Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Saber do Fazer
A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL COMO ALIADA DA AGRICULTURA
Co-fundador da reNature busca inspiração nos processos naturais RENATURE/DIVULGAÇÃO/JC Bruna Suptitz Voltar o olhar para a natureza e entender com ela a melhor forma de cuidar do solo é a proposta da agricultura regenerativa, conceito apresentado pela Fundação reNature para aliar produção agrícola com preservação ambiental. Princípios como o uso eficiente da água e práticas como a diversificação de culturas, por exemplo, são formas de garantir a sustentabilidade do solo a longo prazo. Quem explica é Felipe Villela, co-fundador da holandesa reNature que trabalha com projetos voltados à agricultura regenerativa. Gaúcho de criação, ele esteve em Porto Alegre para participar da 17ª edição do Painéis da Engenharia, promovido pelo Sindicato dos Engenheiros do Rio Grande do Sul (Senge-RS) na quinta-feira, dia 8. Em conversa com a coluna, Villela conta sobre como praticar uma agricultura que vai além da sustentabilidade ao maximizar os impactos positivos - para a produção e para o futuro do planeta. Jornal do Comércio - O que é a agricultura regenerativa? Felipe Villela - Agricultura regenerativa é uma agricultura baseada na imitação dos processos da natureza. Os principais princípios são a saúde do solo, o aumento da biodiversidade, o uso eficiente de água, a resiliência econômica da propriedade e a redução de gases de efeito estufa. E as principais práticas são a cobertura do solo - usar espécies que mantém o solo coberto para evitar, por exemplo, a erosão e outros desafios climáticos; o plantio direto - não arar muito o solo para evitar a perda de microrganismos fundamentais; a transição de insumos sintéticos e químicos para insumos biológicos e orgânicos; e a diversificação e rotação de culturas - sair da monocultura e produzir outras consorciadas para ter uma maior quantidade de fotossíntese e espécies naquele ecossistema. JC - A rotatividade do plantio é mais que a prática da safra e entressafra? Vilella - Exatamente. A rotação, a safra e a safrinha também são maneiras de sempre utilizar aquela terra, só que é muito importante manter o solo coberto o ano inteiro, até no inverno, porque o solo acaba liberando a umidade e o carbono para a atmosfera ao invés de retê-lo se ele não estiver coberto. E sim, a rotação é fundamental, mas a diversificação é mais importante ainda. Hoje no Brasil já tem oitenta milhões de hectares degradados por conta da pecuária de baixa produtividade e extensiva e também por conta da monocultura de grãos, principalmente, que vem comprometendo o solo por falta de cobertura, por falta de ciclagem de nutriente, que a quantidade excessiva de fertilizantes de insumos químicos tem tem feito o solo ficar cada vez mais prejudicado e comprometido à erosão. Utilizar espécies de plantas como fonte de fertilizante natural é muito mais eficiente do que ficar sempre trazendo de fora esses insumos. JC - No que o conceito de regeneração avança em relação à sustentabilidade? Villela - Sustentabilidade tem o foco na sustentação de um sistema ou de um ecossistema. E isso é basicamente a gente conseguir diminuir o impacto negativo e neutralizá-lo, simplesmente sustentar a nossa sociedade com os recursos naturais. Mas nós não podemos somente nos dar ao luxo de, por exemplo, neutralizar as nossas emissões e os nossos impactos negativos. Se quisermos realmente ter um futuro próspero e abundante em termos de recursos naturais, precisamos maximizar o impacto positivo e ir além da sustentabilidade. Esse é o movimento de regeneração, conseguir não só sustentar, mas sim regenerar o solo para que as próximas gerações tenham suficiente recursos naturais. JC - A ideia é não colocar a preservação ambiental como contraponto à produção agrícola ou a pecuária, mas como aliada, isso? Villela - Exato. Se o agro não incluir o meio ambiente na sua tomada de decisão, não vai ser produtivo a longo prazo. E por que estou dizendo isso? Porque hoje a gente vê os severos efeitos climáticos na produtividade de todos grãos, no Brasil e no mundo inteiro. Tivemos perdas significantes, desde a soja do Paraná, pelo efeito da estiagem, até a cafeicultura, que teve uma queda de 25% na produtividade - e o Brasil é o maior exportador de café do mundo - por conta das geadas. O clima está impactando a produção agrícola de uma forma que, se não criarmos um ambiente resiliente climaticamente falando, na paisagem agrícola, não vamos conseguir garantir segurança alimentar e não vamos continuar produzindo commodities para exportação, para garantir um PIB de 30% que hoje contribui para o nosso país. E vemos mercados estrangeiros exigindo essa mudança de práticas até com compromissos de compra de produto somente proveniente de fontes sustentáveis e regenerativas. Fonte: A preservação ambiental como aliada da agricultura (jornaldocomercio.com) |