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UM OLHAR PARA OS ELEMENTOS QUÍMICOS NATURAIS SOB A PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Adriano Lopes Romero1,2, Marcia Borin da Cunha1 1Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Educação Matemática, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). adrianoromero@utfpr.edu.br, borin.unioeste@gmail.com. 2Departamento Acadêmico de Química, Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Resumo: No presente artigo chamamos a atenção, utilizando a perspectiva da Educação Ambiental, para os elementos químicos naturais, principalmente aqueles de menor abundância na crosta terrestre. Indicamos, com base em informações divulgadas pelas Sociedades Americana e Europeia de Química, que há 12 elementos químicos em risco de extinção. Tal cenário foi formado pelo aumento do consumo desses elementos químicos para fabricação, principalmente, de dispositivos eletrônicos, tais como smartphones. Essas discussões podem (e devem) ser trabalhadas em situações de ensino na disciplina de Química na Educação Básica. Abstract: In this article, we draw attention, using the Environmental Education perspective, to the natural chemical elements, especially those of lesser abundance in the earth's crust. We indicate, based on information released by the American and European Chemical Societies, that there are 12 chemical elements at risk of extinction. This scenario was formed by the increase in the consumption of these chemical elements for the manufacture, mainly, of electronic devices, such as smartphones. These discussions can (and should) be worked on in teaching situations in the discipline of Chemistry in Basic Education. Introdução Atualmente são conhecidos 118 elementos químicos, entendidos na concepção de Paneth (2003 [1931]), sendo 90 de ocorrência natural e 28 sintetizados em laboratório. Para facilitar o estudo dos elementos conhecidos foi criado, pelos praticantes da Química, arranjos gráficos que organizam essas entidades com base em suas propriedades químicas e físicas. Entre as várias formas de arranjos gráficos existentes, a mais comum é a tabela periódica recomendada pela IUPAC (sigla para International Union of Pure and Applied Chemistry), Figura 1. Figura 1: Tabela periódica dos elementos químicos recomendada pela IUPAC.
Fonte: https://iupac.org/what-we-do/periodic-table-of-elements/. Engana-se quem pensa que os elementos químicos são apenas um conteúdo escolar cujos nomes e símbolos precisam ser memorizados em disciplinas de Química na Educação Básica, essas entidades estão presentes em nosso cotidiano, fazem parte de nossas vidas, mas a maioria de nós provavelmente não está familiarizada com os usos diários de alguns dos muitos elementos conhecidos. Alguns elementos sobre os quais muitos nunca ouviram falar têm uso em tecnologias ou aplicações que consideramos óbvias - mas os suprimentos desses elementos na Terra não são infinitos. Sendo assim, conhecer as formas com que os elementos químicos ocorrem na natureza, sua abundância, uso em nosso cotidiano, consequências do descarte inadequado de dispositivos que contenham essas entidades, assim como a (existência de uma efetiva) logística reversa e possibilidades de reuso é um dever dos cidadãos, enquanto corresponsáveis pela construção individual e coletiva de valores sociais relacionados à educação ambiental. Tal defesa está alinhada com a lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, na qual destacamos os dois primeiros artigos: Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Art. 2º A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999, on-line). Consideramos que esses dois artigos, em certa medida, justificam um olhar, com uma perspectiva da Educação Ambiental, para os elementos químicos naturais. Desenvolvimento Apesar de relevante, no presente trabalho não abordaremos a gênese dos elementos químicos, que, de certa forma, justifica porque em nosso planeta algumas substâncias e seus componentes (elementos químicos) são mais abundantes do que outros. Para isso sugerimos a leitura de Holzle (2016), Mota (2019) e Quimlab (2021). As diferenças de abundância, de propriedades físicas e químicas e potencialidades de uso dos diferentes elementos químicos passíveis de extração estão associados aos preços de venda dos mesmos. A título de comparação, apresentamos dados de abundância na crosta terrestre e preço de venda de 15 metais em dólar americano (Tabela 1). Tabela 1. Comparação do preço de venda e abundância na crosta terrestre de alguns metais.
