Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
08/06/2021 (Nº 75) HORTA ORGÂNICA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO FUNDAMENTAL
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HORTA ORGÂNICA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

NO ENSINO FUNDAMENTAL



Vânia Batista Bueno1, Carlos Eduardo Fortes Gonzalez2.



1Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Educação Científica, Educacional e Tecnológica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e-mail: vaniabueno265@gmail.com

2Doutor, Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica, Educacional e Tecnológica, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, e-mail: cefortes@yahoo.com



Resumo: Este relato de experiência consiste em atividades educativas ambientais desenvolvidas na Escola Municipal Prefeito Francisco Ferreira Claudino – Ensino Fundamental, localizada no bairro Borda do Campo em São José dos Pinhais-PR. Professores, alunos e toda a comunidade escolar foram envolvidos no processo de criação de uma horta dentro do espaço escolar. Houve um planejamento, observando o referencial curricular municipal de São José dos Pinhais. As atividades propostas trouxeram aos discentes e às comunidades reflexões sobre o meio ambiente e as questões ambientais; para isso, utilizou-se da horta como um campo de estudos e perspectivas, inclusive referentes à alimentação e nutrição comunitária. Procurou-se repassar concepções de Educação ambiental, bem como a importância de espaços de plantio de alimentos saudáveis dentro e fora do ambiente escolar. As hortas orgânicas produzem alimentos saudáveis e podem se constituir em uma fonte rica de nutrientes. A horta, portanto, constitui-se num importante meio no processo de ensino-aprendizagem ambiental.

Palavras-Chaves: Educação Ambiental; Horta; Escola.



Abstract: This experience report consists in environmental educational activities developed at the Municipal School Mayor Francisco Ferreira Claudino - Elementary School, located in the Borda do Campo neighborhood in São José dos Pinhais-PR. Teachers, students and the entire school community were involved in the process of creating a vegetable garden within the school space. There was a planning, observing the municipal curriculum reference of São José dos Pinhais. The proposed activities brought students and communities reflections on the environment and environmental issues; for this, the garden was used as a field of studies and perspectives, including referring to community food and nutrition. We tried to review concepts of environmental education, as well as the importance of spaces for planting healthy food inside and outside the school environment. Organic gardens produce healthy food and can be a rich source of nutrients. The vegetable garden, therefore, constitutes an important means in the process of environmental teaching-learning.

Keywords: Environmental Education; Vegetable Garden; School.



  1. INTRODUÇÃO

Este relato de experiência tem como objetivo descrever a ação ambiental proposta e desenvolvida nos anos iniciais na Escola Municipal Prefeito Francisco Ferreira Claudino em São José dos Pinhais – Paraná.

A ação abordou a horta como um espaço de práticas sustentáveis pertinentes à disciplina de Ciências e ao Projeto Político Pedagógico da escola. Neste sentido, a motivação para o trabalho com esta temática foi proporcionar discussões de natureza ambiental, usando a horta como um espaço de práticas ambientais com atividades que tiveram como objetivo guiar e auxiliar a uma reflexão sobre a formação de uma consciência crítica por meio de atividades de cunho teórico e prático.

Este trabalho de Educação Ambiental focando a horta foi escolhido para ser desenvolvido a fim de auxiliar os alunos a construírem uma consciência sobre as questões relativas ao meio, para que possam assumir posições afinadas com os valores referentes à sua melhoria e proteção. É de suma relevância que o docente aproveite a curiosidade dos alunos nos primeiros anos de escolarização, pois nesta fase do desenvolvimento as crianças estão em constantes descobertas de inúmeros significados em seu dia a dia.

Diante disto, o professor deve assumir um papel que vai ao encontro das práticas de construção de significados, considerando o desenvolvimento de habilidades da criança e contribuindo efetivamente com a aprendizagem inicial, aquisição e aperfeiçoamento da aprendizagem de conhecimentos científicos, propiciando e assegurando as condições de uso nas diversas situações sociais e descobrindo as diferentes funções que podem ser exercidas pela Ciência.

