Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
15/03/2022 (Nº 78) MEIO AMBIENTE E PERTENCIMENTO: COMPREENSÃO E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
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MEIO AMBIENTE E PERTENCIMENTO: COMPREENSÃO E PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Luiz Antonio da Silveira

Carla Valeria Leonini Crivellaro

luiz.an1313@gmail.com



RESUMO

Este artigo consiste em uma explanação de um projeto de pesquisa aplicado em uma turma de educação infantil. Na escola, localizada no município de Alvorada, se trabalha com as crianças o sentido e pertencimento ao meio ambiente e cuidados com nosso corpo. O artigo parte de um embasamento teórico, a fim de demonstrar a importância de se trabalhar a problemática com crianças dessa faixa etária, conjuntamente com abordagem da Educação Ambiental Crítica e Transformadora para o Pertencimento. Posteriormente são apresentadas as etapas o projeto, tais como a elaboração do conceito de pertencimento a partir de produções artísticas dos alunos, cuidados com o corpo voltados para a higiene pessoal e a educação alimentar. Ademais, é relatada a saída de campo nas imediações da escola a fim de identificar potencialidades e problemas na temática ambiental, assim como a mostra de trabalhos para a comunidade, e por fim, os resultados obtidos.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Educação infantil. Pertencimento.



INTRODUÇÃO

Este artigo visa relatar as atividades do projeto de Educação Ambiental intitulado “Meio ambiente e pertencimento: compreensão e práticas de Educação Ambiental na Educação Infantil”. O projeto foi desenvolvido com uma turma de Educação Infantil, com alunos na faixa etária de 5 e 6 anos da Escola Municipal Padre Léo, localizada no município de Alvorada, RS.

A importância desse projeto encontra-se na necessidade de criar uma aproximação das crianças com o meio ambiente em que estão inseridas. Geralmente projetos com a temática da Educação Ambiental relacionam-se com ações voltadas para reciclagem, o que acaba por criar uma lacuna quanto à necessidade dos alunos de desenvolverem sua noção e pertencimento ao local em que habitam, a fim de criar um senso de responsabilidade pelos danos ambientais a sua volta.

A questão a ser respondida com a realização do projeto é: “As crianças sabem o que é meio ambiente e se sentem inseridas nele?”. É possível perceber que com todas as responsabilidades do mundo moderno, muitas famílias acabam por transferir para escola a responsabilidade de ensinar os conhecimentos mais básicos, tais como cuidados pessoais relacionados à higiene e regras de convivência, que acabam acarretando na necessidade de serem diariamente relembrados na escola.

Sendo assim, o projeto visa proporcionar a compreensão das crianças do seu pertencimento ao meio em que vivem, por meio do pensamento sistêmico, identificando os elementos que integram o meio ambiente. Com isso, objetiva a promoção de um melhor cuidado com a educação ambiental, sendo as crianças multiplicadoras dessas ideias seus lares.

A escolha dessa temática decorreu da constatação que a maioria dos alunos não compreende o conceito de meio ambiente. Para eles, o meio ambiente é visto apenas como o natural, ou seja, o ecológico. Assim, não há a oportunidade de vê-lo na sua essência, abrangendo o cultural, o histórico, o econômico, o político, o ético e o estético. Dessa maneira, o projeto teve como concepção de Educação Ambiental uma EA crítica e transformadora, pois acredita-se que a base para a mudança passa pela reflexão e pela ampliação do conceito de meio ambiente.

Portanto, se demonstra imprescindível indicar para as crianças que meio ambiente não se refere somente as matas e animais, sendo que elas próprias pertencem a esse meio a ser protegido. É necessário que tenham essa percepção de pertencimento, ou seja, a visão de que são parte da natureza, rompendo com o pensamento fragmentado e antropocêntrico responsável pelo acelerado processo de degradação do meio ambiente.

A intenção é que seja desenvolvido uma outra forma de ver a realidade, em que as partes que compõem o todo sejam compreendidas como fundamentais para a vida no planeta. Portanto, cabe salientar a importância da elaboração do conceito de meio ambiente por meio de atividades de sensibilização, trazendo de forma lúdica o melhor entendimento das crianças nessa faixa etária. Além disso, para essa compreensão, também é relevante o envolvimento com os pais em entrevistas, saídas de campo, reuniões, oficinas e outras formas de participação.

