (MONTEIRO, 2020b).

12/11/2020 - Do Mato ao Prato - dicas de agroecologia urbana e plantas alimentícias não convencionais, minicurso onlineintegrado à programação da II Semana de Biologia NUPEM/UFRJ (MONTEIRO, 2020c).

24/11/2020 – Do Mato ao Prato – aula especial onlineda disciplinaEspaços Alternativos, Outras Possibilidades, Novas Esperanças. Programa de Pós-graduação em GeografiaUFF Campos.

Outras publicações correlatas estão citadas neste manuscrito e os endereços listados nas Referências. O projeto pode ser acompanhado desde seu início pelo Instagram @jardim_vital.



Agradecimentos



Enraizar neste chão trouxe paz, saúde e honradez por cultivar, ingerir e ofertar alimentos vivificantes, exatamente quando a saúde coletiva demonstrou ser a prioridade mundial.

A permissão de plantar, cuidar e compartilhar as benditas sementes, para que vicejem onde estiverem e retribuam aos cuidados com generosas safras, deixam ainda mais nítida a importância da agroecologia como valioso instrumento de reconstrução social, capaz de mitigar a fome e a escassez, reduzir as desigualdades e injustiças que distanciam o ser humano de sua verdadeira essência.

O desenvolvimento e registro deste trabalho contribuíram de modo especial para ressignificar a condição de distanciamento social, de modo que as práticas agroecológicas assumiram tanta relevância para atenuar os efeitos psíquicos decorrentes do isolamento, que passei a me referir carinhosamente ao sítio como UTI -Unidade de terapias integrativas.

Este trabalho é fruto do apoio e auxílio de muitas outras pessoas, a quem expresso o mais puro sentimento de gratidão. Apenas palavras não são suficientes para demonstrar a importância de sua colaboração para o êxito dessa jornada.

Agradeço com todo amorà minha mãe, pela sensibilidade e pela fibra, por me apresentar à agricultura desde bem cedo e ensinar com sua história de vida o valor da simplicidade e da criatividade para atravessar as situações adversas.

Kauã Rocha, minha semente no mundo e aos demais familiares, um abraço apertado com beijo carinhoso e uma flor. Até nosso reencontro, vacinados!

Às parcerias celebradas desde o início do projeto: Cereall Gourmet, Aldeia Criativa, Feira Agroecológica do Convento, Feira Livre Periurbana de Búzios, VegLagos, Canal Papo Reto. Aos Chefs, muito obrigado por sua atenção, preparação, degustação e fundamental opinião sobre as flores comestíveis.

Ao Ivo, proprietário da casa e à Marilza, corretora responsável pelo aluguel, agradeço pela oportunidade de exercitarmos a negociação e a confiança mútua. Me sinto feliz de ter zelado por seu imóvel, devolvendo-o cheio de vida, com mais algumas árvores frutíferas e solo fértil.À administração do condomínio, na pessoa do Álvaro, por intermédio de quem agradeço aos demais colaboradores por toda a atenção ao bem estar comum.

Ao Victor, Carla e Rafael do Sítio Sereno, pela amizade e parceria no cultivo de feijão-borboleta.

Simão e família, da Padaria Q’Delícia, Paulo, Simone e Julia da padaria Pão do Porto pela doação dos baldes plásticos, fundamentais para coleta e compostagem das sobras de cozinha junto aos vizinhos.

Às pessoas que materializaram o apoio à pesquisa adquirindo os pães feitos no sítio.

À Anna, pela paciência angelical com que se dispôs a me ensinar remotamente sobre gestão do tempo, prioridades, ciclos e fases, ritmos e itinerários, fluxos e limites, físicos e emocionais. Desde então, suas lições estão presentes em todo o que faço. Que felicidade receber a notícia de sua recuperação. Saúde à família!

