Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
08/06/2021 (Nº 75) RELATO DE EXPERIENCIA: EDUCAÇÃO EM SAÚDE E MEIO AMBIENTE NO CONTEXTO DE UM TERRITÓRIO QUILOMBOLA SITUADO NO AGRESTE DE PERNAMBUCO
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RELATO DE EXPERIÊNCIA: EDUCAÇÃO EM SAÚDE E MEIO AMBIENTE NO CONTEXTO DE UM TERRITÓRIO QUILOMBOLA SITUADO NO AGRESTE DE PERNAMBUCO

Michelle Carvalho de Araújo 1 Carina Carvalho Novaes 2 Daniere Sousa Ferreira 3 Itamar Lages4 Maria Deisyelle Sibaldina da Silva Almeida

1 Fonoaudióloga e Gestora Ambiental. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente UFPE. Residente em Saúde da Família com Ênfase em Saúde no Campo. Universidade Estadual de Pernambuco.

2 Nutricionista. Residente em Saúde da Família com Ênfase em Saúde no Campo. Universidade Estadual de Pernambuco.

3 Farmacêutica. Residente em Saúde da Família com Ênfase em Saúde no Campo. Universidade Estadual de Pernambuco.

4Itamar Lages, Enfermeiro. Sanitarista. Mestre em Saúde Coletiva. Professor da Universidade de Pernambuco.

5 Profissional de Educação Física Residente em Saúde da Família com Ênfase em Saúde no Campo. Universidade Estadual de Pernambuco. Faculdade de Ciências Médicas (FCM).



Resumo: As ações de educação em saúde visaram contribuir para o empoderamento dos usuários do posto de saúde da comunidade quilombola do Estivas em Garanhuns – PE. Para a compreensão do processo de adoecimento, foi realizado o reconhecimento do território e de condições sócio ambientais presentes nessa comunidade.

Palavras Chave: Educação Permanente, Saúde da Família, Território.

Abstract: The health education actions aimed to contribute to the empowerment of users of the health post in the quilombola community of Estivas in Garanhuns - PE. To understand the illness process, the territory and the socio-environmental conditions present in this community were recognized.

Keywords: Permanent Education, Family Health, Territory.

Introdução: 

No Brasil, são consideradas comunidades quilombolas, aquelas remanescentes de escravos que se refugiavam em lugares denominados de quilombos. Em Pernambuco o município de Garanhuns foi marcado por esse processo. Nesse contexto, estão as comunidades quilombolas de Castainho e Estivas, onde foi realizada a territorialização para o reconhecimento da área de atuação, visando a criação de vínculo com a população e a compreensão das condições socioambientais presentes no território que impactam no processo de adoecimento da população que ali reside.

A partir do diagnóstico das condições ambientais e situação de saúde do território, iniciou-se o planejamento de ações educativas, preconizando a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) a qual compreende que a transformação no trabalho e no ensino envolve mudança nas relações, nos processos, nos atos de saúde e, principalmente, nas pessoas. (CECCIM, 2005)Esse trabalho foi desenvolvido pela Turma V da Residência Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase em Saúde da População do Campo da Universidade de Pernambuco - UPE.

Metodologia:

Área de estudo:

Esse estudo foi realizado na comunidade quilombola de Estivas, situada no município de Garanhuns, no agreste meridional do Estado de Pernambuco, há cerca de 230 km da capital. Vale salientar que esse município é conhecido como a suíça pernambucana, por apresentar clima agradável e temperaturas amenas, além de grandes festividades que atraem turistas de todo o Brasil. Porém, pouco se conhece sobre os territórios quilombolas que ali residem.

Figura 1. Fonte: https://url.gratis/pPMPJi

Foi utilizada a observação participante para a investigação dos riscos no território e aplicado o Diagnóstico Rural Participativo (DRP), para a implementação das atividades, bem como para o planejamento e a implementação das ações de educação em saúde.