Isto posto, o artigo apresenta o relato da ação e os referenciais teóricos que embasam o projeto, assim como os principais resultados obtidos e as perspectivas de transformação por meio da EA.



A EA Crítica e Transformadora para o Pertencimento

Cabe salientar a importância da proposta de trabalhar a Educação Ambiental no contexto escolar que estou inserido, pois as crianças que foram atendidas estavam na idade ideal para um aprendizado tão importante: o conceito de meio ambiente. Referindo-se a faixa etária dos 5 aos 6 anos, Celia demonstra que:

Nessa etapa as crianças têm interesses voltados para aprendizagens e aquisições culturais. Constroem seus valores e os ideais estéticos e morais, que são importantes para sua formação e o estabelecimento dos conceitos de civilidade (CELIA, 2003. p. 63).

A pesquisa a ser apresentada se refere a um estudo qualitativo da Educação Ambiental em uma escola que atente do 1ª ao 5ª ano do Ensino Fundamental, localizada na cidade de Alvorada, região metropolitana de Porto Alegre, RS. O trabalho com essa faixa etária é extremamente importante, pois proporciona uma perspectiva de mudança não só para criança, como também para todos os envolvidos no processo de ensino. A perspectiva crítica e transformadora de EA adotada nesse trabalho possui o propósito de desenvolver, com as crianças e os adultos que participaram do projeto, uma nova forma de atuação no seu dia a dia, buscando assim uma mudança na maneira de contemplar o meio em que estão inseridos. De acordo com Loureiro:

Há outro eixo revolucionário e emancipatório que pode ser realmente chamado de Educação Transformadora, em que a dialética forma e conteúdo se realiza plenamente, de tal maneira que as alterações da atividade humana implicam em mudanças radicais, individuais e coletivas, locais e globais, estruturais e conjunturais, econômicas e político-sociais, psicológicas e culturais; em que o sentido de revolucionar se concretiza como sendo a transformação integral do ser e das condições materiais e objetivas de existência (LOUREIRO, 2003. p.39).

Desde muito cedo é possível constatar essa necessidade de lidar com o conceito de pertencimento para a criação de uma sociedade sustentável. Na idade de 3 a 6 anos é quando há a formação da personalidade da criança, criando assim sua própria identidade. Segundo Sá:

Diz-se, então que os humanos perderam a capacidade de pertencimento. As ideologias contemporâneas sobre o desenvolvimento econômico ancoram-se numa crença irracional que inverte radicalmente a afirmação do sábio chefe indígena Seattle, ou seja, elas parecem acreditar que “nada que acontecer a Terra afetará os filhos da Terra” (SÁ, 2005. p. 361).

Sá quando se refere aos “filhos da terra” faz uma referência aos descendentes, e mais propriamente às crianças que nascerão posteriormente. O que será das gerações futuras se não se sentirem pertencentes ao seu habitat? De que outro modo se garantirá o cuidado com a natureza? Vemos pela fala que a questão do pertencimento está relacionada ao desenvolvimento indiscriminado, conjuntamente com a revolução tecnológica, de maneira que os indivíduos acabam por não perceber o custo que tais transformações ocasionam para o ecossistema. O autor ainda dispõe sobre a maneira pela qual isso pode ser modificado:

A transformação deste padrão é obviamente um problema educacional, no seu sentido mais amplo e intrínseco, psicocultural e sociopolítico, pois se trata de fazer emergir do inconsciente coletivo da humanidade suas experiências de pertencimento, trazer para a luz da consciência os conteúdos ocultos na sombra de nossa solidão como partes desgarradas de um mundo partido (SÁ, 2005. p.361).

Dessa maneira, fica explícito que o caminho para a mudança é o ambiente educacional. Ou seja, com um ensino que comtemple conteúdos que provoquem a reflexão sobre o futuro da humanidade e a necessidade da mudança de hábitos.