Fonte: Produzida com informações retiradas de Wikipédia (2021). Podemos observar uma relação (praticamente) inversamente proporcional entre o preço e a abundância do metal na crosta terrestre. Apesar da diminuição da quantidade em que os metais menos abundantes são utilizados em equipamentos eletrônicos, consequência de avanços tecnológicos, se observa que o consumo desses recursos naturais tem aumentado consideravelmente. Esse fato é denominado de paradoxo de Jevons, que foi percebido na segunda metade do século XIX pelo economista britânico William Stanley Jevons (1835 - 1882), considerado um dos pioneiros da economia ecológica. Jevons constatou, durante sua pesquisa acerca da utilização do carvão como fonte de energia no Reino Unido, que o aumento na eficiência da queima de carvão ao invés de poupar este recurso, como era esperado, ampliou as suas possibilidades de uso econômico e, consequentemente, sua utilização. Desde então, esse paradoxo tem sido utilizado para justificar/entender que uma melhoria na eficiência, com a qual um recurso natural é utilizado, frequentemente é associada a um aumento no consumo deste recurso (MACHADO et al., 2019). Devido ao aumento do consumo, nas últimas décadas, muitos dos elementos químicos naturais estão em risco de extinção. Em 2015, o Instituto de Química Verde da Sociedade Americana de Química publicou uma tabela periódica indicando quais elementos químicos estão em risco de extinção (Figura 1). Figura 1. Tabela periódica com indicativo de disponibilidade de elementos químicos.
Fonte: https://www.compoundchem.com/2015/08/19/endangered-elements/. O termo "em risco de extinção" não significa que esse elemento desaparecerá completamente da Terra, mas que chegará um ponto em que a oferta será diminuída em relação a demanda, ou chegaremos ao ponto em que não será mais economicamente viável extrair ou usar um determinado elemento, e alternativas terão que ser procuradas (BRUNNING, 2015). Como podemos observar, no total, nessa tabela periódica foram indicados 44 elementos químicos cujo fornecimento está em risco. Para alguns, o risco é mais sério do que para outros - mas há 9 elementos [hélio (He), zinco (Zn), gálio (Ga), germânio (Ge), arsênio (As), prata (Ag), índio (In), telúrio (Te) e háfnio (Hf)] mostrados nesta tabela para os quais existe a preocupação de que haja uma séria ameaça ao seu fornecimento nos próximos 100 anos, e mais 7 [ruténio (Ru), ródio (Rh), ósmio (Os), irídio (Ir), platina (Pt), tântalo (Ta) e urânio (U)] para os quais há uma ameaça crescente devido ao aumento do uso (BRUNNING, 2015). No presente artigo, veremos alguns desses elementos de risco: seus usos, por que seu suprimento está ameaçado e o que pode ser feito para resolver esse problema. Em 2019, a Sociedade Europeia de Química, produziu outra tabela periódica para contribuir para a conscientização sobre o uso de elementos químicos naturais. A distorção observada na tabela periódica é devido a indicação relativa da abundância dos elementos químicos. Figura 2: Tabela periódica indicando a abundância e escassez de elementos químicos.
Fonte: https://www.euchems.eu/euchems-periodic-table/. Nessa versão da tabela periódica há indicação de 12 elementos químicos em risco de extinção, muitos dos quais são utilizados para fabricação de smartphones. Além dos nove indicados anteriormente, entraram para essa lista o estrôncio (Sr), ítrio (Y) e tântalo (Ta). A Sociedade Europeia de Química pontua que a proteção de elementos ameaçados deve ser alcançada em vários níveis. Como indivíduos, precisamos questionar se as atualizações de nossos telefones móveis e outros dispositivos eletrônicos são realmente necessárias, e precisamos nos certificar de que reciclamos corretamente para evitar que eletrônicos antigos não acabem em aterros sanitários ou poluindo o meio ambiente. Em um nível político, precisamos ver um maior reconhecimento do elemento de risco que a escassez representa, e movimentos precisam ser feitos para apoiar melhores práticas de reciclagem e uma economia circular eficiente. Além disso, a transparência e as questões éticas precisam ser consideradas para evitar o abuso dos direitos humanos, bem como para permitir que os cidadãos façam escolhas informadas ao comprar smartphones ou outros eletrônicos - já que muitos dos elementos químicos utilizados na fabricação de dispositivos eletrônicos são importados de zonas de conflito (EUROPEAN CHEMICAL SOCIETY, 2019). A seguir apresentaremos algumas considerações sobre os elementos químicos em risco de extinção. Quadro 1: Algumas informações acerca dos elementos químicos em extinção.
Fonte: Produzido com informações retiradas de U.S. Geological Survey (2020) e Holzle (2016).