À gentil vizinhança do Washington e Michele, Daniel e Iaciara, Geison e Wislleyanna, Jason e Monica, Amauri e Carolina, Paulo e família. O convívio com vocês trouxe várias inspirações e alegrias.Pulsam namemória e no coração cada demonstração de apoio e incentivo, a troca de receitas, os trabalhos conjuntos e o café revigorante, adoçado com o otimismo necessário para atenuar as angústias e incertezas da pandemia.

À Granja Milano pela entrega das galinhas e troca de informações sobre seu desenvolvimento. Em nome das aves agradeço também aos vizinhos pelos cíclicos baldinhos de sobras de cozinha.

Genilson, muito obrigado pelo empréstimo da picareta, sem ela o esforço físico seria ainda maior.

Ao Ronaldo e família, do sacolão, Renan e demais colaboradores do Empório Village, pelas xepas e caixas de papelão.

Ao Marcelo da Rações Scooby-Doo e ao Luciano da Rações KãoPeão, pelas trocas.

Parabenizo e agradeço à organização Tampinhas do Bem Macaé, por acolher os plásticos reunidos junto à vizinhança e transformá-los em recursos para assistênciaveterinária e castração dos animais em situação de vulnerabilidade e abandono.

Muito obrigado à coordenação e colaboradores do PPGAO UFRRJ, EMBRAPA, PESAGRO e Fazendinha Agroecológica. Aos Professores Dr. João Sebastião de Paula Araujo e Dr. Antonio Carlos de Souza Abboud, obrigado por orientar-me na dissertação, da qual este manuscrito constituirá um dos capítulos.

Professora Dra. Mariella Camardelli Uzêda, lhe agradeço pelas aulas, indicações de pesquisa epor apreciar este trabalho como instrumento parcial da avaliação de aproveitamentoda disciplina Ecologia de paisagens agrícolas.

Turma IX, que maravilha participar do PPGAO com vocês. Nossas vivências de campo foram adiadas pela pandemia, mas espero em breve poder voltar a abraçar cada colega. Muito obrigado pelas partilhas e pelo espírito colaborativo que nos une desde o início.

À equipe da Revista Educação Ambiental em Ação, mais uma vez agradeço por todo o trabalho realizado para manter vivo esse importante veículo.

Este trabalho é uma homenagem dedicada a todas as pessoas que atuam em prol da saúde coletiva, às pessoas que se mantiveram atuantes prestando os serviços essenciais durante a pandemia e à comunidade científica mundial.

Agradeço por ter dedicado sua atenção à leitura deste artigo. A seção seguinte contém indicações de conteúdos complementares.



Referências

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Aplicativo Guia InNat. Guia para o reconhecimento de inimigos naturais de pragas agrícolas. 2018. Disponível em <https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/5236/aplicativo-guia-innat---guia-para-o-reconhecimento-de-inimigos-naturais-de-pragas-agricolas>. Acesso 18 jan 2021.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Catálogo brasileiro de hortaliças: saiba como plantar e aproveitar 50 das espécies mais comercializadas no país. 2010. Disponível em <http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/887213>. Acesso 13 fev 2021.

FAO. Food andAgriculture Organization ofthe United Nations. The stateofsecurityandnutrition in the world. 2021. Disponível em <http://www.fao.org/publications/sofi/en/>. Acesso 15 fev 2021.

MONTEIRO, J.A.V. Benefícios da compostagem doméstica de resíduos orgânicos. Revista Educação Ambiental em Ação. Número 56. Volume XV. Junho-Agosto2016. ISSN 16780701. Disponível em <http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2310>. Acesso 13 fev 2021.

MONTEIRO, J.A.V. Impactos socioambientais do cultivo de palmeira imperial em áreas urbanas. Revista Educação Ambiental em Ação. Número 61. Volume XVI. Setembro-Novembro/2017. ISSN 16780701. Disponível em <http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2819>. Acesso 28 jan 2021.

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Ilustrações: Silvana Santos