O projeto iniciou com a pretensão também de orientar os educandos sobre hábitos alimentares. Esse objetivo se relaciona com o disposto por Crivellaro:

A educação do aspecto físico precisa ainda passar pelo estudo dos efeitos nocivos do álcool, cigarro e drogas sobre o corpo e o incentivo a uma alimentação saudável - o consumo de hortaliças, frutas, grãos, cereais e mel, e a diminuição de gorduras, condimentos, refrigerantes e açúcar. É importante a atenção com os produtos muito industrializados, transgênicos ou cultivados com agrotóxicos (CRIVELLARO, 2001. p. 24).

Nesse contexto, se demonstra a importância desse estudo, pois as crianças estão expostas, no ambiente familiar, a pessoas que utilizam tanto fumo quanto álcool. A própria noção do quanto esses hábitos são prejudiciais à saúde pode acarretar na ampliação do diálogo para a família, e por consequência, na mudança de hábitos. Para avaliarmos o que estava sendo realizado nas aulas foram utilizadas representações gráficas feitas pelas crianças, hora com lápis de cor, e outras com tinta. Nesse contexto vemos o que nos relata Crivellaro sobre os modos de expressão que as crianças utilizam:

Todo o indivíduo quando criança, independente da raça, sexo ou nacionalidade, comunica-se graficamente por meio do desenho: sejam as marcas feitas com a colher da papinha, os riscos com os dedos na areia da praia ou com o giz de cera num pedaço de papel. É o desejo de criar e de concretizar algo, que se transformam em brincadeira nas mais magicas formas do desenho. Isso tem gerado interesse e muitas teorias acerca da arte na infância (CRIVELLARO, 2001. p. 20).

A saída de campo pelas imediações da escola foi fundamental para identificar as potencialidades e situações adversas do lugar. O projeto foi executado pensando no ambiente familiar, de modo que a família também percebesse a importância deste. A presença de pais e responsáveis das crianças demonstra o que Layrargues fala sobre a participação da sociedade nos projetos ambientais:

Em suma, a educação ambiental entendida a partir da perspectiva adotada, deve metodologicamente ser realizada pela articulação dos espaços formais e não-formais de educação; pela aproximação da escola à comunidade em que se insere e atende; pelo planejamento integrado de atividades curriculares e extracurriculares; pela construção coletiva e democrática do projeto político-pedagógico e pela vinculação das atividades de cunho cognitivo com as mudanças das condições objetivas de vida ( LAYRARGUES, 2004. p.73).

Como disposto por Layrargues, a escola tem fator primordial na problemática, pois a educação ambiental se inicia nesse meio e se estende para os espaços aos quais está relacionada, sendo na maioria das vezes o próprio lar dos alunos e os locais que frequentam. De muitas maneiras a escola é espaço multiplicador, pois, onde esse aluno for terá uma compreensão diferente em relação a esse tema.



A AÇÃO DESENVOLVIDA

Elaboração do conceito de meio ambiente

O projeto de Educação Ambiental foi desenvolvido em oito aulas, em que ocorreu o aprofundamento dos conceitos trabalhados em educação ambiental e a noção de pertencimento ao meio ambiente no qual os alunos estão inseridos. O projeto foi iniciado com uma avaliação do que as crianças entendiam sobre o meio ambiente. Em decorrência do acesso a algumas informações sobre o assunto, em algumas aulas anteriores, surgiram desenhos referentes basicamente à reciclagem e ao lixo. As atividades do projeto foram representadas por desenhos, os quais foram elaborados pelas crianças utilizando lápis de cor, canetinhas e tinta têmpera. A Figura 1 e a Figura 2 são exemplos dos desenhos elaborados pelos alunos do projeto.

Figura 1 - Representação do planeta Terra

Imagem 9

Fonte: desenho elaborado por aluno do projeto.

Figura 2 - Representação de uma criança colocando lixo no chão

Imagem 1

Fonte: desenho elaborado por aluno do projeto.