Podemos observar que os 12 elementos químicos indicados no Quadro 1 possuem vários usos/aplicações, o que demanda um grande volume de extração dos mesmos a partir da crosta terrestre. Segundo dados disponíveis no último relatório do Serviço Geológico dos Estados Unidos, para os elementos arsênio e prata, caso o consumo desses se mantenha constante, podemos estimar que as reservas naturais desses elementos químicos se esgotarão em cerca de 20 anos. Tal cenário tem estimulado estudos visando a recuperação de elementos químicos presentes em lixos eletrônicos. Por exemplo, um iPhone, como indicou Nogrady (2016), continha 0,034 gramas de ouro, 0,34 de prata, 0,015 de paládio e menos de um miligrama de platina. E também continha metais mais abundantes como o alumínio (25 gramas) e cobre (15 gramas). A partir dessas proporções, se estima que um milhão de iPhones contêm quase 16 toneladas de cobre, 350 kg de prata, 34 kg de ouro e 15 kg de paládio. Fato que tem estimulado o surgimento de empresas especializadas na extração de metais presentes no lixo eletrônico. Considerações Finais O paradoxo de Jevons é facilmente observado no contexto dos dispositivos eletrônicos. Nas últimas duas décadas enquanto os dispositivos eletrônicos, tal como os smartphones, reduziram de tamanho e as quantidades de elementos químicos utilizadas para fabricação, o consumo de metais para atender esse nicho de mercado aumentou consideravelmente. As projeções realizadas por diferentes instituições, tal como a Sociedade Americana de Química e a Sociedade Europeia de Química, indicam que a continuidade desse cenário poderá resultar na extinção de elementos químicos menos abundantes na crosta terrestre. A partir do exposto no presente artigo, consideramos que olhar para os elementos químicos naturais, utilizando a perspectiva da Educação Ambiental, pode ser uma interessante possibilidade de abordagem didática para se trabalhar a tabela periódica dos elementos químicos na Educação Básica. Para isso, uma opção seria utilizar Textos de Divulgação Científica sobre reciclagem de lixos eletrônicos como recurso didático em situações de ensino. Referências BRASIL. Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 01 fev. 2021. BRUNNING, A. The periodic table’s endangered elements. COMPOUND INTEREST, 2015. Disponível em: <https://www.compoundchem.com/2015/08/19/endangered-elements/>. Acesso em: 01 fev. 2021. EUROPEAN CHEMICAL SOCIETY. Element Scarcity - EuChemS Periodic Table. EuChemS, 2019. Disponível em: <https://www.euchems.eu/euchems-periodic-table/>. Acesso em: 01 fev. 2021. HOLZLE, L. R. B. (2016). Tabela periódica com aplicações dos elementos químicos. Tabela periódica.org, 2016. Disponível em: <https://www.tabelaperiodica.org/tabela-periodica-com-aplicacoes-dos-elementos-quimicos/>. Acesso em: 01 fev. 2021. MACHADO, D. Q. et al. Caminhos e desafios de inovações e organizações rumo à sustentabilidade. AOS - Amazônia, Organizações e Sustentabilidade, v. 8, n. 2, p. 181-197, 2019. MOTA, C. A extinção de elementos químicos e o impacto na tecnologia. Ciência Hoje, 2019. Disponível em: <https://cienciahoje.org.br/artigo/a-extincao-de-elementos-quimicos-e-o-impacto-na-tecnologia/>. Acesso em: 01 fev. 2021. NOGRADY, B. Os metais valiosos contidos em seu smartphone - e por que ele pode se tornar um problema ambiental. BBC News Brasil, 2016. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-38092622>. Acesso em: 01 fev. 2021. PANETH, F. A. The epistemological status of the concept of element. Foundations of Chemistry, v. 5, p. 113-145, 2003 [1931]. QUIMLAB. Formação dos elementos químicos no universo. Disponível em: <https://www.quimlab.com.br/guiadoselementos/formacao_elementos.htm>. Acesso em: 01 fev. 2021. U.S. GEOLOGICAL SURVEY. Mineral Commodity Summaries 2020. Disponível em: <https://pubs.usgs.gov/periodicals/mcs2020/>. Acesso em: 01 fev. 2021. WIKIPÉDIA. Abundância dos elementos na crosta terrestre. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Abundância_dos_elementos_na_crosta_terrestre>. Acesso em: 01 fev. 2021. |