Assim, para o processo de aprendizagem de Ciências devem ser adotadas práticas de ensino relacionadas às habilidades de teoria e prática, pois a aprendizagem do Ensino de Ciências vai além de explicações teóricas, permitindo o desenvolvimento de uma nova forma de comunicação que ocorre por meio da compreensão dos significados relacionados a essa área do conhecimento. Tem por objetivo ampliar o olhar dos alunos em relação às diversas manifestações do conhecimento científico na sociedade na qual estão inseridos, compreendendo, assim, o mundo que os cerca.



  1. Referencial teórico



O Ensino de Ciências busca mudanças significativas nas práticas e atitudes na sala de aula, pois é relevante propiciar ações de descobertas, compreendendo que a Ciência organiza a diversidade através de um trabalho contextualizado. Trabalho este que concilie os processos de classificar e ordenar os elementos da natureza, numa prática de uso real da sistematização do Ensino de Ciências através de atividades experimentais ou práticas no ambiente escolar e que contemplem de forma articulada o trabalho em sala de aula, através de uma prática pedagógica adequada (VILCHES E GIL, 2003).

É fundamental oferecer-lhes, além da maior diversidade provável de experiências, uma visão abrangente e contextualizada da realidade ambiental. As práticas sustentáveis são essenciais para que isso ocorra no ensino da Ciência (CACHAPUZ, PRAIA e JORGE, 2002).

Muito se tem ensinado acerca das questões alimentares e como esta perpassa por ações dentro e fora das escolas (FROES et al., 2015). A EA enfoca numa Educação em prol da realidade do aluno, principalmente dentro do contexto escolar e como uma Educação para a vida.

Segundo a ONU (2018) 820 milhões de pessoas não têm acesso à alimentação suficiente. Isso evidencia a necessidade no espaço escolar de promover uma ação organizada relativa ao elevado número de alimentos desperdiçados nas refeições e produção de alimentos em pequenas escalas (hortas).

Um estudo realizado pela EMBRAPA em parceria com a Fundação Getúlio Vargas concluiu que o brasileiro possui uma cultura voltada ao armazenamento e à compra excessiva de alimentos, muito além do que pode ser consumido. Em média cada família brasileira desperdiça quase 130 quilos de comida por ano, totalizando 41,6 quilos por pessoa. Os alimentos que vão para o lixo com mais frequência por percentual do total desperdiçado são: 22% de arroz, 20% de carne bovina, 16% de feijão e 15% de frango (CARTA CAPITAL, 2019).

Essa cultura também demonstra a necessidade de Educação Ambiental. A escola trabalhada está localizada na periferia do município de São José dos Pinhais e apresenta elevado grau de pobreza entre as famílias pertencentes à comunidade escolar. A Educação Ambiental frisou sobre conscientizar os alunos a respeito da fome no mundo e no Brasil, evitando desperdício de alimentos, diminuindo a sobra das refeições e destinando corretamente os resíduos.



  1. Metodologia: Atividades realizadas no projeto.



Os conteúdos trabalhados foram a conservação do ambiente; práticas que contribuem para minimizar os problemas ambientais locais; influências do ser humano no ambiente. Neste sentido, as crianças, antes mesmo de aprenderem a teoria da sala de aula, usam conhecimentos prévios de sua trajetória de vida, no momento em que começam a conviver com as diversas manifestações do conhecimento científico. Assim, ao iniciarmos o processo de aprendizagem escolar consideramos que a criança traz consigo alguma bagagem de conhecimentos.

De acordo com o cronograma estabelecido no Plano de Ensino foram desenvolvidas atividades valendo-se de aulas expositivas e práticas. O projeto foi desenvolvido entre os meses de fevereiro e março do ano letivo de 2020, com 30 alunos do 2ª ano A e 30 alunos do 2ª ano B do Ensino Fundamental do período da manhã, como processo para a Educação Ambiental considerando a horta orgânica como um espaço de práticas sustentáveis (ALTIERI, 2000).

Para este projeto foi utilizado o método indutivo (GIL, 1990), que adota o saber do aluno como fonte fundamentada em experiências. Para que houvesse uma interação e coparticipação dos educandos tivemos como base as vivências dos alunos dentro e fora do contexto escolar. Desta forma atrelamos a horta à importância da relação do homem com a natureza, alinhada aos conhecimentos nos diversos campos do saber como: Matemática, Biologia, Geografia, Língua Portuguesa.