Cuidados com o corpo

Posteriormente ocorreu um trabalho de elaboração do conceito de meio ambiente com as crianças. Iniciou-se uma reflexão sobre o nosso corpo como sendo o primeiro meio ambiente e os cuidados com ele foram os objetivos principais dessa atividade.

As aulas foram focadas no cuidado com o corpo, focando nos hábitos de higiene que devem ser diários. Inicialmente relembrei a aula anterior de meio ambiente, em que um dos cuidados citados foi o banho e a importância dele ser diário, conjuntamente com o cuidado com a dentição e a quantidade de vezes que os dentes deveriam ser escovados. Também foram abordados o cuidado com o manuseio dos alimentos, a lavagem adequada antes de serem consumidas frutas e verduras e a lavagem das mãos antes de comê-las. Foi realizado um acordo com a turma, em que todos concordaram a lavar as mãos antes do “lanchinho” e a cuidar para não colocar os dedos na boca e posteriormente na mesa. As produções gráficas representadas na Figura 3 e na Figura 4 demonstram desenhos elaborados pelos alunos do projeto sobre a necessidade de cuidado com o corpo e a saúde.

Figura 3 - Cuidados com corpo

Fonte: desenho elaborado por aluno do projeto.



Figura 4 - Representação do banho

Fonte: desenho elaborado por aluno do projeto.

Ademais, outro objetivo buscado nessas aulas de educação ambiental foi o trabalho com a noção de pertencimento dos alunos ao meio ambiente em que estão inseridos. Com essa visão, foi proposta a construção, por parte dos alunos, de um painel em que estariam contidas duas árvores que foram trabalhadas nas aulas posteriores. Com isso, foi discutido a importância do cuidado com a vegetação em geral e toda a preocupação necessária com as florestas. O painel elaborado pelos alunos está demonstrado na Figura 5 e Figura 6 a seguir.

Figura 5 - Pintura do painel das árvores

Fonte: foto tirada pelo autor.



Figura 6 - Pintura do painel das árvores

Fonte: foto tirada pelo autor.



Educação Alimentar

Outro objetivo proposto pelo projeto se referia aos hábitos alimentares. Desde o início dos trabalhos com a turma foi possível perceber que diversos alunos possuíam sérios problemas com o consumo em excesso de produtos industrializados.

A fim de obter um conhecimento mais aprofundado do que seria o ideal para ser consumido por crianças dessa faixa etária utilizei o “Manual do lanche saudável”, que proporcionou uma ideia do que deveria compor o lanche e o que não poderia. Como se trata de crianças em uma idade em que imposições podem ser levadas muito a sério, utilizei uma linguagem menos impositiva que o manual, informando que teríamos alimentos que não poderiam estar no lanche diariamente e outros que poderiam. A expressão utilizada foi “alimentos que não devem ser consumidos todos os dias” para os que não deveriam nunca compor a merenda, e os “alimentos que poderiam ser consumidos diariamente”, os permitidos na merenda. Conjuntamente a isso, foram expostos os motivos desses cuidados, com ênfase de que o uso excessivo de alguns alimentos poderia acarretar em doenças futuras e obesidade.

A avaliação ocorreu através da metodologia das árvores: primeiramente, os alunos receberam uma folha com alimentos do seu dia a dia; e posteriormente uma contendo duas árvores. Uma das árvores representava os alimentos em que o consumo diário não é recomendado, e a outra os alimentos permitidos diariamente. Assim, recortaram da primeira folha os alimentos e foram colando de acordo com a orientação dada em aula (Figura 7).

Figura 7 Metodologia das árvores

Fonte: colagem elaborada por aluno do projeto.

Saída de campo

No projeto realizou-se uma saída de campo a fim de identificar potencialidades e situações adversas no contexto da Educação Ambiental nas imediações da escola. Durante a saída ficou evidenciado um desleixo total com o meio ambiente, em que a turma pode identificar um bueiro a céu aberto (Figura 8), muito lixo colocado na rua (Figura 9) e até mesmo animais mortos que foram incinerados. Porém, nesse contexto de descaso também surgiram boas ações, tais como árvores plantadas recentemente na calçada, e uma casinha de cachorro disposta para que cães de rua se alojassem.