Resultados e Discussões:

Durante o processo de reconhecimento do território e construção de vínculos com a população, observou-se que essas comunidades não recebem água tratada, nem sistema de esgotamento sanitário, sendo comum o surgimento de doenças diarreicas. A coleta de lixo é realizada uma vez por semana, via caminhão, não abrangendo toda área. Durante as visitas às residências, o relato sobre a presença de escorpiões foi frequente. No período junino os riscos de queimaduras por fogueiras e fogos de artificio fica mais elevado. Também se notou que, na Unidade de Saúde da Família - USF, era comum a automedicação por parte dos usuários. Assim, pontuou-se os temas supracitados como pertinentes para as ações educativas.

A partir do conhecimento dos riscos à saúde com o auxílio da ferramenta da territorialização, procurou-se alertar a população sobre o tratamento da água para evitar o surgimento doenças de veiculação hídrica, nesse momento foi feita a distribuição do hipoclorito de sódio e dadas orientações sobre o uso. Também se discutiu sobre a questão do acondimento e armazenamento dos resíduos sólidos, para se evitar presença de insetos e animais peçonhentos como escorpiões.

 Figura 2. Presença de água acumulada na comunidade do Estivas. Fonte: os autores.

No que tange o período junino foi realizada sala de espera sobre como se evitar queimaduras e o sobre o que fazer caso ocorresse algum acidente. Já no tocante à automedicação, discutiu-se os perigos em se tomar uma medicação sem orientações, desde os efeitos das contraindicações à presença de intolerância ou alergia a algum medicamento, podendo causar danos irreversíveis à saúde ou à vida dos usuários. A fim de minimizar os impactos da automedicação também foram realizadas oficinas de práticas integrativas.

Figura 3. Realização de auriculoterapia como pratica integrativa em saúde, na redução da automedicação. Fonte: os autores.

As atividades de educação em saúde ocorreram no período de abril a julho de 2019, no entorno do posto de saúde de Estivas foram realizadas 14 atividades de educação permanente, com duração média de 15 minutos, abordando os seguintes temas: automedicação, gerenciamento de resíduos sólidos, manejo e armazenamento da água, primeiros socorros e prevenção de queimaduras e saúde mental. Cada atividade abrangeu em média 20 pessoas, abrangendo cerca de 280 usuários.

Nesse contexto, o fortalecimento da integração ensino-serviço-comunidade e a centralidade na atenção básica à saúde foram alguns dos componentes presentes nos objetos preconizados pelas iniciativas, bem como nortearam as principais estratégias e instrumentos delineados (DIAS & TEIXEIRA, 2013). Assim, quando se agrega educação permanente e territorialização, a educação parte da analise das realidades sociais, buscando revelar as suas características e as relação que as condicionam e determinam.

Considerações Finais:

A partir da territorialização e da identificação das problemáticas socioambientais as ações de educação perante, bem como as práticas integrativas ocorreram em salas de espera no entorno da Unidade de Saúde da Família. Essas atividades envolveram a participação da comunidade usuária do posto de saúde, havendo dialogo e participação, em conformidade com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, considerando-se as especificidades regionais durante o planejamento e as ações realizadas.

Referências:

ALVES FILHO, José Prado; RIBEIRO, Helena. Saúde ambiental no campo: o caso dos projetos de desenvolvimento sustentável em assentamentos rurais do estado de São Paulo. Saúde e Sociedade, v. 23, p. 448-466, 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde 2004. 

CECCIM, Ricardo Burg. Educação Permanente em Saúde: descentralização e disseminação de capacidade pedagógica na saúde. 2005.

DIAS, Henrique Sant'Anna; LIMA, Luciana Dias de; TEIXEIRA, Márcia. A trajetória da política nacional de reorientação da formação profissional em saúde no SUS. Ciência & Saúde Coletiva, v. 18, p. 1613-1624, 2013.

FONSECA, Angélica Ferreira et al. O território e o processo saúde-doença. 2007.

LIMA, Évio Marcos; BARROS CORRÊA, Antonio Carlos. apeamento geomorfológico como ferramenta de caracterização ambiental do município de Garanhuns-PE. Geosul, v. 31, n. 62, p. 317-336, 2016.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

Ilustrações: Silvana Santos