Usou-se a abordagem qualitativa, ou seja, a descrição de um tema, considerando e valorizando as contribuições trazidas pelos sujeitos participantes (BOGDAN; BIKLEN, 1994). A metodologia aplicada seguiu seis fases:

1ª Etapa: Explanações sobre a escassez de alimentos no mundo. Pontuamos que os alimentos desperdiçados no dia a dia seriam suficientes para alimentar várias pessoas e falou-se sobre a empatia; isto é, colocar-se no lugar do outro. Descrevemos o alto índice nutricional dos alimentos servidos aos alunos e da rigorosidade sanitária para a liberação e consumo destes alimentos. Foi realizado um levantamento sobre os conhecimentos prévios dos 60 alunos acerca de plantas e hortas, através de um questionário estruturado oral contendo as seguintes questões:



1. O que são verduras, legumes e vegetais?

2. Qual a importância de uma alimentação saudável?

3. O que é uma horta?

4. O que podemos plantar na horta?



Intencionalmente a ação pedagógica visava despertar o interesse dos alunos para o cultivo de horta. A horta, embora fosse desenvolvida na escola, poderia alcançar a família dos educandos (TURANO, 1990). Versou-se sobre criar, na escola, uma área verde produtiva pela qual todos se sintam responsáveis, construindo a noção de que o equilíbrio do ambiente é fundamental para a sustentação da vida em nosso planeta.



2ª Etapa: Pesagem das sobras, pelos discentes. Utilizamos uma balança industrial e realizamos uma pesagem da sobra dos alimentos do almoço fornecido pela escola para os alunos que ali permaneciam em tempo integral. Estas sobras foram utilizadas como compostagem e adubo na horta orgânica.



3º Etapa: O processo de criação da horta escolar: uma construção coletiva e saudável. Esta etapa teve o objetivo de despertar nos alunos o interesse pelo cultivo de verduras, vegetais e legumes, através da criação da horta, bem como tornar a horta da escola um local pedagogicamente ativo.



4ª Etapa: O processo de criação da horta escolar: uma construção coletiva e saudável. Foram selecionadas as mudas e sementes para ser feito o plantio e o passo seguinte foi marcado pelo cultivo das plantas e a manutenção dos canteiros, considerando os seguintes pontos:



  • Irrigar diariamente;

  • Retirar plantas invasoras;

  • Afofar a terra próxima às mudas;

  • Completar nível de terra em plantas descobertas;



  1. Produto Final



Na primeira etapa foi observado através do questionário oral que os alunos tinham conhecimento prévio do tema em estudo, pois se trata da realidade e do contexto social e cultural no qual estão inseridos. Mostraram que tinham conhecimentos da prática da agricultura familiar.

Conforme as etapas foram sendo desenvolvidas, observou-se que demonstravam preocupação com o meio ambiente, bem como curiosidade.

Na segunda etapa, mostravam-se bastante interessados na concepção da horta, onde tiveram a oportunidade de entrar em contato com solo, mudas e sementes na prática.

Na terceira etapa com a colheita de algumas mudas de rúculas que cresceram e se desenvolveram antes das outras plantas, marcou-se um momento especial para os alunos, onde verificaram-se atitudes que refletem cuidado com o meio ambiente por parte das crianças. O trabalho socializado fez com que aprendessem que fazem parte do meio ambiente e que são responsáveis por ele.

Os instrumentos de avaliação utilizados durante esse período foram as atividades realizadas durante as aulas e as observações e análises dos avanços individuais e coletivos dos alunos no decorrer do processo de ensino-aprendizagem.



  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS



Um dos grandes trunfos deste projeto é a elevação da autoestima, valorizando as contribuições e produções de cada criança. Assim, fazer com que as crianças acreditem em seu potencial enquanto produtores de conhecimento e que isto seja sempre lembrado de forma a colaborar e torná-la um ser atuante sobre a sociedade e o ambiente no decorrer de toda a sua vida.

A escola tem um papel fundamental na conscientização ambiental, possibilitando que os alunos se envolvam e participem das diferentes práticas de cuidado com o meio ambiente na sociedade na qual estão inseridos, aumentando a compreensão do mundo que os cerca.