Figura 8 - Bueiro a céu aberto

Imagem 35

Fonte: foto tirada pelo autor.



Figura 9 - Lixo acumulado na rua

Imagem 39

Fonte: foto tirada pelo autor.



Mostra de trabalhos

Ademais, o projeto também realizou uma exposição do projeto para os pais e responsáveis das crianças. Os trabalhos desenvolvidos pelos alunos foram expostos para apreciação da comunidade, sendo dispostos conjuntamente com os objetivos do projeto. A fim de avaliação do que foi assimilado, utilizamos as árvores feitas no painel para desenvolvermos novamente a metodologia das árvores, agora com a participação dos pais e responsáveis. Na Figura 10 e na Figura 11 estão representadas algumas fotos retiradas na mostra de trabalhos.

Figura 10 - Mostra de trabalhos

Fonte: foto tirada pelo autor.



Figura 11 - Mostra de trabalhos

Fonte: foto tirada pelo autor.



Ademais, foi realizado um encontro avaliativo em que os alunos foram orientados para desenhar o que foi assimilado dos conteúdos trabalhados, como demonstrado no desenho representado na Figura 12.

Figura 12 - Menina desenhou-se ao lado da árvore

Fonte: desenho elaborado por aluno do projeto.



RESULTADOS

Os resultados do projeto foram bastante visíveis, pois os próprios desenhos elaborados pelos alunos já expressaram o seu entendimento sobre a problemática ambiental. Na Figura 13 está representada uma atividade realizada em que o aluno desenhou uma prateleira com frutas, e quando questionado sobre o desenho demonstrou seu entendimento sobre os seus benefícios do consumo de frutas para saúde.

Figura 13 - Representação de frutas a serem consumidas

Fonte: desenho elaborado por aluno do projeto.

Além disso, na Figura 14 é possível observar a representação da escovação dos dentes ao acordar. Esse hábito, com certeza, foi bastante reforçado, com conversas sobre a possível perda dos dentes quando não se tem uma boa higiene, com os próprios alunos dialogando sobre exemplos de familiares que necessitavam de prótese dentária.

Figura 14 - Representação da escovação dos dentes

Fonte: desenho elaborado por aluno do projeto.

Outros aspectos também foram percebidos, tais como a mudança de hábitos em relação aos lanches escolares. Os alunos que ainda traziam refrigerante eram criticados pela turma, e a grande maioria começou a optar pelas frutas, sendo que sempre que traziam vinham até o professor e mostravam sua opção saudável. Na Figura 15 é possível observar a opção de lanche de um desses alunos, que no caso foram frutas. Outras opções percebidas foram os iogurtes (Figura 16) e bolos naturais (Figura 17) que estavam listados com sendo benéficos para saúde.

Figura 15 - Lanche baseado em frutas

Imagem 3

Fonte: foto tirada pelo autor.



Figura 16 - Iogurte

Imagem 4

Fonte: foto tirada pelo autor.



Figura 17 - Bolo de cenoura

Imagem 12

Fonte: foto tirada pelo autor.



Outra demonstração do entendimento do seu corpo como primeiro meio ambiente são os desenhos feitos após essa aula, em que vemos que cada aluno desenhou a si mesmo quando nos referimos ao tema. Na Figura 18, em tínhamos proposto o convite para a amostra de trabalhos quase todos os alunos representaram a si mesmo neles.

Figura 18 - Capa dos convites para a exposição de trabalhos

Fonte: desenhos elaborados por alunos do projeto.



A participação da família no projeto também foi de extrema importância, ocorrendo uma mostra de sucesso com as atividades elaboradas com as crianças, que segundo seus familiares relatavam cada descoberta que era aprendida nas aulas. Na Figura 19 vemos a presença expressiva na mostra de trabalhos e como os pais e responsáveis estavam interessados em todas as etapas do projeto.

Figura 19 - Famílias contemplando os trabalhos da mostra

Fonte: foto tirada pelo autor.