Nesta perspectiva, observa-se que entre as ações desenvolvidas pelo professor destacam-se as ações e direcionamentos que visem à vertente científica em prol da formação dos pequenos cidadãos, para que se tornem reflexivos sobre a sua realidade atuando de forma participativa.

É importante atuar na escola de modo a explorar a Educação Ambiental, através de um trabalho em prol da formação da criança com a conscientização ambiental na escola, proporcionando por meio da horta a efetivação de um processo educacional que se configure com qualidade, questionando o consumo exacerbado e em busca da construção de uma sociedade sustentável.

As atividades desenvolvidas na Escola Municipal Prefeito Francisco Ferreira Claudino auxiliaram os alunos a construírem uma consciência global das questões referentes ao meio e a assumir posições afinadas com os valores atinentes à sua melhoria e proteção.

Vale ressaltar que a Educação Ambiental é um todo indissociável, é um processo contínuo de interação do indivíduo com o meio, cabendo aos professores perceber a correlação da Educação com os demais segmentos da sociedade, possibilitando transformações, enriquecendo o contexto escolar com novas práticas de ensinar e de relacionar-se com os alunos. A escola deve propor um trabalho cujo objetivo é formar a criança para se tornar um cidadão com consciência ambiental.

Como trabalho do professor, caberá estimular a valorização das obras realizadas pelos alunos, respeitando suas peculiaridades, raízes culturais, étnicas ou religiosas. Importante revelar o contexto social, econômico, cultural e ambiental no qual se insere a escola; os elementos da cultura local, sua história e seus costumes, o que diferencia a abordagem e o trabalho com o tema Meio Ambiente em cada escola.



REFERÊNCIAS

ALTIERI, M. Agroecologia a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000.

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1994.

CARTA CAPITAL. Cada brasileiro joga mais de 40 quilos de comida no lixo por ano. 2019. Disponivel em <https://url.gratis/4jHuq>. Acesso em: 23 fev. 2021.

DIAS, A. A. et al. A Organização do espaço com a construção de uma horta lúdica. 2004. 130 f. Monografia (Aperfeiçoamento/Especialização em Pedagogia em Educação) EXTENSIO – Revista Eletrônica de Extensão, n. 6, 2008.

FAO. Segurança alimentar e nutricional na América Latina e no Caribe. Disponivel em: <http://www.fao.org/americas/prioridades/seguridad-alimentaria/pt>. Acesso em: 23 mar. 2021.

FURTADO, J. et al., A Ilha das Flores. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=8iGNqVhqNIs>. Acesso em: 10 fev. 2020.

FROES, E, K. et al. Hortas escolares: uma proposta de integração da horta às disciplinas do ensino fundamental nas escolas do alto Vale do Itajaí. In: Mostra Nacional dee Iniciação Científica e Tecnologia Interdisciplinar. 8. Santa Rosa. Anais eletrônicos... Santa Rosa do Sul: Campus IFC. 2015. Disponível em: <https://url.gratis/BFSmd>. Acesso em: 04 out. 2017.

GIL, A. C. Metodologia do ensino superior. São Paulo: Atlas, 1990.

MAGALHÃES, A. M. A horta como estratégia de educação alimentar em creche. 2003. 120 f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

MAGALHÃES, A. M.; GAZOLA, H. Proposta de Educação Alimentar em Creches. In: Congresso Internacional de Educação Infantil, 1, 2002, Bombinhas. Anais... Bombinhas: PMPB, 2002.

MAPA SOCIAL: Borda do Campo e Roseira de São Sebastião/Jucimeri Isolda Silveira (Coordenadora). – Curitiba: PUC Press, 2018.159 p.

ONU NEWS. 2018. Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2018/10/1643012>. Acesso em: 23 fev. 2021.

SACHS, J. O Fim da Pobreza: Como consegui-lo na nossa geração. Cruz Quebrada: Casa das Letras. 2005. 544 p.

TURANO, W. A didática na educação nutricional. In: GOUVEIA, E. Nutrição Saúde e Comunidade. São Paulo: Revinter, 1990. 246 p.

VILCHES, A.; GIL, D. Construyamos un futuro sostenible: Diálogos de supervivencia. Madrid: Cambridge University Press, 2003. 203 p.

Ilustrações: Silvana Santos