Essa etapa do projeto foi idealizada com o intuito de uma aproximação ainda maior com a comunidade. Ademais, também se objetivou uma demonstração dos processos que estão sendo utilizados para avaliação das nossas ações, considerando que em nossa amostra de trabalho foi feita a “metodologia das árvores”.

As avaliações foram realizadas através de representações gráficas confeccionadas pelas crianças, hora em lápis de cor, e em outras através de pintura com tinta. Avaliar as mudanças obtidas através das ações do projeto de Educação Ambiental através da confecção de uma produção artística foi a maneira mais adequada para que pudéssemos saber o que estava sendo assimilado pela turma. Sobre a arte em avaliações, Goldberg dispõe que:

Ao utilizarem o desenho como metodologia de avaliação das aulas realizadas, sentiu-se a necessidade de um profissional da área para a leitura e interpretação dessa linguagem. Com o tempo percebeu-se a importância da arte enquanto área do conhecimento, fundamental, assim como as ciências do ambiente para a formação integral das crianças (GOLDBERG, 2004. p. 48).

O desenho representado na Figura 20 também demostra que o conceito de pertencimento ao meio ambiente ficou bem assimilado pelos alunos, já que na maioria dos desenhos e pinturas existem representações próprias dos alunos e também dos seus entes. O projeto foi claramente entendido pelos alunos, considerando que seus desenhos explicitam suas figuras conjuntamente com aspectos da natureza, tais como árvores, nuvens e o sol, que são basicamente os maiores representantes dela.

Figura 20 - Natureza com a criança inserida

Fonte: desenho elaborado por aluno do projeto.



CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, o projeto de Educação Ambiental aplicado na turma teve um grande sucesso, principalmente por ter proporcionado aos alunos uma compreensão abrangente do conceito de meio ambiente. Além disso, ocorreram mudanças consideráveis dos hábitos alimentares dos alunos, além de um melhor entendimento da temática como um todo. Também é possível salientar as ótimas produções artísticas (desenhos, pinturas, colagens) elaboradas durante a execução o projeto.

Ademais, o interesse dos pais no progresso escolar das crianças também foi um grande diferencial. A participação da comunidade foi expressiva, destacando o papel do projeto em diálogos sobre as sugestões dos lanches mais saudáveis, os quais nos dias subsequentes vieram a fazer parte do cotidiano das crianças.

Sobre os conceitos compreendidos com o projeto, a percepção do seu corpo como parte integrante do meio ambiente foi o fator mais percebido, já que nos desenhos grande parte das crianças representaram a si mesmos.

Por fim, a importância do professor como mediador foi reconhecia pelos alunos e seus familiares na mudança de hábitos alimentares. Assim, fez com que percebesse a importância que tive para uma vida mais saudável dessas pessoas. Meu próprio conceito sobre educação ambiental se transformou, pois tinha um pensamento voltado para ações como reciclagem e novos métodos de reaproveitamento de resíduos, e após esse projeto, foi possível perceber a importância de trabalhar o pertencimento da comunidade ao meio ambiente.



REFERÊNCIAS

CELIA, L, S. Aquisição e desenvolvimento infantil (0-12 anos): um olhar multidisciplinar. Porto Alegre: Edipucrs, 2003.

CRIVELLARO, C. V. L.; MARTINEZ NETO, R.; RACHE, R.P. Ondas que te quero mar: educação ambiental para comunidades costeiras: Mentalidade Marítima - relato de uma experiência. Porto Alegre: Gestal, 2001.

LOUREIRO, C. F. B. Educação ambiental transformadora. In: LAYRARGUES, P. P. (Coord.). Identidades da educação ambiental brasileira. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004.

LOUREIRO, C. F. B. Premissas teóricas para uma educação ambiental transformadora. Revista Ambiente e Educação, Rio Grande, n. 8, 37-54, 2003.

MONTEIRO, P. A Reinvenção da empresa: Projeto Ômega. São Paulo: Évora, 2017.

Sá, L. M. Pertencimento - Encontros e Caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e coletivos. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2005.

WEFFORT, V. R. S. Manual do lanche saudável. São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria - Departamento Científico de Nutrologia, 2011.

Ilustrações: Silvana Santos